E lá chega o tempo para mais um Top Ten, ainda se consegue algo para vos fazer perder tempo após tantas edições, realmente. Esta é de fácil inspiração e é um assunto nada difícil de se desenvolver. Inspirado pelo regresso de Kane a acudir Daniel Bryan e a reunir os Team Hell No e com a listagem e draft inicial feito em… Rápidos minutos. Há temas em que essa é a parte que custa mais!
Se há gajo que tem uma carreira de coisa muito estranha, esse é Glenn Jacobs, ou Kane, como o conhecemos. Revejam lá os dez – se é que já não se lembraram logo de imediato ao verem o tema – tipos de coisa… Que realmente só acontecem a este gajo…
10 – Órfão desolado
Não me refiro à sua história de origem. Para terem uma noção, essa nem sequer é aqui listada. É a sua apresentação, pronto, é o mais normal. Para este momento temos que avançar uns bons anos, para aquela que foi a última verdadeira storyline de Paul Bearer na WWE – depois disso apareceu apenas brevemente em segmentos e angles – e temos que avançar a 2010. Kane era World Heavyweight Champion. O seu rival era Edge. E Edge, como o bom babyface que era, raptou-lhe o pai. Já por aqui está bom.
Mas depois dão-se os acontecimentos mais constrangedores como ter o monstruoso Kane a rebaixar-se e quase a implorar para ter o pai de volta, especialmente porque a época de festas, com o Dia de Acção de Graças e o Natal a chegar, ele só queria passá-los com o pai – conseguem imaginar as festas naquele agregado familiar? E Edge, tão bom rapaz babyface que era, recusava-se, mantinha o velhote refém e ainda fazia troça, como qualquer herói faria.
A coisa depois só piorava quando o babyface Edge andou a enganar Kane e a plantá-lo em sítios para o assustar, simulando várias maneiras de homicídio, que nem o bom samaritano que era aquele babyface. A coisa atinge o seu pique de esquisitice quando Kane se farta, deixa de cair nas brincadeiras daquele herói e ele próprio atira mais um Bearer falso por uma varanda abaixo. Tirando a parte que desta vez era mesmo Bearer, ao que Edge apenas reage dizendo jocosamente que o avisou, que nem o adorável babyface que era. 2010 pode ter sido um ano a meio de uma era algo insípida na WWE, mas ainda assim iam buscar cada uma…
9 – Amigo X-Pac
Caramba, isto devia estar na primeira posição. Não haverá muita coisa muito mais estranha do que a combinação de Kane com… X-Pac, de toda a gente possível no mundo. E isto quando ele ainda era relativamente recente e ainda tinha toda a mística misteriosa e monstruosa mais forte. Mas foi-se associar ao X-Pac e ainda arranjar uma miúda.
Tudo bem, ele até veio a ter muito sucesso com as meninas depois disso, parece que isso de ser um psicopata piromaníaco até é fixe para as sacar, mas na altura não deixava de ser uma imagem surreal e hilariante, ter o demoníaco Kane, a integrar os D-Generation X, a ser Campeão de Tag Team com X-Pac, e com a Tori a servir-lhe de namorada e manager. Diz-se sempre, “coisas mais estranhas já aconteceram”. Mas muito sinceramente nem sei.
O que ainda vem a acrescentar mais a isto é o facto de isto ainda apanhar – e romper – a fase inicial em que Kane era mudo e ainda não usufruía da sua aterradora voz. Foi aqui que começou a falar e vejam lá… As primeiras palavras que saíram do monstro vermelho foram… “Suck it”…
8 – 19 de Maio
Uma data como outra qualquer. Poderá ter havido algum evento de relevo nestes anos que alguém queira sublinhar. Poderá haver algum leitor aniversariante nessa data. Para Kane, era o suficiente para começar a ouvir vozes na cabeça – como o outro – e passar-se, desatando à castanhada com quem estivesse perto. Pronto, o ano era 2006, ele já era um veterano, já sabíamos que tínhamos uma história mesmo à Kane em mãos.
Mas não nos quiseram deixar qualquer espaço para dúvidas e carregaram na Kane-zice quando a sua voz a ecoar na arena ou vídeos no ecrã gigante, revelavam que aquela data era muito especial e guardava um segredo. Aprendemos que era a data em que a sua família morrera no incêndio. Traumatizante, de facto. Agora para capitalizar nisso, apareceu um outro Kane vestido como ele antigamente e afinal o que nos foi presenteado foi uma feud entre Kane e… Kane. Pronto, já éramos poucos e pariu a avó.
