Boas a todos nesta grande casa que é o Wrestling PT!
Esta semana trago-vos um artigo sobre uma promotora que ainda não havia falado e dado a conhecer aqui no Brain Buster, uma fed que ainda é pequena, mas que tem vindo nos últimos anos a fazer o seu percurso de crescimento, acompanhado de uma rapidez inesperada e, espetacularmente, de uma forma sustentável, o que é bastante raro, isto é, não vemos todos os dias uma promotora pequena crescer tão rápido em tão pouco tempo e fazendo-o de uma forma sustentada. Estou a falar, claro está, e como podem ver pelo título do artigo, da Tokyo Joshi Pro-Wrestling (TJPW), pretendendo dar-vos a conhecer esta promotora, as suas origens, um pouco da sua história, o seu estilo e as suas principais características.
No entanto, e antes de começar a abordar o que espero e pretendo com este artigo, os meus caros leitores merecem um esclarecimento por na semana passada ter faltado com o Brain Buster. Foi uma semana bastante dura a nível de trabalho pessoal, encontrava-me numa situação intensa durante a época de exames. É certo que até hoje já tive várias épocas assim, e nunca deixei que isso influenciasse a minha disponibilidade para vos presentar com o Brain Buster todas as semanas, mas desta vez não consegui mesmo fazer de outra forma, tendo acabado por falhar pela primeira sem avisar com os meus leitores. Devo-vos, então, um pedido de desculpas pelo sucedido.
Mas passando à frente e para coisas que interessam e que vieram cá ler, e fazendo uma pequena e breve abordagem histórica, a TJPW é uma promotora de joshi, isto é, de wrestling japonês (puroresu) feminino fundada em 2012, nascendo como parceira e imediatamente associada à DDT Pro-Wrestling. Assim, muito antes ainda de a NJPW e a Stardom começarem a falar e tentarem estabelecer relações, como começaram há cerca de 1 ano, mas ainda sem grandes resultados no sentido de trazer o joshi para os eventos da NJPW, já a DDT tinha um plano de crescimento também entre os fãs de joshi, criando a TJPW. Inicialmente, era uma promotora muito virada para performance de músicas e, principalmente, das chamadas “idols”, isto é, artistas que se fazem valer pela sua imagem e personalidade na cultura pop japonesa, através das quais conseguem atrair e cativar as pessoas para o seu trabalho. A principal pedra de toque é que também mantêm uma relação muito próxima com os seus fãs muito apaixonados. A partir de 2015, por sua vez, adquiriu maior autonomia e foi gradualmente aproximando-se de outras promotoras de joshi em vários aspetos, principalmente no interesse por um wrestling mais tradicional. Não obstante, nunca abandonou a base que lhe deu origem, e muitas das suas personagens hoje em dia são “idols”, de entre as quais, aquela que poderão conhecer melhor pela sua breve tour na AEW nos últimos uns meses, a Maki Itoh.
Com o tempo, a TJPW foi criando vários títulos, contando com o Princess of Princess title, o título principal, o Internacional Princess title, um outro título de singles que, embora secundário, tem uma função semelhante ao DDT Universal title, visando ser um título que cative fãs fora do Japão e os Princess Tag Team titles, os tradicionais títulos de Tag Team que todas as promotoras têm. A TJPW foi chegando cada vez mais aos fãs menos conhecedores pelos bons eventos que realiza sempre no Korakuen Hall, tendo também participado no recente enorme evento que resultou da cooperação entre a DDT, NOAH e da TJPW, o Cyberfest Festival, tendo apresentado vários tag matches e um excelente PoP title match entre a Miyu Yamashita e a Yuka Sakazaki, sendo que esta última também já viram na AEW, que desde já vos recomendo. Foi, aliás, o melhor combate do show, num evento que também tinha Jun Akiyama vs. HARASHIMA e Keiji Muto vs Naomichi Marufuji, o que é dizer muito.
