Cada um de nós já quis voltar a ser o que era numa certa altura ou estar de novo num lugar que nos fez feliz. Isso sucede quando os estudos ou o trabalho são a intromissão àqueles anos onde só havia preocupações quanto à hora de chegar a casa depois da tarde de brincadeira nas ruas.

Com maior ou menor dificuldade, há que aceitar as nossas responsabilidades enquanto adultos e preservar no nosso interior aquelas épocas.

Indo ao que interessa, o Imortal Hogan tem vindo a demonstrar interesse numa volta ao ringue na Mania 31, chegando a prometer que essa sua ideia se realizará e tendo feito pressão nesse sentido.

Desde o ataque de coração daquele que se sabe, a World Wrestling Entertainment tornou-se bastante cuidadosa quanto à actividade física dos lutadores mais velhos.

Irá abrir excepção e cair na armadilha de encher o maior evento do ano com incapacitados? Irei ainda abordar, dentro desta linha de raciocínio, o novo investimento no Ryback.

Descrito como o mais reconhecido e popular Wrestler dos anos 80 e 90, foi headliner regular pelas organizações por onde passou, fechando eventos anuais como a Mania e o Starrcade.

Como resultado do contrato finalizado pela TNA, a 21 de Fevereiro de 2014, foi anunciado que retornaria à WWE como anfitrião da trigésima edição da Mania.

Faria a sua primeira aparição para exercer propaganda sobre o canal televisivo da empresa, anunciando a 10 de Março a comemoração dos 30 anos do maior PPV de todos sob a forma duma 30 Man Battle Royal honrando André the Giant.

The People's Elbow #81 - Querer Voltar

No início do espectáculo, teria a companhia de outras duas caras célebres para entregar hype à audiência, partilhando, mais tarde, o momento com as superstars junto às quais constituiu o Main Event da primeira WrestleMania: Hot Rod e Paul Orndorff.

Tendo a sua estreia a 10 de Agosto de 1977, foi 14 vezes campeão mundial (só ultrapassado por Ric Flair e John Cena) e consagrou-se como um dos lutadores mais carismáticos da História.

Foi ele que ajudou a transformar a luta livre profissional num dos porta-estandartes do entretenimento Norte-Americano e foi a sua influência que fez exceder a popularidade do desporto.

A sua forma física e a sua personalidade levou-o para lá das cordas do ringue, pois teve aparições na TV e no cinema.

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Entre os seus papéis, destaca-se o de Thunderlips no Rocky 3, protagonizando outros filmes como No Holds Barred e 3 Ninjas.

Teria as suas próprias séries televisivas entre 1994 e 1997: Thunder in Paradise e The Ultimate Weapon. Faria participações como ele próprio nos Marretas e Gremlins 2.

Outro ponto de interesse seria a utilização da sua inconfundível voz na sua série animada preferida – Captain Planet and the Planeteers.

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Por tudo isto, é considerado como uma das figuras mais conhecidas fora da sua profissão principal. A histeria à volta dele gerou um infindável número de produtos, como desenhos animados, vestuário, posteres, entre tantas outras variedades.

Fazer uma comparação da luta livre antes da sua chegada e o que ela se tornou após a sua ascensão revela um impacto sem paralelo.

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Sendo objectivo e querendo retirar este toque de protecção e estatuto de intocável ao seu redor, verdade seja dita, ele não revolucionou os Sports Entertainment pelo seu talento mas pela sua habilidade de entreter o público.

Para lá da imponência, ele tinha pouco para mostrar no ringue, podendo-se dizer que a sua técnica é inexistente. Se não se aperfeiçoou foi porque não precisava: ele fez do Wrestling o que ele é hoje.

A busca pelo domínio global de Vince McMahon não teria sucesso se não contasse com uma estrela que pudesse vender ingressos, encabeçar o plantel e trazer a indústria aos veículos de comunicação social.

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Tendo-se tornado o maior super-herói deste negócio, chocou toda a gente no Bash at the Beach 1996 ao virar vilão. O que ajudou a impulsionar a World Championship Wrestling foi esta capacidade instantânea de se tornar o maior vilão após ter sido o maior herói.

Tudo o que ele fazia parecia transcender a realidade no que ao estilo de representação diz respeito porque, se se for a ver, o seu maior feito dentro do ringue aconteceu quando executou o Body Slam e venceu André the Giant.

