Verdadeiro talento é algo absolutamente incontestável. Seja no Wrestling, seja num campo desportivo, seja no grande ecrã do cinema, seja num palco… Seja onde for, quando somos presenteados com actuações extremamente talentosas, somos capazes das reconhecer como tal. Provas de verdadeiro talento não deixam ninguém indiferente, especialmente os amantes da área em questão.
Tendo em conta o título e a proximidade do Summerslam, alguns poderão estar a pensar que me estou a referir a Brock Lesnar, outros tantos pensarão que me estou a referir a Triple H e, os restantes, irão concluir que por muito talentosos que esses dois senhores sejam, é Paul Heyman a personalidade de que falo. Isto porque Paul Heyman, mais uma vez, mostrou quão talentoso realmente é por fazer uma história de qualidade e objectivos duvidosos soar como um embate de proporções épicas.
Mas então, Brock Lesnar vs. Triple H não é um embate de proporções épicas? Se calhar é, mas não consigo reconhecê-lo, pois encontro-me num estado de cepticismo profundo que me impede de apreciar aquilo que me foi apresentado. Ou talvez, esta história que leva ao combate de Brock Lesnar e Triple H no Summerslam – o maior evento do Verão e um dos mais importantes da WWE – ficou mesmo aquém das expectativas na sua construção.
Para percebermos as raízes do problema, precisamos de, como de costume nestes artigos, recuar uns meses até quando esta história começou no dia 30 de Abril de 2012.
A 30 de Abril de 2012 a WWE apresentava o primeiro episódio da Raw pós-Extreme Rules, onde Brock Lesnar foi vencido por John Cena mesmo depois de ter dominado todo o combate. No início desta Raw é de salientar as alterações implementadas pelo então General Manager da Raw, John Laurinaitis, para cumprir as exigências de Lesnar. A Raw é assim apresentada como Raw: Starring Brock Lesnar.
Já o disse anteriormente e, sinceramente, sinto a necessidade do repetir: Brock Lesnar é das personalidades mais marcantes e carismáticas – quando não possui o microfone na mão – que a WWE já produziu. Em 2012, Brock Lesnar apresenta-se como uma personalidade mais complexa e profunda do que aquando a sua estreia em 2002. Hoje, Brock Lesnar transmite um misto de sentimentos contraditórios, desde a sua aparente atitude metódica e calculista, até aos seus momentos mais voláteis em que parece estar prestes a descontrolar-se.
Felizmente, nesta Raw Brock Lesnar não fala muito, pois rapidamente o seu futuro adversário decide fazer uma aparição. É assim que Triple H, o defensor dos melhores interesses da WWE, aparece em cena para confrontar o egoísta, arrogante e intimidante empregado.
Este segmento foi exactamente aquilo que Brock Lesnar precisava que fosse. Lesnar mostrou mais uma vez a sua força bruta, continuando a valorizar-se como besta imparável, mesmo depois de ter perdido contra John Cena. Mesmo tendo dominado todo o combate no Extreme Rules, a derrota tinha o potencial de estragar o ímpeto de Lesnar. Porém, depois deste segmento tal não se verificou. Lesnar precisava de se impor e foi isso mesmo que aconteceu.
Ora, Lesnar não se impôs às custas de qualquer lutador. Não, muito pelo contrário, Lesnar usou uma das maiores personalidades da indústria dos últimos 15 anos. Alguém que já é visto por muitos como uma Lenda. Lesnar impôs-se às custas de Triple H, rapidamente dando a entender que o seu próximo combate seria contra este.
E é aqui que se levanta, a meu ver, o primeiro problema. Triple H, um lutador de carreira estabelecida e com os cargos executivos a pesarem cada vez mais, será mesmo o homem certo para enfrentar Brock Lesnar?
Se analisarmos a situação atentamente, Brock Lesnar não passa de uma estrela a trabalhar em part-time, semelhante a The Rock, por isso deve-se mesmo gastar uma rivalidade, uma história, um combate em alguém que definitivamente não precisa disto?
