Ao longo dos últimos anos, a WWE tem mostrado uma enorme dificuldade em premir o gatilho. Em acelerar, pé a fundo, na aposta em uma estrela. Aliás, a última estrela em quem a WWE apostou tudo o que tinha, quase sem hesitação nenhuma, foi John Cena que, desde o momento em que venceu o título, perdeu-o muito raramente e limitou-se a somar vitórias, atrás de vitórias, em todo o tipo de circunstâncias contra os mais variados nomes da indústria, como Triple H, Shawn Michaels, entre outros. E, na altura, a WWE tomou esta atitude por uma razão muito simples – John Cena vendia. Tudo aquilo em que tocava se transformava em ouro.
A WWE nunca mais voltou a conseguir ter a mesma atitude com outra estrela. Mesmo no caso de Roman Reigns, alguém que a WWE queria que replicasse o sucesso de John Cena, a companhia hesitou várias vezes, colocando-o em situações e dando-lhe derrotas que revelavam a sua insegurança. Seth Rollins, Braun Strowman e Finn Bálor são outros exemplos de estrelas que a WWE gosta de proteger, gosta de manter relevantes, mas em quem, por algum motivo, não consegue ou não quer apostar a sério. Muito se especula sobre os motivos que levam à hesitação da companhia. Talvez Strowman, Bálor e Rollins nunca tenham recebido tal investimento dedicado porque não eram Roman Reigns. Talvez a WWE tenha hesitado tantas vezes com Roman Reigns porque sabia que este não tinha uma relação tão boa com a audiência como John Cena tinha. É verdade que John Cena era apupado, quase desde o início do seu primeiro reinado, mas também é verdade que, segundo quanto se sabe, Reigns não vende tanto quanto John Cena vendeu no seu auge de popularidade.
A verdade continua a ser que ninguém, neste momento está em posição para tirar o título Universal a Brock Lesnar. Contudo, Lesnar como campeão Universal cria um vácuo criativo no Raw, pois sem o título principal, os lutadores perdem o objetivo principal que os leva a aparecer todos os dias para competir. A WWE pode facilmente resolver este problema, ainda a tempo da WrestleMania 35, ao decidir, finalmente, escolher alguém e premir o gatilho.
Hoje, dia de Royal Rumble, foi originalmente anunciado que Brock Lesnar iria defender o seu título Universal contra Braun Strowman. Aliás, Strowman fez por merecer esta oportunidade ao derrotar Baron Corbin no TLC. No entanto, o combate foi mudado – os motivos para tal não são claros, com alguns relatos a dizerem que Strowman não iria estar apto fisicamente para o combate, outros a dizerem que Vince não queria ver Strowman perder outra vez para Lesnar e ainda alguns a dizerem que, na realidade, Vince acreditava que Lesnar contra Bálor iria dar um melhor combate e melhor história, dado o sucesso dos combates de Lesnar com Daniel Bryan e AJ Styles.
Os motivos não são propriamente importantes ou relevantes. Podem todos estar certos, todos estar errados ou serem só metade da história. Mas, a verdade é que, realmente, não há nenhum motivo legítimo para Braun Strowman enfrentar novamente Brock Lesnar, tendo em conta a forma como já perdeu para ele. Strowman já não tem credibilidade para o enfrentar e, possivelmente, derrotar. Depois de todas as suas enfáticas derrotas para Lesnar, das suas mudanças de atitude súbitas onde passa de um herói popular que destrói tudo o que está no seu caminho a um vilão manipulador, Strowma já não é o mesmo. As suas recentes interações com Lesnar também não têm ajudado, cimentando ainda mais a sua complicada situação.
A forma como foi retirado de um combate que fez por merecer também deixou muito a desejar. Strowman foi castigado por Vince McMahon, por algo que fez enquanto perseguia Baron Corbin – alguém a quem os McMahon tiraram poder há pouco tempo, proclamando que iriam começar a dar ouvidos aos fãs – quando às terças-feiras Vince instiga A Styles a ser mais agressivo e intenso. Realmente, é muito complicado manter a credibilidade e a popularidade quando se tem de lidar com todas estas inconsistências e patetices. Se a WWE mudou de ideias e já não quer que Braun Strowman enfrente Brock Lesnar no Royal Rumble, então tirem-no de televisão com o pretexto de lesão. É preferível que Strowman não apareça de todo, do que apareça nestes segmentos ridículos e sem sentido que tudo o que fazem é arrasar com a credibilidade e popularidade que este conseguiu gerar nos últimos anos.
O seu segmento com Vince McMahon, onde foi castigado como um rapazinho indisciplinado, transformou-o em apenas mais um soldado raso que que tem de marchar ao som dos McMahon, quando até há bem pouco tempo, ele era um monstro que passava por cima de tudo e todos.
