Boas a todos nesta grande casa que é o Wrestling PT!

Poucas semanas depois do segundo maior evento anual da ROH, o Best in the World, decidi, esta semana, escrever sobre esta empresa norte-americana que já conta com um bons anos de existência. Analisarei a situação actual e os pontos positivos que penso estarem a beneficiar o seu produto, assim como a sustentabilidade do seu futuro.

Brain Buster #12 – Valorizar a prata da casa

A Ring of Honor sempre se pautou pela qualidade técnica dos seus combates e pelos lutadores que aprimoraram esse estilo, como o Christopher Daniels ou o Brayn Danielson (Daniel Bryan), por exemplo. Contudo, a determinada altura tenha começou também a apostar em alguns combates mais “hardcore”, nomeadamente quando lutadores como Kevin Steen, El Generico e outros receberam uma oportunidade de lutar nesta promotora, que em pouco tempo se tornou uma das mais conhecidas e maiores dos EUA e do mundo.

Admito que tal possa ter prejudicado, em grande escala, a identidade da ROH à altura, mas penso igualmente que o mesmo seja um mal necessário.

Em primeiro lugar, qualquer booking que tenha óptimos heels, capazes das mais horrendas práticas sente necessidade de fazer este tipo de combates. A solução aqui teria sido nunca adquirir lutadores do género ou se o fazendo, não puxar muito esse seu lado, mas isso leva ao segundo ponto pela qual penso que este tipo de combates é necessário.

Embora nos primórdios da ROH, tenham sido os combates de alta qualidade técnica que a tenham catapultado e criado interesse sobre a própria, o que é facto é que a determinada altura os mesmos também acabarão por se tornar um obstáculo ao crescimento da empresa. Todos os fãs de pro-wrestling puro já estavam conectados à ROH, fosse de que forma fosse, pelo que a única maneira de encontrar mais fãs seria este tipo de combates, o que, à altura, resultou, embora com as consequências já enunciadas.

Brain Buster #12 – Valorizar a prata da casa

Nenhuma empresa, a meu ver, consegue subsistir apresentando apenas um tipo de combate. A NJPW está muito mais longe de o fazer do que o parece e acabando os exemplos com um bem explícito, até a CZW, conhecida pelos seus brutais Death matches, nos últimos anos, tem extravasado, e bem, para combates mais técnicos.

Foi uma jogada inteligente, com consequências conhecidas, mas que fez sentido.

Ponto de viragem da história e rumo desta empresa penso que terá sido o ano de 2014, que trouxe a parceria com a NJPW. O mesmo permitiu trazer shows com combates nunca antes vistos, a utilização de lutadores nipónicos em eventos da NJPW e um roster mais alargado e bem mais talentoso à disposição da ROH.

Foi ainda beneficiada pela queda brutal da TNA a partir desse ano, começando cada vez mais a ter destaque entre as empresas com programa televisivo, ancorada por um crescimento de fãs que haviam deixando, de vez, a companhia destruída por Dixie Carter, entre muitos outros fãs, que sentiam interesse em conhecer mais da ROH, agora que muitos das suas estrelas estavam a crescer no NXT, como era o caso do Sami Zayn e, mais tarde, do Kevin Owens.

Tal situação não suscitou dúvidas durante os dois primeiros anos desta parceria, mas a partir, mais ou menos de 2016, penso a situação da ROH se afrouxou. Com a saída de algumas das suas principais caras, a mesma foi apostando, cada vez mais, na utilização corrente de lutadores da NJPW, o que tem um efeito prático positivo de manutenção de star-power nos seus cards, mas um efeito bem negativo a médio-longo prazo: não será difícil definhar que esta solução deixaria a ROH bastante dependente da NJPW, assim como descredibilizaria os seus lutadores, que não tinham oportunidade de chegar ao estatuto dos seus antecessores.

Acrescente-se, ainda, que em combates entre lutadores da NJPW e da ROH, os primeiros acabavam, na maioria das vezes, por levar a melhor. Deste modo, na minha opinião, o que estava, a permitir à ROH subsistir entre as principais empresas, era também o que a impedia de ter um estatuto próprio e de continuar a crescer.

Brain Buster #12 – Valorizar a prata da casa

Se 2016 tinha sido um ano em que a ROH havia sabido a pouco, na minha opinião, 2017 foi o ano mais frouxo a que assisti, deste que comecei a acompanhar esta empresa. Ao problema já anteriormente criticado juntou-se um booking preguiçoso, desinteressante e, muitas vezes, pouco inteligente. Apesar de um começo bem quente com a tão aguardada conquista do título mundial pelo Christopher Daniels e de um óptimo evento no Supercard of Honor desse ano, desde daí, pouco interesse a ROH despertou nesse ano. Perdeu três das suas principais caras no Adam Cole e nos reDRAGON, lugares que demoraram demasiado tempo a serem preenchidos.

