Sejam bem-vindos a um novo Top Ten que parece vir com um tema de Halloween fora do tempo. Mas nem é, a culpa disto é de Bray Wyatt que agora anda a armar-se em personagem da década de 80 e a fazer coisas surreais. Nem todos se queixam e nem é caso para isso. Porque não há de haver algum segmento assim de quando em vez?
Já não é a primeira vez que se recorre ao sobrenatural, ao oculto ou simplesmente ao surreal para algum segmento. Varia o tom, mas mantém-se sempre uma boa dose de parvoíce que por vezes até é saudável. Alguns têm a intenção de assustar, outros simplesmente causam o riso porque não há como levar disto a sério. Se o wrestling já é pouco credível, ainda nos vêm dar disto. Mas relembremos alguns segmentos em que algo do além sobe ao ringue. Atenção que há níveis muito diferentes aqui!
10 – Nascido dos mares
Abro com um caso menos conhecido e que nem se chegou a dar numa das principais companhias. Deu-se numa Florida Championship Wrestling, que nada tem a ver com a recentemente conhecida FCW, até porque esse seu nome era apenas uma variação do seu verdadeiro nome “Championship Wrestling from Florida”. E envolvia Kevin Sullivan, que já sabemos que é doido. Por muitos anos que inseriu traços de Satanismo na sua personagem e de vez em quando tinha que aprontar alguma que penda para o surreal de modo a causar algum susto a um miúdo mais sensível e o riso aos restantes. Muito inclinado para a segunda opção no nascimento deste “Purple Haze” – em nada relacionado com o hino de Jimi Hendrix – que consistia em Mark Lewin, lutador pouco recordado hoje em dia apesar dos seus trajectos de sucesso nas décadas de 60 e 70 em companhias como a WCCW. Mas aqui era invocado num ritual Satânico e vinha a caminhar do mar. Ergueu-se o monstro. A sua figura a sair daquela água do mar nocturna devia causar arrepios de medo. A mim deu-me mas foi de frio. Em seguida procede a vestir o seu robe roxinho como se o tivesse encomendado do Simon Dean ou como se tivesse acabado de se juntar ao culto Satanista ao qual adere Bobby Hill num episódio da sétima temporada do King of the Hill – alguém o menciona nos comentários do vídeo e eu por acaso vi o episódio há pouquíssimo tempo. Já é de se levar pouco a sério a introdução de uma nova estrela através de rituais e invocações. Não precisava de ser desta forma ainda por cima.
9 – O Little Jimmy é real!
Pronto, estraguei tudo agora. A pensar que isto ia ser tudo das trevas e agora trago amigos imaginários. Isso não é sobrenatural, só se for a loucura do R-Truth. Mas dou-lhe outro tom, torço a coisa quando lembro aqueles momentos em que partiam para o parvo sem medos: quando os adversários de R-Truth sentiam a presença de Little Jimmy e ele até conseguia interferir. Ou em segmentos no backstage. Nem estou a contar com a vez em que Daniel Bryan o pontapeou para fora do ringue – o que foi hilariante – mas outros momentos que se entendiam por cómicos ao colocar o Lil’ Jimmy da cabeça de R-Truth a parecer real. Com isto só fica a ideia de que ele é uma criatura fantasmagórica. Não assusta, mas olhemos. R-Truth é um homem crescido que passa o seu tempo e anda de mãos dadas com uma criança morta. R-Truth acaba de se tornar a personagem mais assustadora de toda a história da WWE e acaba de merecer a primeira posição neste Top Ten.
8 – Vampiros, sangue e coisas
O Gangrel era um gajo esquisito. Era vampiro e fazia do Edge e do Christian o mesmo. Pena que tenha durado pouco tempo porque se calhar essa brincadeira dos vampiros até rendia mais na década de 90 quando eles ainda eram levados a sério. Tinha vários maneirismos que nada tinham a ver com brilhar ao Sol. Tinha uma fantástica entrada teatral. Mas vampiro qualquer um pode ser. O meu vampiro favorito ainda continua a ser o Nicolas Cage no filme “Vampire’s Kiss” e até na WWE já se tentou um vampiro, que era ele Kevin Thorn. Mas estava implícito que Gangrel também tinha poderes – e o único poder que o Kevin Thorn devia ter era o de não ficar over e de ficar totalmente ofuscado pela sua manager Ariel. Um dos seus principais feitos, durante combates, era o de apagar as luzes e fazer o adversário aparecer coberto de sangue quando as luzes voltavam. Pena que durou pouco e Gangrel lá conseguiu passar pelas companhias todas sem se estabelecer em nenhuma. Eventualmente desistiu das brincadeiras do wrestling e virou-se para a realização de filmes pornográficos. E falo totalmente a sério quando digo isto. É verídico, verifiquem o seu “Miami Rump Shakerz 2″…
7 – O nosso controlador de fogo favorito!