Não querendo relativizar os 2,24 metros e 260 quilos do gigante, ele foi a única pessoa a conseguir erguê-lo do chão. Isto poderá ter maior sentido literal do que figurativo, contudo, como ele próprio já afirmou, não precisou de saltar do alto duma jaula para pertencer ao panteão dos deuses desta área.

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Pesando 4 quilos à nascença, desde pequeno excedeu os padrões normais para a sua idade. Quando era criança, assistiu às suas primeiras lutas, pouco depois de se ter mudado para a Florida.

Começou a praticar musculação no ano 1967 e começou a treinar para ser lutador em 1976, tendo a sua luta inicial no ano seguinte e passagens pela Continental Wrestling Association.

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Resumidos todos os seus triunfos, e tentando pôr-me na sua cabeça, como é que este sexagenário olhará para o modo como é usado a fazer publicidade aos 9,99, a honrar colegas perdidos e não poder fazer mais que as suas habituais poses e frases-feitas?

Subtraindo daqui o factor financeiro (do qual não se poderá queixar) e o ego inchado que durante a sua longa carreira sempre deteve, como se sentirá este quase idoso por não poder pisar o tapete?

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Daí que não tenha ficado surpreendido por ele, durante a celebração do seu aniversário, ter-se irritado com a fala que, segundo consta, estava fora do guião e terá autoria de Lesnar: “Party’s Over, Grandpa”.

Tendo estado a promover bastante a possibilidade de voltar a lutar, entusiasmou-se quando disse que gostaria de enfrentá-lo pelo título.

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O que para nós vinha sendo uma boa forma de o aguentar, para ele será embaraçoso. Ele não quererá ir para a bancada de analistas dos Pré-Show ou andar a distribuir folhetos sobre os 9,99.

Isso porque ele não deverá querer sentir-se velho e acha-se útil noutras tarefas. Só que ele não vai por menos e anda a pedir coisas fora do seu alcance.

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Apesar de o entender, não se vai agora parar a enchente de talento do NXT e a que abunda no roster para lhe ser feita a vontade.

Aliado a isso está que esta altura é prolífico ao regresso de lendas que, a ter lutas, deverão estar nos melhores índices físicos.

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Eu não diria que não a vê-lo de novo a lutar, não sei dizer como se proporcionaria ou qual o seu opositor, apenas não vejo como encaixá-lo no PPV de Abril.

Não sendo fã, não sou hater, gosto de alguns dos seus combates antigos e não passo à frente as suas promos, nas quais dá para sentir ali certa electricidade.

Ah, e já chateia a questão da Leg Drop, é só recuar à Golden Era e tentar encontrar ataques de finalização de jeito!…

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Outro que parece querer recuperar os seus dias de glória é o Mister “Feed Me More”. A 26 de Agosto de 2014, foi submetido a uma cirurgia à hérnia, retornando a 27 de Outubro.

Nunca uma operação terá sido tão bem aproveitada para corrigir erros aqui discutidos há vários artigos atrás, por isso, vou pegar apenas no seu ano de penúria e projectar a sua segunda chance.

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No mês de Agosto do ano passado, estreou o seu novo formato, começando a amedrontar trabalhadores de bastidores e fugindo do confronto contra oponentes de igual estatura e tirando vantagem dos mais pequenos e vulneráveis. A 15 de Setembro, no Night of Champions, aliou-se a Paul Heyman.

A 6 de Outubro, foi vencido pelo Punk e, a 27, no Hell in a Cell, ele, junto ao seu representante, teve destino semelhante numa Handicap.

A feud acabaria numa Street Fight, na qual o Straight Edge forçou-o a desistir para a Anaconda Vice e, a 11 de Novembro, a aliança pupilo-professor chegaria ao final.

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A 24 de Novembro, no Survivor Series, foi derrotado pelo “Homem mais forte do mundo” numa Open Challenge. Então, iniciaria equipa com o antigo Paul Heyman Guy Curtis Axel e, a 6 de Dezembro, teria uma “title shot” ao vencer os campeões Cody Rhodes e Goldust.

A 15 de Dezembro, no TLC, não teria a sorte do seu lado numa Quadrilha Fatal envolvendo os irmãos, Big Show e Rey Mysterio e os Real Americans.