Por outro lado, entrou num problema em termos de booking que assolava, igualmente, a WWE, à altura: o problema dos rematches instantâneos entre campeões e nº1 contenders, sendo raras as vezes em que um campeão destronado não adquiria, quase de imediato, a sua desforra.

Ponto bastante negativo, em que se calhar estarei em desacordo com a maioria dos meus estimados leitores, foi o reinado do Cody como campeão da ROH. Foi, na minha opinião, dos piores reinados deste título, consistindo basicamente em simples defesas de 10/15 minutos em que pouco víamos de wrestling. Os seus combates eram marcados por mais show-off do que wrestling propriamente dito. O hiato temporal entre o início do combate e o primeiro toque entre os lutadores era demasiado grande.

Sinceramente penso que o problema foi maioritariamente do Cody, mas que a ROH deveria ter resolvido. Compreendo que o mesmo era o maior heel da companhia na altura, mas nada justifica que combates em que óptimos lutadores lutaram pelo título, como o KUSHIDA e o Minoru Suzuki (mais uma vez, a utilização de lutadores japoneses não para), tenham acabado em 15 minutos depois de verdadeiramente só terem tido metade do tempo em wrestling.

Considero que Cody está abaixo de muitos lutadores atuais em termos de wrestling, mas o mesmo está longe de ser apenas capaz disto. Prova disso foram os tempos conseguintes em que nos foi apresentando ótimos combates, com nomes como Ibushi, Omega e Nick Aldis. O problema, claro está, foi na forma como Cody ancorou a sua personagem em 2017, nada agradável na minha opinião, que me fez perdeu o interesse quer no Cody, quer no título da ROH, quer na própria promotora que acompanhava já há alguns anos.

Brain Buster #12 – Valorizar a prata da casa

Principalmente para uma companhia que se pautava pela qualidade técnicas dos seus combates e não com exibicionismos, combates esses que muitas vezes atingiam a marca dos 60 minutos a alta competitividade, isto não era, nada menos, que um retrocesso.

Esta situação viria a mudar, contudo, em 2018, ainda estando actualmente a ROH a beneficiar desta situação que penso ser a certa para uma promotora com as suas características.

Cody perdeu o título para Dalton Castle no final de 2018 e a situação dos restantes acabou, também ela, por melhorar. As rematches acabaram e os title matches começaram a ser mais interessantes e cativantes, com lutadores diferentes a lutarem pelos títulos. Por outro lado, o grande problema que sempre apontei nestes últimos anos à ROH terminou. A utilização de lutadores da NJPW não acabou, é verdade, mas passou a ser feita muito menos regularmente, somente no necessário ou quando as histórias a ser contadas beneficiavam dessa utilização.

Associado a esta decisão está a valorização de lutadores que eram a 100% da ROH, que ainda não tinham tido oportunidade de brilhar, por serem ofuscados pelas estrelas nipónicas. A prata da casa como Kenny King, Silas Young, Shane Taylor e Matt Taven passou a ter outro tratamento, assim como óptimos lutadores como Jonathan Gresham e Scorpio Sky, infelizmente quase desconhecidos das grandes ligas foram valorizados como estrelas da ROH durante este período. Não esquecer também o esforço da ROH para assinar algumas das principais estrelas dos independentes, como o Jeff Cobb e, mais recentemente, o Bandido.

A criação de um roster próprio por parte da ROH cria não só maior interesse nos seus programas semanais, assim como garante a sustentabilidade, quer do booking, quer da companhia, que deixa de estar dependente da NJPW, passando a relação a não se fazer de cima para baixo, mas num no mesmo patamar em que estas duas boas promotoras de wrestling se encontram.

Ambas beneficiam desta decisão. Prova disso é que a NJPW passou a utilizar muito mais estrelas da ROH, como no Best of Super Jr., com lutadores como Flip Gordon e Bandido, assim como as outras promotoras parceiras da ROH e NJPW valorizaram, elas próprias, lutadores da ROH. Foi o caso, por exemplo, do Matt Taven na CMLL e do Shane Taylor na RevPro.

Brain Buster #12 – Valorizar a prata da casa

Por fim, não será menos referenciar a recriação de certos lutadores e personagens que pareciam estar a cair. O Jay Lethal deixou os combates de mid-card para voltar ao main-event, nos dar mais um óptimo reinado enquanto campeão e se assumir, como sempre deve ser, como a cara da ROH. Mas talvez o exemplo mais paradigmático tenha sido mesmo o Bully Ray. Desde que virou heel no início de 2018, tem uma personagem bastante interessante, a fazer lembrar o ótimo período que tinha tido a solo na TNA. Sem dúvida que os seus melhores dias no ringue já se encontram ultrapassados, mas tal não impede boas histórias e rivalidades com lutadores babyfaces, a culminarem na vitória destes mesmos. A sua feud com Flip Gordon durante todo o ano de 2018, valorizou ambos e é o melhor exemplo do que o Bully ainda tem para oferecer.