Que Triple H seja o escolhido para enfrentar Undertaker, mesmo sendo pela terceira vez, é fácil de entender. Afinal, não só as duas personalidades possuem um passado juntas, como os laços que as ligam na vida real são conhecidos e reconhecidos por todos. O que Undertaker e Triple H, juntamente com Shawn Michaels, criaram na Wrestlemania 28 não foi apenas um combate histórico, mas também um momento emocionante e real. Se aquele combate não vale pela sua qualidade – o que a meu ver vale, mas as opiniões nunca são unânimes –, certamente vale pelo valor emocional do momento criado.
Brock Lesnar e Triple H não partilham essa ligação. Pelo menos, se o fazem, não é do conhecimento público. E mesmo que partilhassem, não faz qualquer sentido tal ocorrer neste ponto da carreira de Lesnar. É absolutamente absurdo e anedótico considerar sequer essa hipótese.
Ora, se este combate não vale pelo valor emocional e se certamente Triple H não é alguém que necessite da atenção que uma rivalidade de Brock Lesnar irá trazer, porque é que é ele o seu adversário? Porquê trazer estrelas que funcionam a part-time para rivalizar com outras que também funcionam a part-time, mesmo quando é só no que toca ao seu trabalho dentro de ringue?
Depois do Summerslam, Brock Lesnar segue para a sua próxima rivalidade e Triple H regressa ao seu trabalho executivo e às suas ocasionais aparições. Portanto, o que é cada um ganha com esta rivalidade?
É claro que quando esta questão é feita, outra surge sugerindo que talvez seja para construir um possível combate de Shawn Michaels com Brock Lesnar ou Triple H. Pessoalmente, correndo o risco de ver a minha ingenuidade atingir valores rídiculos, não acredito que Shawn Michaels regresse aos ringues. Posso estar errada, tal pode acontecer, mas duvido imenso. Caso se confirme que estou errada e toda esta rivalidade irá dar mote a algo mais, talvez tudo faça sentido mais tarde. Caso não, esta história é apenas mais um exemplo de como a WWE não se preocupa em pensar a longo prazo.
Um argumento bastante ouvido para defender a escolha de Triple H para esta posição é o facto de Brock Lesnar merecer alguém relevante para as suas rivalidades. Se acaso Brock Lesnar enfrentasse CM Punk, Sheamus, Randy Orton, Dolph Ziggler ou até Daniel Bryan, o seu trabalho iria perder o ímpeto, pois nenhuma das estrelas do roster actual possui um estatuto perto do de Triple H e, por consequente, à altura de Brock Lesnar.
Em relação a este argumento, tenho duas coisas a apontar. Primeiro, era extremamente surpreendente se um lutador do roster actual, cuja maioria muito provavelmente começou a lutar quando Triple H já andava no seu segundo ou terceiro reinado, tivesse tido tempo para se desenvolver e evoluir ao ponto de chegar ao estatuto de “The Game”.
Segundo, Brock Lesnar não está a trabalhar na WWE com um horário completo. Paul Heyman pode tentar despistar os fãs à vontade, mas mesmo não sabendo os detalhes do contrato de Brock Lesnar, isso é certo. E é exactamente isso que estragaria o estatuto de Brock Lesnar. Se todas as semanas, ou todos os meses em pay-per-view, Brock Lesnar aparecesse, a sua imagem ficaria desgastada e todas as rivalidades em que se envolvesse no tempo que cá estivesse perderiam significado por comparação.
Logo, tendo em conta a raridade com que o vemos e, principalmente, o facto da sua permanência ter os dias contados, todas as rivalidade de Lesnar seriam importantes e relevantes, se – como tudo no Wrestling – fossem bem construídas e promovidas. Se há algo que aprendi a não fazer é questionar as habilidades da WWE a promover ou a construir histórias. Se a companhia quisesse criar uma história entre Brock Lesnar e alguma das estrelas actuais e torná-la relevante, conseguia fazê-lo. Recorrer a um nome já estabelecido ao invés de criar nomes, é apenas a saída mais fácil.
