Sejam bem-vindos a um novo Top Ten, com um SummerSlam já aí. E é sobre esse mesmo evento que já planeava redigir-vos algo, recorrendo a uma das subséries deste espaço. Sei que há um recente e já nele mencionei que planeava mais disso em breve. E mesmo que não tenha sido dos mais populares entre todos os leitores… Compreendo, respeito, até esperava… Cá estou de novo a tentar tornar isto divertido para quem ainda os aprecie.
Acho este mais forte que o anterior por uma razão muito simples: a época em que foi. Dois acontecimentos bizarros aconteciam ali por finais de Agosto de 1993. No dia 25, nascia este desgraçado escriba que chega a vós todas as semanas com disparates diferentes. Cinco dias depois, acontecia o SummerSlam 1993. Que podem ver pelo ano que não pode ter sido tão normal. Vá lá… Nem um punhado de meses de diferença para com a Wrestlemania IX teve! Recordemos!
10 – Bem-vindos… Quem quer que vós sejam
Hoje em dia parece surreal ao vermos a WWE a abrir as portas a outras companhias, a fazer acordos com independentes internacionais, a ser mais aberta em relação ao seu exterior, que existem mais coisas, numa era em que todas as companhias de wrestling parecem estar unidas, com acordos umas com as outras. Imaginar a WWE a fazer uma parceria verdadeiramente dita, para a sua própria TV, ainda parece um esticão grande, mesmo que ainda seja isso que estejam a fazer com a divisão Britânica.
Mas antigamente tinham fases mais abertas a isso, com companhias com quem não estivessem em guerra aberta. Em 1993 conseguiram um bom acordo com Jim Cornette e a sua Smoky Mountain Wrestling. Não incluía todo um plantel, quem a WWF/E recebia emprestado era o próprio Cornette e um pouco da divisão de equipas, especialmente os Campeões Heavenly Bodies. Tudo bem. Competiram no SummerSlam. Ainda melhor.
Os Heavenly Bodies, constituídos por Jimmy Del Ray e Tom Prichard, desafiaram os Steiner Brothers pelos WWF Tag Team Championships, no SummerSlam, num notável campeonato interpromocional a merecer toda a atenção, hype e construção de um co-main event. Excepto que… Não teve nada disso. Não foi construído e apenas teve breves menções, para o que merecia, chegando ao evento com um campeonato com dois indivíduos que, os menos atentos, não sabiam quem eram nem de onde vinham. Isto é saber aproveitar!
9 – Contagens d’um raio…
Resultam? Até resultam. Sabem bem? Não, são azedas quanto baste. Mas é uma regra no wrestling e da qual usufruem para concluir o combate. Tens dez segundos para voltar ao ringue, senão chapéu. Dá para tudo. E por vezes recorrem a isso demasiadas vezes e nem sempre cai bem. Aqui um indivíduo lendário andava a dar muito trabalho ao árbitro nesse sentido.
Shawn Michaels derrotou Mr. Perfect num combate pelo título Intercontinental que fede a clássico intemporal com essa combinação de nomes. E venceu por contagem porque ele era um vilão manhoso e tinha um Diesel de quem podia tirar partido para que fizesse aí umas candongas no exterior, para que Michaels não precisasse de efectuar o pin. O que isso fazia? Potencialmente fragilizar o reinado de um grande Campeão Intercontinental. Era um “asshole” cobardolas? Diz que sim, mas já se estava a encher disso, visto que na Wrestlemania IX, outro grande palco para resultados desses, ele reteve o título ao ser ele mesmo contado e desqualificado.
Por acaso no anterior PPV, o King of the Ring, conseguiu o pin em Crush, mesmo precisando da ajuda de Doinks. Mas pronto, é um pin, para não ser só disto ou ganhar ao Max Moon. Além do azedume, isto nem teve seguimento. Mr. Perfect tinha todo o direito e razão para pedir um rematch, mas não tornou a lutar. Não só pelo título, mas na companhia sequer, até quase dez anos depois.
8 – A profunda história de Ludvig Borga
Até pode parecer implicar só por implicar mas é mesmo algo ao qual dou valor que haja e que torço o nariz quando não há. Histórias. Mesmo actualmente existe muita coisa marcada encima do joelho, motivada por algo mínimo e repentino. Quando eu gosto que as coisas se desenvolvam e se vendam ao longo das semanas, no produto televisivo. É uma das razões para se assistir a este espectáculo de homens em spandex. São as histórias que contam enquanto usam o spandex.
Os Kickoffs são chatos porque é quase só vinhetas e montagens a recordar a história que já sabemos? Pronto, mas têm a Renee Young e eu gosto que seja possível fazer essas montagens e mini-filmes e que haja material para tal. Então pronto, esta chatice toda só para situar: gosto que haja história. Neste tempo… Nem sempre havia e muito enchiam o card com qualquer coisa. Revejam lá a estonteante Wrestlemania IX. Há restos ainda neste SummerSlam.
