Boas a todos nesta grande casa que é o Wrestling PT!
Poucos dias após o Extreme Rules, decidi falar de uma combinação que a mim muito me agrada e que vimos voltar a suceder neste evento da WWE. Estou a falar do Shinsuke Nakamura e de um título Intercontinental, que muita boas memórias me traz, relativamente aos tempos em que o Nakamura era a epidemia do IWGP Intercontinental title na NJPW.
Aproveitado esta reaproximação entre estes dois elementos que, na minha opinião, combinam na perfeição, tentarei dar o meu ponto de vista acerca de como um título, especialmente um título do mid-card pode ser elevando, adquirindo mais valor e interesse.
Em 2012, o praticamente recém-criado título Intercontinental da NJPW encontrava-se sem rumo, sendo que, depois de um ano em que raramente foi verdadeiramente aposta da NJPW para combates bem colocados no card, assim como para rivalidades mais intensas e especiais. Também o próprio Nakamura não se encontrava na mais credível das posições. Depois de uns anos a tentar reinventar-se na NJPW, através da CMLL, faltava, agora a este lutador capitalizar esses mesmos anos de esforço redobrado, o que viria a acontecer com a conquista deste título. Durante o seu reinado, o mesmo lutador foi evoluindo e o título prestigiado, nunca parecendo algo forçado, ao mesmo tempo que nunca apresentava sempre o mesmo nos seus combates.
Já em 2019, os papéis não se encontram exactamente os mesmos para o título Intercontinental (agora o da WWE) e para o Nakamura. Em primeiro lugar, o IC title está muito longe de pecar em interesse e credibilidade, comparativamente ao IWGP IC title em 2012. Sem dúvida que nomes como The Miz e Seth Rollins tiveram um papel fundamental na reconstrução da aura especial que sempre sondou este título e, embora nos últimos 9 meses, o mesmo não tenha tido a mesma aposta que em 2017 e 2018, continuava a ter um óptimo campeão no Finn Bálor, pecando somente nas rivalidades e combates em que o mesmo estava envolvido. O seu principal problema atual, a meu ver, tem sido o facto das defesas do título parecerem somente mais uma, quando vários nomes que já lutaram pelo título este ano tinham a qualidade para deixar transparecer mais. Um maior build up era, sem dúvida, mais que necessário neste momento. Como em 2012, Nakamura tem agora espaço e um título que lhe permitem crescer.
Aquilo que o Nakamura fez entre 2012 e 2016 pelo IWGP IC title foi, para mim, o exemplo mais paradigmático de como um título pode adquirir valor. Ressalva-se, porém, que não considero que existe uma fórmula que servirá para todos os títulos. Mais, a mesma fórmula pode nem servir para títulos com a mesma posição e função no card, tudo dependendo da qualidade dos shows, das características da empresa, entre muitas outras razões. Não obstante, tentarei traçar um perfil de decisões que podem ajudar na tentativa de dar ou devolver prestígio a um título que de tais características precise.
Escolher a cara do título
Para efeitos de esclarecimento, nesta características estou a falar da escolha de um lutador que terá a função de elevar o título, ao mesmo tempo que se torna o lutador que toda a gente se lembra quando o título é referenciado. Isso implicará duas constantes: primeiro, que o lutador tenha pelo menos um reinado bastante longo; segundo, mesmo que o lutador venha a perder o título, deve ser sempre capaz de o recuperar num momento posterior.
Não estou aqui a pedir, claro está, o jogo da “batata quente”, em que teríamos mudanças de titulo a acontecer constantemente. Os reinados de transição não necessitam de ser curtos. Devem até ter o seu tempo e contar com algumas/várias defesas para que tenham significado. Exemplos desta decisão sempre constam da elevação de vários títulos ao longo dos últimos anos: o Nakamura com o IWGP IC title, o Miz e o Rollins com o WWE IC title, o Zack Sabre Jr. com o British Heavyweight title, entre outros.