Aliás, se muitos rumores relativamente à posição de Brock Lesnar na WWE são verdade e se de facto, Vince McMahon se aborreceu com Lesnar recentemente, que melhor forma conhecem do castigar do que usar o seu estatuto para benefício da companhia? Para benefício dos lutadores actuais que, por consequente, irão beneficiar a companhia.
Porque sinceramente, não sei se nesta rivalidade tudo não funcionou ao contrário, porque devido à defeituosa construção e promoção, esta rivalidade soa a tudo menos a main-event do Summerslam ou candidata a história do ano.
Mas, vamos continuar a nossa viagem por todas as etapas importantes desta história, deixando assim a escolha do próximo adversário de Brock Lesnar sendo a primeira falha apontada até ao momento.
Paul Heyman é um génio a nível criativo e um mestre na arte de usar o microfone. Praticamente tudo no seu discurso é perfeito. Desde a sua entoação, à forma como usa as palavras proferidas, passando pelo ritmo do discurso, Paul Heyman consegue prender a atenção de uma multidão, para depois motivá-la e manipulá-la a seu bel-prazer. Paul Heyman é tudo menos uma falha nesta história. Aliás, ele é a única pessoa que está a “vender” esta história como sendo a história da década!
A questão mais importante aqui é que não é só nisso que o trabalho de Paul Heyman é valioso. Se em vez de ser Triple H o adversário de Brock Lesnar, fosse uma das estrelas actuais anteriormente referidas, ninguém melhor que Paul Heyman conseguiria valorizar ambos os lutadores e a sua história, tal como está a fazer neste momento. Se Paul Heyman aplicasse as suas capacidades, digamos, mágicas a qualquer uma das outras estrelas, talvez a larga maioria dos críticos que diz que não há estrelas à altura de Lesnar repensasse a sua posição e opinião sobre o assunto.
O facto de Paul Heyman ter regressado e o facto de ser tão brilhante naquilo que faz prova mais uma vez que a WWE só está a escolher Triple H porque é o caminho mais fácil. Ou isso, ou porque a própria WWE duvida o talento que possui. Se calhar são eles que não os vêem à altura de enfrentar Lesnar. Nesse caso, o problema estende-se do público também para a companhia.
Paul Heyman, o representante legal de Brock Lesnar, não veio só anunciar que era o seu representante legal, como também anunciou que o seu cliente se demitia da WWE. Ora, seja porque a WWE quer poupar as datas de Lesnar ou não, a verdade é que Lesnar precisava de sair da televisão. Lesnar precisava de manter a mística que possuía quando regressou, garantindo assim que continuava a ser visto como uma novidade e não como um dado adquirido, reforçando assim que já afirmei acima.
Portanto, dessa forma apresentou-se o representante legal de Brock Lesnar. Desta forma, a 14 de Maio de 2012, já se conhecia o adversário e o representante que iria manter a memória de Brock Lesnar viva dentro dos fãs, por isso só faltava mesmo um segmento entre ambos para começar a delinear os fundamentos e razões para esta história.
Pouco depois de Brock Lesnar ter regressado, a WWE preocupou-se imenso em salientar que este tinha sido um campeão da UFC e em associá-lo ao termo “Legitimidade”. Ora, na altura mostrei a minha preocupação com o assunto e com o facto de achar que isto em nada ajudava a WWE. E foi exactamente isso que Triple H tratou de mencionar primeiro quando tocou no assunto. Triple H afirmou estar ofendido por Lesnar dizer que iria trazer “Legitimidade”, usando também o nome de várias Lendas para salientar o quão insultuoso era a presunção de Lesnar.
