Boas a todos nesta grande casa que é o Wrestling PT!

Como o prometido é devido, faço, esta semana, uma pausa da minha série de fantasy booking para vos trazer um artigo mais comum e tradicional, falando-vos hoje de um tema que, para muitos de vós, poderá não vos chamar muito a atenção, mas que através do qual, espero que vos possa dar mais conhecimento acerca do pro-wrestling actual, bem com um aconselhamento de produtos alternativos ao wrestling mais main stream. Posto isto, falarei hoje da Major League Wrestling (MLW).

Trata-se de uma promotora que, nos últimos anos tem vindo a aumentar a sua base de fãs, bem como se posicionado como uma das principais empresas de wrestling dos EUA e até do mundo. Efectivamente, ela tem conseguido chegar ao nível da ROH ou do Impact Wrestling, por exemplo. Tentando neste artigo explicar um pouco da sua história, bem como os principais aspectos do seu produto.

Começando com uma brevíssima síntese histórica, a MLW foi fundada em 2002 pelo ex-membro da equipa criativa da WWE Court Bauer. Este mesmo, na altura, descreveu muito do seu produto que, apesar de algo diferente nos dias de hoje, continua a consubstanciar muito do seu estilo hoje em dia. Trata-se de uma promotora que não foge a combates mais violentos (em todas as variações possíveis), bem como a combates mais duros e brutais entre lutadores com grande estatura, que juntam o wrestling tradicional americano e o puroresu japonês.

Trata-se efectivamente de um estilo “híbrido”, um conceito ainda muito utilizado pela MLW nos dias de hoje, que se traduz numa mistura de vários estilos de pro-wrestling. Não obstante a mesma ter fechado portas já em 2004, devido a problemas de dinheiro, o facto é que contou com campeões de renome no wrestling mundial, tais como Satoshi Kojima, Mike Awesome e Steve Corino.

Mas não seria esse o fim do nome MLW, tendo esta anunciado o seu regresso em 2017. Ela retornou com o estilo que tinha sido a sua base, mas aproveitou o que de melhor o wrestling independente tinha na altura, antes de ter sido praticamente dizimado pela WWE e o resto ter sido levado pela AEW. Anunciaram nomes que, na altura, faziam furor nas indys como Shane Strickland (Isaiah “Swerve” Scott), Fénix, Pentagón Jr. ou Matt Riddle, tendo o primeiro se tornado o seu primeiro campeão mundial deste o regresso da MLW.

Isso acabou por ter, naturalmente, repercussões no estilo da promotora. Sim, é verdade que continuou com a base de 2002-2004, mas a mesma acabou por receber uma influência hight-flying e técnica, bem como até hoje procura apresentar um estilo parecido com MMA. Percebeu, também, as vantagens de acentuar as suas histórias, muito genéricas e tradicionais até esse ponto, que não deixando de o ser até hoje, procuraram um fundo mais emotivo e uma intensidade nas rivalidades mais pessoais.

Brain Buster #57 – MLW: valerá a pena?

Todavia, na minha opinião, a grande vitória e conquista da MLW até hoje é o seu programa de pro-wrestling semanal, o MLW Fusion. Este funciona através de tapings, que a MLW faz em 2 ou 3 arenas ou então em parceria com alguma promotora. Por exemplo, actualmente estão a transmitir todas as semanas um evento de Super Power Series da MLW vs. AAA (empresa mexicana). O Fusion tem um contrato televisivo com um canal menor, mas que não impede que ele seja disponibilizado todas as semanas no canal de youtube da MLW.

Desde logo, daqui decorre uma vantagem para quem está a pensar começar a acompanhar ou não, bem como a dar uma oportunidade à MLW. Como a mesma preferiu dar mais atenção ao seu programa semanal, preterindo a realização de shows de maior dimensão de forma mais regular, trata-se de uma promotora bastante acessível de acompanhar, pois apenas terão de dispensar uma hora do vosso tempo semanal para a acompanhar.