Feito esta pequena introdução, devo dizer que pessoalmente também não sou fã da TJPW à muito tempo. Foi uma fed que comecei a ver o ano passado, mais ou menos também por esta altura, sendo que ao início tive algumas dificuldades em gostar assim tanto desta promotora. No entanto, passando um ano e depois de lhe dar realmente uma oportunidade, não estou nada arrependido e cada vez gosto mais de ver os seus eventos. Tal como a DDT é para o wrestling masculino a fed que realiza os eventos mais divertidos do wrestling atual, mais fáceis de ver, que mais sorrisos na cara vos vão dar, e que no final dos shows ainda têm vontade de ver mais, a TJPW, no meu caso, tem vindo gradualmente a ocupar esse lugar no meu wrestling no spot feminino.
Mas no início, como disse, tive algumas dificuldades em gostar do estilo que a TJPW apresenta, e explico porquê, porque acredito que muitos de vocês se já espreitaram ou se querem espreitar, podem vir a ter os mesmos problemas. Ora, sendo o mais sincero que posso convosco, a TJPW não tem, para já, um roster com muita qualidade, tirando as lutadoras de topo que são das melhores que o mundo tem para oferecer neste momento, o undercard, e mesmo o midcard é composto por lutadoras muito jovens, inexperientes, com lacunas de aprendizagem e que cometem vários erros. Por outro lado, é um produto que é um choque de estilos para quem tende a gostar de wrestling mais tradicional, como eu, que tendo na sua imagem de wrestling os Ric Flairs e os Jumbos Tsurutas da vida, que gosta de lutadores com a atitude do Stone Cold Steve Austin e do The Rock. A esmagadora maioria das suas lutadoras não têm, decididamente, nada de agressivo e uma imagem nada intimidante. São lutadoras muito pequeninas e franzinas e, porque não dizê-lo, muito “fofinhas” (risos), que parecem estar a brincar ao wrestling.
Isso resulta exatamente das suas origens e do estilo extra-wrestling que a TJPW pretende oferecer. Contudo, se no início tinha dificuldade em levar os eventos desta promotora a sério, com o tempo fui percebendo melhor as suas histórias entre as diversas personagens, as interações entre as várias lutadoras, o porquê de agirem assim, de falarem assim, etc. Mais! Para alguém que acha que os wrestlers não são personagens aleatórias que se lhes atribuem, mas devem sim ser extensões da sua personalidade pessoal e própria, a TJPW tem lutadoras nas quais eu acredito que não estão a agir de forma estranha porque lhes disseram para o fazer, elas fazem-no porque são assim no dia-a-dia e é fácil acreditar nisso, estamos a falar de wrestlers muito carismáticas, com personalidades fortes e que assim que compreendidas e entendidas prendem a nossa atenção ao ecrã e a tudo o que fazem.
O maior exemplo de ter atingido este raciocínio foi exatamente quanto à Maki Itoh. Nas primeiras vezes que a via, não via mais que uma lutadora muito pequena acerca da qual tudo o que eu a via fazer no ringue tinha realmente dificuldade em acreditar. Mais do que isso, na parte da sua comédia, eu nem lhe achava grande piada, porque me parecia forçado e que ela estava a brincar com o ringue e as suas adversárias sem razão aparente. Mas depois li e conheci a sua história, de uma rapariga que não conseguiu vingar na carreira das “idols” e acabou no puroresu para mostrar que conseguia ter sucesso e que não era uma falha, de uma rapariga que se ilude a si mesma na procura da grande vitória que lhe falta e que no fim se desilude sempre. A história de ela ainda não ter ganho a “big one” é das coisas mais interessantes da TJPW, assim como as coisas extravagantes que fazem parte da sua personagem e que a mesma aplica no seu arsenal in-ring batem totalmente certo com a sua personalidade.