A questão é que quanto mais a WWE salientar esta diferença entre ambos os mundos – UFC e WWE – pior será para o produto da própria companhia. A UFC é real. Eles não precisam de fingir nada. Eles não passam todos os seus programas a tentar convencer o fã do contrário. Embora nós saibamos – ou a maioria de nós – como se processam as coisas no Wrestling, quando assistimos ao mesmo, procuramos exactamente esquecer-nos disso. E é esta constante comparação que a WWE faz que, pessoalmente, me deixa exasperada e me impede de acreditar no que me dizem.
Compreendo perfeitamente que Lesnar não possa ser promovido como apenas um wrestler depois de todos os seus feitos no exterior da WWE, contudo estar constantemente a relembrar o passado deste na UFC faz exactamente o oposto daquilo que a WWE quer.
Na teoria, fez sentido Triple H ficar ofendido com a presunção de Lesnar, mas tendo em conta as variadíssimas habilidades deste último, certamente a UFC não é a única coisa de que Brock Lesnar se pode gabar, por isso não era preciso estar sempre usar o mesmo argumento. O sucesso de Lesnar na UFC é bem conhecido e deve ser tomado como um argumento implícito, não como algo recorrente.
Felizmente, Paul Heyman rapidamente fez a sua aparição juntamente com um advogado. Como já é natural, Heyman levou Triple H ao seu limite tornando mais uma vez o segmento em algo interessante de assistir, com apenas um problema: não existiu evolução na história.
Na teoria, sim, afinal, Triple H e a WWE foram processados. Contudo, na prática, a história não avançou substancialmente deixando os fãs num misto de desilusão e curiosidade. Não é um sentimento chocante, principalmente quando se começa a notar que a WWE está a construir esta história para culminar três meses depois.
Avançando aproximadamente um mês no calendário, temos o pay-per-view No Way Out, onde Triple H – previsivelmente – desafia Brock Lesnar para um combate no Summerslam. Embora na Raw seguinte Paul Heyman tenha – previsivelmente – dito que não ao desafio em nome do seu cliente para arrastar a história até ao Summerslam, esta não foi totalmente uma perda de tempo, no que toca a esta história, pois a WWE começou assim a deixar de lado as desculpas de processsos de que ninguém gosta, nem acredita muito, e começou a entrar num campo mais pessoal.
E é assim que, teoricamente, nascem boas histórias. Quando estas possuem elementos reais que jogam com a dúvida residente na cabeça do espectador.
Também não é por acaso que este segmento foi, de longe, o segmento verbal mais interessante de assistir desta história. Tudo o que foi dito teve uma razão de ser e um tom de verdade subentendido. Todas as “farpas” lançadas foram cuidadosamente escolhidas e o timing de cada uma delas foi absolutamente perfeito. Tal como já disse, a WWE começou a tornar esta rivalidade pessoal quando começou a mencionar as filhas de Triple H e a sua mulher, Stephanie.
É também de realçar a qualidade da promo de Triple H neste segmento, pois embora fazer as coisas soarem reais seja algo em Heyman é mestre absoluto, nem sempre é esse o caso de Triple H. Provavelmente, esta foi a melhor performance verbal de Triple H nesta rivalidade.
Mais uma vez, a desvantagem deste segmento volta a ser o mesmo: na prática, a história não avançou. Embora na teoria, a recusa de Lesnar seja algo substancial, na prática ninguém esperava que na situação litigiosa em que ambos se encontram, Lesnar aceitasse sem pensar duas vezes.
Ora, a rapidez – ou falta dela – com que se desenvolve esta história é um problema, a meu ver, não porque acredite que a WWE não deve construir as coisas com suspense ou porque deve revelar as cartas todas logo de uma vez, mas porque os pormenores vitais da história foram, a meu ver, apresentados à pressa – impedindo assim que tivessem a importância devida – quando no início da história, existiram semanas em que não havia nenhum desenvolvimento, como por exemplo, a semana em que Paul Heyman apareceu num segmento via satélite. Por muito talentoso que Paul Heyman seja, foi um segmento desperdiçado, tal como muitos outros, não acrescentou nada de novo à história.
