Boas a todos nesta grande casa que é o Wrestling PT!
Passada cerca de uma semana e meia do show pelo qual todos aguardava-mos com grande expectativa, é hora de analisar o AEW Double or Nothing. Percorrerei todo o card, tecendo considerações sobre lutadores, combates e, com este hiato de tempo, penso que tal me vai permitir prever um bocadinho do futuro que pode passar a AEW nos próximos tempos, assim como o rumo que terão as suas histórias e lutadores,
Devo, desde logo, alertar para o facto de vários combates terem servido simplesmente para atribuir robustez ao card, quer em quantidade, quer em qualidade, mas que penso terem tido a sua história e fim com este show, pelo que quanto a esses me absterei de escrever longas considerações, tentando ser algo reto, até porque pouco ou nada é necessário falar sobre eles.
Hangman Adam Page venceu a 21-Man Casino Battle Royale (Pre-Show)
Ainda antes do show propriamente dito começar, tivemos dois combates que serviram para aquecer os fãs para um evento que prometia, mas no primeiro dos quais, esteve um combate com um prémio muito valioso em jogo, uma oportunidade pelo recém-criado título da AEW.
Mas entrando num domínio mais particular face ao mesmo, assistimos a um conceito inovador de uma Battle Royal. Serviu para nos dar algo novo e também para combinar com o local onde o evento se realizou, Las Vegas, daí que também todo o cenário tenha sido, e bem, associado a casas de jogo. Contudo, como um fã mais “purista” que sou, por assim dizer, não simpatizo muito com inovações quanto às regras dos combates, mas sim quando incidem mais sobre storylines e no estilo de combate que os lutadores nos proporcionam dentro do ringue. Não estou com isto a dizer que essa inovação deva sempre ser deixada de lado, mas que a mesma não deve interferir com o essencial do tipo de combate, nem ser tão estranha ou difícil de executar, que seja tão difícil para os lutadores trabalharem como para nós, fãs, assistirmos e percebermos o que se está a passar. Não foi, porém, o caso desta Battle Royal.
Por outro lado, confesso que não gostei ou sequer achei inteligente um dos candidatos ao inaugural título da AEW ser determinado desta forma, porque causou uma distorção e ainda mais afastamento entre os dois candidatos, que no main-event se afigurou ser o Jericho. Na minha opinião, um dos lutadores ser descoberto na Battle Royal do Pre-Show e o outro no combate mais aguardado do card, cria um distanciamento entre o interesse que os fãs acabarão por ter por cada lutador, assim como no nível de credibilidade que quer o Hangman, quer o Jericho possuem. Aliás, muita da possível nova audiência que a AEW tem ganho, pode nem sequer conhecer o Hangman, o que torna difícil, desta maneira, verem-no como alguém credível a lutar pelo título, o que é ainda mais acentuado quando no mesmo plano que o Jericho. Em suma, a meu ver, foi uma decisão pouco prática, pouco interessante e pouco inteligente.
Acredito que o cancelamento do combate do Hangman com o PAC, inicialmente previsto para o show, tenha dificultado uma decisão melhor pensada. Mas penso que a AEW poderia, e deveria ter feito melhor.
Não é de todo descabido falar também um pouco da situação que levou ao cancelamento deste combate. O PAC, como campeão da DRAGON GATE, não está a aceitar muitos combates nas outras promotoras, pois entende que, como campeão desta empresa, deve zelar pelo prestígio do seu título, e esse encontra-se, em parte, na credibilidade do seu campeão, que não deve perder muitas vezes. Podemos argumentar que uma derrota num show tão grande como este traria até bastante visibilidade ao título, ainda para mais, conta uma estrela em ascensão e cada vez mais falada como o Hangman. Contudo, o PAC estabeleceu completamente as suas prioridades. Não está em causa perder por se rejeitar a perder, mas perder pois há valores que este lutador considera mais importantes que os diversos shows e combates que tem, e desses faz parte a sua lealdade à DRAGON GATE. O PAC estabelece assim as suas condições. Caberá, então, às restantes empresas consigná-las ou então não o utilizar nos seus shows.
