Boas a todos nesta grande casa que é o Wrestling PT!
O COVID-19 veio alterar muita coisa no mundo do wrestling, mas, talvez, a mudança mais radical para um fã de NJPW, foi o adiamento do maior torneio da empresa (e do mundo), o G1 Clímax, que tradicionalmente ocorre durante o verão, e que este ano começou em finais de setembro, tendo já a final marcada para o próximo domingo. Confesso que esta alteração me preocupou bastante, a nível estritamente pessoal, no início.
Afinal, desde que conheci a NJPW, assisti sempre ao G1 durante o verão, conseguindo ver todos os combates do torneio, e isso mostra o meu gosto pelo produto desta empresa nipónica. Contudo, estava algo receoso que este ano não pudesse assistir a este torneio de excelência, dado que ver o G1 não é um sprint, mas uma maratona, e, por isso, requer um uso muito cuidado do tempo que gastamos a vê-lo. Estava receoso exatamente porque era a primeira vez que o G1 se iria realizar enquanto andaria ocupado com o início das aulas na faculdade.
Porém, decidi fazer um esforço durante as últimas três/quatro semanas, de forma a conseguir ver o melhor produto do mundo, atrasando tudo o resto no que toca ao mundo do pro-wrestling.
Mas tenho a dizer que em nada estou arrependido. Este tem sido um excelente torneio, com combates que toda a gente quer ver, contando nas suas fileiras com espetáculos entre os main-eventers e até dream matches. Todos os grandes combates no papel têm sido grandes combates na prática, se não mesmo até melhores do que isso. É um G1 melhor que o do ano passado, e para isso também devemos reparar que os 3 meses que a NJPW teve de parar por causa da pandemia, lhe correram bem pelo menos para um aspeto, que foi dar tempo às suas estrelas para recuperarem fisicamente e nos darem combates excelentes a cada show que passa.
Tem, igualmente, sido um torneio em que as “ovelhas negras” (permitam-me a expressão) têm também impressionado bastante e calado muitas bocas: YOSHI-HASHI está a ser dos lutadores com melhores combates no Bloco B, ao mesmo que, no Bloco A, o Taichi está mostrar que é muito mais do que a sua personagem, e entregado de uma forma espetacular. Até o Yujiro Takahashi, embora com um saldo vitórias-derrotas medíocre tem tido combates muito aceitáveis e que ficaram, certamente, na memória de quem acompanhou este G1.
Já as principais estrelas, bem, essas continuam a ser exatamente isso, “estrelas”, dando-nos combates que perdurarão para sempre nas nossas memórias. A minha ideia para este artigo, e para o da próxima semana (quando o G1 já tiver acabado), é falar do que de melhor o G1 nos deu este ano, procurando indicar-vos os melhores combates do torneio para os que menos tempo terão para acompanhar esta longa competição. Sem mais demoras, esta semana indicarei os melhores matches desde o dia 1 ao dia 10 do G1, e eis que temos:
Tomohiro Ishii vs. Minoru Suzuki (Dia 1 – 19/9/20)
Começamos com um confronto entre dois dos lutadores com um estilo mais duro, não só da atualidade, como de sempre. Foi um verdadeiro confronto de titãs e o combate que todos esperamos quando sabemos que ele foi anunciado: dois homens que vão realmente ir aos limites da dor e da sua capacidade física.
É daqueles combates em que não importa a história a contar, não importa quem é o babyface ou o heel (se é que no Japão eles existem) e não importa quem acaba por vencer o combate. O que toda a gente quer e paga para ver estes dois fazer é vê-los a ter o combate mais realista possível. Mais! Acho que esta é a combinação perfeita que poderá existir no strong style, ter alguém que consiga apanhar muita “porrada”, como é o caso do Tomohiro Ishii, e ter alguém que saiba dar muita “porrada”, como é o caso do Minoru Suzuki.
Estes dois já nos haviam dado três clássicos em 2018 em volta do RevPro British Undisputed title, fosse pelo nº1 contendership, fosse em title matches, mas este talvez tenha superado esses mesmos confrontos. Por fim, é um combate que diz muito do Minoru Suzuki enquanto veterano com 52 anos que ainda consegue lutar a este nível. É absolutamente incrível vê-lo lutar ainda com esta intensidade.
Kazuchika Okada vs. Kota Ibushi (Dia 1 – 19/9/20)
Acho que podia deixar aqui apenas o combate e não dizer mais nada, pois toda a gente que conhece estes dois, sabe que o que viria daqui só podia ser um clássico. Foi um rematch do main-event da 1ª noite do Tokyo Dome. Se foi melhor ou pior dependerá da opinião e gosto pessoal de cada um, mas o que é certo é que qualquer combate entre estes dois será sempre must-see e terá sempre lugar numa lista de melhores combates, seja do show em que está, da semana em que ocorreu, do mês em que teve lugar, do ano em que aconteceu ou da década correspondente. Estamos a falar do melhor lutador do mundo, na minha opinião, o Okada, e dos poucos lutadores que ainda consegue chegar a esse nível, no Ibushi.
