Boas a todos nesta grande casa que é o Wrestling PT!
Há cerca de alguns meses e na sequência do que foi uma análise a um evento da ROH, na qual incluí uma análise sobreposta em relação à sua situação corrente, elogiei e valorizei, por quase todos os lados, cantos ou ângulos de análise possíveis o trabalho que esta bastante conhecida promotora de wrestling independente havia feito em 2018 e até meados do ano ainda a decorrer, mas quase a terminar, 2019.
Elogiei, designadamente a boa organização dos seus programas semanais e o esforço de render principalmente nos grandes eventos os grandes lutadores, as grandes rivalidades e os grandes combates, ao mesmo tempo que nos eram apresentadas histórias estáveis, credíveis e interessantes, que culminavam nos PPV´s e/ou nos combates mais intensos e emocionantes.
Valorizei ainda o trabalho de credibilização dos títulos e de um roster próprio não dependente da NJPW, da justiça na escolha dos campeões e principais estrelas da empresa e, por fim, o bom booking que quase todos os lutadores, pelo menos na medida dos que mais importam aos olhos dos seus fãs estariam a receber, fosse pela escolha acertada do lado em que se encontravam (face ou heel) fosse da personagem que lhes tinha sido acertadamente atribuída.
Defendi, inclusive, a ROH na caixa de comentários desse mesmo meu artigo, reconhecendo alguns pontos que a mesma ainda tinha, podia e devia melhorar e ter melhorado, mas mostrando-me otimista na manutenção desta forma de trabalhar e até me sentindo “só” na ideia de que a ROH estaria a trabalhar muito bem e a forma como os reinados correntes ou pré-terminados tinham corrido.
Por fim, e apesar de várias críticas à ROH no sentido de preterir destaque de lutadores com uma grande base de fãs como Marty Scrull para nomes como Matt Taven ou Shane Taylor por achar que estes tinham desenvolvido um excelente trabalho (como ainda acho que o fizeram) e pela fidelidade à marca da ROH que no caso do Marty não me parecia haver.
Se é certo que contínuo a defender este este último parágrafo, pelo menos em abstrato (quanto ao concreto a seu tempo lá chegaremos), relativamente aos restantes não mais posso manter a minha posição, e com muita pena minha, diga-se. Uma nova análise minha à situação atual da ROH não se justificaria apenas por cerca de meio ano (ou menos!) se não considerasse que na ROH tudo mudou, ou quase tudo, aos meus olhos, tendo esta promotora independente, desabado com tudo o que conquistara desde o final de 2017 e estragado o momento de estado de graça que considerei que a mesma estivesse a atravessar.
Começando, desde logo, por uma das minhas poucas críticas à ROH na altura, a divisão feminina, já na altura deficiente em nomes, estrelas e lutadoras e, igualmente, na importância do seu título. Por incrível que pareça (ou nem tanto), está hoje num estado ainda mais degradante do que há 6 meses. À imagem do que se vem passando em todas as divisões, títulos e rivalidades, não há histórias longas e estáveis para esta a women´s division. Não há sequer histórias relevantes ou interesses que criem algo que seja característico desta divisão para além de ser disputada por mulheres. Há somente um título, uma campeã, desafiantes e qualquer troca de título vale tanto como qualquer outro e mero combate desta divisão, esteja ele no fundo do card, ou até no pre-show.
Tivemos trocas de título entre Kelly Klein e Mayu Iwatani e entre Kelly Klein e Angelina Love, de que de nada valeram. E a ROH, possui hoje, uma stable feminina que, na minha opinião, só tem deteriorado o seu produto. As Allure bastam-se em ser uma stable heel, mera cópia das Beautiful People da altura da TNA em que somente um dos seus elementos mudou e que se aproximam basicamente ao que as Iconics fazem na WWE atualmente, ou a Emma e a Dana Brooke fizeram a dado momento no NXT. Se estes grupos podem ajudar em alguma coisa? Podem, principalmente na diversidade de combates e histórias da divisão, mas não podem ser o mais importante. Que seria da divisão feminina da WWE se tivesse como principal história uma luta às Iconics como a ROH faz da luta às Allure.
O que piora ainda mais este ponto já cronicamente crítico, trata-se de ser plenamente pacífico que Angelina Love e Velvet Sky, embora muito longe de se humilharem no ringue, estão, certamente, bons furos abaixo dos seus tempos de glória da TNA. Mais, o seu membro atualmente mais capaz, Mandy Leon, tem sido a mais ofuscada do que no momento em que se encontrava pré-heel turn, quando na minha opinião, deveria ter sido esse o momento para a catapultar para altos voos.
A própria principal cara desta divisão, Kelly Klein, ainda não provou, a meu ver, mérito para assumir tal posição e nomes como Jenny Rose, e mesmo Summie Sakai, mesmo tendo em conta ter sido esta a primeira campeã feminina da ROH, fraquejam no seu nível de star power. Uma divisão que ficou sem Madison Rayne (que voltou para o Impact Wrestling) e Britt Baker (que assinou pela AEW) e que ainda não tenha sido reforçada devidamente, só pode ter este nível de desinteresse.
