Boas a todos nesta grande casa que é o Wrestling PT!
Após várias semanas, volto, hoje, a escrever sobre a AEW, para fazer algo que há já algum tempo não venho fazendo aqui no meu espaço: a análise a um show de wrestling, incidindo este artigo sobre o Double or Nothing de há cerca de uma semana e meia. Este período de tempo permitiu-me ver melhor que rumo a AEW vai dar às suas histórias e rivalidades e do qual o último Dynamite deu alguma coisa a descobrir.
Farei a análise combate a combate e, de cada um, retirarei conclusões acerca do mesmo e que projecção pode vir a ter no futuro. Só não falarei do combate entre a Penelope Ford e a Kris Statlander pois foi um combate sem história alguma e que serviu apenas para as duas marcarem presença no PPV.
Mas antes de passar a essa análise detalhada, dar uma nota global sobre o evento. Este foi, sem dúvida, o melhor show de wrestling que vi desde o início da pandemia, contando com inúmeros momentos de wrestling (e bom wrestling), mas também com momentos cómicos e mais divertidos. A palavra que melhor descreverá este evento será “diversidade”, pois, efectivamente, cada combate deu-nos uma coisa nova, algo que não vimos até aquele momento, deu-nos um estilo novo, uma história completamente diferente, um resultado ansiado e até resultados inesperados.
Tendo em conta as circunstâncias actuais que atravessam todo o mundo e as dificuldades em produzir algo de muito bom no wrestling, este evento conseguiu muito mais do que se esperava e, até, muito mais do que, à primeira vista, lhe seria exigível.
Como fã de wrestling numa altura em que é difícil gostar da modalidade pela falta de público, eu senti, várias vezes, durante este evento que era “disto” que eu estava a precisar, embora não me identificasse com o modelo ou estilo de cada combate. Dei por mim a não tirar os olhos do ecrã por um segundo que fosse e tenho a certeza que ao ver o show muita gente também se sentiu assim. Todos ganharam, incluindo nós, os fãs. Posto isto, vamos então à análise combate a combate!
Buy in: Best Friends venceram Private Party
Ainda antes do evento começar, tivemos um combate pelo nº1 Contendership aos títulos de Tag Team. Não foi o melhor que estas duas equipas poderiam ter feito. Notou-se alguma falta de competição da parte dos Private Party e para combate do Kickoff foi bastante longo. Penso que se poderia e deveria ter-se protegido mais os Private Party.
Estes títulos, nos últimos tempos, com o afastamento do Hangman Page devido à pandemia andam bastante esquecidos e precisam, urgentemente, de voltar a ser defendidos e recuperar o destaque que tinham até aí, algo que já começou a ser feito esta semana com um anúncio de uma defesa dos campeões (Hangman Page e Kenny Omega) na semana que vem contra Jimmy Havoc e Kip Sabian.
Contudo, que sentido faz marcar uma defesa dos títulos entre os campeões e outra equipa qualquer, aleatoriamente escolhida quando há um sistema de rankings? Mais, que sentido é que isso faz quando há poucos dias se tinham determinado os nº1 Contenders aos títulos? Eu percebo que se queiram promover os grandes combates, e Page e Omega contra os Best Friends é sem dúvida um embate entre duas das melhores equipas da divisão, seja no ringue, seja fora dele. E compreendo que se queira uma defesa rápida dos títulos depois do hiato em que elas não existiram, mas haveria, sem dúvida, outras formas de fazer o booking e as histórias terem mais sentido que não esta.
Por outro lado, tivemos a estreia dos FTR no Dynamite desta semana e o primeiro passo para uma feud com os Young Bucks foi dado, o que é um verdadeiro combate de sonho para muitos fãs, eu incluído. Esta poderá (e deverá) ser realizada completamente à margem dos títulos de Tag Team. Isso mostrará que a AEW aposta verdadeiramente nesta sua divisão e que lhe consegue trazer interesse independentemente dos títulos. Em suma, as próximas semanas/meses deveremos ter vários desenvolvimentos nesta divisão, que são bastante precisos para recuperar um dos aspectos em que a AEW tem de melhor.
Brian Cage vence o Casino Ladder Match
Entrando agora no PPV propriamente dito, tivemos um Ladder match inovador que introduziu ao conceito do combate de Escadote as regras de um Gauntlet match sem eliminações. Confesso que não fiquei muito contente, talvez pela mesma razão que não gostei das Casino Battle Royals do ano passado, por querer e gostar que tudo seja o mais simples possível, algo que este combate não transpareceu.
