Quando a TNA começou a anunciar os nomes dos participantes no TNA British Boot Camp 2, Grado era para mim um total desconhecido, com excepção a alguns comentários que li nas redes sociais (uns que o odiavam e outros que o adoravam). Grado é de facto esse tipo de wrestler – ou gostamos ou odiamos. Uma coisa é certa, não é fácil ficar indiferente.
Há uns dias o André Santos partilhou comigo um documentário produzido pela excelência da Vice, uma organização jornalística que procura temas e assuntos polémicos para criar conteúdos, sobretudo para a internet. O documentário chama-se The British Wrestler e para surpresa minha, este Grado foi uma das caras-chave que a Vice acompanhou pelo mundo do wrestling britânico. No final do vídeo a ideia que me ficou é que afinal existe muito mais para aquele que se apelidava de Clown Prince of Scotish Wrestling, do que o TNA BBC2 deixava transparecer.
Para mim o aspecto mais interessante de Grado é que ele representa a magia do pro wrestling. Ele é o tipo de atleta que nem justifica que o tratemos assim. Como vimos na primeira audição em Glasgow, a sua aparência não lhe dá credibilidade alguma, no entanto é difícil ficar indiferente ao seu sentido de humor e capacidade de improviso. Grado não se parece com o wrestler. Percebi pelo documentário que ele é desde pequeno um fã hardcore de wrestling, daqueles que têm posters no quarto, uma colecção de jogos de DVDs e até uma réplica de um Titulo Mundial da WWE. Ele era um fã obcecado por wrestling, que decidiu tornar-se um wrestler e com muita inteligência conseguiu.
Há um aspecto muito subtil, mas determinante para perceber Grado. No documentário que referi, Grado fala do seu treinador como alguém que lhe deu o melhor conselho que ele poderia ouvir – Tu nunca serás o Triple H, nunca serás o The Rock e não deves tentar ser daqueles tipos que fazem manobras complicadíssimas e muito atléticas. Tu tens que aprender a ser tu próprio, tens que ser o Grado e isso será suficiente. Palavras duras, mas muito sábias. Grado tornou-se num dos wrestlers britânicos mais procurados no circuito independente, graças ao seu humor – alguém capaz de entreter e de captar a atenção do público.
É mau ser um lutador cómico? O papel da comédia no wrestling profissional já foi muitas vezes discutidos até aqui no WPT. A TNA e a WWE possuem nas suas fileiras lutadores com esse propósito e sempre o tiveram, pois o seu uso tem gerado um relativo sucesso ao longo dos anos. De forma geral, todos podemos concordar que no wrestling pode e deve haver espaço para algumas gargalhadas, desde que não cheguem ao main-event. Personagens como Rockstar Spud, Robbie E, Shark Boy, Curry Man, alguns personagens de Eric Young, entre tantos outros foram pensados para efeitos cómicos, como forma de alivio ou escape, de um show com acção e segmentos sempre muito intensos.
Mesmo no circuito independente, nomes como Colt Cabana conseguiram alcançar uma dose equilibrada de humor e wrestling que os tornou reconhecíveis entre os fãs mais atentos. A personalidade de Colt Cabana tornou-o um dos atletas de topo junto dos fãs. Grado é essa figura no wrestling britânico.