Isso permite até à própria MLW guardar-se para shows de grande dimensão que fará menos regularmente. De notar que já o ano passado, em parceria com a FITE TV, a MLW transmitiu pela primeira vez um IPPV, denominado Saturday Night SuperFight, que teve combates muito bem construídos, com histórias muito bem delineadas e exploradas e que no fim permitiu uma sensação muita boa para uma promotora que tem evoluído na sua base de fãs, prestígio e conhecimento do mundo pro-wrestling de forma tão acelerado nos últimos 3 anos.

Outro aspecto a destacar é que a diversidade do wrestling apresentado é favorecido pela existência de várias parcerias que a MLW vai fazendo com várias promotoras de todo mundo. De notar, porém, que não se tratam de parcerias à grande escalada, como a da ROH com a NJPW, por exemplo, mas de “micro” parcerias. O que isto significa é que não se tratam de uma troca constante de lutadores nem da realização de vários eventos anuais em conjunto, até porque com tantas parcerias que a MLW foi fazendo nos últimos anos pouco tempo lhe sobraria para contar as suas histórias.

A destacar, contam-se as relações de trabalho da MLW nos últimos tempos com a NOAH e Dragon Gate no Japão e a AAA e CRASH no México, algo que também serve para a MLW crescer fora dos EUA. É uma óptima jogada, para além da qualidade dos eventos, bem como dos “dream matchs” que se possam pensar.

Por outro lado, uma prova que a MLW subiu grandes patamares e atingiu um nível de renome, prestígio e reconhecimento no mundo do pro-wrestling é que, tal como a ROH, NWA, Impact Wrestling e outras, consegue fornecer contratos de exclusividade aos seus principais lutadores, podendo estes aparecer noutras promotoras, desde que priorizem a MLW.

Por isso, ao veres a MLW e te identificares ou gostares de algum dos seus grandes nomes, é na MLW que os vais ver mais regularmente e onde terão uma aposta mais forte. Com o facto de a MLW conseguir estes tipos de contratos, nota-se assim que ela não é mais uma mera indy que funciona apenas com lutadores independentes e sem um roster certo. Ela é uma empresa já com algum estatuto e uma da brands em crescimento no wrestling actual.

Brain Buster #57 – MLW: valerá a pena?

Mas terminados os tópicos e as ideias de logística, há que olhar para o seu produto, para o pro-wrestling propriamente dito. E então? Valerá a pena? Efectivamente, toda uma organização bem preparada e eficientemente organizada não significa absolutamente nada sem um produto no mínimo aceitável e com combates, rivalidades e lutadores que valham a pena. Quando a isto, minha resposta é absolutamente afirmativa, pois apesar dos pontos fortes e fracos que sempre podemos apontar, o saldo final acaba por ser bastante positivo.

De facto, há duas palavras que melhor definem a MLW: “híbrido” e “diversidade”, pois encontras muito de tudo no seu roster, shows e combates. Gostas de batalhas entre dois lutadores com grande estatura? Tens o Jacob Fatu contra o LA Parte e o Alexander Hammerston contra o Davey Boy Smith Jr. Gostas de combates Hardcore? Tens o Jimmy Havoc contra o Mance Warner. Gostas de combates com o estilo MMA? Tens o Low Ki contra o King Mo ou contra o Tom Lawler. Gostas de lutadores que recordam a história da sua família no pro-wrestling? Tens os Von Ericks e a versão dos Hart Foudation com Davey Boy Smith Jr. e Brian Pillman Jr.

Por outro lado, tem um roster que, conta tanto com lutadores prontinhos a lançar ao main event, como o caso do actual campeão Jacob Fatu, bem como futuras estrelas como Myron Reed ou Brian Pillman Jr. Encontramos MMA fighters conhecidos que fizeram a transição para o pro-wrestling como o King Mo e o Tom Lawler e ainda nomes bem conhecidos do pro-wrestling a nível mundial como Low Ki e Davey Boy Smith Jr.

Há, de facto, muito por onde pegar e isso é uma vantagem para a MLW. Falar também um pouco das suas stables que, ao contrário de muitas que encontramos na ROH (como os Villain Enterprises), na WWE (como a facção do Seth Rollins), entre outras, estas não servem para criar mero heat ou para ajudar determinado lutador a vencer os seus combates, elas servem e muito para melhor o produto e o programa semanal, sendo muitas vezes a principal razão para ver cada Fusion.

