O Wrestling.PT voltou a ser o representante da comunidade de Wrestling de língua portuguesa na TNA Conference Call, que esta semana teve como vedeta Billy Corgan, que assumirá as funções de Produtor Sénior, Criativo e Desenvolvimento de Talento.
AsTNA Conference Call, uma iniciativa mensal onde vários órgãos de informação da Europa, Ásia e Oceania, são convidados a estar “presentes” por via de chamada telefónica e assim podem colocar algumas questões a alguns dos nomes mais importantes da TNA.
Este evento tem uma duração aproximada de uma hora hora e durante esse tempo houve sempre diferentes orgãos de informação a colocar questões. Sobre esta conferência, posso dizer que foi a mais participada de sempre, em que apenas dois orgãos de informação conseguiram colocar mais que uma questão a Billy Corgan. O que mais me surpreendeu no Billy Corgan foi o perceber o quanto ele percebe de wrestling. Ele não é claramente apenas um fã casual, é um estudioso da indústria e tem uma visão estratégica que me parece muito alinhada com aquilo que os fãs mais aguerridos da TNA vêm a defender há vários anos. Fica aqui a pergunta Wrestling.PT:
Olá Billy, Tenho estado a ouvir muito atentamente as tuas respostas e devo dizer que estás a pôr o dedo na ferida em muitas questões, já falaste de muitos aspectos que ao longo dos anos os fãs têm apontado como sendo questões a melhorar pela TNA. A minha pergunta é se perante todas ideias que trouxeste hoje, conseguirás ultrapassar as politicas de bastidores e todos os obstáculos que surgem do facto da TNA ter já uma estrutura montada. Qual será a liberdade de input que vais ter no produto actual?
“Isto é o que posso dizer. Tenho a sorte de ser uma pessoa bem sucedida pelo meu próprio mérito por isso a única forma que eu teria de aceitar a proposta que me fizeram é se eu soubesse que as minhas ideias iriam encontrar alguma abertura por parte de quem decide. Posso também dizer que até hoje, todas as ideias que eu lancei foram levadas a sério, foram aceites ou foram discutidas e quando alguém diz que isso não nos serve, eu recebo sempre uma explicação sobre as razões pelas quais a minha ideia pode não funcionar. A minha experiência na TNA até à data é que não há nenhuma restrição e trabalhamos numa meritocracia, em que basicamente quem tiver a melhor ideia vence e esse é o tipo de competição certa. Eu respeito as pessoas com quem trabalho e nas reuniões da equipa criativa que estive presente em Nashville, senti que tinham uma atmosfera fantástica. Sempre que eu dei uma ideia que eles gostaram e eles gostaram de bastantes, nós trabalhamos a ideia e o resultado final foi seguramente melhor que aquele que obteríamos se eu tivesse avançado na ideia sozinho. Por isso todas as minhas experiências até agora têm sido muito boas. Eu já tenho experiência de politicas de bastidores, como lhe chamaste, ainda que numa empresa muito menor, já lido com os bastidores do wrestling há muitos anos, já ouvi muitos wrestlers a queixarem-se das politiquices das organizações e como artista, eu próprio sei o quanto podemos achar que um escritório de uma grande empresa é um sitio complicado. Durante toda a minha vida eu batalhei com produtoras de música e ainda batalho. Eu compreendo que é preciso haver um equilíbrio entre quem tomas as decisões e os talentos. Quando me sento nestas reuniões pelo menos tenho uma percepção diferente de como o talento percebe as decisões que são tomadas de cima para baixo, porque já estive muitas muitas vezes nessa situação.”