Por outro lado, a falta de qualidade e experiência é combatida de forma certa, isto é, se as lutadoras não sabem fazer muito e têm algumas dificuldades em ultrapassar certo patamar, então que façam aquilo que sabem e só aquilo que sabem. É por isso que os combates são bastante curtos, aliás, fico muitas vezes com a vontade de ver mais, mas a brevidade dos matches é usada aqui de forma inteligente, para não deixar ninguém parecer mal. Isto parece tão simples, porque efetivamente o é, mas devia ser usado mais vezes em combates em todo o mundo do wrestling, isto é, se determinado lutador tem dificuldades em fazer algo, então é melhor não o fazer do que embaraçar toda a gente, a si, ao seu adversário e à sua promotora. E mais importante que isso, dentro deste ano em que vi TJPW, as lutadoras parecem-me progressivamente melhores cada vez que as vejo, não só na parte técnica, mas principalmente na confiança com que fazem as coisas. Assim, no dia em que conseguirem juntar à parte técnica e à qualidade enquanto wrestlers ao seu já muito bom trabalho fora do ringue e nos aspetos que não se relacionam diretamente com ele, teremos aqui uma ameaça séria ao topo do joshi, que neste momento é a Stardom, e uma possível competição que será benéfica para todos.
E o que mais contribui para que a TJPW possa vir a competir com a Stardom pelo topo do joshi é o facto de, em comparação com a mesma, ter um produto alternativo, ou seja, para além do bom wrestling que progressivamente tem vindo a apresentar, a TJPW não se faz valer por isso e apenas por isso, ela tem os aspetos extra-wrestling do seu lado, ela tem um “plus”. Ora, não é segredo nenhum que o joshi mudou bastante nos últimos 20 anos. Tal como todo o wrestling fez a sua evolução, também o joshi puroresu o fez. Se nos anos 90 tínhamos lutadoras tremendamente capazes, com atitudes “bad ass” e que nos deram dos melhores combates de sempre, o joshi atual é um misto desse bom wrestling, mas com personagens muito menos intimidantes, salvo, naturalmente, algumas exceções, quer fisicamente, quer ao nível da sua personagem. E se a Stardom vive mais pelo aspeto do excelente wrestling, embora não deixando de ter personagens igualmente carismáticas e que dominarão o joshi nos próximos anos, a TJPW apresenta um joshi moderno, com capacidade de prender pela sua imagem e atratividade, à imagem das suas “idols”. Estamos perante dois produtos alternativos, que não oferecerem bem a mesma coisa, o que permitirá fermentar o máximo de competição possível. É certo que muitos dos seus combates de undercard também englobam alguma comédia, mas não chega sequer perto do apresentado pela DDT, sendo que estes pequeunos momentos que visam tirar o sorriso da cara dos fãs contribui para a sua diversão e imersão ao ponto de nem darmos pelo tempo passar.
Também o seu booking é extremamente bem pensado e potencia todo o seu roster da melhor maneira possível. Mais uma vez, se não há muita gente que possa dar combates competitivos, então vamos guardar esses combates para os momentos especiais em que eles têm mesmo que acontecer, não gastando tudo de uma vez e tendo muito tempo para construir as histórias, beneficiando até os próprios combates com isso. Digo até que tal como a DDT, todos os combates da TJPW contam uma história e não se limitam a ser competição por competição, o que para mim, e tendo em conta os meus gostos pessoais, é um enorme ponto a seu favor.
Mas não pensem que a TJPW só tem personalidades que constituem em “idols”, aliás, muito longe disso, principalmente no que diz respeito às lutadoras de topo. A Miyu Yamashita é sua Ace intimidante e capaz de derrotar qualquer lutadora no mundo, aliás, penso que se um dia ela se estreasse na AEW e fizesse por lá um tour acho que ninguém a ia deixar vir embora, não porque a mesma queria ficar, mas porque acredito que a mesma é tão excelente wrestler que ia ficar extremamente over com os fãs da AEW e toda a gente que nela trabalha. A Yuka Sakazakita é a lutadora que mais me intriga na TJPW, porque é um dos casos em que a primeira impressão não faz jus ao que ela é. Parece uma lutadora pequenina (porque é) e pouco agressiva, mas quando o momento a chama para isso, quando é necessário que ela demonstre o máximo de agressividade possível, ela é extremamente competente a fazê-lo. Pensem na zona que o Kota Ibushi entra quando o picam muito durante um combate, ora, a Yuka também consegue entrar nessa zona. A Rika Tatsumi é também uma lutadora muito boa e diria eu que é o expoente técnico da fed, a Shoko Nakajima é extremamente divertida e alguém que é fácil torcer, porque tem um estilo muito rápido propício para isso. Pode-se dizer que são estes os 4 pilares da TJPW.