É normal que as coisas animem com o aproximar do Summerslam para que as pessoas comecem a ficar gradualmente interessadas e animadas com a ideia do combate, contudo a mudança de ritmo desta história foi extremamente brusca, não tendo absolutamente nada de gradual e, tal como já referi, a WWE atrasou demasiado alguns pormenores, nomeadamente o papel de Shawn Michaels e Stephanie McMahon na história.
Sendo eu fã do trabalho de Stephanie McMahon, foi extremamente desapontante ver o seu papel nesta história. Stephanie McMahon, como mulher de Triple H, era a ferramenta perfeita para voltar a colocar Lesnar como uma figura relevante, mesmo depois de ter estado ausente durante um longo período de tempo.
Está certo que a WWE aprofundou, no milésimo episódio da Raw, a componente pessoal da história. Mas, para mais uma vez consolidar o estatuto de Lesnar e para manipular Triple H, nada melhor que uns jogos psicológicos entre Lesnar e Stephanie. O ideal teria sido que estes ocorressem depois de Lesnar aceitar o combate, visto que a culpa do mesmo ter sido de Stephanie. Podia ter sido tudo, desde uma troca de olhares nos bastidores, Lesnar a persegui-la pela arena, ameaças da parte de Heyman… Qualquer coisa tinha sido excelente para voltar a dar o tom de perigo a Lesnar.
É certo que, tal como vários membros do Wrestling.PT notaram, eu achava que o mais adequado de tudo tinha sido um F5 aplicado a Stephanie. De qualquer forma, embora reconheça perfeitamente que não existe apenas uma forma de fazer as coisas, sinto que alguma espécie de interacção tinha que ter acontecido. Triple H podia não ter saído magoado do milésimo episódio da Raw, mas não podia sair “por cima”. Se Lesnar e Heyman estão a usar a sua família como argumento, o minímo que podia acontecer a Triple H era ficar afectado com o assunto.
A meu ver, a aparição de Stephanie não ajudou a história em nada, principalmente tendo em conta o potencial que podia ter tido a sua interferência.
Outra ferramenta que podia ter sido melhor usada é Shawn Michaels. Perguntem a vocês mesmos, estariam mais interessados em ver este combate se soubessem que Triple H ia enfrentar Lesnar perturbadíssimo depois de ter visto a sua mulher e o seu melhor amigo atacados?
Recentemente, numa declaração publicada no W.PT, Paul Heyman disse que todas as apostas tinham sido feitas neste combate. Heyman garantiu que a WWE tinha feito de tudo para promover esta história, inclusive usando os seus filhos, os filhos de Triple H e Stephanie e Shawn Michaels.
Mas lá está, tal como muita coisa nesta história – que fui referindo ao longo do artigo – só faz diferença na teoria. Na prática, não é assim tão simples, porque embora ao longo da história da indústria muitos discursos tenham sido épicos e irão para sempre ser relembrados, são as acções que fazem a diferença. São as acções que mais rapidamente ficam cravadas na memória das pessoas. Palavras também ficam, mas não tão facilmente.
Shawn Michaels foi, de facto, atacado. Aliás, este até teve o privilégio de ser avisado por Brock Lesnar com uma semana de antecedência. E é exactamente a isto que me refiro quando digo que certos pormenores nesta história foram apressados devido à proximidade do Sumemrslam, sem terem tido a devida atenção.
Brock Lesnar avisa Shawn Michaels que antes do Summerslam irá encontrá-lo, contudo isto acontece logo na semana seguinte. Sem suspense, sem espera alguma, sem deixar os fãs questionar-se sobre o assunto, fantasiar sobre quando iria acontecer, ou sequer saborear a dúvida que lhes tinha sido colocada. Afinal, se Brock Lesnar iria ver Shawn Michaels antes do Summerslam e só havia uma Raw antes do Summerslam, dificilmente se enganavam os fãs.