Fica aqui o resumo da Conference Call:
Sobre o que pretende trazer para a TNA do ponto de vista criativo:
“Sinto que tenho uma abordagem assimétrica na construção de uma marca, dada a minha experiência na música e até recentemente com a minha marca Tea House. Penso que tenho um bom pulso a trabalhar em espaços estranhos como aquele em que estamos hoje a trabalhar, em termos de realidade, público, ideias e simbolismo. Basta ver a WWE, em que as marcas ainda estão a tentar ganhar algum ritmo na era moderna, por isso posso trazer algumas novas estratégias. No dia-a-dia, espero trazer a minha perspectiva de como a TNA se poderá re-inventar, onde existe hoje uma energia para isso. Por isso é importante que a TNA se posicione no mercado, de forma a que as pessoas quando pensem em TNA, pensem nas estrelas da TNA e no produto da TNA por si só, que deve levar as pessoas a verem o produto porque é a TNA e não por oposição a qualquer outra coisa.”
Sobre aconselhar os wrestlers em digressão:
“Sinto fortemente que a TNA precisa de ter um sistema de desenvolvimento de talentos. Como é que isso vai ser feito e quais as necessidades que se têm de colmatar, provavelmente é uma questão maior que sozinho não consigo resolver. Dito isto, temos de desenvolver os nossos próprios talentos e temos de saber usá-los entre gravações televisivas. Obviamente que muitos deles já participam em shows no circuito independente, mas será que eles estão a desenvolver aquilo que se poderia chamar o estilo da TNA? E se te perguntas o que é o estilo da TNA, então esse é exatamente o problema. Como podemos criar um estilo TNA se os wrestlers não estão a desenvolver um estilo que se possa dizer que é a identidade da organização? Sobre estar em tour, em sei como é andar na estrada e até como fã. Obviamente não tenho experiência no ringue, mas há muitos anos que acompanho aquilo que os wrestlers e os agentes fazem e quero ajudar a TNA a ser uma organização bem-sucedida nos eventos ao vivo.”
Sobre o Jeff Hardy:
“O Jeff é um dos maiores talentos que o mundo do wrestling já viu. Ele é um membro valioso da TNA. O Jeff é um caso muito interessante. Eu já o conheço há mais de 10 anos, ele é um espirito livre e tem conseguido encontrar um equilíbrio entre o que ele quer fazer ao nível musical e no wrestling. Tendo já falado com ele muitas vezes, espero continuar a fazê-lo, até porque me pergunto, será que já usamos tudo o que Jeff consegue fazer ou podemos pensar de forma diferente e trazer também alguma atenção para a TNA? Vamos trabalhar com ele nessas coisas.”
Sobre como surgiu a oferta de trabalho da TNA:
“Bem, eu tenho relação pessoal com a Dixie há bastante tempo, talvez há mais de 8 anos. Há algum tempo falei com ela sobre a possibilidade de tornar a Resistance Pro Wrestling, a organização onde estava, como uma espécie de território de desenvolvimento, sob a marca TNA. Na altura o projecto não avançou e estou bem com isso. Sobre esta proposta, eu acabei de sair de uma tour e ela (Dixie Carter) tentou contactar-me, mas como não falávamos há algum tempo acabou por deixar algumas mensagens e eu liguei-lhe, conversámos e ela pediu-me para estar presente numa reunião com a equipa criativa. Eu voei para Nashville, encontrei-me com ela e com a equipa e senti-me em casa assim que entrei. Na verdade eu conhecia muita gente nos escritórios, porque já tinha passado algum tempo nos bastidores e é engraçado ter conversas com pessoas que não eram de todo estranhas. Estava em casa e continua a ser assim hoje.”
Sobre a importância dos mercados internacionais:
“Penso que certamente podemos ver o sucesso do Drew Galloway com os The Rising e o Rockstar Spud é sem dúvida um dos melhores wrestlers ao nível das promos nesta indústria. Acredito que é preciso pegar nos wrestlers e nos locais de onde eles vêm e trabalhar a partir dai. Eu ainda sou tempo da AWA e acredito que a tenacidade, as histórias pessoais e o contexto de vida de alguém pode ser usado num determinado angulo. Por isso se a TNA está a ter sucesso no Reino Unido, é importante usar isso, aprofundar as storylines e focar numa perspectiva mais local, falar com o lutadores e perceber como eles querem crescer, até porque as pessoas têm de se identificar com os wrestlers por diferentes motivos e local de onde eles vêm é um factor a explorar, faz sentido?”
