Ocasionalmente, assistimos a uma edição do Raw tão má que consegue ultrapassar aquilo que julgávamos aceitável. É nestas alturas que acreditamos já ter assistido ao pior que a WWE podia apresentar, o que a companhia encara como um desafio pessoal e apresenta então outra edição ainda pior do que estávamos à espera. Isto já tinha tendência a acontecer nesta altura do ano. O intervalo entre o Summerslam e o Royal Rumble, dois dos maiores eventos do ano, é dos menos interessantes do ano e a altura em que os fãs se ressentem mais da falta de motivação da companhia. Este ano tal agravou-se significativamente, dada a quantidade de eventos especiais que a WWE se propôs a realizar e a transmitir num curto espaço de tempo. Vários eventos foram apresentados de seguida, por vezes com poucas semanas de intervalo.

Se apresentar semanalmente várias horas de programação, todos os anos, sem intervalo nem off-season, já é criativamente complicado, então intensificar ainda mais o ritmo ao criar vários eventos especiais seguidos é ainda mais complicado. O resultado é exatamente aquele a que assistimos – numa só edição do Raw a WWE é capaz de tentar promover três a quatro eventos ao mesmo tempo, o que por sua vez leva a um descontrole criativo. Portanto acabamos por assistir aos mesmos combates vezes e vezes sem conta, com a mesma rivalidade a ser esticada e alargada ao máximo.

Resumindo e concluindo, já não são as histórias contadas naturalmente a ditar a necessidade de eventos especiais ou até mesmo aspetos básicos como estipulações. Há muito tempo que é o calendário que manda, mas o calendário anda a ficar mais exigente e mais preenchido de ano para ano. E, embora o calendário nunca pare, os lutadores param. Roman Reigns foi obrigado a afastar-se da WWE por motivos de saúde e Braun Strowman foi recentemente operado. Ou seja, as duas estrelas mais promovidas dos últimos anos foram obrigadas a ausentar-se e agora a WWE está a patinar, criativamente.

A falta de motivação da WWE em proteger mais do que um ou dois indivíduos revela-se como o seu maior inimigo nestes momentos em que na ausência das estrelas a sério – Roman Reigns, Stephanie McMahon, Triple H, Brock Lesnar e pouco mais – praticamente ninguém tem credibilidade para aguentar o barco e o impedir de afundar. A juntar à falta de generais na batalha temos o eterno problema de a programação ainda ser, maioritariamente, dirigida e escrita por homem de setenta anos com um péssimo sentido de humor e noções criativas questionáveis.

Portanto, praticamente todos os anos assistimos a uma tempestade perfeita onde tudo o que pode correr mal, corre mal e a apresentação do produto no total não passa de uma experiência embaraçosa e muito complicada de assistir.

A edição desta semana teve todos os clássicos problemas criativos da WWE comprimidos em apenas três horas. Tivemos, claro, o destaque desproporcional numa estrela que ainda não justificou tal investimento, o que nos leva a Baron Corbin.

Opinião Feminina #342 – Remarkably bad

Apesar de já ter protagonizado momentos interessantes no seu novo papel como um dos vilões principais do Raw, Baron Corbin não tem talento suficiente para justificar esta aposta, para justificar todo este destaque e isso impede que seja levado a sério pelos fãs. Também não ajuda que Baron Corbin tenha apenas começado a treinar Wrestling há seis anos. Corbin é, única e exclusivamente, um talento treinado de raíz pela WWE. Não há nada de errado nisso, mas a experiência dita que são muito poucos os talentos desse género que vão longe ou têm genuíno talento e sucesso. Estas são as estrelas mais vulneráveis, são as estrelas que mais rapidamente desaparecem da indústria e se afogam no circuito independente quando saem da companhia. Basta avaliar o percurso das várias estrelas treinadas pela WWE depois de saírem da companhia. É certo que por vezes surgem exceções, mas esta continua a ser a regra.

Para além disso, a ideia do chefe mau que está sempre a manipular as regras para prejudicar os seus subordinados já foi repetida até à exaustão, com inúmeras pessoas a tentarem desempenhar os dois papéis. No entanto, a realidade é que só funcionou uma vez! Em vinte anos, esta história só funcionou uma única vez e, infelizmente, isso foi o suficiente para a WWE não tentar mais nada nas décadas que se seguiram. Não vai funcionar novamente. Não neste clima, não nesta realidade que agora a indústria vive em que a WWE nunca esteve tão segura, do ponto de vista financeiro, e em que não restam quaisquer dúvidas sobre o que é que é mais forte – se a companhia, se o lutador.

Portanto para além da história gasta e sem sentido, temos o facto dos papéis não terem sido dados às pessoas certas. Corbin não é bom o suficiente para justificar todo o destaque que tem e, volátil como a companhia é com todos aqueles que não são extremamente protegidos, nada nos garante que daqui a um mês Corbin não está no pré-show do Royal Rumble, tendo perdido todas as suas funções, ou até mesmo no olho da rua. Quando todo o programa é baseado num talento tão frágil e pouco credível como Corbin, não é de admirar que colapse. Assistir a um trio de vilões a dominar todo o episódio, liderados por uma estrela sem qualquer credibilidade ou talento que justifique a sua posição, sem nunca surgirem heróis para equilibrar as contas ou impedir as várias injustiças que foram acontecendo é a fórmula errada para o sucesso.