A presença de um Kane impostor – isso de impostores é algo sobre o qual ele podia pedir umas dicas ao seu “mano”, que também rivalizou com um “Underfaker” – não era lá muito “sweet” – para situalizar na referência a quem não saiba e para não ter que ir ver, o gajo no fato era o Luke Gallows – e os dois combateram até que o Kane verdadeiro saísse por cima e recuperasse a sua máscara. Não é que ele a usasse, mas uma pessoa fica a gostar mais de algumas coisas quando vê as outras pessoas a usar. E pronto, o que realmente saiu daqui foi um feriado internacional entre fãs de wrestling.
7 – Ser o Diesel
Ser o Diesel até nem parecia mau. Apresentado como um Heel destrutivo, com uma posição de guarda-costas, que cai nas graças dos fãs, marca recordes na Royal Rumble, vira Face e Campeão e é overpushed para o topo como principal babyface, quer os fãs ainda queiram ou não. Com isso, a não ser que sejas o Roman Reigns, até parecia divertido ser o Diesel. Logo até se compreende que seja fixe ser o Diesel.
Mas havia outra coisa que rendia além de ser o Diesel. Que era ter o Diesel. E a WWE já não tinha o Diesel. Mas queria o Diesel. Logo ia fazer uma cena: dar a oportunidade a outra pessoa de ter o gozo de ser o Diesel! E quem foram buscar? Um rapaz que lá tinham, à procura do seu lançamento, um Glenn Jacobs, que deu um dos primeiros ares da sua graça na WWE como… o Diesel. O histórico Fake Diesel. Mas que fique marcado, por um breve tempo, Kane foi o Kevin Nash. Soa esquisito, não soa? Tenho quase a certeza que há por aí algum episódio dos X-Files sobre isso.
Consta-se que esta seja a bizarra e inexplicável fase médica de Kane em que este tinha os seus quadrícepes mais sensíveis que em qualquer outra altura. Também acho que é certo que Kane tenha, hoje em dia, oficialmente um crédito no Magic Mike. Vá lá, isso nem sequer são as coisas mais tresloucadas que para aqui listo!
6 – Terapia
Se calhar já foi tarde. É do tipo de cenas a que se recorre para um miúdo que supostamente passou pelas cenas que passou. Mas lá acharam que a comer sopa e a dormir bem ficava curado e olhem, deu num gajo com um estranho fetiche por fogo e que de vez em quando lá lhe dá para electrocutar testículos às pessoas (que os tenham).
Pronto, para enumerar mais coisas que ele já tenha feito apenas têm que recordar o seu discurso neste mesmo segmento, em que passou por terapia, “anger management”, a apresentação do nosso adorado e retornado Dr. Shelby. O que deu o pontapé-de-saída para a sua equipa com Daniel Bryan que voltou recentemente aos nossos ecrãs – muita coisa desta altura a regressar. E, diga-se, dos segmentos mais hilariantes que eles foram capazes de fabricar naquela altura e que ainda muito bem recordados são hoje em dia.
Já brilharam um pouco por isso. Além das óptimas entregas, da boa escrita, algo que parecia muito difícil de obter por vezes, e da química… Foi isso. O surrealismo de ver Kane, de novo mascarado, numa reunião com outros pacientes, a explicar-se, sem quebrar o seu Kane, como conhecemos. Depois já o tivemos a celebrar ser os Tag Team Champions, gritando que ia à Disneyland. Aí então é que tínhamos a certeza absoluta de que era ouro que ali estava.
5 – Ser dentista
Profissão honrosa, de imenso respeito. Só não sei é se este aqui era exactamente o tipo de “doutor” que qualquer um de vocês gostaria de ter a mexer-vos na boca. Ou em qualquer coisa. Acontece que este também ainda não era o Kane e era, na verdade, o Dr. Isaac Yankem, porque ele teve com que se entreter antes de ser o Diesel.
