Boas a todos nesta grande casa que é o Wrestling PT!

7 de abril de 2019 a 4 de outubro do mesmo ano. São estas a datas que marcam o início e o fim de um dos reinados mais surpreendes e inovadores dos últimos anos (só perdendo para Jinder Mahal), que começou com um belo momento a marcar a WrestleMania e terminou em poucos segundos num mero programa semanal. Estou a falar, claro está, do reinado de Kofi Kingston enquanto campeão da WWE.

Ainda nem um mês se passou desde o final do melhor momento da carreira deste já histórico lutador da WWE, mas ainda assim, a estranheza de ver Kofi Kingston com tal título, a assumir um lugar de topo na empresa que claramente nunca o havia pensado para esse lugar, continua lá. Foi estranho ver Kofi, de um momento para o outro, a ser elevado para um combate de destaque na Mania, foi estranho que o mesmo tenha vencido Kevin Owens, Samoa Joe, Dolph Ziggler e Randy Orton, cada um pelo menos 2 vezes! Foi estranho que alguns fãs ainda tenham pensado que o mesmo poderia ser um adversário à altura de Brock Lesnar. Enfim, foi, é, e sempre será estranho como a história deste reinado se desenrolou e, com ele, a história de Kofi Kingston.

E Nesta edição do Brain Buster explicarei o porquê de tal estranha. Tentarei perceber como Kofi teve tanta atenção dos fãs, porque qualquer oponente seu parecia o inevitável novo campeão e, como o seu reinado e tempos pré-reinado se deviam ter desenrolado.

Brian Buster #27 – Foi, é, e será sempre estranho

Não obstante tudo aquilo que virei a dizer neste artigo, não é demais referir o seguinte. Ver um lutador tão empenhado, tão fiel à WWE e aos seus fãs, tão talentoso no ringue, um mid-carder sólido e um lutador de tag team de excelência, ver os seus anos de esforço e dedicação ao seu trabalho na WWE serem recompensados com um momento tão mágico na WrestleMania e com um reinado no mínimo razoável, soube muito bem, não há como negá-lo.

Ao longo da sua carreira, Kofi sempre pareceu saber o seu lugar na WWE. Mesmo quando não era tratado como devia, sempre poderíamos esperar dele o seu melhor. Relembro que de meados de 2013 a finais de 2014 chegou a ter derrotas no programa Main Event para lutadores como Tyson Kidd, entre outros. Isto era algo banal e normalíssimo até a sua carreira ser revitalizada com o aparecimento dos New Day.

A sua estreia ocorreu em 2008 e, desde logo, chamou a atenção dos fãs para o que fazia no ringue. Um high-flyer que não exagerava, mas que surpreendida, um babyface que entusiasmava os fãs e alguém que também conseguia ter bons momentos cómicos.

Ao longo da sua carreira teve vários títulos do mid-card, inúmeros momentos para recordar no Royal Rumble e Money in the Bank Ladder matches, fez parte de múltiplas equipas, mas o que é certo é que pareceu sempre não ser mais do que isso. Apenas em finais de 2009, num acesa rivalidade com Randy Orton, os seus fãs adquiriram a esperança que a WWE o alçasse ao main-event, o que não viria a acontecer, fosse por razões de booking, ou por jogadas de bastidores…

Também o seu muito bom trabalho no mid-card não era nada de excecional. É verdade que foi várias vezes campeão Intercontinental e dos EUA, mas muitas dessas vezes, acabou por ser campeão de transição.

Brian Buster #27 – Foi, é, e será sempre estranho

Mas como referi, depois de um ano de desilusão, em finais de 2014, os New Day nasceram. Depois de um começo horrível, somente um heel turn salvaria este grupo, e se salvou! O seu trabalho enquanto heels irritantes levou o público a adorá-los. Mas se o público via agora Big E e Xavier Woods com outros olhos e aceitação, a verdade é que pouco restou para Kofi. Este parecia agora ter encontrado o último lugar da carreira. Se é verdade que Big E e Woods foram elevados, Kofi ficou exatamente no mesmo lugar, consolidando aquilo que já era. Não estou com isto a dizer que não terá sido bom para o Kofi, sempre seria melhor bons reinados na divisão de tag team do que no Main Event perdido onde perderia para qualquer um.