Este já é da casa. Já o conhecemos bem e já o vimos a controlar fogo praticamente todas as semanas. Isso ou vestido de fato a dar goles numa caneca, esse também era assustador. Acuso de mentiroso, a toda a força, quem disser que nunca tentou o gesto em casa na tentativa de acender, pelo menos, um bico do fogão sozinho. São as coisas que o nosso amigo Kane sempre gostou de fazer. Mas lá está, nem tudo é perfeito, e da mesma forma que nós ficamos a olhar para a nossa tentativa sem efeito, até ao próprio Kane isso já aconteceu, estar ali com a teatralidade toda e, ao baixar os braços, um grilo cantar. Os poderes devem-lhe falhar. Mas temos que destacar e recordar-nos de outras situações como o caixote de lixo que ele incendiou numa reunião de terapia com problemas nervosos, aos quais assistiu com Daniel Bryan – bons tempos hilariantes, esses – ou lá alguma vez que ele decidiu ser um exibicionista e começar um espectáculo de fogo e relâmpagos, coordenado por ele no ringue. Ninguém gosta de um exibicionista, Kane. A não ser que ele esteja a colocar coisas a arder, pois…
Nota: E há bem pouco tempo ficámos a saber que também tem o poder de curar lesões nele mesmo.
6 – O comedor de almas
O acontecimento do passado Monday Night Raw que deixou muitos abismados e não propriamente pelas melhores razões. Bray Wyatt é um tipo sinistro, é verdade, mas quando sobem a escala e o tornam um vilão de desenhos animados com poderes maléficos e efeitos visuais e sonoros do mesmo calibre, dificilmente se levará o segmento a sério. Se eu me importei muito? Nem por isso, já olharam bem para este Top Ten? Este foi dos segmentos mais old school que podia haver ultimamente. Recorrendo a relâmpagos mas foi. E tudo porque vem de personagens old school. O já mencionado Kane e Undertaker foram raptados pela Wyatt Family e, parece, ao que diz ele… Ele consumiu-lhes as almas. Um devorador de almas, ele. Ele que continue muito com esses hábitos alimentares e ainda vem o Triple H mandá-lo recuperar forma e despedi-lo. Mas fez a prova dos seus poderes ao fazer trovojar dentro da arena e ao controlar fogo da mesma maneira que Kane já o fez e já foi destacado neste Top Ten. Não sei como ele o fez. Ainda por cima, podia jurar que a alma de Undertaker passou todo o Raw a residir no corpo de Big E. É que nem fui o único a achar isso!
5 – Espelho meu, espelho meu…
Este deve ser o único aqui que me assusta genuinamente. Imaginem que acordam de manhã e, com toda a dificuldade habitual, se dirigem à casa-de-banho. Lá, olham para o espelho. O reflexo já não costuma ser grande coisa, nada melhor que aquele visual de acabar de acordar. Uma Guerra Mundial aconteceu no cabelo e as olheiras são suficientemente visíveis mesmo para olhos que ainda mal abertos estão. Já não é a melhor das imagens. Nisto, olham e têm o Ultimate Warrior à vossa beira no reflexo! Já é um conceito assustador mas ainda mais com a personagem envolvida. Tragam-me vinte-e-cinco Bloody Marys no meu espelho que é preferível ao Ultimate Warrior. Mas tal conto de terror aconteceu na WCW e foi Hulk Hogan a sofrer. Já Warrior andava a exibir os seus poderes pela arena ao aparecer perante Hogan através de um invocado fumo e tem ele que piorar as coisas. Enquanto Hogan está no camarim, com Eric Bischoff, instala-se maior pânico nele do que se fosse encontrada alguma nova gravação secreta sua: vê Ultimate Warrior ao seu lado, no reflexo. E ele não estava lá! Ele insiste que o vê mas Eric Bischoff não vê. É na mente de Hogan… E de toda a plateia e telespectadores que estão a ver, o Bischoff é que deve ser meio parvo. Ou então não é suposto pensar muito nisto. Porra, é o Warrior no espelho, não é suposto pensar sequer!
