Na última edição deste espaço falei sobre as novas condições para as promoções de talentos do NXT ao roster principal e sobre os melhores prospetos do grupo mais recente de promovidos – Enzo Amore & Colin Cassady. Esta semana, os prospetos em questão têm um futuro mais incerto e menos assegurado. Como expliquei anteriormente, novos talentos não devem ser apresentados da mesma maneira. O que é adequado para um determinado talento pode não ser a melhor forma de explorar os pontos fortes de outro. Enquanto Enzo e Cass brilham em segmentos verbais e interações com a audiência, a situação muda consideravelmente de figura quando falamos de Baron Corbin.

Num mundo em que o NXT é um verdadeiro território de desenvolvimento, Baron Corbin não estaria no roster principal. Este foi promovido porque é dispensável. No NXT, este era um vilão e não um muito respeitado ou adorado pelo público-alvo da promoção, porque não tinha tanta experiência como alguns dos seus adversários. A falta de experiência foi usada para criar uma identidade que o diferenciasse dos demais.

No NXT, de todos os lutadores que não tinham anos de experiência e o respeito dos fanáticos, Baron Corbin era o mais bem posicionado. Este isolou-se como o oposto daquilo que os fanáticos costumavam apoiar e funcionou. Mas isso não mudou o facto deste não ser fundamental para o sucesso do NXT, seja em vendas de bilhetes ou merchandise, portanto este tornou-se dispensável e, como consequência, promovido. Perante as promoções de Baron Corbin e Apollo Crews, é claro que as boas justificações de Triple H não passam de um excelente trabalho de relações-públicas e não uma representação da realidade dentro da WWE.

Opinião Feminina #287 - Shiny new toys (Parte II)

Apollo Crews, embora tenha feito carreira antes da WWE e seja conhecido junto dos fãs graça à mesma, nunca se tornou um nome sonante no NXT e com a posição de herói principal já ocupada por Finn Bálor – um dos campeões de merchandise da pequena promoção, este não tinha grandes esperanças de vir a fazer a diferença. Portanto, ambos foram promovidos sem existir qualquer necessidade do roster principal para tal e, acima de tudo, sem planos a longo prazo.

Tal não é completamente justo de dizer, visto que Baron Corbin venceu a Battle Royal na WrestleMania 32 – o seu primeiro combate no roster principal – e entrou de imediato em rivalidade com outro lutador e, apesar de ser no Kickoff, tem um combate no Extreme Rules.

No entanto, também não se pode dizer que uma rivalidade com Dolph Ziggler no Kickoff de pay-per-views é um plano irresistível que justifique a promoção de Baron Corbin. Este foi promovido e foi-lhe dado o mínimo dos mínimos para fazer. Mais do que Apollo Crews recebeu que, por sua vez, continua ausente de pay-per-views, continua sem rivalidade e continua sem qualquer veículo de promoção que o dê a conhecer aos fãs.

Voltando ao caso de Baron Corbin, várias decisões questionáveis foram tomadas desde a sua promoção. Este começou por vencer um combate que os fãs já foram ensinados a acreditar que não vale absolutamente nada e que existe apenas como forma de tentar incluir o máximo número possível de lutadores no card. Dar-lhe um microfone para fazer uma promo em frente à audiência, quando este é claramente melhor num ambiente controlado e editado, foi outra decisão questionável.

Opinião Feminina #287 - Shiny new toys (Parte II)

As suas vitórias dominantes e vídeo de apresentação foram raros sinais de lucidez que rapidamente perderam qualquer valor quando este perdeu para Dolph Ziggler no seu segundo pay-per-view. Simplesmente não é algo que se faz com um talento acabado de estrear. A posição de Dolph Ziggler no card não podia estar mais fixa e perder para ele não ajuda ninguém a fazer uma boa primeira impressão. Todavia, é complicado julgar já as decisões da WWE como um enorme desperdício do potencial e talento de Corbin. Este mostrou evoluir nos seus tempos no NXT, mas a verdade é que, junto do atual roster da WWE, este perde-se facilmente.

Enquanto no NXT este era um dos poucos que não era conhecido por ter feito carreira no circuito independente, esse aspeto é menos enfatizado no roster principal desvalorizando a identidade que este tinha criado. No roster principal, este simplesmente não é assim tão raro ou especial. Pessoalmente, acreditava que a melhor forma de apresentar Baron Corbin seria dar-lhe o mesmo tratamento que Ryback recebeu em 2012 durante uns meses e ver até onde é que este conseguia ir, ao mesmo tempo que transmitia vídeos de apresentação deste.