Entre finais de 2014 e inícios de 2019, quase 5 anos, Kofi foi isto e só isto. Não tinha vitórias em combates individuais, não tinha destaque individual por estar envolvido num grupo, enfim, era alguém que tanto podia vencer um dos membros dos Revival, ou dos Usos, como perder, que o mesmo era visto da mesma forma aos olhos dos fãs.

E é por esta razão que o seu reinado e a forma como venceu nomes grandes no main-event ainda hoje é estranho. Porque razão alguém que um mês poderia perder para Scott Dawson conseguia agora vencer Kevin Owens e Samoa Joe? Não houve uma construção que permitisse aos fãs olharem para Kofi como um adversário à altura destes.
Se Kofi caiu dos céus na cena do título da WWE? Caiu. As reações muito positivas dos fãs levaram a WWE a alterar os seus planos, daí que seja mais do que aceitável que a mesma não tivesse construído Kofi para planos tão altos, mas o booking pós-vitória na Mania tinha de ser diferente.

Recuperando o que disse há dois parágrafos, Kofi, que venceu um campeão que nos últimos tempos precisara de ajuda para manter o título (Daniel Bryan) era alguém perfeito para perder o título na noite e/ou semanas seguintes, mas dentro do primeiro mês. Porquê? Porque não havia razão para vencer todos os seus adversários, esquecendo todo o booking que tinha tido nos últimos 5 anos. Seria a partir daí que o seu reinado (agora no seu 2º) cresceria. Os fãs, agora vendo Kofi injustiçado, apoiá-o-iam ainda mais, tal como fizeram com Christian e Daniel Bryan.

Brian Buster #27 – Foi, é, e será sempre estranho

E mais, o Kofi da música dos New Day, dos cereais, das panquecas e das palmas continuou lá. Não houve mudança alguma, deixando ainda mais difícil para os fãs atender ao Kofi como um campeão sério.

A minha proposta seria que no dia seguinte/semanas seguintes/mês seguinte Kofi perdesse o título. E perdê-lo-ia para alguém como Kevin Owens ou Randy Orton. São ex-campeões mundiais dominantes que mais um reinado seu, embora curto, iria ajudar a credibilizar. Kofi venceria o título novamente passado 1 mês e meio ou no máximo dois meses, sendo que neste período seria um período de crescimento onde adquirisse tudo o que lhe faltava: credibilidade para ombrear com os habituais main-eventers, algum distanciamento dos New Day, uma mudança de look e de música, etc. Aí sim, Kofi seria alguém que os fãs veriam no main-event com facilidade.

Mas porque isto é tão necessário? Afinal de contas o reinado do Kofi foi bastante razoável e aceitável. Mas respondo a isto muito facilmente. Mesmo que o tal reinado tenha ajudado o Kofi, descredibilizou os seus oponentes, ou seja, quando KO, Orton ou Joe perdem para Kingston não perdem para o main-eventer, perdem para um terço dos New Day. Noutras palavras, não é o Kofi que se eleva, mas sim os seus adversários que vêm a sua credibilidade prejudicada.

Tal booking também prejudica e prejudicou o título da WWE. Desde logo porque Kofi chegou a tal estatuto pela existência de muitos outros títulos. Se apenas houvesse um título mundial, não há dúvidas que Kofi nunca teria sido campeão da WWE. Assim como olhando para o presente e futuro, com Kofi como campeão, o título da WWE, que já não é main-event de um PPV há bastante tempo, perdendo quase sempre para o título Universal, continuará nessa posição, pois Kofi não conseguiria, naquelas condições valorizar o seu título.

Brian Buster #27 – Foi, é, e será sempre estranho

Não obstante, este reinado teve aspetos igualmente positivos. Deixando agora a felicidade de ver Kofi recompensado, há também que contar com os seus combates durante este reinado, que foram muito satisfatórios. Os seus combates foram sempre bastante sólidos, como com Daniel Bryan na Mania, alguns acabaram com um momento muito inovador, interessante e condizente com a personagem do Kofi como o Steel Cage match com Dolph Ziggler e com Samoe Joe penso que foram os melhores combates individuais da carreira do Kofi desde 2013.