Começando pela stable que detém o título mundial, os Contra Unit são um grupo que, se a MLW tivesse a capacidade de produção de uma WWE ia fazer muito furor. Junta um grupo de lutadores de regiões diferentes do planeta, como se de uma organização mundial underground se tratasse. Fazem promos muito interessantes e muitas vezes conseguem sabotar combates roubando a imagem para si, como se tivessem hackers ao seu serviço. Contam como Jacob Fatu, dos meus lutadores preferidos da actualidade, com um estilo muito parecido ao de Umaga, que é o actual campeão e que conta com um reinado dominante. É das principais, se não a principal razão para assistir à MLW.

Brain Buster #57 – MLW: valerá a pena?

Olhando para os Dynasty são a típica stable heel dos lutadores ricos que fazem do ginásio, roupas e relógios a sua vida, mas que resulta sempre. Tiveram até há pouco tempo nas suas fileiras MJF, que ajudou bastante ao funcionamento do grupo e na sua dinâmica. Por outro lado, mesmo apesar das suas personagens são bastante credíveis no ringue e vencem a maioria dos seus combates.

Temos ainda os Injustice, talvez o grupo mais divertido da MLW. Tratam-se de 3 jovens lutadores (bastante jovens, ainda nos 20 e poucos anos) que se sentiram muito mal tratados pela direcção da MLW e que acharam que ao se unir iriam conseguir melhores resultado: mais vitórias, mais dinheiro, mais reconhecimento, mais títulos. É o grupo com maior potencial e com uma barra de crescimento a subir bastante nos próximos meses/próximo ano. Sem dúvida, uma história a seguir. Para além disso, especialmente o actual Middleweight champion da MLW, Myron Reed, membro dos Injustice, é dos jovens com mais potencial no pro-wrestling actual.

Falar da MLW implica também dar uma olhadela no seus títulos, todos correspondendo a uma divisão, procurando mais uma vez buscar um pouco do mundo das MMA. Para além das divisões tradicionais, Heavyweight e Tag Team, temos a divisão Middleweight, que corresponde aos cruiserweights da WWE e aos Jr. Heavyweights da NJPW, bem como a divisão Openweight, título ao qual qualquer membro do roster, com qualquer peso pode aceder.

Note-se que o peso dos lutadores é bastante respeitado pela MLW que os tenta inserir nas divisões respectivas: heavyweight ou middleweight. Contudo, estamos a falar de pro-wrestling e a MLW percebe isso. Middleweights como o Low Ki já foram MLW World Heavyweight champions pois há que acentuar as histórias, personagens e feuds principais, algo que disse no início.

No caso de Low Ki deveu-se ao seu ascendente e ao facto de ser muito provavelmente a maior estrela da companhia na altura, por isso, que sentido faria ele ser relegado para uma divisão inferior? A própria NJPW e a WWE percebem isso. Na primeira vimos e vemos Júniores como o Will Ospreay, por exemplo, a subir de divisão quando já são um nome maior que a própria divisão. E na segunda, já se é hábito, nos últimos anos, bookar-se lutadores que caberiam na divisão dos cruisweights a vencer títulos mundiais ou a lutar por títulos do main-roster.

Brain Buster #57 – MLW: valerá a pena?

Mas a MLW pensa diferente da NJPW e da WWE num aspecto. É que a WWE e a NJPW, assim que sobem algum nome desta divisão, não mais esse lutador volta a “descer” para a divisão dos pesos-leves, ao passo que a MLW permite: Low Ki voltou à divisão dos Middleweights. Para mim é algo que faz sentido, dado que pode ser útil em determinadas situações. Vejamos, Low Ki, nome maior da MLW fez parte da divisão Heavyweight e ao mesmo tempo elevou o título e os seus adversários, até que perdeu o título para um nome que se consolidar como main-eventer. O trabalho do Low Ki ficou assim feito, e este agora pode voltar a respeitar a divisão do seu peso.