Não foi coisa que durasse muito, era apenas o dentista pessoal de Jerry Lawler, com aquele aspecto especialmente irónico no que diz respeito ao acidente ferroviário que ia ali para aquela boca, e foi um mero peão na sua muito longa rivalidade com Bret Hart. Este até se orientou muito bem a defender-se do grandalhão “doutorado” e a despachá-lo. Deve ser daqueles que tem medo só de olhar para as ferramentas e ninguém o consegue deitar naquele cadeirão do consultório.
Ou então o Dr. Issac Yankem não era já coisa para durar muito tempo. Uma gimmick de dentista assombroso. Nem sei se realmente parece algo que renda a longo prazo ou não. Não foi o caso. Pelo menos ficou com o tema de entrada mais fixe que qualquer wrestler alguma vez tenha tido.
4 – Desmascarado!
Não foi em nenhuma Lucha de Apuestas, que ele não era desses. Anos mais tarde, nem máscara nem cabeleira realmente, mas aqui Kane apenas se desmascarou para uma grande revelação e um angle de tremendo choque. Ou qualquer coisa assim. Aquele seria o intenso momento em que revelaria a sua horrível cicatriz, a sua cara queimada pelo trágico episódio da sua infância.
Mas ninguém pensou muito bem naquilo. Tiveram que recorrer, obviamente, a maquilhagem para lhe dar as marcas terríficas. Que estariam por baixo da sua máscara. Num ringue situado por baixo de fortes luzes. Após uma actividade física puxada. Como disse, não pensaram muito bem no assunto. Quando ele remove a máscara, revela, para choque de todos, uma maquilhagem toda esborratada! Nossa!
Entendo que ele escondesse isso por vergonha. Revelar, após estes anos todos, que após ter sido vítima do incêndio, andou a esfregar a cara em cinzas assídua e pontualmente… Realmente é uma revelação daquelas, digno de talk show manhoso ou programa no TLC. Mas também… É o Kane, já fez coisas mais estranhas do que… Borrar-se.
3 – Aperaltado e de respeito
Isto devia ser a primeira posição, isto foi a coisa mais estranha que ele já fez. Tenho a certeza que foi assim que eu reagi na altura e tenho em mente que o anunciei e assim o declarei. De todas as louqueiras diabólicas que já tenha feito, quando apareceu de fato, gravata, bem falado e com uma posição autoritária, aí pensei e disse logo… OK, ele agora foi longe demais.
No entanto o surrealismo e ironia foram propositados e foi o que tornou toda a cena hilariante. Havia total consciência e até realce de que aquele Kane era o mesmo Kane que fez as cenas todas aqui listadas e que ainda faltam para completar este pódio. Mas com uma posição autoritária e com um profissionalismo e discurso intencionalmente forçados, enquanto víamos Kane a conter-se para ser esse profissional de boa postura. Até bater ali uma bipolaridade e ele ficar o velho Kane, obrigando ao hábito irritante que tinham de se referir sempre a ele como “The Demon Kane” para distinguir. Mas foi surreal e eu tenho sempre uma fraqueza por essas cenas.
Mas tudo isto encobre o verdadeiro primeiro classificado daqui. O verdadeiro momento mais bizarro da sua carreira. A sua carreira paralela. A sua entrada na política local, concorrendo a “mayor” da sua cidade. Que não deixa de ser um mimo e não consigo evitar pensar nele em debates a falar com o seu concorrente… à Kane. Ou os segmentos aqui listados a servir de propaganda com um “I’m Glenn Jacobs and I approve this message” no final. Só coisa boa é o que me passa pela cabeça. E olhando para os presidentes de Câmaras e Juntas que tenho aqui por perto… Quem me dera um Kane!
2 – Gravidez, aborto, etc.
Sabem aqueles clichés do wrestling, que um gajo já está farto que estejam sempre a envolver. As primeiras coisas em que se pensam quando se fala em wrestling. Abortos e essas cenas. Não estão fartos que seja sempre o mesmo “rivalidade por um título após alguém se apurar” ou o “no contest em TV para se resolver em PPV” ou “traição entre membros de equipa” ou “gravidez oriunda de aparente violação e a culminar na perda do filho e em bebés de plástico a ser pontapeados para a plateia”? Sempre a mesma coisa!