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A 6 de Abril de 2014, no Pré-Show da Mania, tal voltaria a repetir-se contra os Usos, Los Matadores e os Real Americans. Esta combinação não era de todo desagradável porque matava-se dois coelhos numa cajadada.

As apostas feitas neles quando postos ao lado da “Morsa” não foram correspondidas, sendo as culpas repartidas pela péssima gestão dos argumentistas.

Estando o mal feito, não era enfadonho de todo vê-los a lutar a pares, todavia, é incrível a distinção que se faz entre lutas sem e com o cinto na linha da frente.

Numerosas vezes saíram triunfantes contra os donos do cinturão para, chegada a hora da verdade, quase por feitiço, nunca sendo capazes de desviar o ouro.

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A sua volta deu-se como face, requisitando os seus velhos maneirismos, derrotando Bo Dallas e Heath Slater. A 10 de Novembro, quando parecia ir juntar-te à Autoridade, atacou os seus elementos, aliando-se a John Cena e ao seu conjunto para o Survivor Series.

A querer ser resgatado do lodo não poderia ser de outra maneira que não enquanto face, postura que se tentou denegrir e fazer expirar cedo para torná-lo naquele heel fora de lógica.

Estou a vê-lo a desafiar Rusev pela sua invencibilidade e, à falta de outro qualquer patriota, a poder quebrá-la. Beneficiaria mais ele do que Angle ou restantes cogitados a voltar.

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Quando se ocasiona estas ausências, é costume poder criar-se outro visual, o que não lhe ficaria nada mal, isso de rapar o cabelo e não fazer a barba já lá está aos montes.

Espero que ele continue como está e que a empresa lhe continue a pôr “food on the table”. Por esta semana é tudo, cá estarei para a próxima. Até lá, boa leitura e têm a caixa de comentários ao vosso dispor.

5 Comentários

  1. Austin9 anos

    A wwe anda tão fraca , que eu não me importo de ver o Hogan , Stone Cold , The rock , Sting , Goldberg lutando mais uma vez . pois se o proprio publico não apoia os novos talentos, porque aguentar combates de jobbers. Enquanto so de ver a entrance das Lendas ja arrepia o publico , como Sting no surviver series.

    • Não apoia o quê? Dolph Ziggler, Daniel Bryan, Dean Ambrose, Damien Sandow… Tens visto a WWE nos últimos meses?

  2. Damien Mizdow9 anos

    Tal como já por varias vezes disse talento e habilidades no ringue nunca fora tudo numa grande wwe superstar e nunca o vão ser. O Hulk Hogan é um claro exemplo disso até porque inegavelmente ele é juntamente com outros dois que também nao se destacavam propriamente pela sua qualidade tecnica no ringue (The Rock e Stone Cold) o melhor de sempre. O que adianta ser eximio no ringue se nao consegue cativar minimamente o publico como sucede com o Cesaro? Aí é que reside a diferença porque no global é preciso muito mais que ser bom wreslter é precisa ser uma excelente wwe superstar para cativar o publico e isso este senhor fazia e faz como ninguém.

    Quanto ao Ryback nunca gostei dele no entanto gostei deste push apenas e só por finalmente ver a wwe a investir em alguém diferente dos do costume. No entanto e ao contrário dos nomes antes citados não lhe vejo grande talento nem no ringue nem nas capacidades ao microfone que o possam catapultar para o patamar dos imortais, aliás muito longe dissso.

    • O Stone Cold, antes da lesão, destacava-se precisamente pela sua qualidade em ringue. Não tem comparação nenhuma com o Hulk Hogan nesse aspecto. E mesmo o The Rock era/é bem superior ao Hogan no ringue.

  3. Pronto Miguel, tinhas que falar sobre dois lutadores que não aprecio!:D Ainda assim, artigo excelentemente escrito e muito boa argumentação.

    Começando pelo Hogan, ao contrário de ti, sinto desprezo por ele. Respeito tudo o que ele fez de bom (e não foi pouco) pelo Wrestling, mas não é irónico que poderá ter sido ele um dos responsáveis pelo estado em que o Wrestling se encontra hoje em dia? Se ainda existisse uma WCW, a WWE (e o Wrestling em geral) não teria chegado a este estado…

    É verdade que fez muito pela WCW, mas foi um dos responsáveis pela queda da companhia. A meu ver, não merece assim tanto reconhecimento como aquilo que se apregoa, mas é apenas a minha opinião.