Basta pensar que o combate podia ser ganho ainda nem todos os concorrentes tinham entrado no mesmo, algo que a mim não me diz nada. Além disso, teve inúmeros participantes, muitos deles com uma participação quase nula e que ficaram neutralizados de forma muito fácil. Sim, o combate teve os seus momentos e, muitos deles, bastante divertidos, mas não passou disso e as regras fizeram com que isso acontecesse.
O vencedor acabou por ser o Brain Cage, que fez a sua estreia na AEW e tornou-se o nº1 Contender ao título Mundial, sendo que a sua oportunidade já está marcada para o próximo grande evento da AEW, o Fyter Fest. Enquanto fã, não rasgo a camisola pelo Cage, mas isso não quer dizer que não goste dele, porque gosto.
É um lutador credível, talentoso e capaz de dar bons combate, à semelhança do que fez até este momento da sua carreira na PWG, Lucha Underground, Impact Wrestling, etc. A sua parceira com Tazz não foi, de todo, mal pensada, até porque o ponto fraco do Cage é mesmo a capacidade (ou falta dela) ao microfone, uma dificuldade que fica assim ultrapassada. O Brian não deverá, para já, vencer o título da AEW ao Moxley, mas um bom futuro o aguarda sob a marca da AEW.
MJF venceu Jungle Boy
Se até este momento o PPV não estava a entregar o quanto devia, isso mudou a partir deste combate, que foi, para mim, a maior surpresa da noite. Não porque o vencedor não era previsível ou porque a história era interessante, mas sim porque eu nunca esperei que o melhor combate de wrestling propriamente dito fosse este, especialmente pelos envolvidos.
Vejamos, o Jungle Boy nunca nos tinha mostrado esta faceta, talvez porque ainda não havia tido esta oportunidade, de que consegue fazer este tipo de combates, e o MJF ainda não teve confrontos suficientes para lhe detectarmos esta capacidade. Do início ao fim, estes dois contaram uma bela história em que o MJF trabalhou várias zonas no corpo do Jungle Boy que o impediu, mais tarde, de realizar certas manobras.
Para além do wrestling, teve momentos espectaculares como uma Powerbomb da segunda corda e até o final fez sentido: o Jungle Boy, babyface, tenta ganhar de uma forma que não estava habituado e acabou por perder no jogo que o MJF gosta de jogar.
Sem dúvida que este combate, inicialmente marcado para marcar o regresso do MJF e até do Jungle Boy depois da pandemia e que parecia ser marcado sem qualquer história, pode vir a tornar-se num dos primeiros e grandes marcos de uma rivalidade de futuro entre os dois nas várias posições do card até chegarem ao main-event.
TNT Title Match: Cody venceu Lance Archer
Quanto a este combate, eu venho tendo uma opinião contrária em relação à maioria das opiniões que tenha lido e ouvido, que entendem que este combate desiludiu e que, embora tenha estado longe de ser mau, simplesmente não entregou, não ofereceu nada de novo e não teve nada de especial. Alguns dizem até que o Mike Tyson trouxe mais interesse ao combate do que este em si mesmo. Porém, eu discordo veemente e arrisco-me a dizer que o que faltou para este combate entregar foi mesmo o público.
Era claramente um embate que precisava do público para criar emoção, numa história em que o Cody depois de começar em clara desvantagem consegue ultrapassar o “monstro” e vencer o combate. O estilo do Cody como babyface vai buscar muito esse lado, mas numa situação em que não foi possível nós estranhamos, mas isso não quer dizer que o combate foi mau. Desde o início ao fim que nos contou uma história, e em que o ritmo foi em crescendo até um clímax.
Relativamente ao Mike Tyson eu não podia discordar mais. Há que admitir que muitas das suas expressões e maneirismos foram muito engraçados, mas isso até acabou por estragar o combate, retirando a atenção ao mesmo para a colocar no Tyson, alguém que claramente só aceitou o convite para se auto-promover. No Dynamite desta semana tivemos um seu confronto com o Chris Jericho, que não sei se terá continuidade. Caso não tenha foi só uma forma da AEW o ter usado esta quarta-feira sem ter qualquer ideia do que fazer com ele e em que só apareceu pelos ratings.
Quanto ao futuro, o Cody já anunciou que pretende defender o seu título todas as semanas, algo que aprecio bastante, recuperando o conceito dos Television titles dos anos 90 que tinham de ser defendidos sempre que apareciam em TV. Isso irá proporcionar óptimos combates todas as semanas e dar uma oportunidade de brilhar a vários lutadores do roster.
