Sejam bem-vindos a uma nova edição de homenagem do Top Ten. É sempre triste perder alguém neste nosso novo ramo favorito. E, sem contarmos, tiram-nos assim uma lenda gigante, das figuras mais importantes de todo o wrestling e ficamos embasbacados, quase sem reacção.
Após todas as emoções, reflexões e aceitação vem a outra parte: a celebração da carreira. E que carreira! Se há alguém a quem dá para prestar facilmente tributo, esse alguém é “Rowdy” Roddy Piper, um dos melhores Superstars de todos os tempos, alguém que controlava a plateia com uma facilidade de invejar, alguém que parecia fazer história a cada mínimo passo que desse.
Resumir uma carreira desta qualidade – que ficou ali com aquela mancha de não ter um título Mundial da WWE – em dez momentos não chega. Mas tenta-se e aqui se destacam dez grandes momentos de uma grande carreira de um grande Superstar.
Nota: Este artigo já estava escrito para ser lançado na semana anterior, em que não houve Top Ten. Um fim-de-semana mais preenchido que o esperado não me permitiu editar este texto praticamente concluído. Daí que venha um pouco fora de hora, mas duvido que um tema destes venha atrasado…
10 – Primórdios de violência
E para começar recuamos uns bons anos quando Piper ainda não era propriamente um veterano e tinha apenas passagens por territórios menores. Mas já tinha o estrelato dentro dele a rebentar e a espalhar-se a cada coisa que fazia. No início da década de 80, andou pela NWA como Face e conseguiu várias rivalidades com imensos nomes de respeito. Uma das feuds mais notáveis foi com o Hall of Famer Greg Valentine, com quem culminou no primeiro Starrcade da história, em 1983. Logo Piper tinha esta tendência a constar nos primeiros grandes eventos anuais e tornar-se um ponto fulcral desse mesmo. Mas não podia culminar de uma forma qualquer e tinham que elevar um pouco a fasquia da violência, especialmente para os parâmetros da primeira metade da década de 80. É verdade que Ric Flair sangrou os três caraças no main event do mesmo PPV, onde venceu o World Heavyweight Championship ao Harley Race mas isso é o Flair a ser Flair. O combate de Piper e Valentine já levava uma estipulação pouco simpática. Um “Dog Collar Match” viu os dois lendários lutadores ligados por uma corrente que se unia, numa coleira, pelo pescoço. Já se esperava que fossem fazer asneiras com aquilo. E fizeram, chegando Valentine a dar um valente estouro na orelha de Piper capaz de lhe estourar um tímpano. Mesmo depois de perder 50 a 75% da audição, Roddy Piper saiu vencedor. Era mole, ele, como sabemos.
9 – E lá vão os Spirit Squad!
Também tem que se inserir alguma coisa mais recente pelo meio para ir ao encontro directo da geração mais recente que não pôde desfrutar dos seus grandes feitos passados no momento. E demonstra que ele ainda consegue grandes momentos anos depois. Avançamos para 2006, na altura em que os cheerleaders masculinos dominavam a divisão tag team. Os Spirit Squad eram Tag Team Champions mas nem tudo era um mar de rosas e iniciavam uma streak de derrotas que começou a causar tensão entre os membros. A coisa piorou quando veio Ric Flair meter-se com eles, que por vezes se fazia acompanhar por lendas. Tornou-se candidato aos títulos no Cyber Sunday, que dava poder de escolha aos fãs. Neste caso, votariam no parceiro de Flair. E o lendário “Hot Rod” bateu Sgt. Slaughter e Dusty Rhodes – paz à sua alma também, ainda nem concluímos o luto por ele – para se tornar o parceiro de Flair contra os Spirit Squad pelos seus títulos. Num momento surpreendente e para “mark out” dos nostálgicos, Flair e Piper saem vencedores desse encontro. Perderiam pouco depois para os Rated RKO mas ficou este momento agradável e emocional a dar um grande momento a Hall of Famers, sem enterrar ninguém – afinal de contas, foram meros Campeões de transição e os Spirit Squad precisavam de se separar, de qualquer forma.