Aliás, mais embaraçoso do que assistir à última edição do Raw foi assistir à reação (ou falta dela) dos fãs a assistir ao vivo.

Opinião Feminina #342 – Remarkably bad

Ao passo que Baron Corbin não tem credibilidade, nem talento suficiente, para justificar ainda o seu destaque e importância no evento, temos estrelas como Seth Rollins e Dean Ambrose – os claros sucessores ao trono depois das ausências forçadas de Braun Strowman e Roman Reigns – a serem desperdiçados em combates repetidos e segmentos sem qualquer sentido ou propósito.

Já se previa que a WWE não iria deixar Roman Reigns recuperar sossegado sem atormentar os fãs. A despedida emotiva e cheia de classe que a WWE deixou Reigns fazer, há várias semanas atrás, era boa demais para ser verdade. Desde então, a WWE tem usado os problemas de saúde de Reigns na rivalidade de Rollins e Ambrose, como se estes dois não tivessem história e talento suficiente para construir uma rivalidade sem sentirem a necessidade de explorar os problemas de Reigns.

Foi por isto que Reigns nunca funcionou da forma que a WWE idealizou. Esta constante necessidade do manter no centro de todas as histórias que não o envolvem, como se por acaso, nos dias de hoje, com redes sociais e contacto constante, os fãs se fossem mesmo esquecer que Roman Reigns existiu e foi uma parte importante dos últimos da WWE!

E, se continuar assim, vai ser por isto que a ovação que Reigns vai receber quando fizer o seu regresso – se tudo correr bem, como é óbvio e se este receber autorização para retomar a sua carreira como lutador – não irá durar. Nenhum fã vai ter coragem ou a falta de classe do apupar aquando o seu regresso, mas a WWE vai perder a oportunidade do deixar começar do zero se continuar a massacrar os fãs desta forma. Foi exatamente isso que aconteceu em 2014, quando Reigns sofreu uma lesão, teve que se afastar e, durante a sua ausência, a WWE manteve-o presente na memória dos fãs da forma mais esfarrapada que arranjou. Os fãs ressentiram-se e isso notou-se quando ele voltou.

A WWE vai sacrificar uma rivalidade entre dois enormes talentos que tinha tudo para ser das melhores coisas que já fez ultimamente, tudo para impedir as pessoas de se esquecerem de Roman Reigns – algo que nunca esteve em perigo de acontecer. E depois, quando Reigns voltar e, mesmo assim, não funcionar como a companhia idealizava, vão todos perguntar outra vez porque é que os fãs são tão teimosos, mimados e infantis. Aqui está a resposta.

Dean Ambrose sabe fazer melhor – muito melhor – do que fez na passada segunda-feira e aquilo que vimos foi um insulto ao seu talento e à nossa inteligência. É isto que acontece quando a pessoa responsável pelo departamento criativo já perdeu toda a sua ligação com a realidade.

O único momento desta edição do Raw que pode ser visto como minimamente aceitável foi o combate de Seth Rollins com Dolph Ziggler que, devido aos talentos envolvidos, não foi uma completa tragédia. Mas, no fim do dia, depois de um episódio tão desmotivante como este, não era de mais um combate entre estes dois que os fãs precisavam. Seth Rollins tem sido, ao longo dos últimos anos, a estrelinha brilhante da WWE que, apesar de tudo o que a companhia inventa, de todos os disparates que assistimos, vai permanecendo, vai resistindo e vai iluminando o caminho. O que não falta no currículo de Rollins na WWE são momentos em que ele foi a melhor coisa de determinado evento ou a única salvação. Infelizmente, nem ele foi o suficiente na passada segunda-feira.

Opinião Feminina #342 – Remarkably bad

Não vou falar de tudo o que correu mal no último Raw. Não tenho estômago para o fazer, nem sinto que exista necessidade para tal. Vou, propositadamente, ignorar os segmentos que Drake Maverick anda a protagonizar e a forma como os Authors of Pain venceram no Raw. Infelizmente, o sentido de humor de Vince McMahon é famoso e ocasionalmente temos de ver talento a sério ser desperdiçado em segmentos deste género porque, algures, o grande chefe da WWE acha que têm piada.

O meu outro grande problema com o último Raw foi a interação de Nia Jax com Ronda Rousey. Desde que Nia Jax lesionou Becky Lynch, num acidente que tem sido muito discutido e falado, que esta tem recebido vários apupos. O que faz sentido, visto que lesionou uma das maiores estrelas que a WWE tem neste momento e impedindo que esta enfrentasse Ronda Rousey, naquele que era um dos combates mais esperados da divisão.