Dustin Rhodes venceu Shawn Spears
Sejamos sinceros, este combate não foi verdadeiramente um combate, mas o enterro público do Shawn Spears, da sua personagem e da sua credibilidade. A sua passagem pela AEW não tem sido nada para além de uma desilusão enorme em que nada funcionada, nada! Personagem agressiva que atacou o Cody? Não colou. Ter Tully Blanchard como manager? Ninguém quer saber. Personagem heel mais descontraída? Não traz nada de novo. E finalmente, o que temos assistido desde o início da pandemia com o Spears é que ele se tornou num palhaçinho, algo que foi confirmado neste combate.
Não sei que tipo de planos a AEW tem para o seu futuro, nem sei se existem quaisquer planos de todo, mas que sei que depois deste combate, dificilmente algum fã da AEW o vai levar a sério, lá isso sei. A única maneira que estou a ver seria ele ficar fora por uns belos tempos e voltar novamente com uma atitude mais séria ou até maligna, mas, mais uma vez, com a sorte que ele tem tido na AEW, não estou optimista. O Spears não é um lutador do outro mundo, mas é um mid-carder sólido se assim for tratado. Contudo, o número de oportunidades que ele vai tendo na carreira já se estão a esgotar.
AEW Women’s World title No Desqualification Match: Hikaru Shida venceu Nyla Rose (c)
Naquele que terá sido o melhor combate da divisão feminina da AEW desde a sua criação, tivemos a mais que merecia vitória da Hikaru Shida, que se tem dedicado bastante a esta divisão, seja nos seus combates, seja no facto de ter estado presente até durante a pandemia, o que a fez tornar-se a cara da divisão, mesmo sem o título.
Como grande babyface venceu a monstar heel que é a Nyla Rose, cujo reinado acabou abruptamente, reinado esse que claramente foi sabotado por esta pandemia que impediu a sua presença nos shows semanais nos últimos meses.
Pondo agora os olhos no futuro, eu espero que não aconteça neste reinado da Shida, o que aconteceu nos últimos dois. Espero que haja uma história com cabeça, tronco e membros para cada rivalidade e o mínimo de interesse gerado a cada defesa da nova campeã. Por outro lado, estou a torcer para que não existam as mesmas dificuldades de comunicação que existiam com a Rhio.
A Shida constituiu residência nos EUA, é uma lutadora adorada por todos e uma excelente babyface, tendo tudo para se tornar na cara feminina da AEW, uma oportunidade que esta não deve deixar escapa. Quanto ao futuro, estou a ver a Shida a defender o título contra os nomes menos sonantes da divisão nos próximos tempos, até encontrar uma rival à altura.
AEW World Title Match: Jon Moxley (c) venceu Brodie Lee
Bem, este não foi um No DQ match, mas podia muito bem tê-lo sido, que guerra! O estilo de brawling que ambos usam combina na perfeição e trouxeram uma coisa diferente que até aí tinha sido feito, privilegiando a diversidade. Não houve chain wrestling, não houveram praticamente wrestling holdes ou moves neste combate.
Contaram a história pessoal que vinha do Dynamite e do ódio perante os acontecimentos das últimas semanas e assistimos a spots brutais. O Moxley reteve o título e ainda bem por o seu reinado ainda ser bastante recente e pelo número de possibilidades do que ele pode fazer com o título ainda ser enorme, mas pela forma como o combate se desenrolou e terminou, em nada o Brodie Lee sai desvalorizado ou descredibilizado depois desta derrota.
Mas quanto ao seu futuro tenho as minhas dúvidas, não quanto ao seu potencial para ser uma estrela da AEW, mas quanto ao seu booking. Durante o combate, a personagem que o Brodie desenvolveu desde que se estreou não estava lá. Para ser sincero, na minha opinião, a Dark Order foi uma excelente forma de o introduzir na AEW com o impacto, mas será a melhor maneira de o bookar daqui para a frente? Sempre com inúmeros lacaios atrás de si? Não me parece.
Prevejo uma evolução em que o mesmo se reúne com os membros principais do seu grupo e deixa cair a ideia do recrutamento constante, até porque a longevidade de histórias do género são bastante curtas.
Stadium Stampede Match: The Elite venceu The Inner Circle
Chegados ao main-event, o que dizer deste combate? De facto, quem o viu raramente ficou com palavras para o descrever, pelo quão inovador, engraçado e brutal realmente foi. Mas não foi um combate cinematográfico? Não, foi algo diferente, embora próximo, uma figura afim, se assim lhe pudermos chamar. Tratou-se mais de uma rixa espalhada por vários locais, realisticamente exequível (tirando as transformações do Matt Hardy). Continuo a preferir combates como o MJF/Jungle Boy, Moxley/Brodie Lee, e continuo a não gostar de cinematches, mas este main-event não foi uma coisa nem outra, foi entretenimento do melhor!