8 – As suas “True Colors”
Voltamos a recuar aos tempos de parceria com a MTV e à “Rock ‘n’ Wrestling Connection” que trouxe Cyndi Lauper aos ringues da WWF. Era um bom pretexto para Roddy Piper armar estrilho. Logo em Madison Square Garden que Piper expôs a sua malvadez ao interromper um segmento com a icónica cantora pop, o apresentador Dick Clark, Captain Lou Albano, com quem Cyndi partilhou muito tempo de antena, chegando ele a participar em vários dos seus mais famosos videoclips, e Hulk Hogan. O “Hot Rod” não devia estar muito bem disposto porque interrompeu e destruiu tudo, partindo um disco de platina na cabeça de Albano, atacando Dick Clark e chegando mesmo ao ponto de atacar Lauper fisicamente, até Hogan salvar a situação – já um pouco tarde. Iniciou uma tremenda feud, das maiores da sua carreira e ficou como um momento memorável de tremendo heat, como muitos Heels gostariam hoje de conseguir ter. O segmento foi reflectido anos mais tarde com Heath Slater, na altura em que este andava a desafiar lendas, e levou logo com a própria Cyndi Lauper que paralelizou o segmento, partindo ela um disco na cabeça de Slater, chegando a cortar-lhe a testa. Piper também participou nesse segmento, agora aliado da cantora de “She Bop” para colocar alguma excelência num segmento muito… estranho. Que por acaso assim ficou.
7 – Wrestlemania III, carecadas e uma reforma falsa
Quando se pensa em personagens afeminadas, pensa-se logo no rei e pioneiro deles todos que era Gorgeous George. Mas vários sucessores se deram e um dos mais notáveis foi Adrian Adonis, cujo segmento em formato “talk show” chamado “The Flower Shop” substituiu o Piper’s Pit durante uma ausência de Piper. Adonis roubou-lhe o tempo de antena e até o guarda-costas, o “Cowboy” Bob Orton. Quando Piper voltou a insultar toda a gente à boa maneira Piper, foi atacado por todos e teve uma surpreendente Face Turn. Destruiu o cenário do talk show e estava o caldo entornado, em direcção a uma limpeza na Wrestlemania III. Tal combate levava duas fortes implicações: a sua estipulação era um “hair vs. hair”. E era um combate de reforma para Piper que pretendia transitar completamente para a carreira de actor. O combate em si… Não foi grande combate, porque mal foi um combate. Foi mais um segmento. Mas foi um segmento divertidíssimo, histórico, a ser recordado em todos os arquivos e que viu Piper sair vencedor com ajuda de Brutus “The Barber” Beefcake. Foi um grande momento entretido e emocional com a reforma de Piper – que, tal como muitas, durou pouco tempo – e a demonstrar como aquele detestável Heel conseguia ser um Face destes com tanta facilidade.
6 – FEEL THE ENERGY!
Se a posição 9 é recente, então o que dizer desta! E achei bastante pertinente incluí-la aqui porque, mesmo sendo uma mera aparição de um Hall of Famer para um segmento no Raw, já muito depois de Piper ter legado feito – bem ele diz nesse segmento que ele “seen it all, done it all” e que tinha joalharia para o provar – este acaba por ser um dos meus segmentos favoritos com esta lendária figura. Principalmente tendo em conta os que pude assistir no meu tempo de vida, sem recorrer a retrospectivas. Num pós-Survivor Series em que Cena se tornou parceiro de The Rock, antes de o enfrentar na Wrestlemania, a sua personagem estava naquele ponto: tinha tudo à sua volta a condicionar-se para mudar de atitude e virar Heel. Pouco depois viria Kane para convencê-lo a “Embrace the hate” – lembram-se disso? – mas antes disso teve muita coisa. Como um Hall of Famer tremendo a encorajá-lo a deitar tudo cá para fora e ajustar contas com os fãs que se opõem a ele. Enquanto Cena recusava tal, Piper recorreu a outras tácticas para o “ajudar”, como uma valente lapada no rosto de fazer eco por todo o mundo do wrestling. O que ainda vende mais este segmento e que, para mim, é o derradeiro momento digno até de citações da minha parte, é aquela expressão facial e a forma como grita “FEEL THE ENERGY!”. Cena devia estar a sentir a energia, nem que fosse daquele estalo, mas continuou com a postura à Cena e não se virou a ninguém. Pena. Mas aquele épico momento já estava feito.