Mas voltando à questão anterior. Na minha opinião, a melhor forma de determinar o novo campeão será sempre através de um torneio ou por séries de combates organizadas. Compreendo que, tendo em conta a necessidade de coroar um campeão de forma mais ou menos rápido e pelo facto de a AEW só começar o seu programa de TV em Outubro, sendo que até lá, ainda poucos shows estão no horizonte, tenham optado por esta solução, mas foi, na minha forma de pensar, uma maneira preguiçosa e apressada de o fazer.
Quanto ao vencedor, tendo em conta os lutadores que participaram neste combate, foi o mais óbvio. Não quero com isto dizer que muitos dos lutadores que foram aqui inseridos não tenham já um grande nome no wrestling que temos hoje em dia, mas para o futuro imediato, e para lançar ao main-event, o Hangman era a resposta mais condizente.
Por fim, mencionar que foi um combate bem divertido e que contou com um óptimo heel no MJF, que ainda viria a aparecer mais tarde no show para interagir com o Bret Hart. Para a sua experiência já é um heel soberbo e pressinto-lhe um bom futuro, como alguém que já o conhece há uns tempos.
Outros lutadores, como Jimmy Havoc, Joey Janella, entre outros, terão também, sempre o seu destaque, pelo seu talento e carisma e pelo que podem oferecer à AEW.
Kip Sabian venceu Sammy Guevara (Pre-Show)
Neste combate estivemos na presença de dois jovens lutadores e de, dois dos mais promissores high-flyers que podemos encontrar actualmente. Não obstante, até ao final, acabamos por ter um combate algo frouxo, a meu ver, mas que acabou por não cansar os fãs para o show propriamente dito que veio a ser algo longo.
Admito, por outro lado, que a vitória do Kip Sabian me surpreendeu. Comparando os dois lutadores, o Sammy já deu mais que provas e mais até que o próprio Sabian de que pode ombrear seja em que combate for, com que lutador for e em que palco for. Já o Sabian é relativamente recente no cena do wrestling independente, pelo menos no que diz respeito a grande destaque.
Vejamos que futuro nos reserva a AEW para cada um destes lutadores.
SoCal Uncensored (Christopher Daniels, Frankie Kazarian e Scorpio Sky) venceram Strong Hearts (CIMA, T-Hawk e El Lindaman)
O PPV propriamente dito começou com um divertidíssimo 6-man tag. Aliás, se me perguntassem como cada evento de wrestling deveria começar, apontava este combate como exemplo. Toda a gente já conhece a qualidade que os SCU possuem, seja ainda no tempo do Daniels e do Kazarian na TNA e depois na ROH, na qual se lhes viria a juntar o Scorpio Sky, um os lutadores mais subvalorizados da actualidade.
Quanto aos lutadores da OWE, penso que serão cartas jogadas pela AEW para funções como esta, ou para elevar pessoal mais conhecido com óptimos combates.
Nada a dizer quanto ao resultado e óptima forma de começar um show de wrestling.
Britt Baker venceu Kylie Ray, Nyla Rose e Awesome Kong
Bom trabalho destas quatro lutadoras que consistiu num belo início da divisão feminina da AEW. A vencedora já se afigurar quem seria, até pela excelente participação da Britt Baker no All In, sendo a única lutadora que transitou daquele excelente 4-way desse evento para este. Quando a este combate, mencionar ainda a participação e o regresso da Awesome Kong aos ringues. Como bom fã dela fiquei bastante contente por a ver.
Best Friends (Chuck Taylor e Trent Beretta) venceram Angélico e Jack Evans
Absolutamente o combate da noite até ao momento em que o show ia. Duas óptimas equipas, que serão, sem dúvidas, das principais caras da divisão de tag team se a AEW assim o entender. Carisma e talento é o que não lhes falta. No final do combate tivemos as duas equipas a ser atacadas pelos Smash Bros, que já são, depois disto, a equipa mais heel da divisão.