Prova que esta noite foi de altíssimo nível é que podia ainda colocar aqui o combate entre o Shingo Takagi e o Jay White que ocorreu antes deste main-event, e que também foi dos mais comentados na altura.
Hiroshi Tanahashi vs. Tetsuya Naito (Dia 2 – 20/9/20)
Se o primeiro dia do Bloco A tinha entrado logo em grande, o segundo dia também não quis ficar muito atrás, pois a NJPW deu-nos logo no 1ª dia do Bloco B, como main-event, um confronto entre os dois melhores wrestleres e entre as duas maiores estrelas deste grupo. Sempre adorei os combates entre estes dois, que revelaram sempre ter uma enorme química entre si e uma capacidade de contar uma história acima do normal. Penso até que, em 2017, não fosse ter acontecido no mesmo ano da trilogia Kenny Omega vs. Kazuchika Okada, os três combates que o Naito e o Tanahashi nos deram nesse ano (WK, Dominion e G1) tinham sido suficientes para lhes atribuir o prémio de rivalidade do ano.
Como devem saber, os fãs japoneses não podem entoar cânticos, nem fazer qualquer tipo de chants durante os shows no Japão, estando limitados apenas aos barulhos das palmas ou dos pés a bater no chão. O que ocorreu é que estes dois dias acabaram por ser tão bons e emotivos que notou-se que tínhamos um público pronto a explodir com barulho caso o pudesse fazer, sendo que chegou mesmo a haver momentos em que chegamos mesmo a ouvir o público se admirar efusivamente com o resultado do combate. Acho que isto diz muito sobre estes 2 dias do G1.
Minoru Suzuki vs. Taichi (Dia 3 – 23/9/20)
Este era daqueles confrontos que toda a gente tinha curiosidade em ver quando foi a anunciado. Trata-se de um combate nunca antes realizado entre dois membros da mesma stable, e que permitiu contar uma história simultaneamente deliciosa e brutal. O Minoru Suzuki, líder da fação, nunca aceitou grandes desrespeitos à sua liderança, mas isso é porque também eles nunca existiram. O que iria acontecer, então, quando isso acontecesse? Já o Taichi, muito conhecido pelo seu estilo muito arrogante e pelas suas táticas menos corretas, havendo várias vezes até que foge do confronto físico, iniciou o combate de uma forma que não esperávamos, indo de frente para o Suzuki, para o seu líder sem medo, mostrando que é bem mais do que o cobarde que outrora mostrou ser e um lutador agressivo quando se vê em situações perigosas como esta.
Foi um combate muito agressivo, em muitos pontos também algo violento, mas que o tornou no melhor combate desta noite na minha opinião, bem como um dos meus preferidos do torneio. O Taichi acabou por vencer, e não faria sentido que fosse de outra forma. O booking da NJPW em relação ao Suzuki, deverá, cada vez mais, torná-lo mais e mais adorado aos olhos dos fãs (mais ainda do que já é), e é uma vitória que facilmente dá ainda mais heat ao Taichi, ao mesmo tempo que o consolida como possível futuro líder ou, pelo menos, main-eventer da stable. Um combate perfeito para o objetivo que tinha!
YOSHI-HASHI vs. EVIL (Dia 4 – 24/9/20)
Sim, um combate do YOSH-HASHI está nesta lista. Sim, este combate foi bem melhor do que esperávamos. E sim, o YOSHI-HASHI é a surpresa deste torneio. Não é relevação nenhuma pois já o conhecíamos há muitos anos e sabíamos que, em certos momentos, ele nos havia dado bons combates, mas não a este nível e, principalmente, não com a consistência que ele está a apresentar neste torneio. Fez o seu papel de babyface na perfeição, de um underdog que depois de aguentar os minutos iniciais lá conseguiu superar o seu adversário a dado momento do combate. As suas expressões faciais também estiveram lá.
Já quanto ao EVIl, tem provado neste torneio duas coisas: que é um lutador com um estilo que deverá adotar combates mais curtos, pois combinam bem melhor com a sua personagem, e até com o seu in-ring style; que, existindo aquilo a que se chamam “heels” no Japão, o EVIL é um deles. Já no seu combate com o Zack Sabre Jr. o público não se conseguiu conter quando o lutador britânico venceu, e aqui, deu para perceber que o público estava claramente do lado do Y-H, o que se justifica pela sua performance, é verdade, mas que contou também com a ajuda do EVIL, cuja personagem heel está a resultar, e isso vê-se nos lutadores que enfrenta que são dos mais apoiados, mesmo que não dos habitualmente preferidos do público.