5 – Até fora do ringue
Sim, um grande momento que não aconteceu no wrestling. Errado incluir aqui? Não vejo isso. Na verdade só mostra que Piper tem um legado tão grande que se estende para além do ringue. E que deu cartas no cinema e que até por lá fez história. Todos os grandes filmes são caracterizados por grandes momentos, tantas vezes reproduzidos, imitados, parodiados, enfim. Momentos que definem a obra e que identificam logo: já muitos Marlon Brandos gritaram pela Stella por aí fora, todos nos lembramos de um miúdo que vê pessoas mortas, já se associava um épico tema clássico a macacos a descobrir métodos de luta muito antes de se associar ao Ric Flair e muitos ainda têm paranóias de serem apunhalados no chuveiro. Outra coisa que permanece para sempre são citações. É bem frequente que um filme fique marcado por uma mera fala que também será citada e alterada vezes sem conta por esse mundo do entretenimento fora: sabemos que o Padrinho faz propostas que não se podem recusar, já todos quisemos subir para cima de uma secretária a exclamar “Oh Captain, my captain”, o Samuel L. Jackson não gosta nadinha de ter cobras num avião, ali o melhor amigo do Triple H já bem nos dizia que voltava, associamos a vida a uma caixa de chocolates graças ao Forrest Gump e uma simples palavra como “rosebud” move toda a história do “Citizen Kane” – não fez o mesmo com a carreira do Adam Rose. Mas chega de lições de história da sétima arte. Outra grande citação inesquecível, de definir o cinema de acção vem da boca de Roddy Piper: “I’ve come here to chew bubblegum and kick ass… And I’m all outta bubblegum”. Das históricas. E citada por Piper no filme “They Live” de 1988. Lá está, nem só em ringue Piper tinha frases históricas!
4 – Aquilo para que o povo paga
Aquele segmento com Cyndi Lauper é um passo inicial para uma coisa. Mais para a frente numa posição mais cimeira é um dos pontos culminares dessa mesma coisa. E aqui até destaco tudo o que veio pelo meio, que foi épico. Refiro-me, claro, à rivalidade com Hulk Hogan. Ao que parece, muitas lendas têm algumas das suas melhores rivalidades em Hogan, será que dá mesmo para apagar o gajo da história? Mas não é dele que falo. É de Piper que deu algumas das suas melhores promos neste período. E tocava em pontos bastante pertinentes. Será que o povo adoraria tanto Hogan se não detestasse tanto Piper? Pagariam mais para ver Hogan ou simplesmente para ver alguém a tentar calar e partir a boca ao Hot Rod? Coisas a ter seriamente em conta. E devia incluir isso e muitas mais coisas mas não há por aí algo a compilar todos os épicos momentos com Roddy Piper a mandar bocas a Hogan. Portanto, seleccionei uma única promo curta numa entrevista a Mean Gene. Curta mas com tanta intensidade. Piper já está a perder a cabeça. E Gene até manda alguém verificar a sua pressão sanguínea assim que a promo acaba. Uma lição de como dar uma promo poderosa e intensa. Mas uma lição daquelas de “nunca vais chegar a isto, mas aprende…”
3 – O prestígio do título Intercontinental
Outros tempos. Sabemos que o título Intercontinental é uma preciosidade pela sua história, não pelo seu estatuto recente. E enquanto continua a ser um incómodo que alguém como Piper nunca tenha tido um título Mundial na WWE, pelo menos o Intercontinental não lhe escapou. Pena que foi um reinado curto e único. E que tenha sido tirado ao The Mountie, assim fica a sensação de que tal foi feito porque tinha que ser. Foi no Royal Rumble de 1992 e já na Wrestlemania desse ano, a oitava, tinha um desafio muito grande: Bret Hart. Foi um grande combate, um dos mais notáveis no género e que disparou Bret Hart em direcção ao topo na sua carreira a solo, com Piper a colocá-lo over numa vitória limpa, numa rivalidade de respeito em que muito se batalhava com tentações de quebrar regras para conseguir um atalho até à vitória. Resistiu. Bret Hart venceu e Piper voltou a mostrar todo o seu respeito. Foi um combate após a sua falsa reforma, mas voltou a desaparecer de cena após este encontro. Dada a sua qualidade e emoção, deve ter deixado bastantes saudades.