Sobre o modelo de PPVs da TNA:
“Eu vou falar como fã e não como funcionário da TNA, porque ainda não compreendo o modelo actual e não tive tempo de falar com a Dixie sobre isso e sobre como os PPVs têm impacto no modelo de negócios, no orçamento e nos objectivos. Tenho de dizer que há um movimento geral na indústria que se afasta dos PPVs, por todas as razões, em particular pela pirataria que existe. Claro que os fãs encontram estes eventos e não pagam para os ver, muita gente faz isso, aliás penso que todos fizemos isso…eu já o fiz…e dito isso, temos de trabalhar num novo modelo, que utilize melhor as redes sociais e que crie novas direcções para o produto, ainda que como fã eu goste deste grandes eventos e destes grandes “pay-offs”, como é o caso do Slammiversary que é um evento que marca o período de transição, iniciando-se um novo ano para as storylines e estabelecendo novas direcções para a empresa. Esses eventos são ainda importantes, mas se fazem sentido no modelo de financiamento da TNA, ainda não o sei dizer.”
Sobre crescer a ver wrestling:
“Quando era novo os meus avós assistiam a wrestling (…) eu gravitei para a promoção do Bob Luce em Chicago, o que era uma situação muito interessante e tínhamos talentos a vir da AWA no Minnesotta e tínhamos lutadores da promoção do Dick The Bruiser do Indiana e criavam estes “super cards” que na altura não sabíamos, mas que me permitiu ver estes homens no seu pico de forma e em ângulos e histórias que mais ninguém do país via. Eu via o The Crusher vs Gagne, que talvez estivessem no final da carreira, mas ainda estavam no topo pelo menos junto dos fãs. Isso ajudou a formar o meu pensamento sobre o que funciona no wrestling e esses fundamentos não mudam independentemente da era em que estamos. A questão para mim é se podemos actualizar esses fundamentos em termos filosóficos de forma a ajustá-los à uma nova era. Isso é o que faço na música, eu aprendi Rock n’ Roll dos Beatles, dos Stones e dos The Who e penso que actualizei esses princípios para uma nova era e isso é algo fantástico de se fazer.”
Sobre o poder de contratação que a TNA lhe dá:
“Sobre o poder contratar ou despedir alguém, não falei ainda sobre isso com ninguém, mas parece-me que esse é o departamento da Dixie e penso que posso dizer que esse é uma das responsabilidades que não vou ter. Sobre o desenvolvimento de talentos esse é um aspecto que é preciso investir e apesar de a TNA estar focada no produto televisivo, que é excelente, eu irei dar o meu melhor para passar a ideia que é preciso investir no desenvolvimento. Na verdade se eu pudesse mandar em alguma área, seria no desenvolvimento. Adoraria ter a oportunidade de montar uma estrutura e pôr as pessoas no lugar certo para criar um sistema de desenvolvimento de talentos, para criar estrelas que são estrelas que só são identificáveis com a TNA. Nós temos lutadores que vêm de outros rosters e isso não é um problema, nem nunca será um problema, mas no fim do dia a nossa glória será a capacidade de criar as nossas estrelas e a nossa identidade única nesta indústria.”
Sobre o seu papel na relação com os wrestlers:
“Todos os balneários tem boas maçãs e más maçãs. A questão é será que é possível estabelecer uma relação com os talentos, e penso que na Resistance Pro Wrestling fiz isso, onde se tem em conta todas as preocupações e ambições de todo o balneário? Parte desse trabalho é fazer uma observação adequada de onde as pessoas estão na sua carreira e até na sua motivação e usar isso em beneficio deles e da organização. É como uma equipa que tem bons jogadores, mas não está a conseguir resultados e traz um novo treinador que muda a cultura só o suficiente. Eu não me estou a queixar da cultura da TNA, mas espero trazer algo mais e que as pessoas possam olhar para mim, até aqueles que pensam que não foram devidamente aproveitados, para conseguirmos juntos essas oportunidades.”
