Sejam bem-vindos a um novo Top Ten, de volta aos rankings mais tradicionais. Boa recepção ao anterior, para já, há-de voltar algo assim. Para já, temos tema de conversa quando se assenta a poeira de um Backlash sobre o qual ainda nada sei e que surgiu ainda no meio da poeira que ainda não tinha assentado completamente do Greatest Royal Rumble.
Que não podia deixar de ter as suas controvérias esperadas, além da sua existência, formato e propósito questionáveis. Não foi a única vez que um burburinho internacional se causou. Olhemos para dez casos de confusões que causaram polémica ou originam de polémicas além-fronteiras.
10 – Aquele estrangeiro racista
Surpreendente. Normalmente quando recorrem aos estereótipos estrangeiros e a deitar abaixo o gajo de outro país… É um Face a ser racista perante um Heel estrangeiro e o público desata a cantar por “USA! USA! USA!” e está tudo correcto com isso. Por isso é que este caso é estranho, tínhamos um Indiano a gozar com um Japonês. Devia haver malta que nem devia saber o que dizer.
O Indiano gozão era o vilão e era Jinder Mahal, que defenderia o seu WWE Championship contra o Japonês favorito dos fãs Shinsuke Nakamura. E precisava de heat. Como se precisasse mais além do facto de ser Jinder Mahal e ser WWE Champion. Teve que recorrer ao barato e não podia ter recorrido a mais estereótipos duvidosos do povo Japonês para provocar Nakamura e originar segmentos sofríveis e muito questionáveis, tanto por um confuso público Americano, como por um público Japonês que via em Nakamura a sua salvação dos lutadores saídos de desenhos animados que cospem um fluido colorido, como se já lhes fizesse parte da natureza.
Segmentos de fraquíssima qualidade, salvos apenas pelo oversell daqueles geniais Singhs, ainda para espremer um limão por cima da ferida… Mahal saiu por cima na rivalidade, ou seja, o público Americano ou Japonês nem teve a oportunidade de vê-lo a pagar pelos seus pecados. Já a malta Indiana a lidar com a parte de ter um Canadiano a representá-los e ainda ter que levar com aquilo…
9 – Vai um samba para o Y2J?
Este título conta como ofensivo? É que não estou a procurar estereotipar nada, é mesmo uma cena vossa que merece toda a admiração e respeito. Que parece algo que não foi sentido no momento infame que vou aqui recordar e destacar.
Antes de mais, parabéns ao povo Brasileiro, após a confirmação da visita da WWE ao vosso país. Espero que se divirtam tanto como eu me diverti quando os recebi deste lado do oceano. E, para que se acalmem, consta que o Chris Jericho em princípio não vá. Fez algumas asneiras por lá da última vez que lá passou. Agora já terão alguém a tratar muito melhor a vossa bandeira e, com certeza, poderão contar com estrelas como a linda Taynara Conti ou Cezar Bononi a representar-vos em casa. Ninguém vai pontapear a bandeira nessa visita. Como fez Y2J num mero acto de obter heat… Que arranjou-lhe bem mais heat que o que ele podia esperar ou lidar.
Para além da vasta ofensa do povo Brasileiro que viu o desrespeito no acto do Superstar – que pretendia isso mesmo para a sua personagem – também existe a legalidade da situação. Jericho soube a meio do seu combate que seria necessário um pedido de desculpas público. Já havia a possibilidade de ser preso! As coisas lá acalmaram e o bom povo Brasileiro entendeu o propósito e perdoou. Jericho é bom rapaz, gosta do mundo todo. Procurem lá fotos de públicos em concertos dos Fozzy e encontrem a vossa vistosa bandeira. Ele não lhe faz nada!
8 – Elimination Chamber Alemã
Uma polémica mínima e de fácil resolução e que talvez não seja do conhecimento de muitos e que já tenha causado a confusão a outros tantos. Mas diga-se que “Elimination Chamber”, o combate e o PPV precisaram de umas pequenas emendas.