Sei que isto impedirá dar destaque a outros lutadores, mas a meu ver, tal não é extremamente necessário, no sentido em que se todos os lutadores tiverem destaque, o que diferencia as grandes estrelas dos outros? Nada. Os melhores devem ser premiados, as estrelas devem ser criadas, alguém terá sempre de ser o jobber ou o lutador do low-card, agora a definição de quais e respetiva escolha, essa sim, deve ser discutida.
Mas por outro lado, um campeão e um título não valem apenas por si mesmos, valem também pelas pessoas que os desafiam e querem, respectivamente, pelo que óptimos lutadores são extremamente necessários para serem candidatos ao título.
Elevar o título tacitamente e não forçar
Quando o Nakamura venceu o IWGP IC title referiu que gostava de criar algo especial com ele, mas nem mais uma palavra do próprio ou da NJPW acerca do assunto votou a ser dada. E bem. Como já disse em outros artigos, acho mais inteligente cada empresa ter um booking em que faz as coisas que deseja do que um booking que transmita a toda a hora as coisas que quer fazer. Se algo há a ser feito que o seja e não que seja prometido.
Aliás, se o objectivo for cumprido serão sim os fãs a dizê-lo e não a própria empresa. Prova disso foi que foi o próprio público do Tokyo Dome que escolher o combate pelo título Intercontinental da NJPW para ser o main-event do WK8 e foram várias lendas, como Bret Hart, que parabenizaram The Miz pelo seu belo trabalho em trazer prestígio ao IC title.
Favorecer a qualidade dos combates
Para nós, fãs de wrestling, não será difícil definhar que independentemente da história a ser contada e da rivalidade que esteja a decorrer, os combates devem sempre entregar, deixando para situações muito específicas os combates curtos e/ou os menos técnicos, isto é, quando os mesmos façam sentido.
É uma condição que, embora importante para todos os títulos, se torna evidentemente ainda mais necessária para um título do mid-card, que deve oferecer algo igualmente atraente que o main-event, já tendo este, por norma, o combate mais apelativo e interessante do card.
Ao reinado do Nakamura isto nunca faltou, assim como no do Seth Rollins, não esquecendo que o deste acabou por ser o maior destaque do RAW todas as semanas pela qualidade que apresentava, o que acabou também por beneficiar a personagem babyface do Rollins que ainda não tinha funcionado a 100% e possibilitado o seu regresso ao main-event.
Repensar a posição dos title matches no card
Um dos problemas que os vários cards dos PPV`s da WWE têm, a meu ver, está na quantidade absurda de title matches. Que interesse tem um fã em saber que o próximo combate é pelo título Intercontinental, se todos os 6 combates anteriores já foram title matches? Com certeza que os títulos têm o seu valor, alguns bem acima dos restantes, mas a certa altura do show, os fãs já se encontram saturados de ver títulos em jogo. É um problema que assola a WWE também pela quantidade super exagerada de títulos que tem.
O regresso dos PPV`s exclusivos de cada brand era uma solução, desde que não apresentada como em 2016/2017. Proponho que, em vez de dois PPV´s por mês, se fizesse apenas um. Isso daria um bom tempo (cerca de 2 meses) entre os PPV`s de cada brand, o que traria vários benefícios: deixaria mais tempo para construir os principais combates, assim como evitaria os fãs de se saturarem com combates atrás de combates e shows atrás de shows, o que, a certa altura, os torna banais, fazendo-os serem sentidos como “apenas mais um”.
Mais dos pontos devem ser adicionados a esta condição: a questão dos grandes combates para os grandes shows; e a possibilidade de combates de mid-card poderem ser o main-event de vários evento, incluindo PPV`s.