No fim do dia, embora ainda seja apoiado pelos fãs presentes na arena, Strowman chegou ao fim da linha e precisa de ajuda criativa para reavivar a sua credibilidade. Os seus momentos infelizes ao microfone, as suas derrotas para Lesnar e, agora, a sua interação com Vince McMahon são alguns dos motivos pelos quais Strowman já não se encontra em posição para derrotar Brock Lesnar de vez.
O escolhido para o substituir hoje contra Brock Lesnar foi Finn Bálor, cuja carreira no Raw, desde a sua estreia, tem estado repleta de hesitações da companhia. Há dois anos e meio, Bálor entrou pela porta grande, vestido a rigor, e derrotou Seth Rollins no SummerSlam para vencer o título Universal. Infelizmente, devido a lesão teve de ceder o título e, desde então, tem vivido em águas de bacalhau. A sua versão demoníaca raramente aparece hoje em dia, visto que – felizmente! – a WWE percebeu que não é algo que se deva usar de forma banal e que tem mais peso e relevância quando é sinónimo de vitórias significativas. O problema é que, sem o demónio, Bálor também não tem muito ao que se agarrar. Infelizmente, nestes dois anos e meio ele não tem tido rivalidades significativas ou histórias em que se tenha destacado.
Bálor é um exemplo de como é necessário que o título Universal faça parte da programação diária da WWE, em vez de aparecer três ou quatro vezes por ano e apenas seja disputado pelas mesmas duas ou três pessoas. Talvez a ausência do título Universal não fosse tão notada, se a WWE se focasse devidamente noutros títulos ou então, conseguisse construir histórias e rivalidades de qualidade, mesmo sem um título à mistura.
A WWE gosta de Bálor e quer protegê-lo, isso é óbvio. Ele raramente perde combates ou rivalidades e, quando perde, normalmente é por uma oportunidade de lutar pelo título Universal e é sempre de forma cuidada e protegida. No ano passado, Bálor aguentou quase uma hora no combate de Royal Rumble, chegando a ser um dos últimos quatro, quando foi o segundo a entrar no combate. Exemplos não faltam de momentos em que a WWE teve cuidado em proteger Bálor, evitando que fosse ele a sofrer a derrota, se existiam outras opções.
E isso é bom! Contudo, é apenas metade do trabalho. A outra metade passa por dar-lhe carreira. Bálor tem que somar feitos, tem que somar rivalidades, tem que somar sucessos. Não pode passar dois anos em modo “pausa”, onde não sofre quaisquer alterações, não cresce, não evolui. Mais uma vez, a ausência do título Universal não seria tão sentida, se a WWE conseguisse criar histórias de qualidade à margem do título principal. Agora Bálor não pode continuar a lutar eternamente Baron Corbin, por exemplo, a tentar pela centésima vez provar que não é demasiado pequeno, só porque a WWE ainda não tem espaço na agenda para apostar nele.
Infelizmente, não acredito que essa aposta surja hoje. Especialmente quando a WWE passou as últimas semanas a dizer aos fãs que Finn não tem qualquer hipótese de vencer. Também não ajudou quando Bálor precisou de uma interferência de Lesnar para derrotar Strowman. Mais uma vez, a solução é simples – se não queremos ver um lutador perder, não o metemos no combate. Se Strowman não podia perder para Bálor, então Strowman não competia de todo. Porque com o que vimos, Bálor perdeu credibilidade – o oposto do que precisava de acontecer para promover o seu combate com Lesnar – e Strowman não ficou melhor na fotografia.
Não tenho dúvidas que Lesnar vença hoje, se bem que não me importava de ser surpreendida, mais pelo desespero de ver alguma coisa diferente acontecer. No entanto, com a WrestleMania 35 tão perto, faz mais sentido que seja lá que Brock Lesnar perca o título. Idealmente, Lesnar perderia o título com grande pompa e circunstância para alguém da atual geração, de forma a impulsionar uma nova Era no Raw. Não querendo soar muito iludida, mas ao mesmo tempo sendo, gostava também que a WWE usasse a oportunidade de derrotar Brock Lesnar na WrestleMania 35 para apostar em alguém. Apostar em alguém, a sério. Sem hesitações, sem desqualificações, sem ajudas e sem mudar de ideias no mês a seguir. Enfim, gostava de ver a WWE apostar em alguém com confiança.