Ao contrário de que no início da história, esperámos semanas e semanas para não acontecer nada, nas últimas duas, aconteceu tudo o que era importante e relevante. Este péssimo planeamento por parte da WWE matou por completo todo e qualquer ímpeto que esta história podia ter tido. No início, a história desenvolveu-se devagar demais, com períodos de estagnação demasiado lentos, deixando que os fãs de facto perdessem interesse na história. No fim, desenvolve-se tudo em duas semanas, sem deixar que as coisas sejam de facto interessantes e entretenham a audiência.
Além disso, também não ajuda que o momento mais marcante e simbólico desta história seja um que toda a gente estava a prever. Aliás, Shawn Michaels ser maltratado por Brock Lesnar foi tão previsto e falado pelos fãs que eu, como fã, convenci-me que tal não ia acontecer, porque simplesmente se tinha tornado uma teoria demasiado popular. A WWE é conhecida por mudar algumas coisas às última hora para baralhar os fãs, portanto pensei que isto seguisse o mesmo caminho. Daí ter pensado que Stephanie McMahon podia ter uma maior relevância do que se estava à espera.
Ora, embora a grande parte desta história ter sido facilmente previsível, a verdade é que na última Raw antes do Summerslam, a WWE apanhou em falso vários fãs com toda a história da assinatura de contrato e com o facto de não ter acontecido nada no mesmo. Foi o único momento nesta história em que a WWE de facto manteve as pessoas interessadas no que ia acontecer. Porquê? Porque a transmissão da Raw ainda não tinha acabado e porque dificilmente a WWE iria deixar o grande combate do Summerslam a ser promovido assim. Contudo, mesmo sabendo isso, a grande maioria de nós – incluindo eu – questionou-se e ficou preso ao ecrã na esperança de que algo mais acontecesse.
Mais uma vez, algo que devia ter acontecido durante semanas, aconteceu em meia hora na véspera do evento. Isto não é uma construção gradual da história, porque a noção de gradualismo implica a existência de um ritmo lógico e consistente, ao contrário desta história que foi literalmente de “oito a oitenta”, sem pensar nas consequências. Não é assim que se desenvolve uma rivalidade. Principalmente uma que é suposto ser das mais importantes de um pay-per-view como o Summerslam.
Críticas são feitas quando a ocasião assim o exige, mas elogios também são dados quando são merecidos. Por muito previsível que fosse, o segmento com Lesnar a agredir Shawn Michaels e com Heyman a provocar Triple H – principalmente, a parte de Heyman a provocar Triple H -, foi absolutamente excelente. Tal como tenho estado a dizer, a construção não foi a melhor, mas vários segmentos foram de grande qualidade nesta história.
Sinceramente, quando se notou que Triple H vs. Brock Lesnar iria decorrer no Summerslam, não tive a menor dúvida que este iria ser o combate a encerrar o pay-per-view. Contudo, vendo agora a pobre construção desta história – mais pobre por se saber o potencial que tinha inicialmente – duvido cada vez mais que isso aconteça, principalmente se tivermos em conta que CM Punk está a ter cada vez mais destaque, merecidamente.
Esperem, leiam outra vez o que eu escrevi: CM Punk está a ter mais destaque que Brock Lesnar vs. Triple H. Portanto, CM Punk, um lutador que possui as mesmas dimensões que um árbitro vulgar– como Kevin Nash gosta de dizer – está a ter mais destaque e está a ser mais relevante que dois homens de físicos absolutamente impressionantes, de personalidades estabelecidas e de estatutos intocáveis?! Serei a única a aperceber-me de quão chocante isto é, ou serei uma das muitas que, ao contrário de Kevin Nash, vive em 2012?
E depois de tudo isto que escrevi, continua a ser difícil acreditar que com a construção certa, qualquer um dos main-eventers do roster actual que já referi podia ter uma história à altura de Brock Lesnar? Porque a verdade é que se as coisas não forem bem feitas, nem com nomes estabelecidos, como Triple H, se faz magia. Que a WWE aprenda assim a sua lição.