Ludvig Borga era um Heel estrangeiro encaminhado ao topo, lá lhe deram um squash ao Marty Jannetty sem construção. O curioso é que este combate não estava originalmente planeado. Mas, vejam lá, Borga que realmente até podia usufruir dessa vitória dominante… Não estava originalmente agendado. Ia ser Marty Jannetty e Rick Martel, mais ou menos com as mesmas motivações. Mas tornou-se impossível para Martel. E pronto, assim se faz um combate. Pronto, tem isso… É fácil substituir alguém neste caso…
7 – Tanto Adeus…
Um factor trivial e até algo surpreendente que não se poderá apontar como uma lacuna no evento mas sim como um certo azar. Uma curiosidade. Talvez nem tantos tenham notado mas muita gentinha “desapareceu” depois do SummerSlam de 1993. Não, não foi nenhuma onda de “walk outs” ou alguma consequência de um espectáculo assim tão mau. São mesmo coincidências e casos curiosos.
Por esta altura, já não havia Hogan, quando ainda se pretendia que houvesse, mas ele já tinha amuado porque não queria perder o título para o Bret Hart ou limpo para ninguém. Mas esse já lá não estava. Olhemos a outros casos mais significativos.
Ted DiBiase lesionara-se já no início do ano, envolvendo o pescoço e já andava a esticar o que podia fazer. O seu combate com Razor Ramon neste SummerSlam foi o seu último e retirou-se. Shawn Michaels foi suspenso pouco depois, ainda Campeão, e voltou para substituir Jerry Lawler, também ele suspenso pouco depois por acusações de coisas pouco bonitas. Também Mr. Perfect, seu adversário, tinha planos para rivalidades e culminações mas saiu pouco depois, voltando no ano seguinte com um papel inactivo e retornando como lutador apenas em… 2002! No estranho embate entre Bret Hart e Lawler, que envolviu Doink the Clown, aqui se deu a Face Turn de Doink. Foi o final do Doink bom, sim… Mas houve uma despedida maior que essa. O seu intérprete, Matt Osborne, acabaria por ser despedido pouco depois e substituído por Ray Apollo, entre outros, incluindo o grande Brooklyn Brawler. O mais trágico: Giant González! Teve a sua Face Turn, vinha uma nova feud em breve… Não aconteceu, foi embora pouco depois, sendo o que deixou mais saudades. Um desvaste curioso que até passa despercebido…
6 – Esses Japoneses…
As manias que sempre tiveram e ainda têm de retratar os estrangeiros como pragas anti-Americanas, retratando-se a eles como os perfeitos e tolerantes – que é exactamente isso que essas interpretações demonstram – já são velhas e já se tornaram velhas. Mas é sempre caminho fácil a percorrer-se e ao qual recorrer. E às vezes até rende. Outras vezes não faz muito sentido.
Como por exemplo, nesta altura tínhamos o já mencionado Ludvig Borga, o forte anti-Americano a representar… os Finlandeses. Como se esse povo estivesse lá a meter-se com alguém. Mas o maior inimigo por esta altura era… o Japão. Estão a ver o quão ameaçador é o Japão hoje em dia? Já o era nestes tempos, mas por alguma razão, em arenas onde estava a WWE, ainda estávamos na Segunda Guerra Mundial e o Japão era um inimigo mortal. O seu representante era Yokozuna, para melhorar a situação. Um Samoano a representar o Japão. Não é que vender a ideia dos EUA em guerra com a Samoa fosse dar em muita coisa propriamente credível mas… Sei lá, eles são meios tolos.
O SummerSlam de 1993, com esse evento principal entre esse Japonês malvado e o Americano mais Americano que descobriu esse amor pela pátria, em vez do amor pelo seu próprio reflexo, após lhe emprestarem um helicóptero, Lex Luger… Teve que ter cantares de hinos. Felizmente não se armaram muito a deitar outros abaixo ou a interromper. Mas essas guerras de países em ringue e demonstrações de patriotismo cego tornam-se sempre embaraçosas num instante…
5 – Hart vs Lawler… Mais ou menos
Não foi mau, até foi um ponto de interesse na muito extensa rivalidade entre Bret Hart e Jerry Lawler, que começou quando Bret Hart venceu o King of the Ring e Jerry desafiou o seu “poder” como “Rei” e que se extendeu por mais dois anos, com várias interrupções pelo meio. Este foi um combate muito aguardado e que, neste ponto, culminou numa salganhada. Sofreu de um mal que existiu sempre e hoje ainda abunda: o overbooking.