Quanto ao primeiro ponto, penso que combates interessantes, que os fãs já sentiam expectativa antes mesmo de ser anunciados, aqueles que geram mais interesse e que tenham mais star power, não devem, nem podem, ser oferecidos, de graça, em programas semanais, sem qualquer build up, muitas vezes ocorrendo até sem serem anunciados? Isso aconteceu, por exemplo, na defesa do título do Bálor com o Ali, um combate que 15 minutos antes os fãs estariam a salivar para o ver, um combate que deveria ter acontecido num momento especial. Tal situação não beneficia os próprios cards dos grandes shows, os lutadores e até mesmo o título.
Relativamente ao segundo ponto, é algo frequentemente usado na NJPW, sendo o Nakamura e o título Intercontinental da NJPW pioneiros nessa condição aos vários títulos da NJPW, que não o IWGP title. Não necessita de ser dos principais shows, mas ajuda a um título ser defendido em último, porque, em regra, o main-event deve ser o mais esperado de um card. O próprio Seth Rollins e o Dolph Ziggler chegaram, e bem, a lutar pelo título no main-event do Extreme Rules o ano passado, algo que penso que deveria ocorrer mais vezes.
Evitar blood feuds pelos títulos
Poderei estar aqui em desacordo com muitos de vós, mas considero que as feuds mais pessoais não beneficiam os títulos que possivelmente estarão envolvidos nelas. Penso que a lógica do meu pensamento é muito simples. Um título mostra-se como valioso pela quantidade e qualidade dos lutadores que querem vencê-lo. Se os lutadores que estão a lutar por ele tiverem outro objectivo que não vencer o título, como a “vingança””, o que acontece ao título? Isso mesmo, é relegado para segundo plano, quando deveria ser o prémio que todos deveriam querer.
Em 2017, no build up do combate entre Dean Ambrose e Baron Corbin pelo título Intercontinental na WrestleMania 33 baseou-se numa rivalidade pessoal, não deixando tempo para que o título fosse, uma vez sequer, o tópico de discussão dos dois lutadores, algo que penso não dever ter acontecido. Não estou a dizer que não possam ser feitas, mas que o devem ser muito raramente e quando tal faça sentido ou seja indispensável.
Quando o Nakamura detinha o IWGP IC title, os seus desafiantes mostravam-se sempre inquietantes, não em relação à sua história com o campeão, mas em relação à sua vontade de ter aquilo título, que agora significava alguma coisa.
Posto isto, penso serem estas as condições para que um título possa crescer em termos do seu valor, interesse, atractividade e, acima de tudo, prestígio. Não sei se o Nakamura conseguirá trazer ao WWE IC title a mesma aura especial que trouxe ao seu semelhante na NJPW, mas esta combinação sempre me agradou. O título parece desenhado para estar à cintura deste lutador, assim como penso que o mesmo se sente extremamente satisfeito quando o detém. Por outro lado, e sendo realistas, o Nakamura dificilmente algum dia virá a ser um verdadeiro main-eventer na WWE, seja pela complexidade da sua personagem, seja pelas dificuldades linguísticas, pelo que esta posição no mid-card assentar-lhe, a meu ver, como uma luva. Esperemos que tenha, pelo menos mais destaque do que quanto foi campeão dos EUA.
E então? O que achas desta combinação Nakamura-IC title? Achas que o título Intercontinental da WWE beneficiava de um campeão como Nakamura? O que achas da sua situação actual?
Hoje ficamos por aqui.
Até para a semana e obrigado pela leitura.
4 Comentários
Espero que como agora tem o título seja bem utilizado. Acho que o Nakamura com o IC pode ser uma boa combinação.
Obrigado pelo comentário.
Desejo recíproco.
Otimo artigo, mas acho que o nakamura não tera um grande reinado como ele teve lá no Japão, pois o card da wwe está lotado de lutadores, e a wwe trata os titulos de mid-card como batadas quentes. Falando em campeões de mid-card vc poderia fazer um artigo falando sobre o RICOCHET, eu sei que ele não é mais campeão mas seria legal de falar sobre a subida dele para o main roster e como ele ganhou o titulo rapido.
Obrigado pelo comentário e pela sugestão 😉