Diga-se que o termo “Elimination Chamber” não caiu bem na Alemanha e o povo germânico ainda está algo sensível a certos episódios sa sua história, ao ponto de evitar algumas coisas que possa trazer assim recordações. Nós entendemos o que é a Elimination Chamber e já vimos inúmeros combates do seu tipo para entender o seu título. Já na Alemanha, mesmo entendendo o combate… Não queriam abraçar o nome que sugerisse uma “câmara” que fosse utilizada para a “eliminação” do que quer que fosse. Entende-se.
Não causaram nenhum alarido, apenas lhe alteraram o nome. Se virem o evento e repararem no nome “No Escape”, não fiquem confusos, é apenas a versão Alemã, mais amigável e já sabem a sua origem. Esta já não tem implicações mais infelizes… Aparentemente…
7 – A lenda do Sr. White
O público Mexicano já pode ter as suas razões de queixa pela regular caracterização dos wrestlers Mexicanos neste produto televisivo. Lembram-se dos Mexicools? Eles andavam de cortadores de relva! Porque são, tipo… Jardineiros, estão a ver? O Vince Russo, sempre muito discreto, também afirmava sem ponta de vergonha que não havia lugar para lutadores Mexicanos ou Japoneses no wrestling Americano e colocava luchadores em combates “Piñata on a Pole” porque ele é um castiço.
Então e se evitarem o estereótipo Mexicano e forem exactamente para o contrário? Se calhar também é demais e sai aquela que poderá ser a gimmick mais bizarra a alguma vez pisar um ringue. OK, é exagero, já passou ali cada aberração… Mas Chavo Guerrero já passou pelas suas e lá deve ter recebido uns olhares de lado de compatriotas quando se apresentou como… Kerwin White. O maior estereótipo… Do caucasiano de classe média alta. Como qualquer Mexicano.
A gimmick acabou por ser largada com a trágica morte de Eddie Guerrero e Chavo voltou a abraçar o nome de família. Mas já antes disso, até a sua catchphrase teve que sofrer alterações quando a vá-se-lá-saber-porquê infame “If it’s not White, it’s not right” não caiu muito bem com o seu pueblo…
6 – Aulas de história com JBL
Como referência, podemos recuar ali ao incidente de Chris Jericho, que arranjou sarilhos num live event noutro país. Também podemos recuar ali à entrada da Elimination Chamber e aos assuntos delicados que permanecem como a vergonha e fragilidade do povo Alemão. São duas referências relacionadas com esta entrada.
Agora juntem à outra referência: JBL – e perguntem isto ao Brian Christopher, ao Mauro Ranallo, ao Paul London, a qualquer um que tenha convivido com ele – é meio tolo, não joga com o baralho todo e está-se bem marimbando para muita coisa. Juntem tudo e só pode dar cagada. Deu, num evento na Alemanha, em que o artista, em tom de provocação, estende o braço numa saudação Nazi e procede a marchar no ringue. Que nem o goofball que ele é.
Claro que é mais uma situação que é só heat para a personagem do eterno Heel asshole que é John Bradshaw Layfield. Foi tocar em feridas ainda muito abertas e causou o esperado ultraje mas foi só para o espectáculo. Mesmo sabendo que o gajo em questão é assim meio.. Atravessado…
5 – Aquele Screwjob
Pronto, pode não ser nenhum incidente internacional de cariz muito sensível nem sequer impediu a WWE de atravessar a fronteira norte. Mas marcou. Marcou aquela plateia de Montreal mas não a tornou hostil a cada recepção, muito pelo contrário. Recordem as plateias dos passados Raw e SmackDown, das melhores dos tempos recentes.