Não tenho muito a dizer sobre o acidente. Acredito que tenha sido um acidente, como é óbvio, porque não sequer colocar em hipótese que possa ter sido propositado. Acho que teve bastante a ver com a inexperiência de Nia Jax, visto que não é a primeira vez que ela está envolvida em acidentes do género. Penso que isso inviabiliza um pouco o investimento da WWE nela, mas a companhia não consegue resistir a heat grátis e dada a forma como os fãs reagiram ao acidente, a WWE decidiu apostar ainda mais nela e tornar o acidente parte da história.

Não me incomoda particularmente que agora Jax faça alusão ao que aconteceu e o use para se promover, mas incomoda-me que ela comece a ter destaque na divisão que não tem talento para justificar, tal como Baron Corbin. Infelizmente, tal como já se viu neste Raw, tentar usar a lesão de Lynch para promover Jax nunca iria funcionar a longo prazo. Os fãs não apuparam Jax porque ela é uma vilã credível com pernas para se aguentar sozinha. Apuparam-na porque ela lesionou alguém que idolatram. E isso chega para lhe ganhar alguns apupos, mas não chega para fazer carreira e se estabelecer como vilã respeitada e devidamente odiada.

Isto provou-se na última edição do Raw, onde Jax fez uma promo  em frente aos fãs e só recebeu silêncio absoluto como resposta. Não ajudou o facto desta não ter carisma ou sequer habilidade para se aguentar ao microfone num ambiente daqueles – a fazer um discurso longo e completamente sozinha, sem ter alguém com quem trocar galhardetes. Jax afundou tal como o Titanic num segmento embaraçoso e complicado de assistir.

Como se isso não fosse o suficiente, Ronda Rousey interrompeu-a e juntou-se à festa. Ora, Rousey tem carisma e presença. Isso, ninguém lhe pode tirar. No entanto, ela não é muito boa ao microfone. Consegue desenrascar-se, se o discurso não for muito longo e for ela a escrevê-lo, mas não é assim que o mundo da WWE funciona. A WWE é muito agarrada às suas fórmulas e às suas rotinas e, infelizmente, monólogos e longos segmentos de conversa fazem parte, independentemente da capacidade dos lutadores para o fazerem com qualidade. Foi um segmento desconjuntado, sem qualquer sentido, e que não beneficiou nenhuma das duas. Ambas perderam muita credibilidade por terem sido expostas desta forma.

Enfim, a última edição do Raw foi desmotivante em muitos sentidos. Não sei se foi mais desmotivante assistir à forma como, deliberadamente, a WWE prejudicou alguns dos melhores talentos desta geração, ou de mais uma vez ser forçada a perceber que, os anos passam, mas os erros mantém-se. No fim do dia, já vimos tudo isto acontecer antes, apenas com pessoas diferentes. Obrigada e até daqui a duas semanas!

7 Comentários

  1. Anónimo6 anos

    segundo Site PWInsider, este último raw foi comandado por Vince Mcmahon, disseram que Vince estava nos bastidores, e foi quem escolheu os segmentos, então devemos agradecer ao Vince por este raw horrível,

    • Todos os shows da WWE são comandado pelo Vince, e ele sempre escolhe todos os segmentos. A noticia disse que foi o Vince que escreveu maior parte do show, e não seus escritores como de costume.

    • O Vince está no comando da WWE há décadas e nem sempre foi bom/mau… não é coisa só de segunda-feira.

  2. Anónimo6 anos

    e concordo com o que disse em relação ao Roman, a wwe deveria deixar os fãs sentirem a falta dele…

  3. Anónimo6 anos

    li essa notícia em um Site brasileiro, que não vou falar o nome pois não vem ao caso, mas a notícia está escrita exatamente como eu disse…

  4. Infelizmente a falta de competição faz com que a WWE não ligue tanto para estas reclamações. Espero realmente que considerem alguma mudança para este próximo RAW

  5. Rafael6 anos

    Roman reings de forma capitalista e exata sempre vai ser o maior face da WWE, e acredito que estejam certos pq o que move o mundo é uma empresa e o dinheiro e por isso ele nunca poderia se tornar Heel ou qualquer outra coisa, por ser um produto que está “dando certo”, depois vem o Braun, ele está “relativamente” chegando e ocupando seu espaço como top face, mas até lá não poderia deter o título maior, muitos passaram anos e até o próprio Roman que muitos dizem ser o overpushed não chegou tão rápido, Seth mesmo que é extraordinário é mais “over” que Roman, de uma forma bem sensata, acredito muito em seth mas sei separar as realidades, acho que a tentativa da WWE com Baron, Bob e Drew junto possa estar chata, mas são 3 grandes superstars e acho que vai dar muito certo mais pra frente, acredito que depois do tlc Baron deixe de ser general manager e continue essa story line sendo uma “equipe” muito temida, e pq hoje ninguém tem mais paciência pra nada mas muita coisa já começou ruim e ficou boa depois de um tempo de construção