Porém, tendo em conta a incrível quantidade de talento que a WWE tem, receio que mesmo com essa abordagem, Baron Corbin não tivesse grandes hipóteses de sucesso. O roster da WWE é extremamente talentoso e ao longo das próximas semanas irão regressar várias estrelas de renome e simplesmente não sei se Baron Corbin tem ainda a experiência necessária – e apresentação ideal – para ultrapassar alguns dos nomes do roster da WWE na corrida por títulos, sejam secundários ou o principal. E se há algo que Baron Corbin não precisa é que os fãs embirrem com ele porque está a ser alvo de um investimento superior às suas capacidades.

Baron Corbin foi promovido sem quaisquer planos ou razão. Mas receio que mesmo com planos a longo prazo, seria complicado para ele sobreviver neste ambiente. Este precisava mesmo de uma razão para se enquadrar no roster e de estar extremamente preparado para tal.

Mesmo apesar de todas estas reticências, mantenho que este devia, pelo menos, ter passado uns meses a vencer talentos menos importantes até surgir uma oportunidade de transformar a sua série de vitórias em algo significativo, seja na sua carreira ou na carreira de outra pessoa que poderia lucrar com uma vitória contra ele. Perder tão cedo numa rivalidade com alguém tão arrasado como Dolph Ziggler é um desperdício a curto prazo. Se é um desperdício a longo prazo, ainda é muito cedo para dizer. Pode ser que a sua altura o impeça de seguir o mesmo caminho de Tyler Breeze.

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Uma das poucas promoções mais recentes que surgiu por necessidade foi a dos Vaudevillains. Tal como Enzo e Cass, os Vaudevillains vieram animar e refrescar um pouco a divisão de equipas que há meses se encontrava nas ruas da amargura. Os New Day, atuais campeões de equipas e uma das apresentações mais populares e rentáveis da atualidade, dominam a divisão e desde o seu renascimento que ainda não apareceram equipas que, realmente, lhes conseguissem fazer frente e criar rivalidades a sério.

Embora, das duas equipas, Enzo & Cass sejam a dupla mais provável de conseguir criar algo especial com os New Day, dado o seu notório carisma e atitude, a decisão de promover os Vaudevillains não foi má. Independentemente das opiniões sobre a sua apresentação, a verdade é que são uma lufada de ar fresco e, ao menos, são nomes novos a interagir com outras estrelas, em vez de serem as mesmas equipas estagnadas e descredibilizadas a passar tempo com os New Day.

Demorei algum tempo a identificar o problema dos Vaudevillains, porque este não parte de um problema de execução da WWE como derrotas fora de tempo ou falta de exposição, mas sim da identidade do grupo. Tal como várias outras equipas no passado – e Primo e Epico atualmente – a WWE tem a tendência de apresentar ideias que, por muito peculiares ou potencialmente interessantes sejam, não despertam nada junto da audiência – positivo ou negativo.

A ideia dos Vaudevillains e a sua entrada é interessante e funciona num ambiente em que o público é favorável por natureza, mas é recebida com silêncio e apatia por uma audiência normal ou menos tendenciosa a talentos vindos do NXT.

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Nada na apresentação dos Vaudevillains grita “heróis” ou “vilões.” Sim, estes são arrogantes e referem-se à Era que homenageiam como superior, mas a verdade é que a Era em questão encontra-se tão removida da atualidade que as suas referências não têm qualquer impacto na audiência atual. É uma questão de indiferença. Simplesmente não há nada com que os fãs se possam identificar ou repudiar. É uma apresentação engraçada que simplesmente existe, tal como os novos “Shining Stars.”

Acho que seria mais fácil para uma personagem como Tyler Breeze ou até Zack Ryder de 2011 estabelecer uma ligação com os fãs, seja positiva ou negativa, porque são contemporâneos e, acima de tudo, representam algo em que a audiência de hoje está sempre em contacto – redes sociais, egocentrismo, selfie sticks, entre outros.

Não quero dizer que o problema dos Vaudevillains não é serem contemporâneos. Não é tão linear quanto isso. Acho que o problema é que a Era que os distingue – e os argumentos a ela associados – são demasiado removidos para a audiência ter qualquer espécie de opinião no assunto/apresentação. É por isso que o resultado é indiferença, seja perante uma típica audiência da WWE ou perante a audiência fanática de Chicago.

Os Vaudevillains, tal como várias outras gimmicks que a WWE já apresentou, falham por ser uma ideia que não passa do engraçado e que nunca mostrou nada que os fãs consigam naturalmente adorar ou odiar. Por isso apenas, acho que os Vaudevillains são perfeitamente aceitáveis como adversários para os New Day durante um ou dois eventos, visto que são uma novidade, mas não os consigo ver como uma força dominante na divisão sem sofrer algumas mudanças fundamentais.

Penso que, longo termo, os Vaudevillains estão condenados a substituir os Ascension ou seguir o caminho de Emma e voltar para o NXT para renovar a sua apresentação.