Por fim, para quem está familiarizado e gosta bastante do sistema de rankings aos títulos que a AEW tem, pode também encontrar isso na MLW, pois esta todas as semanas no Fusion faz o elenco do Top 10 de candidatos ao título mundial.

E pronto, penso ter traçado assim as linhas gerais da MLW e do produto que esta oferece, bem como as suas vantagens. Não se trata realmente de um produto diferente na estrutura, mas que apresenta wrestling tradicional (às vezes até algo genérico) de uma forma bem organizada e interessante para os fãs de um produto clássico e ao mesmo tempo diversificado. Pessoalmente gosto bastante da MLW e com este artigo espero ter ajudado no vosso conhecimento acerca do pro-wrestling actual, bem como tirado algumas das vossas dúvidas caso estivessem interessados em dar uma oportunidade a esta empresa.

Hoje ficamos por aqui.

Até para a semana e obrigado pela leitura.

9 Comentários

  1. Anónimo5 anos

    A MLW até é um bom e acessível programa de wrestling já que é só assistir no YouTube, o que lhes prejudica é que eles gravam com imensa antecedência, os episódios que passam chegam até a ter mais de três meses (ainda andam a mostrar shows de quando podiam haver crowds de tão atrasados que estão).

    É o mesmo problema que a Lucha Underground tinha e que era ainda pior porque eram gravados quase no ano anterior para finalizarem o trabalho de edição, hoje em dia consegue se ter spoilers logo no dia a seguir, esse também chega a ser o problema da NWA e do Impact Wrestling, mas eles ao menos gravam com menos tempo de antecedência que a MLW que exagera demais a publicar os seus episódios.

    • Obrigado pelo comentário. Sim, acabo por concordar, esse é um problema de logística que eles devem ter atenção no futuro, mas o conteúdo em si, o produto e wrestling não são nada afectados por isso.

  2. Leleco5 anos

    Foi um excelente artigo, eu sempre gosto conhecer mais sobre wrestling fora das grandes como WWE, AEW, NJPW, assim eu consigo descobrir outras empresas, combates, estipulações e lutadores.

    E isso me faz gostar ainda mais de Wrestling, tem muita coisa pelo mundo, e para todos os gostos.

    Me diz uma coisa, gostaria que você recomendasse 3 grandes combates da MLW, quero começar vendo alguns combates de destaque da empresa.

    • Obrigado pelo comentário. Vou recomendar 3 combates completamente diferentes:
      – Jacob Fatu vs LA Park no Saturday Night SuperFight;
      – Alex Hammerston vs MJF no torneio Opera Cup;
      – Daveu Boy Smith Jr. vs Low KI no torneio Opera Cup.

  3. Sandrojr5 anos

    Ótimo artigo, essa não é a empresa que se tem o parente dos Usos como campeão? O Jacob Fatu?

    • 13 CM5 anos

      Se você leu o artigo, eu não entendo porque de fazer a pergunta, sendo que no artigo cita que Jacob é o campeão, e tem uma foto dele em destaque.

    • Sandrojr5 anos

      Mas se vc prestou realmente atenção no artigo, vc perceberia que não só existe o campeão Hvt, mas também tem um campeão júnior, ou seja, minha pergunta não está errada, pois eu poderia está falando do campeão júnior.(além de ter os campeões de tags)

    • 13 CM5 anos

      Mas se você prestou realmente atenção na sua própria pergunta, vera que ela não condiz com seu segundo comentário.

      Você perguntou se na MLW era onde o Jacob lutava e era campeão, e essas informações tem no artigo.

      E no caso, não faz diferença, se na sua mente, você pudesse estar se referindo a outros títulos além Heavyweight, porque sua pergunta escrita era se o Jacob lutava na MLW com campeão, a partir do momento em que você não especificou qual titulo era, a informação do artigo já responde a sua pergunta.

    • Obrigado pelos comentários. Não tem qualquer problema, eu clarificou qualquer dúvida. Sim, o Jacob Fatu, campeão mundial da MLW é parente dos Usos.