É uma característica das plateias em Montreal a ter em conta e que não deixa de ser relevante para este assunto. São ruidosas. Manifestam-se. Se calhar não são aquele aglomerado de gente com quem queiram gozar e insultar. Foi o que fizeram naquele infame episódio de 1997, num Survivor Series, com Shawn Michaels, Bret Hart, Vince McMahon e Earl Hebner. Ao que chamaram de “Montreal Screwjob”. Não me vou esticar a explicá-la, mas aconselho a que vão pesquisar porque nunca terão ouvido falar de tal acontecimento, com certeza. Eles mantêm-no tão low-profile como a invasão dos DX à WCW.
Não, não baniu a WWE de Montreal e até os azedumes entre a companhia/Vince/Shawn e o rapaz da casa, Bret, acabaram por ceder. Mas ficou o incidente com o nome da cidade e que eles viriam a saber explorar muito bem. Como naquela promo de Shawn Michaels em 2005… Ainda, sem dúvida, a minha promo Heel favorita…
4 – We the People!
Quando tentaram vender um co-evento principal de uma Wrestlemania, meteram-se numa polémica. Para mim resultou lindamente porque deu que falar e acabou por tornar bem mais notável um combate entre Alberto del Rio e Jack Swagger que, sem isso, seria vendido apenas com o interesse de… Um combate entre Alberto del Rio e Jack Swagger. Até aí chegava.
Mas este era um novo Swagger. A levar cada vez mais a sério a sua cena do “All American”, um título que ele começou a levar para o lado patriota e pateticamente exagerado, armou-se com Zeb Coulter para deitar cá para fora os seus ideais duvidosos sobre os imigrantes – especialmente Mexicanos – no seu país, apontando o dedo ao World Heavyweight Champion Alberto del Rio. Deve ter havido muito que até se levantou para aplaudir de pé – e só teve que esperar uns anitos para votar num candidato louco que trouxesse de novo o assunto à baila – mas claro que também se instalou a confusão.
Polémica abaixo da fronteira Sul e um pouco por todo o mundo, que obrigou a uma explicação e separação entre realidade e ficção, com um semi-amanhado pedido de desculpas pelas ofensas. A gimmick manteve-se, mesmo que um pouco mais cautelosa. O combate não conseguiu mais interesse que aquilo. E o Swagger, foi burro o suficiente para, também por volta dessa altura, andar com plantinhas que fazem rir até às orelhas e ser apanhado com elas para se meter em sarilhos. Não queria que entrassem no seu país e acabou proibido de sair do seu. Sortes.
3 – Sargento frustrado
A partir de um dos maiores representantes do patriotismo já cartoonesco que tanto se sentia no wrestling de antigamente, veio uma das histórias mais polémicas que mais os ia metendo numa alhada. Curiosamente esta não fez estragos lá fora. Pegou num conflito internacional delicado e causou muito sarilho lá dentro do próprio país. Especialmente para o próprio performer.
Sgt. Slaughter, lendário lutador, sempre foi um militar orgulhoso das suas listas e das suas estrelas na bandeira mas ali à entrada de década de 90 fartou-se, sentiu-se traído pela sua nação e foi simpatizar com o rival… Iraque. Até montagens com Saddam Hussein tinha. Tudo para arranjar um novo rival ao Mr. America himself, Hulk Hogan. E o que isso causou. Num tempo em que o kayfabe tinha mais vida e a malta era mais inocente… Foi um povo a virar-se a Slaughter. Não eram os meros apupos na arena. Era a falta de segurança na rua.
Sem se conseguir separar da sua personagem, Slaughter precisava de andar com segurança extra, tantas eram as ameaças de morte de Americanos traídos. Still real to them, dammit. Assim que fez o que tinha a fazer – largar o cinto para Hulk Hogan na Wrestlemania – lá se redimiu. Para salvar o couro. Imaginem que, hoje em dia, se arriscava algum conflito nuclear por causa de uma personagem de wrestling? Ah, eles arranjam pior se for preciso…
2 – Despeçam o terrorista
Um caso que ainda constará na memória de muitos saudosos deste Superstar. Muhammad Hassan era polémico. Mas era mesmo, esse movia mesmo uma plateia. Mesmo que fosse fruto dos ideais mais duvidosos de muito povo Americano – ele era radicalista nas suas acções mas se ouvissem o que ele dizia, ele tinha razão – era um Heel tremendo. E houve aquela vez que quiseram levar a coisa um pouco mais longe.