Pessoalmente, sou enorme fã do trabalho de Triple H. Não só isso, como embora me irrite bastante o seu difícil feitio e personalidade, sou grande fã da capacidade de Brock lesnar e do facto dele conseguir desafiar todos os pressupostos e ser um dos atletas mais ágeis e, ao mesmo tempo, fortes de sempre. Contudo, mesmo assim, nem eu estou interessada em ver este combate. Mais uma vez, isto deveria servir como aviso à WWE.
Tal como afirmei acima, não estou a ver nenhum impacto relevante que este combate tenha para o futuro, aparte de um possível regresso de Shawn Michaels aos ringues, que vejo como sendo extremamente improvável. De qualquer forma, não tenho quaisquer dúvidas que este apareça, mesmo que a WWE diga que não devido à sua lesão. Até pode ser apenas num segmento de bastidores, mas acredito que Michaels apareça.
Sinto que este combate devia também ter uma estipulação – que também pode ser anunciada à última hora, contudo ao contrário do que muito pensam, não me refiro apenas a uma estipulação no que toca ao tipo de combate. Estou, principalmente, a referir-me a uma estipulação no que toca a consequências práticas na vida de ambos lutadores. Não devemos esquecer que Brock Lesnar se demitiu da WWE antes desta rivalidade porque certas condições não lhe foram garantidas.
Ora, não faz muito sentido ele continuar na WWE quer ganha, quer perca, se as suas condições não forem cumpridas. Eles terão que desenvolver isso de forma cuidada, pois é exactamente por isso que Paul Heyman voltou. Se as questões legais de Brock Lesnar forem resolvidas em combate – quer ele ganhe, quer perca – que sentido faz Heyman continuar a seu lado?
Tantas perguntas e como de costume, a WWE responde a tudo no Summerslam, num combate cujas expectativas não estão elevadas, sendo por isso mais fácil de surpreender pela positiva. Capacidade e talento é o que não falta a ambos os senhores, portanto não há razão para não ser um bom combate.
E, tal como referi, não é apenas uma estipulação direccionada às consequências do combate que faz falta, mas também uma estipulação ao tipo de combate. Afinal, não faz sentido a história ter-se tornado tão pessoal e eles se limitarem a um combate técnico de Wrestling.
No que toca ao vencedor, ao contrário de muitos, acredito que é absolutamente indiferente quem ganha. Digam o que disserem, ninguém fica verdadeiramente prejudicado por perder. Nem mesmo Lesnar. Compreendo a 100% a lógica de que Lesnar precisa de uma vitória para consolidar o seu estatuto, mas a verdade é que, tal como muitas coisas nesta história, isso só funciona na teoria. Tal como aconteceu depois do Extreme Rules, Lesnar pode perder para Triple H no Summerslam, mas basta ser surpreendentemente agressivo no dia a seguir que o pouco do estatuto que perdeu é recuperado. Não se esqueçam que estamos a falar de Brock Lesnar. Ninguém, ou quase ninguém, transmite tanta agressividade e volatilidade só com um olhar. Brock Lesnar é a verdadeira besta da história da WWE.
De qualquer forma, com indiferenças à parte, estou mais inclinada para acreditar que ganha Triple H, contudo nenhum dos resultados me irá surpreender. Desta forma, concluo a análise e consequente crítica desta história. Desejo um excelente Summerslam a todos e até para a semana!
8 Comentários
Bom artigo.
A Stephanie, tal como o Shawn, poderiam ter sido melhor utilizados, mas é a tal coisa que a WWE construiu tudo mais à pressa nestas últimas semanas.
Também foi muito bom o Heyman aparecer na vez do Lesnar, fez com que a sua presença fosse uma novidade e não um dado adquirido, como disseste.
De resto, existem muitos outros tópicos que abordaste aos quais até podia opinar aqui, mas não considero isso muito relevante e penso que já expus a minha opinião sobre o mais importante.
Até para a semana.
