Boas a todos nesta grande casa que é o Wrestling PT!
Faz já alguns meses em que escrevi pela última vez acerca do estado do main-roster da WWE, RAW e SmackDown, centrando-me quase sempre aqui no Brain Buster nas temáticas do NXT, AEW, NJPW, entre outros tópicos que não a WWE enquanto main-roster, por já não me identificar, à larga escalda, com o seu produto, como aqui já o disse variadíssimas vezes.
Confesso que, com o início da faculdade em setembro, com a vontade de querer fazer um esforço de ver o G1, entre outros afazeres, deixei de ver completamente o produto do RAW e SmackDown naquilo que ainda ia vendo, que eram os PPVs, pois, infelizmente, os programas semanais, não só são completamente dispensáveis, pela falta de avanço de histórias que os caracterizam, bem como pelo pouco interesse que têm, como o tempo não chega para tudo, e há coisas que gosto bem mais de ver do que as instituições que são o RAW e o SmackDown.
Neste período, a WWE deu-nos três grandes eventos: Clash of Champion, Hell in a Cell e Survivor Series, eventos esses que não vi no dia a seguir, nem na semana a seguir, mas que deixei de lado por uns tempos, pois o tempo escasseava. Acontece que, nas últimas duas semanas, e como se tratavam apenas de três eventos, que até tinham tido relatos positivos, acabei por dar uma oportunidade e ver, aliás, considero mesmo que a melhor forma de ver WWE atualmente, é ficar uns tempos sem tocar no seu produto, para voltar a ganhar alguma saudade de um estilo muito próprio, bem como do excelente roster que eles possuem.
O que me deparei, não foi com eventos lendários, nem com combates clássicos que ficarão para sempre na nossa memória pela sua qualidade em termos de wrestling, não foram eventos, histórias, rivalidades ou combates perfeitos, mas sim com shows bastante sólidos, com momentos algo divertidos e muito fáceis de acompanhar, e com dois ou três pontos que saltaram à vista de tão bons comparativamente com o resto.
O meu objetivo para o Brain Buster de hoje, é exatamente pegar nesses momentos, e tentar fazer um apanhado de tudo o que de melhor a WWE tem para oferecer hoje em dia, pegando nos aspetos positivos e que realmente valem a pena acompanhar. Costumo não falar muito do main-roster da WWE para não transmitir imagens de negatividade e para não usar este espaço para, semana após semana, servir para criticar algo que me deveria divertir, e se alguns desses aspetos continuam a existir na programação da WWE, que existem, vou preferir deixá-los totalmente de lado, e optar por falar daquilo que a WWE tem produzido de bom.
E para começar, vou analisar exatamente aquilo que eu mais gostei nestes últimos tempos da WWE, que foi, nada mais nada menos, e para muitos de vocês que acompanham a WWE com regularidade, não será uma surpresa que assim tenha acontecido comigo, o heel-turn do Roman Reigns. Bem, só há uma palavra para descrever a prestação que o Reigns tem tido como heel, e essa palavra é espetacular. Confesso que o Reigns face já me tinha convencido há muito, depois daquele começo bastante tremido e forçado. O seu trabalho no ringue foi melhorando cada vez mais, cada oponente que tinha saía valorizado de ter rivalizado consigo e a parte do carisma e das promos, embora sendo realmente o seu ponto mais fraco, tinham melhorado, especialmente quando ele passou a estar cada vez mais à vontade naquilo que dizia, e a ser cada vez mais ele próprio.
Contudo, este heel-turn foi a viragem na carreira que o Reigns precisava, e que, aliás, sempre precisou. Uma personagem tão “bad ass” como a dele precisaria sempre de mostrar serviço como heel dominante antes de se tornar no lutador acarinhado pelos fãs que a WWE sempre quis que ele fosse. 2020 trouxe-nos muita coisa má, mas também muita coisa boa. Por incrível que pareça, em 2020, seja na AEW, seja até na WWE ou nas várias promotoras do Japão, acabamos por ter material lendário. O heel-turn do Reigns e esta personagem absolutamente cativante, foi das coisas mais espetaculares que vi este ano, e penso que isso é dizer muito.
O que tinha visto no SummerSlam e Payback era ainda um heel muito genérico, sem realmente alguma razão para agir daquela forma e em que não havia grande personalidade ou novidade, que não ataques constantes e más palavras, mas o que aconteceu a seguir, bem…aquele combate com o seu primo Jey Uso no Clash of Champions, em termos de storyline na WWE, em termos e emoção, interesse e cativação foi claramente o melhor do ano, mas não só isso. Completou completamente o processo do heel-turn e deu ao Reigns esta gimmick de “Tribal Chief”, de querer a sua família no topo da cadeira alimentar (do wrestling) e de ele ser o líder que se quer sacrificar por isso, nem que para tal tenha se sacrificar o seu primo.