Um combate regular não podia ser, mas se calhar era mais ou menos o que se queria, para já. Mas começou com Lawler a dirigir-se ao ringue de canadianas, afirmando que uma lesão não o permitiria competir. Como subtituto, Lawler anuncia Doink the Clown e fica a assistir de perto, enquanto Bret domina maioritariamente o seu combate. Se sabemos a estrutura deste tipo de combate/segmento, imaginamos Doink a levar uma sova e Lawler a interferir rapidamente. Mas a rápida sova estendeu-se por quase dez minutos, tínhamos mesmo um combate e então Lawler finalmente interfere, expõe a falsidade da sua lesão e é forçado a competir. É derrotado em menos tempo que o combate anterior com Doink, mas Bret não larga o Sharpshooter, por mais de três minutos, obrigando a interferências e à sua desqualificação.
Lawler “vence” o combate e o título de “Undisputed King” manco, num combate onde aconteceu muita coisa, talvez demasiada. Até Doink teve uma Face Turn e ele era um terceiro pouco necessário para esta feud. A feud seria para prosseguir mas ainda por cima disso, por azar e para deixar as coisas mais confusas, as acusações que deixaram Lawler em maus lençóis fora do ringue, obrigaram-no a ser repentinamente substituído por Shawn Michaels na mesma história. Podiam ter deixado, para aquela altura, no mínimo um combate em condições e depois brincar com algumas coisas em TV para prolongar a rivalidade. Ficou um combate trabalhoso de se acompanhar.
4 – Owen Hart? Quase
Muitos que ainda se recordam da recente edição que fiz do “Worst of” e que notaram que realmente não era dos que tinha mais força, em comparação a outras edições de todo este espaço, lembram-se que até aldrabei um pouco a contagem para preencher as dez posições e “queixei-me”, meio em tom de brincadeira, dos nomes que não estavam lá totalmente.
Aqui repito a proeza mas aqui o caso é bem mais sério. Aqui não sou eu a divertir-me com jobbers e lowcarders que admire, é mesmo alguém cujo aproveitamento andava a anos-luz do que lhe era merecido. Owen Hart, sem sombra de dúvida um dos maiores talentos, teve uma fase em que andou a ser fortemente ignorado. E integrou o SummerSlam de 1993… No seu “dark match” porque não havia nada para ele para o grande evento onde até existiam combates sem história ou construção. Nestes tempos nem havia um “Kickoff”… Era mesmo só para a malta a chegar à arena.
1993 não foi muito famoso para Owen, de facto, e isso manifesta-se também aqui. Resgataram-no e compensaram-no bem no ano seguinte – no SummerSlam seguinte já tinha um main event para a história – mas nesta edição… Teve que se contentar em derrotar Barry Horowitz. Ou seja, nem sequer uma vitória que valesse algo, foi só sobre um dos jobbers de aprimoramento residentes…
3 – Hoganzices
Algo que não prejudicou o evento em si, porque desenrascou-se sem parecer que tenha deixado grandes consequências. Foi algo que até deixa a pensar se não terá tido, em alguns aspectos, um desenlace melhor que o inicial planeado. Mas olham para o título, vêem quem estava envolvido e lembram-se da altura em que isto foi. Já devem saber que vem aí banhada.
Como devem saber, já Hogan não fazia parte da WWE. E muito devido a uma birra. Essa birra está directamente relacionada com o SummerSlam e o seu main event. Após a sua conquista do WWF Championship induzidora de vómito na Wrestlemania IX, o plano era que Hogan defendesse e perdesse o título para Bret Hart aqui mesmo, no main event do SummerSlam. Ele aceitou. Ao início. Depois amuou, diz que usou uma desculpa qualquer de que um Face não devia perder o título para outro Face, e preferiu perder o cinto no King of the Ring, com um genial e fantástico finish em que perdeu porque um falso fotógrafo Japonês lhe apontou um flash aos olhos e o cegou. Isso mesmo.
Alteraram-se os planos e a coisa safou-se bem. Aqui o problema pode estar todo antes do SummerSlam, em vez de no evento em si. Mas está directamente relacionado e acho que relatei aqui coisas suficientes para fazer qualquer leitor levar a mão à testa…
2 – He’s baaaack!
Ah maravilha… Claro que isto tinha que acontecer. Que todos os anjos caíssem do céu se isto não se concretizasse. Há coisas demasiado boas para apenas acontecerem uma vez. E nós precisávamos mesmo deste particular rematch da Wrestlemania IX. Undertaker precisava de mais este combate para o seu repertório. Nós precisávamos, mais uma vez do… Giant González! Claro que tinha que haver mais!