Numa rivalidade com Undertaker, Hassan lá acabou por fazer a tal cena de contradizer o que dizia ao atacar com acções mais extremas. Submeteu Undertaker a uma emboscada, em que este caiu vítima de Hassan e um grupo de tipos encapuzados. Como um grupo terrorista. O clima andava muito sensível e, num SmackDown pré-gravado, cortaram a cena. Mas onde é que não foi cortada a cena? No Reino Unido, onde o programa gravado é transmitido mais cedo. Lá foi para o ar intacto. O que tinha acontecido no Reino Unido, mesmo mesmo naquela altura? Um atentado em Londres. Borrada feita.
Como emenda, também eles foram radicalistas e em vez de enfrentarem o problema, simplesmente apagaram-no. Não só tirando o clip do ar como despedindo Muhammad Hassan de imediato, sem lhe dar sequer uma chance de mudar o rumo à história, mudar-lhe a gimmick qualquer coisa. Hoje ficam saudades. Digo eu que seja do Hassan e do seu heat fantástico e não de indivíduos encapuzados a estrangular pessoas.
1 – “Greatest” Royal Rumble
Claro que um evento de tão grande dimensão na Arábia Saudita não podia ser uma clean sheet, tinha que trazer muita água suja no bico. Para já, a sua dimensão. Isto podia muito bem ter sido apenas um live event especial, mas só imagino uma proposta exorbitante da realeza Saudita a deixar Vince McMahon com cifrões no lugar dos olhos e sacar um PPV daquilo, com uma quantidade ridícula e inexplicável de star power, num evento que até roubou build up ao Backlash.
Sim, há progressos sociais na Arábia Saudita e eles querem celebrá-los. Mas aquilo ainda está em babysteps. Sim, havia mulheres na arena, num evento onde por norma seriam proibidas, mas tinham que estar acompanhadas por um homem e as mulheres da WWE… Essas nem vê-las, meninas vêem a partir de casa. Depois têm eles que pedir desculpas ao povo pelo “conteúdo indecente” transmitido em televisão quando, por inocência, lá são transmitidas algumas imagens das lutadoras femininas. Blasfémia! Ainda por cima disso, também Sami Zayn, de origem e descendência Síria, não fez a viagem para o país que não abranda as tensões com esse seu país de origem. Ariya Daivari foi obrigado a pedir desculpas pela sua personagem, da qual saiu, porque já andava a receber ameaças de morte pelo que ele e o irmão disseram no evento.
Bro, o problema não é teu, não devias ter que explicar coisa nenhuma. Mesmo que fosse de esperar que um evento destes não pudesse ser assim tão smooth como eles queriam vender. Depois até o Corey Graves manda assim uma boquinha no seu Instagram. O que vale é que podemos todos relaxar e ver o Titus O’Neil a ir de cabeça, vezes e vezes em conta…
E com estes sarilhos globais em que uma empresa global se mete, concluo este Top Ten. Espero que tenha sido uma leitura entretida e que não vos tenha deixado nervosos a achar que ainda vai ser a WWE a causar a Terceira Guerra Mundial. Eles arranjam muitas outras razões piores para a fazer, não se preocupem. Comentem estes casos, o que acham da polémica que carregam, se a consideram exagerada ou se acham que eles deviam ser mais cuidadosos com certos assuntos. E acrescentem algo que vos venha à cabeça que achem que mereça destaque.
Para a próxima semana devo cá andar com qualquer coisa, veremos o que se arranja, mas marquem presença porque talvez vos surpreenda. Fiquem bem, comportem-se, nada de arranjar encrencas com outros países e até à próxima!
4 Comentários
Excelente.
Bom post!!!
Espetacular
Muito bom artigo.