Se vamos estar à espera que Finn Bálor ou Seth Rollins comecem a vender merchandise da forma que John Cena vendeu há quinze anos para apostar neles sem reservas, então a WWE nunca mais vai voltar a apostar em alguém. Como expliquei em edições anteriores, a indústria mudou drasticamente nos últimos quinze anos e acredito, sinceramente, que não vamos voltar a ver alguém a ter a dimensão de um John Cena, quanto mais de um Austin ou Hogan. Portanto, mais vale a companhia focar-se em contar histórias de qualidade e convincentes, em vez de estar à espera das condições perfeitas que nunca vão aparecer devido a todos os erros criativos que foram feitos. Não se esperam por condições perfeitas. Elas criam-se e criam-se com trabalho, criam-se com dedicação e qualidade.
Porque não Bálor perder hoje e vencer daqui a dois meses? Porque não vermos um Demon vs Beast? Ou então, se não Finn Bálor, porque não Seth Rollins? Rollins vence hoje o combate de Royal Rumble e, daqui a dois meses, sai da WrestleMania 35 com o título Universal nos ombros e a Besta deitada no tapete. Afinal, assim como Bálor, Rollins é outra estrela que se tem mantido sempre por perto do título principal, com a única diferença que Rollins tem crescido, evoluído e vivido rivalidades, de níveis diferentes de qualidade. Rollins fez parte dos The Shield, fez parte da Autoridade, soma rivalidades com Dean Ambrose, Triple H, John Cena que ainda hoje os fãs se lembram. Ao contrário de Bálor, que se tem mantido mais ou menos congelado no tempo, Rollins tem feito uma carreira.
Hoje, Brock Lesnar vence. Todavia, espero, muito sinceramente, que seja a sua última vitória pelo título Universal. Na WrestleMania 35, tanto Bálor como Rollins são boas apostas para o enfrentar e derrotar de uma vez por todas. Ambos têm sido protegidos pela companhia, ambos têm sido prejudicados pela equipa criativa da WWE e ambos são populares junto dos fãs. Porém, uma coisa é certa – Bálor tem de começar a fazer carreira. Continuar a viver eternamente no limbo, porque a companhia o protege de algumas derrotas, mas ao mesmo tempo não lhe quer dar ainda um momento ao sol no topo, é que já não é possível. Calculo que hoje seja mais uma noite onde Bálor perde, mas ficou tão perto, tão perto de derrotar Lesnar, que tem uma vitória moral. Não se fazem carreiras de momentos assim. Eventualmente, Bálor tem de vencer. Agora a pergunta é – quanto tempo mais consegue Bálor aguentar no limbo, sem sofrer danos sérios e irreversíveis à sua credibilidade? Há até já quem defenda que já sofreu! Não sei, mas o relógio está a contar.
Obrigada a todos e até daqui a duas semanas.
7 Comentários
lol o strowman nao tem credibilidade para enfrentar e vencer lesnar novamente mas o balor e o rollins tem. vou fingir que nao li isso
Mas o strowman não tem mesmo.
Não é virando limosines que vai dar credibilidade para o strowman vencer o Lesnar.
Ele já perdeu dois combates One a One para o Brock, sendo que em um deles ele foi completamente massacrado, perdendo em poucos minutos e sem ter reação nenhuma.
Fora o isso o strowman também não conseguiu vencer a triple treath no com o Brock e o Kane, e fatal four com o Brock, Roman e Samoa Joe.
Foram 4 vezes que o strowman e o lesnar, estiveram no mesmo combate e o strowman não venceu nenhuma.
Isso mostra que no momento strowman não tem credibilidade para vencer o lesnar.
Pelo menos até o momento o Balor nunca perdeu para o lesnar.
Brock Lesnar perdendo limpo para o Finn Balor, ia ser só a coisa mais forçada da história da wwe.
Sinceramente já aconteceu muita coisa mais forçado que isso na história da WWE.
Mas eu duvido que isso aconteça. Nem o Roman venceu o Lesnar de forma 100% limpa.
Tenho quase certeza que vencer o Brock, vai ter uma interferência ou polêmica na hora da Vitória.
Eu não vejo problema nenhum se o Balor vencesse de forma limpa, se o AJ e o Daniel Chegaram perto, porquê o Finn não poderia .
O Braun perdeu sua lutar por título por destruir a limousine do Vince, não vejo inconsistências nenhuma nisso, principalmente levando em conta o personagem do Vince..
Wow, que artigo. Parabéns por ele, e falou tudo. Bálor e um dos meus favoritos, mas infelizmente desde que voltou de lesão não é mais o mesmo que, como disses, entrou pela porta da frente. Pelo menos a WWE não banalizou a faceta de Damon, mas gostaria de ver ele em um cenário importante na WM, quem sabe um Intercontinental
Esse cara é AJ Styles