Claro que devemos enaltecer também o excelente trabalho do Jey Uso, nomeadamente na forma como vendeu cada palavra, murro ou move do Reigns, na forma como foi o face perfeito e que teria tido o apoio do público caso este pudesse estar na arena, mas a estrela aqui, e sempre foi esse o objetivo, é o Reigns, esta captação de heat imediata que ele tem neste novo estilo que usa no ringue e fora dele, é simplesmente espetacular. Em termos de promos, eu dei por mim a ter o Reigns como dos melhores nesse aspeto em 2020. A forma como ele pousa para a câmara, como ele descarrega nos seus adversários, o tom calmo como ele diz que tem um dever a cumprir, as frases curtas mas significativas do seu discurso, a forma como nunca se deixa manipular por Paul Heyman, sendo sim este que se submete ao campeão heel, é uma combinação absolutamente perfeita.
O seu rematch com Jey Uso no Hell in a Cell, não sendo nada de novo, continuou a história que tinha de continuar, e nunca na vida aquele combate tinha de ser dentro da cela (ignorando nós aqui o quão ridículo são os PPVs temáticos, e até a forma completamente à sorte como o Jey é colocado no main-event, sem qualquer tipo de construção, mas como disse no início, estão tudo muito muito longe de ser perfeito), até que, enfim, tivemos aquele combate com Drew McIntyre no Survivor Series, no qual tudo nele disse WWE.
Vejamos, temos as duas grandes estrelas constantes da WWE neste momento num confronto épico, num combate em que ambas saem over, em que tudo aquilo que eles fazem nós acreditamos, a solidez da história contada, os momentos que ficam na nossa memória. Este combate, estando longe de ser wrestling da NWA dos anos 70 e 80 em termos de técnica, nem tendo de o ser, é excelente para o produto da WWE, é aquilo que sempre nos prendeu à maior empresa de wrestling do mundo. Estes dois senhores são, sem dúvida, o melhor que a WWE tem para oferecer hoje em dia, e a WWE tem (não é “pode”, nem “dever”, é “tem”!) de as bookar como tal, de as proteger dessa forma e de as ter como as grandes estrelas desta geração: para o heel perfeito, temos o face perfeito. Que mais podemos e pode a WWE querer?
E por falar em Drew McIntyre, que ano este senhor está a ter, talvez o wrestler do ano se tivermos apenas em consideração o wrestling americano. Na altura, elogiei aqui no Brain Buster o seu combate com o Randy Orton no SummerSlam, pela aura especial que possui, pela credibilidade que o físico, carisma e personalidade destes dois transmite, mas a feud prosseguiu, e apesar de com um rumo que não é muito aquilo que eu gostaria de ter visto, admito que até consegui gostar.
Aquele Ambulance match foi muito melhor do que esperei no que toca às interações entre os dois (esquecendo as intervenções das lendas…pois, eu sei, eu sei…), e mesmo o Hell in a Cell match, depois de ter seguido dois combates do mesmo género na mesma noite, conseguiu ser interessante e cativar a atenção. Ponto menos positivo foi depois de um combate tão intenso, violento e agressivo, o Drew se ter levando quase imediatamente ao pin. Eu percebo que se queria proteger o Drew, mas isto é praticamente anular toda aquela guerra a que acabamos de assistir, porque não sentimos marca nenhuma nos dois, ambos mostram que poderiam continuar, e não há um final definitivo na batalha. Pois é, apesar de bom, isto continua a ser WWE em 2020.
Mas agora com olhos postos no futuro, o Drew vai cruzar-se com nada mais nada menos, que o “Phenomenal” AJ Styles no próximo PPV, o TLC, num combate que todos queremos que seja aquilo que aguardamos e o potencial que pensamos ter. Aliás, acho que concordarão comigo que, na WWE em 2020, este é o combate que, no papel, parece o melhor que nos poderiam oferecer. É certo que o booking do AJ Styles este ano é fraco e esquecível, tirando o grande combate com o Daniel Bryan e o Ladder match no Clash of Champions, mas, mesmo assim, continuo a achar que podemos ter aqui uma surpresa, e ver um combate no qual estaremos a falar no dia a seguir, e pelos melhores motivos.
