Futebol na Europa, American Football/Baseball/Basketball nos Estados Unidos, Rugby na Oceânia, etc. Todos estas modalidades dominam numa certa parte do globo, seja um continente ou país. Todos eles movem milhões de pessoas, seja nos estádios ou pela televisão. Normalmente, os adeptos são fãs de um clube, mas noutros casos mais extremos, podem ser fãs apenas de um jogador (Ásia). Além da imensidão de humanidade, todos estes desportos movem milhões em dinheiro e noutros tipos de valores.
O que quero dizer com isto?
Apesar de não podermos comparar o wrestling com as modalidades acima citadas, aliás, com nenhuma modalidade desportiva, pelo simples facto que o Wrestling Profissional não se enquadra no mesmo tipo de modalidade que as restantes, o facto de que todas estas modalidades dominam em todo o mundo faz-nos pensar. Pensar numa pergunta: Então e o Wrestling, domina onde? Tem lugar onde? Consegue competir com o futebol na Europa ou com o Rugby na Austrália? A resposta é não, mas aprofundando o tema, talvez o wrestling tenha uma expansão global que muita gente não conhece. Vamos a uma pequena aula de história:
O Wrestling Profissional, também conhecido internacionalmente como Catch as Catch Can, é um tipo de espectáculo que combina aspectos atléticos com aspectos teatrais. Aqui já estão explícitos os aspectos que permitem diferenciar o wrestling de qualquer outra modalidade. Enquanto que futebol e basquetebol são modalidades desportivas, o wrestling é visto quase por todo o mundo como um espectáculo de entretenimento. Foi assim que começou a ser conhecido desde os seus primórdios, quando os primeiros lutadores, conhecidos como Grapplers, actuavam em feiras e circos pelo país. Foi assim que o wrestling começou e é até aos dias de hoje. Reza a lenda que os primeiros lutadores competiam entre si para verem quem era o mais duro, ou seja, eram combates muito mais realistas do que hoje em dia. O wrestling evoluiu de algo obscuro para um negócio de milhões de dólares.
O Wrestling é conhecido em quase todo o planeta, mas muito mais famoso num número reduzido de países: Estados Unidos, Japão, México e Reino Unido. Poucos são, além destes, os paises que podem afirmar que têm o wrestling na sua cultura e na sua variedade de espectáculos de entretenimento disponíveis. Claro que 97% das companhias de wrestling são independentes e que encontram-se relativamente escondidas, principalmente se se localizarem fora dos Estados Unidos. São empresas com poucos meios, que trabalham com talentos de categoria mais baixa e que não possuem o nível de fanfarra das grandes companhias para promoverem os seus espectáculos. Raros são os casos de empresas que ao fim de uma noite conseguem ter mais lucro do que prejuízo. A culpa não é da qualidade, ou falta dela, do produto apresentado, mas sim a pouca aceitação por parte do público comum, que prefere um jogo de qualquer modalidade em vez de um espectáculo de wrestling.
O fã comum considera o wrestling “teatro”, “novela” ou simplesmente “tudo falso”. Isto já foi discutido milhões, biliões de vezes, por isso não vamos por aí. O que quer dizer com estes termos é que o público comum não vê o wrestling como um espectáculo como um circo, apesar de não ser muito diferente. O Wrestling é, como alguém um dia disse, “Ballet Violento”. É pré-determinado? É. É falso? Não. Mas isso é algo ainda muito difícil de aceitar por parte de que não vê. Faço-vos um desafio: Coloquem um amigo, um familiar vosso ou um colega que nunca tenha visto wrestling, em frente ao computador com um bom combate de wrestling. Vão perceber que as pessoas têm reacções diferentes: Existem aqueles que entendem aquilo como uma forma de desporto físico, outros entendem como algo relativamente falso, mas que entendem que eles se magoam e por fim, aqueles que simplesmente gozam. É o mais comum.
Mas voltando ao que o wrestling significa na cultura de países, acho que toda a gente concorda comigo quando eu digo que o país que mais respeita o wrestling é o Japão. Claro que o tipo de wrestling praticado no país nipónico é muito mais físico e menos “show-off” do que o resto do mundo, levando os fãs a respeitarem imenso os lutadores. O Japão é o único país, ou dos poucos, que aceita o wrestling como uma modalidade desportiva que merece respeito e que faz parte da grande cultura e história daquele país. Se um dia forem ao Japão, perguntem a uma pessoa qualquer na rua se vê Puroresu. Acreditem que se vão surpreender com as respostas, então se forem Portugueses, vão surpreender-se ainda mais.