Tomohiro Ishii vs. Kota Ibushi (Dia 5 – 27/9/20)
Todos os anos, o Ishii é considerado por muitos o MVP do G1 Clímax. Interrogo-me ironicamente porque será que isso acontece? É que o homem acaba o final do torneio a ocupar 3 ou 4 (ou mais) das 10 posições do top 10 de melhores combates do torneio. Ele aparece aqui, desta vez, ao lado de outro lutador que volto a falar, o Kota Ibushi. Que senhores! Esta combinação é daqueles que sempre me disse muito. Ishii vs. Ibushi é sempre daqueles combates que quero ver, independentemente das vezes que já o vi. Voltamos ao estilo mais agressivo que falei no match do Ishii com o Suzuki, agora com um adversário bem diferente deste último, pois o Ibushi só irá para esses lados, ou se tiver o adversário certo para isso, ou se o irritarem muito. O Ishii cumpre o primeiro requisito, por isso voltamos a ter um combate extremamente duro entre dois dos melhores da atualidade nesse estilo.
Shingo Takagi vs. Will Ospreay (Dia 5 – 27/9/20)
Mas já chegamos ao natal ou quê? A NJPW, mesmo depois da saída do Kenny Omega e dos Elite, conseguiu manter um roster tão bom, e a prova é este G1, em que não há entradas de outsiders da ROH, NOAH, etc., mas em que a cada show há combates que não podemos perder, seja porque no papel criam grandes expectativas, seja depois porque quem os viu lhes dá grande projeção pela qualidade que os lutadores apresentaram. É o caso destes dois, que já o ano passado deram uma final do BOSJ enorme. O Ospreay tira o que de mais aceleração o Shingo tem na sua capacidade física, bem como a maior velocidade a que o mesmo consegue realizar os seus moves. É certo que não é o meu estilo de wrestling preferido, mas porra (permitam-se o calão), que espetáculo que isto foi!
Hiroshi Tanahashi vs. YOSHI-HASHI (Dia 8 – 1/10/20)
Acredito que este tenha sido o combate que o YOSHI-HASHI procurou durante toda a carreira contra uma megaestrela da NJPW. Foi um combate bem trabalhado e construído desde o primeiro minuto, em que o Y-H deu bastante luta ao lutador que representa o topo da montanha da NJPW nas últimas décadas, mas o qual não foi suficiente. É certo que esta é a história do YOSHI-HASHI em todos os combates que tem contra as grandes estrelas da empresa, mas este foi, sem dúvida, o combate em que melhor essa história resultou, e em que foi melhor executado. Prova disso é que no dia a seguir ninguém estava a falar da vitória do Tanahashi, mas da prestação do Y-H que, certamente, surpreendeu muita gente, não só no Japão, como no resto do mundo.
E bem, estes foram, na minha opinião, os melhores combates das primeiras 10 noites do G1 Clímax 30. Sim, deixei de fora inúmeros combates que foram excelentes, mas não poderia falar de todos os combates aqui no Brain Buster, teria sempre de fazer uma pré-seleção dos que realmente foram acima da média. Penso ter escolhido os melhores possíveis destas noites, mas se os meus caros leitores acharem que falta algum, sintam-se à vontade para o mencionar nos comentários, pois tenho a certeza que haverão muitos de vós a mencionar combates diferentes.
Hoje ficamos por aqui.
Até para a semana e obrigado pela leitura.
8 Comentários
“melhor lutador do mundo” Randy Orton é melhor que o Okada.
Obrigado pelo comentário.
Se é a tua opinião, tudo bem.
Esse G1 está incrível, acho que o EVIL e o Jay white são os que tem mais chances de ganhar. Ótimo artigo.
Obrigado!
Pessoalmente, apesar de concordar que este G1 está a ser um excelente torneio, discordo em relação a ser melhor que o do ano passado. Estão em níveis muito semelhantes mas acho que no ano passado os melhores combates foram melhores que os melhores combates deste ano, só por isso. Os combates do Ibushi, em particular, estão a ficar um pouco aquém das minhas expectativas para ele (que admitidamente são bastante elevadas). O combate contra o Okada, por exemplo, foi substancialmente inferior aos combates que estes tiveram no WK e no G1 anterior (já o combate contra o Ishii, esse sim foi brutal).
Relativamente à lista daqueles que consideraste os melhores combates, admito que não vi EVIL vs YOSHI-HASHI (sinceramente não são wrestlers que me cativem muito, mesmo este último estando a surpreender neste torneio como referiste) e acrescentava Ospreay vs Ishii que está no meu top 3 de melhores combates deste G1 até agora.
Por último queria só dizer que num mundo dominado pela WWE e agora também pela AEW (cada uma com os seus devidos méritos, obviamente) é sempre bom ver alguém a dar atenção à NJPW como tens feito neste espaço 😀
Obrigado. O meu objetivo é dar o máximo de exposição a coisas fora da WWE. Se puder ser do wrestling japonês, que é a minha preferência pessoal, então melhor.
Está a ser um torneio interessante, mas não dos melhores para mim. Destaco também o combate entre Jay White e Osprey e Sanada contra Zack S Junior.
Obrigado pelo comentário.