Sobre a aposta na X Division:
“Eu sou da velha guarda. Lembro-me de estar nos bastidores da TNA á cerca de 6 anos, talvez mais, com o Jim Cornette e penso que o Jim concorda comigo sobre este modelo: temos de construir do tamanho para baixo. Eu sempre fui fã dos talentos cruiserweight e há atletas incríveis a fazer coisas que nunca antes tinham sido experimentadas num ringue de wrestling. Mas acredito que temos de construir do tamanho para baixo e isso não significa que temos de colocar lá tipos grandes que não sabem lutar, mas significa que temos de apostar em tipos grandes que sabem lutar. Há algo, que talvez seja um pouco a lei da selva, que diz que o tipo gigante deve ganhar e quando tipo um atleta enorme, como o Abyss, que sabe mexer-se, que sabe vender uma história, ele consegue ajudar muito mais gente (“get people over”) de uma forma que um cruiserweight nunca poderia fazer numa determinada dinâmica de wrestling.”
Sobre o papel da música no wrestling:
“Muitas vezes penso que a música, em qualquer promoção, cai para coisas muito óbvias. Por exemplo, um lutador a aparecer ao som de uma música de metal, soa a uma espécie de Alice in Chains ambígua, e como músico não sou nada fã disso. Penso que tal como a banda sonora de um filme, uma boa peça musical pode contar uma história fantástica. Eu lembro-me da promoção PRIDE (MMA) do Japão e o Malenko entra com uma espécie de neve a cair e uma música de piano muito suave e foi simplesmente incrível! Eu fiquei arrepiado, fui tão épico que trouxe ao de cima algo da personalidade dele que uma música metal genérica nunca seria capaz de fazer. Na Resistance Pro Wrestling fizemos algumas coisas desse tipo, mas acreditem ou não, tivemos muita resistência dos wrestlers que estavam habituados a aparecer com estes temas genéricos e que achavam que uma mudança não lhes dava energia. Mas a música pode ser determinante até em elevar a personagem, muito antes sequer de eles porem um pé no ringue ou abrir a boca. Por isso, eu vou querer essa sofisticação na TNA e não é uma queixa, quero apenas contribuir para melhorar essa área. Lembram-se do filme do transformers? Em que há explosões e parece o inferno na terra e nós ouvimos uma música muito sombria? A música parece que não tem nada a haver com o que se está a passar, mas eleva a acção. É isso que procuro.”
Sobre as melhorias que o produto televisivo da TNA pode ter:
“Eu vou dizer isto de forma muito espontânea, porque não falei com a Dixie e não conheço o modelo e a estrutura económica da TNA e claro que se tivermos biliões para gastar é tudo mais fácil. No entanto, as coisas não são assim tão fáceis. Tenho algumas ideias, por exemplo, não vejo ninguém, nenhuma promoção seja onde for no mundo, a usar as redes sociais de forma certa para promover um angulo ou uma storyline. Eu vejo uma luta muito grande na indústria do wrestling para se perceber como se faz isso e dou um exemplo: se formos ao twitter de um wrestler e não interessa em que empresa ele trabalha, ele vão colocar imagens do gato deles e ao mesmo tempo são heels, sabem? Isso traz muita confusão no mercado. A questão é deverão os lutadores ter um conta separada da sua conta pessoal? Para assim o que os lutadores publicarem ser coerente com a sua personagem? Ou há só uma conta e queremos ter uma espécie de fluidez mais estilo “shoot” onde se pode dizer sou assim no ringue e assim na vida real? Eu ainda não vi ninguém a fazer isto bem e essa é uma área que a TNA pode aproveitar de forma sofisticada para as suas storylines. Estas áreas são fundamentais e se queremos as pessoas a sintonizar a Destination America, a forma mais rápida de os levar a fazer isso é através da internet e porque não estamos a usar a internet como uma parte da televisão, se a televisão já remete para as redes sociais? Isto ainda não é feito por ninguém. Esta terá de ser uma decisão filosófica e temos de construir a partir dessa decisão. Eu vejo isto como com os fãs dos Smashing Pumpkins e vou usar os termos do wrestling. Há fãs dos Pumpkins que são “smark fans” e que pensam saber tudo sobre mim, mas a percentagem de “smark fans” no meu mundo é igual aqueles no wrestling, ou seja, eles são uma pequena minoria. A maioria dos fãs que assiste wrestling, acaba por fazê-lo de forma muito causal. Então precisamos de encontrar formas de os assistir e de os levar a querer ver o produto.”