Hikaru Shida, Riho Abe e Ryo Mizunami venceram Aja Kong, Yuka Sakazaki e Emi Sakura
O combate que mais desinteresse podia ter despertado, mas que no ringue mais do que cumpriu. Foi bom ver a Aja Kong voltar a lutar em frente a tantas pessoas, assim como uma boa oportunidade para conhecer mais do seu trabalho.
Cody venceu Dustin Rhodes
Chegou então a altura dos combates mais aguardados da noite, começando pelo que opôs irmão a irmão. Como bom fã do Dustin, seja em que personagem for, este foi o combate do evento que mais atenção me prendeu. Sempre adorei a personagem do Goldust, mas estava curioso para ver como o Dustin nos haveria se surpreender mais uma vez, com outra reinvenção sua. Numa história que se lhe pretendia uma personagem mais séria, este lado mais sombrio que o mesmo nos apresentou encaixou na maravilha com a história que nos foi contada. Mesmo já com 50 anos, o Dustin ainda é mais do que capaz de cumprir no ringue.
Mas mais do que isso este combate nos entregou: drama, emoção, entre muitas outras coisas.
Acredito que alguma coisa deve ter corrido mal, até porque só isso justificaria que o Dustin tenha perdido tanto sangue, mas respeito para o mesmo que mesmo assim terminou o combate, e não o fez simplesmente, mas fê-lo em grande. Esse “erro” acabou, entretanto até, para contribuir para aquela aura que se criou entre os dois lutadores e os fãs, que se manifestou num belo momento para recordar por muitos anos.
Já quanto ao Cody, aquela provocaçãozinha ao Triple H e à WWE na sua entrada foi interessante, mas a meu ver a AEW deve sim, responder à WWE quando esta mandar “indirectas”, mas não deve fazer disso a sua maneira de trabalhar. A AEW deve sim fazer o seu trabalho e apresentar o melhor produto que possa, e acredito que com os recursos que tem, o produto que nos será apresentado será bastante bom. Os resultados tirar-se-ão no futuro.
Sinceramente não sei se a AEW conseguirá competir com a AEW. No futuro imediato não vejo tal acontecer, assim como para competir seria necessário transmitir shows às mesmas horas, nos mesmos locais e conseguir “roubar” lutadores à WWE, quer os que lá estão, quer aqueles em que esta estaria interessada. Só o tempo o dirá, mas nada mais é evidente que o “buzz” que a AEW tem criado, assim como o potencial que, para já, para a sua pequena existência é fora do comum. Se gostei mais do show da AEW do que qualquer da WWE em 2019? Sem dúvida, mas também já vi shows muito melhores que o da AEW e não vejo essas empresas a conseguir competir com a WWE. Infelizmente (ou felizmente dependendo dos gostos de cada um) a qualidade dos combates no wrestling não é tudo. A aura da empresa, o interesse que desperta, a novidade que traz, entre muitos outros factores também contam e, é a AEW que quanto a isso tudo, poderá concorrer com a WWE neste momento.
Por fim, já anunciado está um combate entre estes dois lutadores e os Young Bucks para o próximo evento da AEW, que é, para mim, um autêntico Dream match.
AAA Tag Team Champions The Young Bucks venceram Lucha Brothers (Rey Fénix e Pentagón Jr.)
Este foi, na minha opinião, o combate da noite. Duas das melhores tag teams que podemos encontrar hoje em dia, que perfilham do mesmo estilo. Já vi combates entre as mesmas em várias promotoras e em todas vi coisas diferentes e óptimos combates. Estas duas equipas são já, certamente, os alicerces da divisão de tag team da AEW.