Fazendo agora a ponte para os vários títulos, há a destacar o título de TV e os títulos de Tag Team, que se encontram em muito melhor posição que o próprio titulo mundial. Quanto aos títulos de trios, abster-me-ei de elaborar qualquer análise, pois o seu destaque tem sido praticamente nulo.
Antes de mais, honrar o reinado de Shane Taylor como campeão de TV. Tem sido um reinado inovador, de um wrestler diferente e extremamente capaz tanto no ringue, como em qualquer momento oral, algo que as aparências podem, à primeira vista, iludir, e bastante! E tem sido o próprio a criar algum interesse e história à volta do mesmo, porque pela ROH simples title defenses pareciam chegar. O facto de jogar com o final do seu combate e admitir-se agora como wrestler independente e a forma como quase sozinho consegue criar o seu próprio heat e rivalidades faz, na minha opinião, com que Shane Taylor seja a revelação do ano quanto ao mundo do pro-wrestling diz respeito.
Já os títulos de Tag Team estão seguros, e isto porque estão na mão dos Briscoes. Poderão agora, a caminho do maior evento do ano, o Final Battle ser bastante valorizados com o heel-turn da equipa composta por Jay Lethal e Jonathan Gresham. Estes, ainda com muito para dar nesta sua nova faceta, serão um ponto de atratividade bastante grande para o seu confronto durante o mês de dezembro.
Mas quando olhamos para o título mundial, a situação não se afigura tão esperançosa. Defendi e sempre defenderei a vitória de Matt Taven do título mais importante da companhia, pelo seu trabalho fiel e esforçado durante anos para a ROH e da sua construção, estável e credível do seu percurso até o seu momento de consagração chegar. Mas o que acabou por ser verdade é que o interesse do seu reinado se desvaneceu tão rápido e tão facilmente no primeiro mês de reinado e isto, com claras culpas da ROH no cartório.
Bookou este seu campeão, suposto heel cobarte, como alguém invicto, alguém que viria até a acabar com as ondas de invencibilidade de PCO e, principalmente, de Jeff Cobb. No caso deste último de uma forma tão clara e com infeliz prejuízo para o que estava a ser a carreira do ex-atleta olímpico na ROH. E todas as suas defesas do título raramente tiveram uma história cativadora, que não fosse o título em si, nem os próprios combates de maior cartaz (como a defesa perante o Jeff Cobb) foram, infelizmente, bastante fracas. O reinado de Matt Taven acabou por terminar às mãos de Rush, de forma abrupta e de, certa forma, como que uma confissão do falhanço, da ROH e não do Matt Taven, do seu primeiro reinado.
O próprio Rush tem sofrido do mesmo mal que o seu antecessor e com prejuízo que desde já antevejo a longo prazo. Até agora teve a sua defesa mais importante também contra Jeff Cobb numa tour secundária (ignorando a máxima dos grandes combates para os grandes shows) e irá agora defender o seu título contra PCO no maior evento do ano. Mas, a esta altura, quem se importa com isso?
Rush é um lutador fantástico com quem a ROH teve o privilégio de contar no início do ano e PCO é dos lutadores mais over, não só na ROH, como no wrestling em geral. A sua história na WWE, o seu ressurgimento para o wrestling com uma personagem cativante com uma idade em que poucos se conseguem reinventar e reerguer a sua carreira e, principalmente, os spots que está sujeito a fazer cativam qualquer fã a ver os seus combates. E isto para quê? Para lhe ser marcado um combate com o campeão, para certa data, sem que os dois construam uma história, sem que tenham qualquer intercção para promover o seu embate e sem que os fãs menos frequentes da ROH saibam sequer do main-event do maior evento do ano da ROH.
Considero que PCO não é wrestler de main-event, nem muito menos, com esta personagem e nesta fase da sua carreira, seja alguém para colocar no topo de uma empresa como a ROH, mas isso, ora meus caros leitores, já eu dou de barato quando olho para o estado em que uma das empresas que sustentou o wrestling fora da WWE durante tanto tempo chegou.
Por outro lado, a ROH deixou de fazer as designadas tapings que colocava no seu programa semanal, tal como o NXT fazia, antes de entrar agora em direto na USA Network. Era uma forma de os fãs com menos tempos de assistir aos seus vários shows, dispersos pelas várias tours da empresa, de conhecer as histórias principais, de assistir a algum conteúdo sistemático e organizado da ROH, para hoje o seu programa semanal não ser mais que uma combinação de destaques dos principais combates que ocorreram durante as tours e de dark matches que ocorreram antes desses shows. O interesse que tinha em ver o seu programa semanal, dissipou-se ao mesmo tempo que o bom momento da ROH.
Convém também referir que quando pensamos em lutadores como Kenny King, Silas Young, Dalton Castle e até Flip Gordon, nomes que nos últimos meses consistiram numa aposta efetiva por parte da ROH, fosse para o upmid-car, fosse para o main-event, encontram-se hoje totalmente distanciados das posições que outrora ocuparam e cuja personagem e conseguinte interesse suscitado na mesma parece à muito ter fugido da sua esfera de ação dentro da empresa.