Sobre se é positivo vir de fora da indústria do wrestling:
“Eu estou talvez cerca de 60 horas por semana a trabalhar na TNA, o que está a deixar o pessoal no estúdio louco, porque consigo dedicar-me cerca de uma hora à música e tenho logo de atender chamadas para poder trabalhar com a equipa da TNA sobre tudo o que está a acontecer. Esses equilíbrios ainda tenho de aprender a fazer e a TNA exige esse tempo e como criativo que sou quero estar sempre a pensar em como melhorar e ajudar. Sobre eu ter uma perspectiva de fora, eu já falei com o Big (John Gaburick) e eu tenho que ser suficiente na TNA, não posso simplesmente estar envolvido com coisas muito específicas. Não é fácil querer mexer apenas um botão e esperar que tudo o resto mude e se não percebermos o pensamento por detrás de quem decide é fácil criticar, mas há coisas que não se sabe, uma lesão ou um contrato próximo do fim podem ser factores que influenciam as tomadas de decisão e as direcções criativas com um determinado talento. Eu sei que vou ter algum trabalho a adaptar-me, mas eu tenho experiência na indústria do entretenimento, eu gosto de pensar de forma criativa e não gosto de fazer as coisas demasiado rápidas. Sei que o sucesso leva tempo a ser construído.”
Sobre o que pode ser melhorado na TNA:
“É preciso ter em conta a actualidade e para a TNA é importante encontrar as histórias que cativem o público actual. (…) Toda a gente tem as suas ideias sentimentais sobre o que funciona para o wrestling, lembro-me do Paul Heyman falar do que gostava de mudar na TNA e de tentar levar o produto para uma vertente mais MMA, pois para ele algumas das melhores histórias estavam a ser contadas na MMA e ele queria emular isso na TNA. Esse é um óptimo exemplo de como actualizar a visão com algo que funciona. Eu penso que é importante saberes quem és e ao longo dos anos a TNA tem tido dificuldade em saber quem é pelos vários regimes. Ao falar da Dixie sobre estes assuntos, tento perceber qual é a visão para a organização e é interessante, ela tem uma visão muito particular e percebi que às vezes quando uma coisa não está a ir na direcção certa, é porque as pessoas que vieram não cumpriram com a promessa do que achavam que vinham oferecer ou do que ela pensava que podiam oferecer. Parte do meus esforço aqui é perceber o que ela pretende do ponto de vista do negócio e tentar ajudar a que isso se concretize.”
Sobre os perigos de se ser demasiado criativo:
“Bem com a sofisticação vem um risco de ser mal-compreendidos. Numa entrevista recente que fiz para a esquire em que falei do Archie Bunker, um personagem da série All in The Family e ele é um intolerante, ele é obviamente intolerante. Usando um termo de wrestling ele era um heel, apesar de com o tempo as pessoas começarem simpatizar com ele, com a sua visão conservadora do mundo. Não é que as ideias dele estivessem certas, mas sentimos pena dele ao perceber que ele era um velho com medo de um mudo em mudança. Essa é uma história sofisticada, mas será que o wrestling consegue criar este tipo de histórias? De uma forma muito simplista, se estivermos a falar de babyfaces e heels, por que razão não irá o heel usar tudo o que tiver no seu arsenal para enervar o babyface? Incluindo uma visão muito parcial sobre a sua raça ou o seu “background” (o seu passado). Claro que são temas delicados e temos de ter cuidado como contamos essas histórias, mas nessas histórias se conseguirmos fundir conceitos como o bem e o mal, a inteligência e a subtileza contra a estupidez, podemos contar uma história muito mais sofisticada, que por exemplo algo como “roubasta-me a namorada”. Outra coisa que me incomoda é que é preciso conhecer os limites. No wrestling nunca podemos dizer, por exemplo, eu vou-te matar! Não vale a pena dizer isso, porque torna tudo descontextualizado. Se um wrestler fizer essa ameaça, as hipóteses disso vir a acontecer são nulas, por isso temos de saber as limitações do produto.”