Acrescente-se a importância do interesse criado em lutadores como ele com a ajuda de combates mais “hardcore”, que são sinónimos da sua carreira e por isso faz sentido que apareçam nas suas rivalidades, remetendo aqui para o início do artigo.

A ROH deve, deste modo, continuar o seu caminho, construir-se a si própria primeiro e só depois avançar para outras alternativas. Deve valorizar a prata da casa e criar um roster próprio com muito bom talento que existe nos independentes e deve aproveitar antigas estrelas que ainda têm algo para oferecer ao mundo do wrestling, sem necessitar obrigatoriamente de as reformular, mas aproveitando o que as suas personagens sempre foram.

E então, qual a tua opinião sobre a ROH? Tens alguma ideia de como ela poderá crescer? Achas a sua situação actual positiva?

Hoje ficamos por aqui.

Até para a semana e obrigado pela leitura.

16 Comentários

  1. 5 anos

    Bom artigo, continua assim.💪💪

  2. Só discordo na parte do Dalton Castle, que fez um péssimo reinado e agora com o Matt Taven está a mesma coisa, um reinado ridículo com um booking horrível. Os Campeões de Duplas são horríveis in-ring, o campeão do Mid-Card tem um carisma de uma porta e o Marty Scurll está preso na Tag Team Division.

    • Obrigado pelo comentário.
      E eu discordo com tudo o que referiste ahahah.
      O reinado do Dalton não foi nada de mais, mas esteve muito longe de ser péssimo, além de que foi um reinado importante durante uma altura em que o booking da ROH estava a mudar.
      Discordo mais veemente em relação ao Matt Taven. Tem tido um belíssimo reinado para o tempo que o mesmo tem, com ótimas e bastantes defesas e com muito bons candidatos.
      Os GOD são horríveis in-ring? Não consigo ver aí ponta de verdade, desculpa.
      Por fim, em relação ao Marty, aí sim acabo por ir de encontro à tua opinião, sem dúvida que pode fazer muito melhor e a ROH devia-o aproveitar melhor enquanto o tem. Contudo, como heel que é, que espaço teria ele para alçar finalmente ao título mundial quando o campeão já é um grande heel? Trata-se claramente de uma escolha e, para ser sincero, prefiro, neste momento e neste caso, o Matt Taven para campeão heel neste momento.

    • Eu concordo parcialmente com os 2.
      Relativamente ao Dalton Castle, ele esteve azar com lesões, e o reiniado dele acabou por sex algo frouxo, ainda por cima sendo um dos gajos mais over daquele roster.
      E depois foram só más decisões, o Jay Lethal é muito bom, mas o reinado dele foi bastante aborrecido. Relativamente ao Matt Taven, acho que foi um erro gigante dar-lhe o titulo. O Taven não tem qualidade para ser World Champion.

      Relativamente aos GoD, concordo com RFBM, eles são grandes máquinas, e capazes de grandes combates. Individualmente não são nada de especial (como ficou provado pela participação do Tama Tonga no G1 do ano passado), mas como tag team, são fantásticos.

      Relativamente ao campeão de mid-card só digo uma coisa:
      Pelo menos não é o Kenny King.

      Quanto ao Marty, ele está na divisão de tag team, porque toda a gente sabe que assim que o contrato dele acabar, ele vai para a AEW, e a ROH provavelmente não vai querer cometer oerro que a NJPW cometeu com o Kenny Omega.
      Mas preferia de longe o Scurll ao Taven, mas é que nem há comparação possível entre os 2

    • Não acho, de longe, que o reinado do Lethal tenha sido aborrecido. Teve defesas bastante interessantes como com o Jonathan Gresham, o próprio Cody e principalmente com o Matt Taven, para além de que é um nome que imprime muito star power e traz bastante credibilidade àquele título.
      Discordo veemente em relação ao Taven. Não só tem qualdiade para ser campeão mundial, como é um ótimo heel para rivalizar com o principal face da companhia.
      O Shane Taylor tem-se demonstrado um heel muito bom e uma ótima personagem, mais do que cumpre como campeão de TV, sinceramente tenho adorado a sua prestação.
      Em relação ao Kenny King, nunca fui grande fã também, mas desde que virou heel tem convencido e a ROH precisa de elevar alguns wrestlers ao main-event. Não estou a ver ninguém que mereça tanto como ele que já lá não esteja.
      Por fim, acho que a NJPW cometeu tudo menos um erro em dar o titulo ao Omega. É um problema para WWE e outras companhias quando um lutador está em final de contrato. Há logo a necessidade de o afastar ou de lhe dar derrotas consecutivamente. Sinceramente não vejo dessa forma. Se aquele nome traz audiência e interesse porque razão não pode ser bem usado até ao dia em que saia? Se fizer sentido que ganhe o título naquela altura, mesmo que seja em final de contrato, qual é o problema? A situação do Kyle O`Reiley em 2016 foi assim e elogio a ROH por lhe ter dado o título.