Vou-vos relatar o meu caso: Como muitos de vós, eu aceitei o wrestling tal e qual como ele é, desde que comecei a ver na Sic Radical em 2005. Desde esse dia até hoje, o wrestling é para mim….simplesmente o wrestling. Mas se forem para a rua perguntar sobre WWE, as respostas vão ser todas negativas. No meu caso, tenho uma prova que nem sempre é assim: Quando a TVI começou a transmitir a SmackDown ao Domingo de manhã, o meu pai gostava de ver, porque para ele, aquilo era engraçado, ver dois gajos á porrada. Claro que ele sabia que aquilo não era totalmente real, mas não era por isso que deixava de ver. É esta cultura sobre o wrestling que falta em Portugal, principalmente quando vemos a pouca aceitação que as empresas Portuguesas de wrestling têm por parte dos fãs portugueses.
E como se não bastasse, até os próprios intervenientes aproveitam para levarem a água ao seu moinho. Chegou-me aos ouvidos que um ex-lutador Português lesou a APW em milhares de euros ao longo dos anos que esteve em frente da empresa e teve que ser o seu actual Presidente Francisco Valente aka Tony de Portugal que teve de restabelecer o equilíbrio da empresa. Como se não bastasse sermos um país microscópico em relação wrestling, ainda temos gente a botar abaixo as poucas empresas portugueses existentes?
Resumindo e concluindo, o wrestling não é um fenómeno global como muita gente apregoa. Para se ser um fenómeno global, temos de ter a aceitação de muita gente em todo o mundo, coisa que o wrestling está muito longe de atingir. Não existe consenso em relação ao wrestling. E eu deixo a pergunta:
Que solução ou soluções devem as empresas adoptar para levar o wrestling além-fronteiras e tornar esta forma de entretenimento num verdadeiro fenómeno?
See you next week, here on WPT!
8 Comentários
Excelente artigo. O wrestling nunca será aquela modalidade rainha, mas isso todos nós sabemos quando somos fãs disto. Ou seja, a moda nunca vai ser gostar de wrestling, porque isso é para o futebol, basket, Hockey em Gelo, NFL, mediante o pais claro.
É engraçado que muita gente diz coisas do genero: ah e tal eu nao vejo isso porque é fake.
Mas entao essas pessoas vêm filmes e novelas porquê?
Excelente, Ricardo! Como já disseram nos comentários acima, o Wrestling nunca vai ser a modalidade top, mas sempre estaremos a acompanhar (apesar de ser “falso”) por gostar, porque é o WRESTLING!
Somos a resistência tuga do wrestling! 😉
A solução, para mim, passa por educar as “crianças” desde pequenas no wrestling como nos fomos educados, por exemplo, no Dragon Ball. Perceber que é giro, perceber que é como um “filme” e que há bons e maus. E gradualmente apreciar outros aspectos da modalidade. Foi isso que me aconteceu.
Algo que não compreendo é como é que por exemplo a TVI ou a SIC não tem um pequeno programa de wrestling de manhã, com lutadores portugueses. Tinha sucesso, vendia merchandise. Com os anos as crianças iam crescendo e, se o produto fosse bom, continuando a dar valor e permitia-se uma expansão da qualidade e oferta dos programas.
Confesso que adoro wrestling e não conheço nenhuma outra pessoa pessoalmente que goste, aprecie e perceba como eu. Consigo incentivar um ou dois amigos a ver de vez em quando, mas não percebem como eu. É preciso ver muito, muito muito até apreciar os diferentes aspectos do wrestling além daquilo que está “á vista” e isso é muito dificil e demora anos…
Enfim, bom artigo 😉
Pq e melhor vermos um programa de cantores de merda todos os domingos, ou vermos o inspetor max um milhao de vezes -.-
Excelente artigo.
O maior problema, é que essas empresas nacionais, não recebem muito patrocínio, e algumas, nem recebem apoio governamental.
No Brasil, a BWF sobrevivi de alguma forma, em Portugal, reconheço que empresas como a WP, merecem mais apoio. Estava a assistir alguns eventos passados da WP, e a pensar: “E se algum dia vermos um Bammer ou um Cougar em uma grande empresa?”
Seria fixe ver algo assim.
Enfim, excelente artigo, continue assim.
Excelente artigo Ricardinho.
Pessoalmente acho que o fenómeno WWE tem nível mundial, apesar do mesmo ter vindo a perder impacto.
Em relação ao artigo, concordo com as tuas ideias. Por exemplo eu sinto-me como um incompreendido em casa. O meu irmão ainda me dá alguma conversa (limitada), e além disso nada. Por vezes ponho-me a fazer o “Yes” e os meus pais olham para mim tipo: tá tudo bem?
Eu acho que em Portugal a situação é difícil, pois não está na nossa cultura. E o facto de a SportTv ter os direitos de transmissão também não ajuda.
Concluindo, acho que o wrestling nunca chegará a dominar os gostos da população geral, porque no seu centro será sempre entretenimento e não um desporto a “sério”.