Antes do combate, tinha as minhas incertezas porque pensava que iria ser cinematch, assim como o nome não lhe dava grande seriedade porque até me pareceu um nome que a WCW de 2000 daria a um dos seus combates, mas depois deste main-event terminar tive que “tirar o chapéu” a todos estes senhores que criaram algo tão divertido. Praticamente cada lutador teve a sua história ao longo do combate, cada detalhe da sua personagem foi explorado, até porque houve tempo para isso.
O fim foi esplendidamente pensado. Eu contava com uma vitória dos Inner Circle e com uma possível separação dos Elite próxima, mas este resultado surpreendente foi construído de forma brilhante. Tivemos cada membro dos Inner Circle a ser eliminado de uma maneira diferente e consoante a sua personagem chamava até ao momento em que o Sammy Guevara ficou sozinho e permitiu momentos irrisórios.
Esta derrota em nada afecta os Inner Circle que são um grupo bastante coeso. Quanto ao futuro, não acho que esta feud seja recuperada nos próximos tempos e ainda bem, mas ela tem tudo para se tornar a feud de stables da AEW, como foi a dos DX e dos Nation na WWE nos anos 90, as suas maneiras de pensar e agir são muito diferentes, mas ambas igualmente divertidas e que combinam na perfeição.
Hoje ficamos por aqui.
Até para a semana e obrigado pela leitura.
13 Comentários
E já lá vão 60. O coitado do Spears, é realmente um coitado. Quem achas que vai tirar o título ao Moxley?
É verdade! ahahahah.
Epah, eu acho que o Moxley ainda tem muitas possibilidades para explorar como campeão e não o vejo a perder o título tão cedo, mas talvez para o Omega revitalizado na rematch do ano passado ou então (e deixa-me sonhar) para o um MJF construído como estrela de topo.
Quando achas que o Moxley perderá o título quando? All Out, antes ou depois?
Com certeza, não antes dessa altura do ano.
Ótimo artigo, meu combate preferido desse ppv foi o da Shida vs Rose, mas não acho que ela será o rosto da divisão feminina, pois acho que ela irá enfrentar o mesmo problema da Riho que é não ser fluente no inglês, mas eu espero que ela se esforce ao máximo para consegui ser uma campeã credivel.
Obrigado! Pois, também é um dos meus medos, mas vamos ser otimistas.
O que achas do design do título da televisão?
A AEW ainda vai ter aquele programa secundário na TNT?
Quem irá fazer o heel-turn na Elite?
Bom artigo!
Tás a falar do AEW Dark, ou de outro?
Obrigado pelo comentário.
O TNT title não é o título mais bonito que já vi, de longe, e acho que quando for acabado vai ter um melhor design. Contudo, parece-me um título simples, quase como os que os pugilistas usam, e para um título secundário com a função do antigo título de Televisão não é preciso muito mais.
A AEW já tem um show secundário no seu canal de Youtube, sim o Dark e até surgiram rumores que no futuro eles podem ter um programa secundário mais importante (ao estilo do SmackDown quando foi criado na WWE). Porém, para já é só rumores, e a AEW não precisa nem tem talento suficiente para fazer dois programas semanais sem fazer uma sobreexposição que não seria benéfica para os seus lutadores.
A questão do heel-turn na Elite é muito simples, pois só há um nom que a meu ver faz sentido que vire heel, que é o Hangman Page. Ele tem as razões, o momento e capacidade para entregar como heel neste momento e particularmente nessa história.
O Page é o nome mais óbvio, mas acho que a AEW pode surpreender, talvez com um Turn do Omega…
Acredito que para ter outro show secundário são precisos dois títulos secundários, o TV Title para ser usado regularmente nos show secundários( e também no principal) e outro título como um Intercontinental para estar num nível superior ao da televisão.
Mas como é óbvio, a AEW não está preparada para isso( ainda)
Primeiro, o Dynamite tem de ter constantemente 1 milhão ou mais. Mas quanto ao segundo programa, seria preciso muita coisa para acontecer.
Na minha opinião, a melhor personagem que o Omega já teve foi aquela gimmick heel quando entrou para o Bullet Club, mas o Omega agora está num nível diferente e regressar a essas rotinas acho que seria contraditório, mas nunca se sabe e o Omega precisa de revitalizar a sua carreira.