Grado começou a sua carreira, de acordo com o próprio, já tarde. Por aquilo que pesquisei na internet terá começado entre 2003 ou 2004. Grado disse numa entrevista que não decidiu entrar no wrestling pelo lado físico. Aliás, os wrestlers preferidos dele não eram lutadores técnicos. Ele adorava os personagens e as histórias, de lutadores como o The Rock. Grado veio à procura desse lado do entretenimento e essas ferramentas ele tem. Basta imaginarem um tipo com peso a mais, de boné e com uma bolsa pendurada ao ombro a entrar na arena ao som de Madonna. Sim…há vídeos…
Grado começou a ver o seu nome ganhar outra dimensão quando deu a cara num documentário da BBC sobre a promoção ICW (Insane Championship Wrestling). Grado foi então visto a gravar vídeos promocionais e a apresentar-se ao público como um fã que queria ser wrestler, surgindo no meio da multidão a pedir um combate. Os fãs adoraram e nos shows da ICW gritava-se “Book Grado”. Este aproveitava para fazer vídeos em que pessoas na rua lhe perguntavam se ele ia estar num determinado show da ICW e ele dizia “No, I’m not booked!”. A campanha ganhou tamanha proporção que finalmente a ICW agendou um combate para Grado. No documentário da Vice, é possível ver esse combate e a ligação que o público tem com ele, quase como uma espécie de mini-Hulk Hogan versão caseira.
Em menos de um ano de estar na ICW, ninguém falava da promoção sem mencionar Grado, com a sua frase “It’s Yourself” ou “It’s Fucking Yourself” e que agora é já um personalidade televisiva, onde participa em programas de humor na BBC. Só para se perceber o quanto improvável é a carreira de Grado, o seu nome real é Graeme Stevely, explica que um dia bebeu demais e decidiu tatuar no braço o nome Grado. Porquê? Nem ele sabe. No documentário, ele revela que acordou no dia seguinte desesperado porque ninguém o chamava ou conhecia por Grado…A solução acabou por ser avisar todos os amigos que essa seria a sua alcunha desde então. Grado é um personagem de tal ordem improvável, que ele é o tipo de pessoa que passa no exame de condução e uma hora depois tem um acidente de carro à porta de casa. Sim aconteceu com ele.
Apesar da sua aparência e de tudo o significa ser um personagem cómico, Grado é um dedicado fã de wrestling e não hesitou em mostrar isso na primeira audição do TNA BBC2 ao fazer uma referência a Big Daddy. A sua dedicação é tal, que ele enganava jornalistas para lhe darem os contactos de wrestlers e chegou a telefonar a nomes como Terry Funk, Jerry Lynn e Ron Killings. Chegou mesmo a deixar uma mensagem de voicemail a Vince MacMahon.
Goste-se ou não, há muito mais neste Grado do que ele aparenta e agora percebe-se toda a dinâmica que a TNA colocou entre ele e Al Snow. Será que o lado cómico será suficiente para ultrapassar grandes atletas como Rampage Brown, Dave Mastiff ou Noam Dar?
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8 Comentários
Bom trabalho.
Não conhecia o Grado, até há uma semana e pouco. Quando vi a entrada dele (o 2º vídeo que colocaste), fiquei rendido ao talento do gajo. A forma como ele move o público é espectacular.
Também já tinha visto o British Boot Camp, que foi de “comer e chorar por mais”. O combate entre o Mark Andrews e o Kris Travis (que tudo corra pelo melhor com ele…) foi lindo.
Uma boa introdução do Grado! Descobri-o este ano no Verão e fiquei logo fã depois de ver a sua entrada, não é todos os dias que um wrestler tem uma música da Madonna. 😉 já vi alguns vídeos dele no youtube mas nunca tinha visto esse documentário, fiquei curiosa.
O documentário pode ser visto no youtube. https://www.youtube.com/watch?v=9mKGXs1BGvY
Excelente meu caro.
O Grado é aquele lutador que combina o desleixo com um grande carisma!
O seu treino é uma combinação de cachorro quente e bifanas com pouco ginásio 😀
O Al Snow é que fez um reality check ao Grado, até meteu medo!
Neste momento parece haver uma aposta claro no Grado, mas espero que a TNA tenha a visão de manter, por exemplo, o Dave Mastiff.
Não me canso de ver a entrada do Grado simplesmente Brutal!!!
Entrar ao som de Madonna não é para todos…
O Grado tem um grande carisma, faz-me lembrar o Dusty Rhodes