Mas já que falei nesse Ladder match do Clash of Champions, deixem-se também elogiar, por um lado, a criatividade desse combate que o tornou inovador e muito mais interesse do que qualquer Ladder match que tivemos este ano (e infelizmente tivemos muitos) e, por outro lado, o heel muito bom no qual o Sami Zayn se tornou. É, de facto, daqueles heels que hoje em dia já quase nem se vêm, pois, o Sami é realmente fácil de odiar nesta altura, embora todos acabemos por gostar dele no geral. Alguém tão cobarde, tão irritante, mas que ao mesmo tempo fique na nossa cabeça e acabe por ganhar combates da maneira mais cobarde possível, já não se vê hoje em dai. O Sami é um heel do qual não há nada para gostar e, afinal, não deveríamos ser quase todos assim?
Temos um bom campeão Intercontinental neste momento, que dará origem, com certeza, a um bom face que lhe tirará o título. Wrestling 101: o booking simples é o melhor booking. Realçar o combate muito decente que teve com o Bobby Lashley no Survivor Series, no qual ninguém tinha expectativa nenhuma, com construção praticamente nula, mas em que o Sami conseguiu tirar de lá o que havia para criar, ao interpretar o Lashley como o monstro que ele não conseguia derrotar e ao tentar fugir o mais depressa dele.
E por falar em Lashley, o que acho do seu grupo dos Hurt Business? Acho que eles parecem o grupo do topo da WWE, todos parecem credíveis, são liderados por alguém que sabe falar (MVP), que se centram na sua grande estrela (Lashley), acompanhados por um veterano ainda muito capaz (Shelton Benjamim) e por uma jovem estrela (Cedric Alexander). Eles têm tudo para ser a stabel heel de topo na WWE, e há que dar crédito ao MVP de ter tornado o Lashley numa personagem minimamente interessante, o que sempre foi a sua dificuldade. São, sem dúvida, um ponto positivo da WWE nos dias de hoje, agora, dificilmente o continuarão a ser se continuarem entretidos com os RETRIBUTION, stable que não tem realmente nada para oferecer, e que só atrapalha os Hurt Business, que são obrigados a ter uma postura face, retirando-lhes heat e credibilidade.
Um último ponto que queria abordar neste artigo, e que também considero ter sido um ponto positivo nos últimos tempos no produto da WWE, mas talvez não ao mesmo nível que as outras coisas que, entretanto, já acabei por referir. Não sendo o maior fã da Sasha, nem da Bayley, acho que tiveram uma rivalidade bastante razoável. De lá não saíram promos que ficarão para a eternidade, como se exigia numa rivalidade tão promovida como foi esta, nem momentos que saltem à nossa vista. Mesmo o combate no Hell in a Cell, não considero que tenha sido assim tão bom depois de o ter visto, seja por momentos que lhe tirarão completamente a seriedade, pela forma como a Sasha faz golpes que a aleijam mais a ela do que a adversária, alguns botches pelo meio num combate que requeria a perfeição, ou algo muito perto dela.
No entanto, consegui perceber onde as duas queriam chegar, a história que queriam contar, o combate teve pormenores bastante bons como as interações com aquela da cadeira da Bayley, ou o comeback da Sasha, e por isso ainda coloco aqui como ponto positivo, mais não seja porque voltou a colocar o foco dos fãs na divisão feminina que ainda não tinha tido verdadeiramente uma blood feud como esta este ano. Como disse no início, é um artigo de pontos positivos e não de negativos, pelo que vou valorizar os primeiros o mais possível.
Hoje ficamos por aqui.
Até para a semana e obrigado pela leitura.
4 Comentários
Concordo quase que totalmente com o autor.
Drew McIntyre está tendo um ano excepcional. Não lembro de algum combate dele em PPV que tenha decepcionado, todos no mínimo cumpriram com o seu dever, o que só comprova que o diamante esteve sempre lá na cara da WWE e eles demoraram a usar.
Outro grande acerto foi o heel-turn do Reigns, com aquele que talvez seja o grande personagem da WWE para 2021. Intenso, brutal e até com submissão no ringue, mas ao mesmo tempo com a aura de superioridade que um heel dominante deve ter. Reigns voltou bem demais.
E sobre a Hurt Business, tá na hora deles conquistarem o Tag Team Championship e terminarem o ano como a stable dominante do RAW, uma força que apenas nomes como o Drew McIntyre ou o The Fiend são capazes de parar.
Obrigado pelo comentário.
Ricardo, qual rivalidade vc mais gostou? DREW vs Orton ou Roman vs Uso?. Aliás bom artigo
Obrigado! Randy vs Drew teve coisas mais diferentes e cada combate diversificou do anterior. Reigns vs Uso teve uma belíssima história, mas que se repetiu e arrastou no segundo combate em que nada foi verdadeiramente diferente. É díficil, mas escolho Randy vs Drew, embora o meu combate preferido de todos tenha sido Reigns vs Uso no Clash of champions.