Por outro lado, não só o Kofi subiu de posição, como os New Day alavancaram com ele, deixando de ser uma mera stable para a tag team division para assumir ainda maior estatuto do que o já tinham (relembro que já são a cara da WWE em várias fundações, eventos, publicidade, etc.). Quando Big E e Woods detinham os títulos de Tag Team ao mesmo tempo que Kofi era campeão da WWE, os New Day atingiram o seu pico máximo.

Por fim, vimos Kofi com uma personagem mais séria em várias das rivalidades que se sucederam ao longo dos últimos meses. Os momentos cómicos poderiam continuar lá por fazer parte dos New Day, mas nos momentos mais acesos com Randy Orton, p. ex., tivemos um Kofi bastante capaz em tudo o que não wrestling in-ring.

Mas tudo nos soou a estranho, fosse o Kofi a vencer o título da WWE, fosse a vencer de igual para igual Samoa Joe ou Randy Orton, fosse a ver os New Day em níveis tão altos, fosse pela capacidade de Kofi Kingston nas rivalidades mais sérias.

À estranheza junta-se o doce saber do pensar no que o Kofi conseguiu com o apoio dos seus fãs. É, sem dúvida, uma combinação inesperada mas que fizeram parte destes bons momentos deste ótimo lutador da WWE.

Hoje ficamos por aqui.

Até para a semana e obrigado pela leitura.

10 Comentários

  1. Bom texto e concordo totalmente contigo. Não me importei de o Kofi ser campeão mas durante tanto tempo e a ganhar a grandes estrelas seguidas acho que foi um exagero. E depois no fim do nada e em segundos perde para o Brock Lesnar. Eu sei que os New Day fazem bom dinheiro mas gostava de ver um heel turn do Big E no Kofi e uma rivalidade entre eles.

    • Obrigado pelo comentário.
      Não é uma ideia descabida, de todo.
      Na minha opinião os New Day já deram o que tinham a dar e nunca serão mais do que são agora e já o são há bastantes anos.

  2. 5 anos

    Estou plenamente de acordo contigo. Eu no início queria vê-lo como campeão mas ao longo do tempo fartei-me de o ver com o título. Tenho pena que ao fim de 5 meses ele tenha perdido o título em segundos.

  3. YesNo5 anos

    Excelente artigo. O que me deixa também um pouco triste ler ideias de booking perfeita como essas: “Kofi venceria o título novamente passado 1 mês e meio ou no máximo dois meses, sendo que neste período seria um período de crescimento onde adquirisse tudo o que lhe faltava: credibilidade para ombrear com os habituais main-eventers, algum distanciamento dos New Day, uma mudança de look e de música, etc.”, e não entender como nós, mero expectadores, conseguimos criar histórias melhores que uma sala cheia de senhores pagos para cria-las.
    Novamente, excelente artigo.

    • Obrigado pelo comentário.
      Um dos bons problemas do booking da WWE é também o facto de ser feito em cima do joelho e com desrespeito pelo passado dos lutadores, nunca pensado no médio e longo prazo.
      Mas também o que fiz foi uma espécie de (re)booking. Por muito que goste da minha ideia, sei que fazer o totobola à segunda feita é mais fácil ahaahah.

  4. Sandrojr5 anos

    Gostei muito do artigo e queria saber, como você tem a criatividade de toda semana trazer algo novo? Toda semana é um artigo diferente, com um tema diferente, só que dentro do mundo do wrestling.

    • Muito obrigado pelo comentário!
      Sinto-me bastante lisonjeado por esse complemento.
      Na verdade não há segredo nenhum. Penso que simplesmente já tenha anos suficientes disto para ter uma melhor percepção das coisas. Vejo ou já vi inúmeras promotoras e penso que há maneiras de fazer wrestling e de bookar os lutadores com que eu me identifico mais e considero até que são as melhores.
      É isso que tento transpor para os meus artigos.

  5. Mateus5 anos

    Muito bom artigo. Tentei de toda forma discordar de você, por que gostei demais de ver o Kofi campeão, mas tens razão, soou estranho mesmo, feito do modo como foi. Só não consigo imaginá-lo fora do New Day – já o conheci ali e adoro a Stable. Gostaria que existisse um jeito de Kofi manter-se na stable e ser levado a sério, não só ele como Big E e Xavier.

    • Mateus5 anos

      Adendo: Brian Buster seria um ótimo ring name!