Vá-se lá saber por que razão, mas acharam que os assuntos ficaram inacabados entre os dois gigantes, após o uso de clorofórmio, melhor arma alguma vez utilizada num ringue, venha toda a criatividade dos sádicos da CZW. E havia algo a resolver. Correcção: havia mais desse wrestler estupendo que era o Giant González para ver. E tivemos um Rest in Peace match no SummerSlam 1993. Que era apenas um combate sem desqualificações, porque isto de inventar nomes para os combates só para lhes dar assim uma certa graça já é velhinho. E todo o mundo pôde usufruir da bênção que foi ver González a lutar outra vez.
E pronto, para desilusão de todo o bom apreciador, num combate sem desqualificações, onde se podia usar clorofórmio à vontade, a torto e a direito, o raio do combate acaba… Por pin fall. Que é isto, um combate de wrestling? Undertaker recupera as suas forças assim que Paul Bearer recupera a urna a Harvey Wippleman e lembra-se que ele sabe lutar e o Giant González não sabe muito bem como movimentar-se como um ser vertebrado. E a partir daí deve ter ganho. E foi mais um clássico.
1 – Bro… Não ganhaste nada…
O pior deste evento? Não sei, digam-me vocês. Mas para mim é dos momentos mais parvos e hilariantes de que me possa recordar. Como alguém que assistiu a isto anos depois, obviamente, só pensava se seria o único a achar que tal fazia zero sentido. Pude comprovar que, no geral, foi estúpido, sim. E o que foi? Ora então, o fecho do grande evento.
No evento principal tínhamos Yokozuna a defender o WWF Championship contra alguém capaz de defender a pátria. E de pegar no Yokozuna, que foi o que motivou tudo. Lex Luger. O seu push foi razoável? Claro que não. A companhia precisava de um novo Hogan a toda a força e recusava-se a aceitar que já tinha um Face de topo elegido pelos fãs em Seth Rollins AJ Styles Daniel Bryan Bret Hart e achavam que tinha que ser, a todo o custo, Roman Reigns Lex Luger. Então toca a atafulhá-lo e a fazer de tudo para o fazer parecer fortíssimo. Ou parvo, o que estivesse mais à mão.
A estipulação do combate era que se Luger não conseguisse conquistar o título – e honrar o seu país ao deitar abaixo aqueles Japoneses do Diabo – não teria mais nenhuma oportunidade pelo WWF Championship na sua carreira. O combate foi razoável e Luger finalmente consegue ficar por cima com um golpe que deixou Yokozuna inconsciente no exterior. Ganhou por contagem. O título? Chapéu. Apercebe-se, coberto de remorsos, do seu erro e entra em desespero? Nada disso, celebra que nem um doido o seu enorme feito. Festeja como se fizesse parte dos B Team e ainda se juntam a eles os restantes babyfaces para sublinhar que eram tão espertos como ele, para celebrar em êxtase o facto de Luger não ter ganho um chavo e não ter qualquer chance de tentar outra vez. Ao menos o fecho do Survivor Series, com o mesmo protagonista foi mais normal… Só celebrou no ringue com o Pai Natal. 1993 foi um ano estranho para caraças…
É esta a revisão que tenho a fazer do SummerSlam de 1993, que espero que tenham gostado de ler e que se tenham entretido, pelo menos um bocado. Que até tenham gostado mais que o anterior “Worst of” que admito que não tinha as balas todas – que é o que eu acho de tudo o que faço, não digam a ninguém. Também resta esperar que este SummerSlam que se avizinha seja melhor. Com isso, só me resta pedir que comentem a qualidade deste evento, defendam-no, afinal de contas é perfeitamente razoável de se desfrutar, casquem nele também se quiserem. À vossa vontade.
E também me resta desejar-vos um bom SummerSlam, uma continuação de umas boas férias, ou entradas nelas, qualquer coisa, acho que é tempo de já quase todos as terem saboreado um mínimo. Férias essas que agora o Top Ten vai desfrutar um pouquinho. Para alívio pena vossa, o Top Ten voltará daqui a umas semaninhas, em Setembro. Até lá, portem-se bem, não se esqueçam deste cantinho e haja saúde e boa disposição! Até à próxima!
2 Comentários
A new generation era, foi sem duvidas a pior era da wwe, apesar de termos bons nomes como ‘Bret Hart, HBK, Razor Ramon, etc.. Nenhum deles tinha fama mundial igual Hogan, Randy Savage, andre the giant. Os ppvs e rivalidades eram fraquissimos. Com excessao da WM 10, as demais WM desta era foram horriveis, so se salvando um combate ou outro. A wwe na época tbm tava passando por crises financeiras, e escandalos como por exemplo o caso dos anabolisantes. Por sorte a wwe conseguiu se reerguer com Attitude era!
muito bom.