Sobre se vai ter um papel na televisão:
“Eu não me vejo como alguém a ser usado na televisão, mas estaria disposto a ouvir a ideia se a Dixie ou alguém me apresentasse uma boa razão para isso acontecer. No entanto eu sou um forte defensor que tudo o que é feito na televisão deve servir para colocar o talento “over” e o talento são os wrestlers. Eu já estive no ringue, já fiz coisas no ringue, mas não pertenço a um ringue e se tiver de fazer alguma coisa lá, seja um angulo ou comentários ou até falar sobre um qualquer aspecto do produto, aquilo que for preciso fazer eu faço. Já o disse antes e volto a dizê-lo, eu não aceitei este trabalho por minha causa. Eu adorava participar numa grande dinâmica, mas já estou muito realizado no meu mundo e o meu trabalho é conseguir colocar o talento “over”. Se conseguirmos isso, há muito crédito para espalhar por toda a gente.”
Sobre se as mudanças vão ser já visíveis:
“Diria que será mais parecido com aquilo que os Chicagos Cubs estão a fazer aqui na minha terra, se é que acompanham o basebol. Os Cubs foram comprados por uma família que estão a reestruturar o clube de cima e abaixo e querem construir uma franchise que seja rentável dentro de alguns anos. Eu não acredito que se possa agitar uma varinha mágica para se resolver todos os problemas. Temos uma empresa com uma história de 13 anos, fãs que gostam do produto e fãs que foram afastados do produto. Por isso a verdadeira mudança não vem rapidamente, será algo sistémico e construído da base para cima. Reparem, mesmo que me tivessem dado todas as chaves do reino eu ainda teria a infraestrutura. Eu não me estou a queixar da estrutura da TNA, eu até gosto da forma de funcionamento da TNA, descobri que me posso mexer de forma muito rápida e que não encontro grandes obstáculos ao que quero fazer, mas para trazer alguma mudança tenho de o fazer da base para cima. Por isso eu disse que temos de começar pelo desenvolvimento de talentos. Da minha visão deveria ser algo que a Dixie ou o John Gaburick dissessem vamos dar-vos este orçamento e precisamos destes talentos e vamos ver o que vocês conseguem criar para nós usarmos. Qualquer grande empresa tem um sistema destes, montado para alimentar o roster principal durante um período de tempo. Sem o desenvolvimento, não há oxigénio suficiente para construir as estrelas que carregam a marca da TNA dos pés à cabeça. O sucesso que hoje a WWE está a sentir com o NXT mostra ainda mais esta visão. A TNA pode fazer exatamente isso, construindo os seus talentos, para que daqui a 5 ou 7 anos tenha uma marca própria, uma identidade própria. Eu não vejo as coisas como se fosse uma empresa vs outra empresa. O mundo é tão grande e há tanto coisa a acontecer e tanto por onde escolher, que se a TNA for capaz de criar a sua marca, a sua identidade, os fãs vão querer assistir e não terão de olhar para a TNA como se fosse uma escolha por oposição a outra organização.”