Mas há muitas outras lutadoras interesses e que prendem ao produto, principalmente a Sakisama e a Mei Saint-Michel (que participou no torneio da AEW enquanto Mei Suruga), que têm sido a tag team do ano, apresentando uma personalidade fora de série e com um objetivo claro: manter a Sakisama como uma das lutadoras de topo da TJPW e elevar a Mei o máximo possível. Lembro-me exatamente do match em que ganharam os títulos, em que, com a Sakisama praticamente inutilizada pela tática das adversárias, acabou por ser a Mei a sacar uma vitória praticamente sozinha e de forma completamente inesperada, recebendo um bom pop do público, mesmo numa altura em que o mesmo não pode reagir oralmente. Foi verdadeiramente um estratégica muito inteligente de como colocar uma lutadora over e elevá-la ao nível seguinte.
Mas voltando agora um pouco ao início, disse que a TJPW tem crescido de forma sustentável e a um ritmo bastante rápido, o que é curioso, mas o que tem alguma explicação. Ora, o público-base da TJPW, tal como o da DDT, é um público muito fiel e muito específico, que nunca diminui, mas que tem tendência para aumentar com o tempo, sendo que, ao contrário da DDT, que terá sempre um teto pela comédia que não é para toda a gente, a TJPW, apesar de claramente ter fatores que a puxam para baixo, como o facto de ter lutadoras bastante inexperientes e um roster ainda em crescimento e não cristalizado, acredito que possa vir a crescer, não propriamente enquanto estiver nesta situação, mas quando o seu roster ganhar mais qualidade e experiência e a TJPW for capaz de dar um pouco de si para chegar a outros fãs, coisa que até já tem vindo a fazer. Como disse, pode completamente disputar o lugar de topo do joshi com a Stardom. Se será feito da noite para o dia? Claro que não, e se há coisa que tanto a DDT tem feito, como me parece que a TJPW pretende fazer, é que vai levar o tempo que for preciso, nunca apressando nada, fazendo o seu trabalho, com consistência, sem desiludir, montando uma base forte e sim só depois pensar em índices de crescimento.
Por fim, dizer que contribui para isso o facto de a AEW ter usado algumas das suas estrelas, como a Maki Itoh e a Yuka Sakazaki. Principalmente a Maki Itoh, não acho que seja uma lutadora que o fã de wrestling americano comum achará grande piada, mas é sempre uma forma de promover esse estilo e arranjar alguns fãs que potencialmente se interessem. Mas como a TJPW não é só isso, apresentar lutadoras como a Miyu ou uma Yuka mais séria, será, a meu ver, um excelente instrumento de crescimento da TJPW fora de território nipónico. Não é, sem dúvida, um produto que vá dizer muito a muita gente em todo o mundo, seja pelo estilo seu in-ring, como fora dele, mas é um produto interessante, legítimo, com uma base forte e que pode atingir um patamar mais elevando do que o que tem hoje em dia.
Hoje ficamos por aqui.
Até para a semana e obrigado pela leitura.
4 Comentários
Entendo vc ter faltado por uma semana, estudos e trabalho e algo que cansa muito. Falando do artigo agora, acompanho essa empresa desde o ano passado também, eu acho que a TJPW pode crescer pelo fato de ser um diferente da stardom e também pelo fato de ter uma “parceria” com a AEW, a Maki itoh apareceu lá e o interesse por ela e por onde ela veio aumentou, fazendo assim muitas pessoas conhecerem a TJPW, acredito que nos próximos anos essa empresa se tornara maior, e isso é muito bom, ótimo artigo.
Muito obrigado pelo comentário.
Bom artigo, gosto de conhecer coisas novas.
Obrigado.