Eu, ao contrário de ti, estou interessado em ver o combate, mas depois da tua excelente argumentação quase que me desmotivaste! O que escreveste faz todo o sentido, em especial o fato de não existir uma consequência prática para o derrotado. Vão lutar só pela honra e o orgulho? Pá, não me convence assim muito. Isso resultou com Cena vs Rock mas essa situação foi um caso à parte.
Eu tinha que tirar um tempinho das minhas férias para ler este artigo,senão o meu Domingo nem iria parecer um Domingo 🙂
Não há nada a dizer,tu sabes que concordo contigo em tudo,até porque falei algumas vezes sobre este assunto no chat.
Tens mesmo que começar a escrever para a WWE (sei que não sou o primeiro a dar esta ideia e não vou ser o último),os teus artigos são mesmo muito bons.
Bom PPV e se calhar vou conseguir ver o SummerSlam em directo,mas duvido que o consiga ver todo.
É que não és o último não, Daniel. Eu acho que a Salgado devia escrever para o wwe.com xD
Salgado, sugiro-te que dês a tua opinião sobre algo da TNA. Por exemplo, os Aces and 8
Assino por baixo, ela devia escrever para o WWE ! 😀
De facto, parece que foi uma história brutal mas que a wwe resumiu em duas semanas. Mas isso tem uma razão de ser. No que a mim diz respeito (e, tenho a certeza, a muitos outros fans) ver 1 minuto de triple h aos murros com o brock lesnar ou ver a tensão que até o Shawn Michaels (que todos sabemos que não vai lutar de certezinha) cria no ringue com o Brock Lesnar apenas a olharem um para o outro chega para nos entusiasmar e ansiar pelo combate. A verdade é essa, isto chega. E só chega porque podem estar 3 meses a construir semanalmente uma promo com outros wrestlers que não vai interessar metade. Tal como a história do Triple H com o Undertaker e o Shawn foi criada em 4 episódios se tanto o ano passado. E chega por uma razão simples: Lembra-nos de outra época, outra era de fazer promos e wrestling.
Eu não sou daqueles que odeia a wwe hoje em dia, continuo a ver e a gostar, tenho os meus favoritos e aqueles que odeio como sempre tive, etc, mas de facto quem é que poderia enfrentar o Brock Lesnar, trazer o interesse do público, do rooster actual? Apenas o Cena, CM Punk e o Randy Orton têm personagens que me conseguem divertir, surpreender, adorar ou odiar. Tudo o resto é mediano. Sim são bons wrestlers, alguns fazem bem isto ou aquilo, mas não despertam interesse nenhum. A AJ diverte-me e entretem-me mais que 95% do rooster actual que nunca me faria pagar um bilhete para os ver.
Logo a resposta a tudo é simples: A wwe tem de desenvolver outras histórias e outros wrestlers que precisam de muito mais “tempo de antena” para ser tornarem interessantes. Ao mesmo tempo tem de “vender”. Então têm neste momento o Cena e o Punk que são os melhores do momento da sua geração e fan favourites, a necessitar do destaque habitual e têm o Triple H, o Lesnar, o The Rock e a atitude do HBK que apenas precisam de aparecer para nos lembrar de como tudo isto podia ser melhor se fosse dado espaço e histórias aos wrestlers para poderem ganhar algum carácter e atitude.
Logo, os únicos que poderiam tornar o Lesnar importante seriam, para mim, o Orton que acabou de voltar da lesão, o Cena que já lutou com ele e com o The Rock o ano passado e o Punk que tudo indica vai ser ele a enfrentar o The Rock no Royal Rumble… Mas bem, é a minha opinião!
Desde do episódio 1000 da RAW que a WWE fez um bom trabalho, mas não safou a questão do build up, mas o combate em si estou ansioso porque estamos a ver dois grandes lutadores. Naquela altura em que não houve nada, podiam por alguns segmentos entre Steph/Heyman ou HBK/Heyman para dar mais “toque pessoal” á história.
No roster actual apenas vejo Orton e Cena, o Punk está em outra altura a de desenvolver se como “cara da WWE”.
Gostei bastante do artigo