Sobre as mudanças no roster que podem acontecer:
“Primeiro tenho de dizer que assim que cheguei perguntei se podia trazer novos talentos para a TNA e a resposta foi: Claro que sim, traz quem quiseres e nós iremos avaliar. Por isso vamos ter alguns lutadores que eu escolhi a ter dark matches na TNA já esta semana, o que é fantástico e não poderia pedir mais que uma oportunidade para trazer talentos que eu acho que podem beneficiar o produto televisivo de forma imediata. Quanto ao roster, eu não posso dar a minha opinião sobre alguém sem ser apenas com base na minha opnião e naquilo que vejo e acreditem que há muita coisa a acontecer que nós fãs não vemos e não sabemos. Quando andamos nos bastidores conseguimos falar com as pessoas, vemos se estão motivadas, se estão em forma e eu ainda não tive tempo de fazer essas avaliações. Se eu posso pegar no telefone e dizer que devemos apostar em alguém ou desistir de alguém? Sim, eu posso fazer essa chamada, mas isso não significa que essa pessoa vá desparecer por algo que eu disse. Não tenho esse poder e não construi ainda essa credibilidade, mas penso que posso ajudar desde já. O Jay Bradley, por exemplo, é um tipo com 1,90m, ainda no seu pico de forma, que estava a conseguir ganhar alguma atenção dos fãs e eu estava obviamente atento a isso, e de repente ele desapareceu. Eu nunca peguei no telefone para ligar a ninguém a perguntar o que aconteceu, não sei se ele deixou alguém zangado, não sei mesmo, mas como fã do produto nunca percebi porque razão ele deixou de aparecer quando estava a ficar “over”. Então adorava dar uma nova oportunidade a pessoas como o Jay, que no caso dele eu sei que consigo trabalhar com ele a um nível que outras pessoas não conseguem. Ele é alguém um pouco arrogante, mas não é isso que querem num grande heel? Ele é um grande talento. Na TNA hoje há uma grande preocupação com o produto televisivo, em criar algo de qualidade até por causa do novo acordo com a Destination America e todos estão motivados para fazer boa televisão. Talvez eu possa ajudar, porque estando de fora consigo ver potencial em talentos que para quem está dentro da bolha não consegue ver. No fim do dia, uma coisa é trazer os rapazes que já conheço e que sei que sabem trabalhar, mas outra coisa é trazer aqueles talentos que têm tremendo potencial, que podem criar uma competição saúdavel e que podem ser desenvolvidos para carregar a marca TNA, numa organização construída de baixo para cima.”
Até ao próximo Impacto!
8 Comentários
“O mundo é tão grande e há tanto coisa a acontecer e tanto por onde escolher, que se a TNA for capaz de criar a sua marca, a sua identidade, os fãs vão querer assistir e não terão de olhar para a TNA como se fosse uma escolha por oposição a outra organização.”
Melhor frase dita nessa conference call. Bom trabalho Jorge!
O Billy Corgan mostrou que sabe do que está a falar e se realmente conseguir pôr em prática as ideias que ele transmitiu nesta entrevista seria fantástico para a TNA.
Bom trabalho jorge 😛
Vamos lá ver o que o Billy Corgan vai trazer de novo
Embora sou da opinião dele em relação ao Jay Bradley, e acho que merecia uma nova oportunidade, com uma personagem Heel como tinha antes.
e quem diz o Jay também digo o Crimson (que pensava que ia chegar ao main-event, mas pronto)
Já agora Jorge, quando é que vais fazer os teus artigos (Impacto) com mais regularidade a falar sobre a situação actual da TNA, ou doutras coisas em relação a isso?
Não tenho ainda uma data definida para voltar a escrever o Impacto! com regularidade, por limitações de tempo e também criativas, pois o modelo de artigo tradicional que fazia não me parece que seja produtivo para o próprio WPT nesta fase. Eu estou a tentar pôr em marcha algumas ideias de tornar este espaço mais dinâmico e de consumo rápido.
Ótimo post!
Ótima entrevista.
Bastante pertinente ele referir a forma como o Jay Bradley se evaporou . Eu também não tinha percebido muito bem , e acho que o Billy poderá ser uma mais valia para o produto atual da TNA .
Excelente trabalho Jorge .
Obrigado.