Kenny King, depois de dois reinados como campeão de TV e de alguns combates pelo título mundial, parece agora ter descido ao mid-card para rivalizar com o seu ex-parceiro, Rhett Titus, uma feud uns bons 3 anos atrasada e, cujo distanciamento de credibilidade entre os intervenientes nada diz aos expectadores da ROH.
Silas Young sofreu imenso com a sua parceria com Bully Ray, em que funcionou essencialmente como seu aliado e inferior. Parecia ter voltado a ser aposta com a feud com Jonathan Gresham, mas agora tem sido obrigado a fazer de mentor de Josh Woods, limitando-se a meros combates de equipas quando poderia, em quantidade e qualidade, estar a lutar por títulos ou em rivalidades cativantes.
Quanto a Dalton Castle e o seu heel-turn que parecia ter funcionado como catalisador de uma nova fase da sua carreira na ROH tem sido absolutamente esquecido. Já nem os próprios fãs se lembram que o mesmo virou heel e a aplicação prática da sua nova personagem tem sido um fiasco total. Não há nada de novo quanto a este lutador, quer no ringue, quer no aspeto. Foi um heel-turn que se limitou a alterar a sua atitude, agora de desprezo e não de respeito pelos seus adversários. Nem as próprias formas de com que vence os seus combates são inovadoras, ou sequer de uma gimmick heel.
Finalmente, Flip Gordon desapareceu completamente aos olhos dos fãs e o hype criado pelo seu ano de confirmação e paralelamente o melhor da sua carreira (2018) perdeu-se totalmente. Também acabou por virar heel numa decisão desastrosa, que matou o ímpeto e o momento mais over deste lutador, que se previa até crescer em território nipónico. A sua junção aos Villain Enterprises no seguimento deste heel-turn trouxe um Flip totalmente secundário e atrás na própria hierarquia do grupo quando comparado com Marty Scurll e até PCO.
Esta stable, aliás confusa e de pouca utilidade, deverá acabar quando Marty Scrull terminar a sua vinculação à ROH, o que se espera que ocorra em não muito tempo, mas poderia ser aproveitada para alçar alguns dos seus nomes. PCO nada tem a ver este conceito e deverá igualmente sair, mas Flip e Brody King poderiam continuar juntos, após expulsarem PCO, assumindo Flip uma posição de destaque que não teve durante todo este ano, tendo depois Brody King como válvula de escape e aposta de segurança, para finalmente capitalizar o seu heel-turn, até agora, desapontante, mesmo que as minhas expectativas quanto ao mesmo já fossem quase inexistentes.
Veio a público ainda esta semana a possibilidade de a ROH vir a aceitar lutadores da WWE nos seus shows tal como a EVOLVE faz hoje em dia, numa ideia que me parece totalmente descabida. Isto porque seria matar qualquer possibilidade de crescimento da empresa, o que acabou por acontecer com a EVOLVE e segundo porque estaria tacitamente a acabar com a parceria com a NJPW, deixando espaço para o seu lugar sendo ocupado pela AEW, desejo que a este momento é tanto desta promotora como de grande parte dos fãs de wrestling que não da WWE.
Por fim e para terminar este fastidioso artigo referir a necessidade de inovar. Tudo é simples, os title matches não cativam ninguém, nem têm a mesma qualidade de antes, as feud duram pouco e quando são prolongadas, não são contínuas, o que em grande parte se deve à reestruturação infeliz dos programas semanais já acima explanada e o exemplo mais paradigmático desta situação terá mesmo de ser Bully Ray e o que este anda a fazer constantemente.
Elogiei há uns meses numa edição do Brain Buster a reinvenção deste lutador na ROH e a forma como mesmo nesta fase tardia da sua carreira se tinha conseguido captar novamente a atenção dos fãs. Mas hoje, a situação deste lutador não passa desse trajeto já constantemente irritante. Se antes era Flip Gordon o seu visado, agora é a stable LifeBlood, designadamente quanto a Mark Haskings e Tracy Williams. Mas não há nada de criativo. O percurso de Bully Ray na ROH contínua a ser ainda o de um eterno veterano que não aceita o estilo das novas estrelas da indústria.
Tudo simples, tudo igual, num mundo de wrestling em crescimento atual e potencial, em que inovar dentro do núcleo possível e dos limites do ridículo é a palavra de ordem, fazem com que a ROH a longo prazo, a continuar com esta política, se veja em condições muito difíceis, o que já se nota aliás, nos seus PPV´s, que cada vez mais têm menos público e menos falatório nas redes sociais.
Enfim, dias melhores esperam-se para um dos pilares do pro-wrestling atual.
Hoje ficamos por aqui.
Até para a semana e obrigado pela leitura.
6 Comentários
A ROH está assim tão mal? E o que se passou para ficar neste estado?
Penso que expliquei isso neste artigo ahahah.
Lol, desculpa lá. Quando escrevi as perguntas não estava a pensar no que tinha lido.
Ahahaha, na boa!
A ROH ESTA MORRENDO LENTAMENTE.
Obrigado pelo comentário. Custa-me muito admiti-lo, mas é verdade.