2 – A inaugural!
O tal culminar. O incidente com Cyndi Lauper partiu de duras críticas de Roddy Piper à colaboração com a MTV para a Rock ‘n’ Wrestling Connection. Tal incidente originou a rivalidade com Hulk Hogan. E tal foi dar ao evento principal de algo grandioso que se iniciava e servia de pontapé-de-saída para a maior tradição anual na história de todo o wrestling. A primeira Wrestlemania! Sim, Hulk Hogan é a figura mais incontornável na década de 80 e o principal rosto da Wrestlemania e da sua concepção e evolução. Mas não o podia ter feito sozinho e não se pode deixar de lado a importância do seu inaugural adversário. Com Mr. T ao seu lado, Hogan enfrentou o seu rival Roddy Piper, que levava Paul Orndorff como parceiro. E saíram vencedores, claro. Mas quão importante foi ter um vilão do calibre de Piper? Já respondo que foi mesmo muito importante.
1 – Piper’s Pit, pai dos talk shows todos
O Miz bem o disse. Não havia MizTV – ou Highlight Reel, ou Cutting Edge ou qualquer outro “talk show” de wrestling – se não houvesse o Piper’s Pit. E disse-o bem. Também não haverá algum igual e nenhum conseguirá reproduzir momentos clássicos como o aqui destacado, que ainda hoje é lembrado como o derradeiro momento na carreira de Roddy Piper, um clássico segmento de múltipla reprodução, que quebrou barreiras e que apresenta o Hot Rod no seu mais puro e representativo estado. Com Jimmy Snuka, já engrandecido como lenda, como seu convidado, Piper tratou-o de mal a pior. Snuka foi mantendo a postura enquanto Piper, linguarudo, só despejava boca atrás de boca, pisando e ultrapassando limites. Culminou com o célebre e famosíssimo côco na cabeça que, não parece algo muito violento ou ameaçador, mas foi mítico. E deu origem a uma grande brawl pelo backstage, numa altura em que ainda não se fazia assim muito disso. Procurem em qualquer tributo ao lendário Hot Rod e vejam lá se falta este marcante momento, que tanto o definiu, que marcou o lugar do Piper’s Pit na história do wrestling.
Dez grandes momentos. São poucos, eu sei, mas tinham que caber aqui. É no que dá ter carreiras como a de Roddy Piper. Nunca será esquecido e que haja algum valor nesta humilde homenagem que lhe é aqui feita. O tributo agora é vosso, para comentarem estes momentos e acrescentarem aqueles que destaquem como vossos favoritos. Com um do calibre destes, sei que poderão haver muitos mais além dos que aqui estão. Na próxima semana já volto com novo tema e até lá, só quero que se portem bem e cá estejam para mais uma. E que se continue a celebrar a grande carreira de Piper. Paz à sua alma e que controlem o stock de pastilha elástica no Céu.
“I don’t need to know how tough I am to know how tough I am!”
6 Comentários
Era um gajo completo, pena mesmo não vencer o titulo mundial.
Excelente artigo. Não sei como é que um wrestler deste valor não foi campeão mundial
Excelente artigo sobre um excelente wrestler. Realmente, apenas um Top Ten para tudo que foi o Hot Rod não basta e, falando nisto, lembro de dois outros grandes momentos de Piper: seu período como manager de Virgil na feud contra Ted DiBiase – escolham qualquer momento do Piper neste período – e toda sua feud contra o BNB – idem ao item anterior -, mas estes são apenas mais dois dos inúmeros momentos do maior Heel e um dos melhores Face de sempre.
Sobre a match contra o Bret Hart, se não me engano, foi uma derrota por pin e foi a primeira derrota desse tipo sofrida pelo Piper na WWE e este já estava na empresa há alguns anos…
Otimo top ten,e acima de tudo grande homenagem ao “Rowdy”
Sugestão um Top Tal Shows
YOU DO NOT THROW ROCKS TO A MAN WHO HAS GOT A MACHINE GUN