Claro que quando tiveram a ideia para essa história, nem lhes devem ter passado assim muitos nomes pela cabeça. Triple H? Não era esse tipo de vilão. JBL? Também não. John Cena? Por amor de Deus. Chris Benoit? Bom homem de família, nada disto. Undertaker? Esse é esquisito mas de outras formas, mas tinha um irmão que às vezes até o faz parecer normal. Claro que o gajo em questão ia ser o Kane. Lita era a vítima, Matt Hardy o defensor, para ter a certeza de que uma história destas tinha como culminar em ringue. Sim, isto ainda era o Raw, espectáculo de wrestling. Nesse combate estava em jogo… Um casamento, com Lita a casar com o vencedor, que foi exactamente a maneira como aconteceram todos os casamentos na minha família.
Já está jeitoso isto. Entretanto, o tal feto perde-se, por culpa do Snitsky – nope, não foi culpa dele – e Kane vira Face após o público simpatizar com o pobre pai destroçado, une-se a Lita. Entretanto… Edge acontece e Lita vira-se ao pobre Kane, concluindo a história entre estes dois. Com mais Snitsky envolvido. Porque pode sempre haver mais Snitsky. Incluindo neste Top Ten, onde já vamos para a segunda semana a falar nele!
1 – Adivinhem
Sim, isto tem sempre aqui uma imagem relativa à entrada, antes de lerem o texto. Os que sabem que isto também tem textos. Mas desta vez até deixei uma um pouco mais ambígua. Mas não de todo. Aquele que esteja meio apagado e não soubesse logo qual era o primeiro posicionado logo mal liu metade do título, pode lembrar-se ao olhar para estes dois e recordar a rivalidade.
Vamos a supor que realmente são assim tão distraídos e nem a rivalidade entre estes dois vos está a lembrar do que é. Vá, dou-vos uns segundos. Que são os segundos imediatos em que já calculam qual seria o primeiro classificado desta lista, logo ao começar. Vá, pensem. Que já pensaram. Kane… Triple H… Sobre o que foi a história deles? A unificação do World Heavyweight Championship com o Intercontinental, claro. E isso é estranhíssimo, nem dá para imaginar hoje em dia o título Intercontinental a ser retirado. É isso, não é?
Vocês estão fartinhos de saber o que é. Tão fartinhos que esta entrada até vai ficar muito breve em relação ao assunto. Porque já estavam fartos de saber e porque sei bem que já falei nesta história muitas vezes por aqui. Pronto. Katie Vick. Fetiches bizarros que se vêem na Deep Web. Screwed your brains out. Pronto, já estão esclarecidos, não estão? Acho que nesta até fazia falta lá o Snitsky também, a ver se animava mais a coisa!
Pronto, já chega disto. E daí nem por isso. Porque dá a entender que tudo isto é mau e excessivo. Mas foi isto que fez de Kane o que ele é hoje, que o fez conquistar respeito, que lhe construiu a sua personagem única. Não haveria Kane sem isto, nem haveria Kane sem o performer capaz de sacar destas coisas e vendê-las seriamente. E não haveria aquele canto escuro do wrestling sem Kane. Tudo para dizer que o gajo é dos grandes de sempre e o seu lugar no Hall of Fame é garantido, mesmo que provavelmente em chamas.
Agora podem comentar lembrando mais algum que achem que podia estar aqui – a carreira dele é isto – e comentando as boas recordações que têm de outros que por aqui estão. Fico satisfeito se tiverem já gostado e ainda mais satisfeito se participarem. O mesmo para a próxima semana, devo trazer-vos mais qualquer coisinha, também divertida espero. Até lá fiquem bem, continuação de um bom Verão, boas férias para quem as desfruta, boas festas populares para quem já as tenha na terra – a minha está por agora a acabar – e até à próxima!
3 Comentários
“foi isto que fez de Kane o que ele é hoje, que o fez conquistar respeito, que lhe construiu a sua personagem única. Não haveria Kane sem isto, nem haveria Kane sem o performer capaz de sacar destas coisas e vendê-las seriamente. E não haveria aquele canto escuro do wrestling sem Kane. Tudo para dizer que o gajo é dos grandes de sempre e o seu lugar no Hall of Fame é garantido, mesmo que provavelmente em chamas”
Isto. Excelente artigo.
Bom artigo, ele sempre foi dos meus superstrs favoritos acho que merecia mais um ou dois reinados antes de se aposentar
Excelente artigo, mais uma vez. Só fui me tocar qual era a primeira posição ao começar ler a segunda…