    • Foi um erro dar ao Kenny Omega, porque o futuro dele pós Wrestle Kingdom estava muito incerto, e a verdade é que como ele acabou por abandonar, o booking da NJPW nos primeiros meses deste ano acabou por ser algo bastante instavel com as troca sucessivas de titulo, e com a redemptions arc do Okada a terminar cedo demais com uma vitória sobre o Jay White no G1 Supercard.
      Atenção, eu adorei quando o Kenny ganhou o titulo, e achei que o reinado foi bom (podia ter sido bem melhor), no entanto acho que a saída dele foi uma incerteza que complicou bastante o booking da NJPW.

      Quanto ao resto do comentário, simplesmente são opiniões e discordamos.
      Ainda bem que gostas de ver o Taven a campeão, o Shane Taylor a campeão, e gostaste do Jay Lethal como campeão.
      Sinceramente, para mim, eles só me retiraram vontade de ver o produto, porque nenhum deles me cativa, mas ainda bem que haja quem goste.

    • Para ser sincero, acho que as trocas de título constantes já estavam planeadas antes do WK ahahah.
      Talvez fosse para o Omega recuperar o título do Jay White em vez do Okada, mas isso é algo que nunca saberemos, mas em suma, as trocas iam acontecer de qualquer das maneiras.
      Concordo que a redenção do Okada foi muito cedo, preferia que tivesse sido no WK14.
      Lá está, o resto já são gostos e opiniões pessoais em que discordamos ahahah.

  3. Edjandro Martins5 anos

    Ótimo artigo, concordo com grande parte das tuas opiniões, menos com relacão ao Cody (entendo o que quiseste referir com a questão da qualidade em ring, mais acho que o objetivo era a visibilidade e star power que o Cody daria ao titulo), de restante concordo com tudo, a ROH precisa de criar suas próprias estrelas para que possam manter o alto nível de costume após a saida do The Elite. Já estão a fazer com os vários nomes que referiste e eu gosto muito e estou com grande animo para o futuro da empresa.

    • Obrigado.
      Admito que essa seja um ponto razoável para tal ter acontecido.
      Mas como alguém que valoriza imenso a qualidade in-ring, principalmente em companhias como a ROH que sempre se pautaram pela mesma, tal reinado me deixou com muito mau sabor na boca, para além de que tudo foi um exagero: o tempo do reinado, a quantidade de combates em que o Cody fez a mesma coisa, tudo.
      Em relação ao resto, totalmente de acordo.

  4. Sandrojr5 anos

    Otimo artigo, confesso que já assisti a ROH algumas vezes, mas nunca me prendeu o produto que eles oferecem, prefiro a WWE, IW e NJPW.

    • Obrigado pelo comentário. Sem dúvida que a ROH apela a um determinado tipo de fãs, dado que muitos não se identificam com o produto. Oferece shows que não sendo mais do mesmo, também não apresenta algo de verdadeiramente novo.

  5. duzonraven5 anos

    Ótimo artigo, acompanho a ROH ocasionalmente e a verdade é que meus wrestlers favoritos hoje em dia já passaram pela ROH (Samoa Joe, Undisputed Era, Kevin Owens, Tomaso Ciampa, Daniels, Cedric Alexander) provando o bom nível do wrestling apresentado. O roster é pequeno e mais fraco comparado a algumas concorrentes daí a necessidade de utilizarem a NJPW, sendo que vejo muita semelhança entre as duas companhias, porém sinto que eles não veem a necessidade de “alcançarem voos maiores”, desde que conheço a ROH é a ROH, sem nunca querer competir com a WWE nem deixar cair o nível drasticamente, acho que se manterão sempre nesse meio termo entre as indys e as main stream

    • Obrigado pelo comentário. Sem dúvida, concordo. Nunca vi a ROH com muito interesse em crescer mais para além do que já é.

  6. jeriko885 anos

    So consegui um tempinho hoje para ler este artigo que me saltou a vista desde que foi lançado, muito bem escrito e analisado , concordo com tudo, exactamente igual a minha maneira de olhar a ring of Honor