Chris Jericho venceu Kenny Omega
No final do show, tivemos como main-event um rematch do WK12, em que no 1st time ever entre estes dois, Omega havia levado a melhor. Este foi, no entanto, um combate mais cerebral do que emocionante como o primeiro, mas sem dúvida que serviu como um excelente main-event para o primeiro show de sempre da AEW.
O Omega será, sem dúvida, se não o melhor, dos melhores lutadores da actualidade. Não é dos meus preferidos, mas o que é verdade é que os meus combates predilectos e aqueles que acabo por considerar os melhores do ano, são quase sempre os dele.
Quanto ao Jericho, como já falei aqui no Brain Buster, mais uma vez o Jericho reinventou-se e de uma maneira que se afigura cada vez mais interessante na sua carreira, pelo menos em comparação com a última meia dúzia de anos. Certamente que o interesse em ver o Jericho em combater é cada vez maior com esta personagem heel, mas não somente isso, a credibilidade que o seu booking tem tido, seja na AEW, seja na NJPW, permite que eu esteja hoje a dizer isto. Estamos a falar de uma lenda viva e de um lutador como nunca houve. Só nos resta aproveitar enquanto o temos.
Quando ao resultado, confesso que nenhum dos possíveis iria ser perfeito: o Omega é a principal estrela da AEW; o Jericho, ao perder, seria a 2ª vez consecutiva para o Omega. Acabaram por optar com aquele que acabou por fazer mais sentido e dar a vitória ao Jericho, isto porque o Omega ainda tem uns bons anos para poder rondar títulos, etc. Aliás, dar o título ao Omega neste momento seria, para já, demasiado óbvio e simples e, por outro lado, seria colocar todo o destaque da AEW no Omega e, seria admitir que ninguém conseguira ombrear com ele no que ao main-event diz respeito. Grande parte dos lutadores que a AEW, para além do seu enorme talento, acabam, contudo, por ser menos conhecidos para os fãs de main-stream, por isso, é bom criar algum nivelamento entre os mesmos, utilizando a grande aura do Omega para o conseguir.
Não sei que futuro reservará a AEW quanto ao seu primeiro título, mas havendo claramente duas hipóteses: dar o título ao Jericho e trazer credibilidade imediata ao título, colocando-o, desde o início, lá em cima; dar o título ao Hangman e construir aquele título desde o zero, assim como transformar este lutador numa das principais caras da AEW com o passar do tempo. Vejamos porque opção esta empresa que tanto nos interesse cria opta.
Tivemos ainda a estreia do Jon Moxley no final do show. Adoro esta sua personagem, sei do que ela é capaz fora do ambiente controlado da WWE e isso me deixa entusiasmado para ver sempre qual o próximo passo relativamente a ele. Para já, combate com Joey Janella no próximo show da AEW, num combate que se apresenta com uma taxa de loucura bem alta, tendo em conta os seus participantes.
Feita a análise ao card, podemos depreender que, para já, e como seria de esperar, o grande ponto forte da AEW é a qualidade dos seus combates, que é realmente acima da média. Mas a mesma deve, na minha opinião, começar daqui para a frente a condizer mais com um booking mais inteligente, que apesar de um muito longe de ser mau, tem ainda muito para melhor e, sinceramente, acredito que vai ser.
E então? O que achaste do evento? Qual o combate que mais gostaste? E que achaste melhor? O que achas que o futuro reserva à AEW?
Hoje ficamos por aqui.
Até para a semana e obrigado pela leitura.
4 Comentários
Gostei do show no geral. Não contava de todo com a aparição da Awesome Kong, o combate do Cody foi brutal. Espero que quando começarem com os shows televisivos se mantenham num bom nível para os fãs verem outra coisa para além da WWE, ROH e NJPW.
Obrigado pelo comentário.
Como eu gosto de dizer, bom wrestling nunca é demais e hoje em dia temos realmente muito bom wrestling para ver. Até mesmo fora da ROH e da NJPW e que bom que ele é.
Espero que a AEW faça otimos shows, e com o sucesso que tenha consiga almejar algo maior.
Obrigado pelo comentário.