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Outro talento, dispensável para o NXT, que foi promovido graças a uma necessidade de uma divisão do roster principal foi Dana Brooke. As lesões continuam a assolar o roster da WWE e vários talentos da divisão feminina estão afetados, incluindo várias vilãs. Por isso, o redobrado investimento em Emma – que peca por tardio – e a promoção de Dana Brooke fazem todo o sentido.

Sim, tal como Baron Corbin, se o NXT estivesse a servir o seu propósito original, Dana Brooke estaria ainda a tentar adquirir mais experiência e melhorar, mas como já referi várias vezes, não é essa a realidade em que vivemos. De qualquer das formas, não havia problema nenhum com a sua promoção. Esta seria um excelente complemento para Emma que iria fazer grande parte do trabalho, mantendo Dana protegida. Tudo parecia fazer sentido até Emma se ter lesionado e deixado Dana exposta.

Ora, Dana pode não ter muita experiência, mas mostrou melhorias enquanto esteve no NXT. No entanto, isso não muda o facto deste poder vir a ser prejudicada por ganhar demasiada exposição antes de estar preparada para tal. Especialmente quando a companhia precisa de vilãs. É uma situação complicada para se estar, tanto para Dana, como para a própria WWE.

O ideal para Dana Brooke é estar aliada a alguém mais experiente que a possa proteger. Natalya é uma das poucas opções disponíveis e as duas poderiam balançar-se, tendo em conta as falhas de cada uma, mas não há qualquer garantia que funcione ou que os fãs levem um heel turn de Natalya a sério tão cedo. É certo que uma segunda derrota consecutiva contra Charlotte, num combate de submissão e sem quaisquer interferências, poderia ser o suficiente para quebrar o espírito de Natalya, mas não sei se os fãs estão suficientemente investidos nela para se sentirem afetados pela sua mudança de atitude.

Ou isso, ou então a WWE poderia mandá-la de volta para o NXT. Não é uma solução ideal, mas aliá-la a alguém que também precisa de ser protegido graças à sua inexperiência ou deixá-la sozinha, sabotando-a antes mesmo desta conseguir ter talento suficiente para se aguentar sozinha, são alternativas bastante piores.

Como se pode ver, apenas a divisão feminina e a divisão de equipas normalmente acusam a necessidade de novos talentos. Este ano foram Emma, Dana Brooke, Enzo & Cass e Vaudevillains a agitar as águas da divisão, enquanto no ano passado foram Charlotte, Sasha Banks, Becky Lynch e Lucha Dragons.

Opinião Feminina #287 - Shiny new toys (Parte II)

A divisão masculina continua extremamente competitiva, o que é bom sinal para os fãs, mas mau sinal para talentos inexperientes ou donos de apresentações mais complexas e difíceis de vender numa primeira impressão como Tyler Breeze, Neville, Apollo Crews e Baron Corbin. Não quer dizer que não exista espaço para eles, de alguma forma, mas tendo em conta a inexperiência de alguns e o cuidado que outros precisam de ter na sua apresentação – tempo de antena, consistência, uma apresentação que explore os seus pontos fortes, etc – torna a tarefa deles bastante complicada.

Apesar de todo o seu sucesso e popularidade, a transição do NXT para o roster principal está longe de ser perfeita e há muitos talentos que simplesmente não irão conseguir sobreviver. O mais importante continua e irá sempre continuar a ser consistência de semana para semana e tempo de antena. Não há uma forma ideal de contar a história de todos, mas todos precisam de se dar a conhecer da melhor forma possível para terem uma oportunidade honesta de ter sucesso. É isto que muitos talentos da WWE não têm – oportunidade honesta de ter sucesso, sejam estes vindos do NXT ou não.

E isso é algo que a WWE não consegue garantir aos novos talentos. E quando alguns destes aparecem já prejudicados pela sua falta de experiência ou apresentação ambígua, a verdade é que os obstáculos se tornam demasiado grandes para os talentos os ultrapassarem. Do grupo mais recente de promoções, creio que os mais prováveis de ter sucesso a sério são Enzo & Cass, como disse na semana passada, mas agora isso também irá depender do que a WWE fizer com Cass durante a ausência de Enzo.

Embora sejam cada vez mais parecidos, nos seus objetivos, o NXT e o roster principal continuam a ser mundos completamente diferentes e acredito que, apesar da diferença de salário e destaque, muitos talentos ainda vão acabar por preferir o tempo que passaram no NXT ao que passaram no roster principal, embora não seja algo que possam admitir publicamente.

Enfim, desejo uma excelente semana a todos. Divirtam-se com o Extreme Rules e até à próxima edição!

3 Comentários

  1. Vitor Oliveira8 anos

    Excelente artigo, muito boa visão

  2. TNA Best Wrestling8 anos

    Eu acho que o problema principal é tempo se lembra o New day demorou quase 1 ano para ter vaias mesmo sendo face é uma questão de tempo, booking e investimento coisa que a WWE não costuma ter .

  3. Excelente artigo.