4 – He’s just trying to do his job
Ah o nosso amigo Josh. Ele só quer fazer o trabalho dele e entrevistar o Brock Lesnar. Acaba a levar porrada. Ele só quer fazer o trabalho dele e entrevistar o Ryback, o Kane, o Alberto Del Rio, o Mark Henry ou até o Dolph Ziggler. Acaba a levar porrada. Ele só quer fazer o trabalho que lhe compete e anuncia a mudança de resultado do atroz combate entre Michael Cole e Jerry Lawler na Wrestlemania. Leva porrada. Só quer fazer o trabalho dele e armar-se em revolucionário no Twitter e mandar bocas ao JR. Todo o mundo lhe quer cair à porrada. Vida de Josh Matthews que nem é assim tão má quando vai para casa ter com a Madison Rayne. Mas em ambiente de trabalho, passava-as negras. A levar porrada ou… A ser possuído. Naquele que ainda é um dos meus segmentos favoritos de todos os tempos, Josh Matthews tenta entrevistar Randy Orton em relação a Undertaker, com quem rivalizava. E é interrompido por… Undertaker que se apodera do seu corpo para falar com Randy Orton e o assustar mais que um saco do lixo para levar lá fora. Não sei se sou só eu, mas antes levar um tabefe ou dois que essa brincadeira de ser possuído. Mas se calhar sou só eu. É mais um exemplo do surreal levado ao extremo apenas para causar riso sem intenção. E, como disse, um dos meus segmentos favoritos de sempre. Mas não do normal tipo de favorito. Tenho muitos repertórios e dou bastante importância ao meu repertório “tão mau que é bom”. Agora Matthews já está livre desse perigo mas encontra-se preso numa diferente dimensão, noutro espaço, noutro tempo, refém do Pope a avaliar potenciais de wrestlers como se fosse no Tinder. Também dava um filme jeitoso.
3 – Toda a celebridade conta!
Sim, a WCW já chegou a bater em todos os tipos de baixos perto do seu fim, quando já tinha feito tanta coisa boa. Já falei de muitos casos geniais aqui por este espaço, mas acho que este não o mencionei. E vem de uma feud entre os irmãos Steiner, o que até pode ter o seu interesse – mesmo que ambos os Steiners estivessem numa versão a 20% daquilo que eles já tinham sido. Entretanto, Rick Steiner começou a ser assombrado por risadas malvadas que poderiam prever a chegada de uma nova estrela ao calibre de um Undertaker. A grande revelação é feita e afinal é… o Chucky. Esse mesmo Chucky, o boneco assombrado e assassino dos filmes de terror que ali a meio da franchise acabou por virar comédia/terror… Estava na WCW. E era um aliado de Scott Steiner contra o irmão. Porquê? Porque lixem-se todas as vossas inteligências, sentidos de gosto e qualquer bom senso que ainda vos reste. Uns anos antes, a WWF achava boa ideia transferir Zeus do próprio filme para rivalizar com Hulk Hogan, através da história do próprio filme. A WCW vai mais longe e vai resgatar personagens já consagradas de outros filmes e inseri-las nas histórias. É Robocop, é Chucky… Vale tudo! Como disse, a franchise dos filmes do Chucky acabou por se virar para a comédia com o tempo e ali o “Seeds of Chucky” já podia estar mais longe de parecer algum filme escrito pelos irmãos Wayans. Mas nunca conseguiram ou conseguirão fazer algo tão hilariante como isto…
2 – Morte e ressurreição
Não é nenhuma referência Pascoal. Até porque nunca fazem nenhuma referência especial à Páscoa. Admitamos, a Páscoa é o Marty Jannety das festividades. Aqui refiro-me mesmo ao gajo cuja gimmick morta-viva já se debruça totalmente sobre o paranormal. O nosso tão adorado Undertaker! Tal como a entrada de Kane, Undertaker precisa apenas da sua presença aqui – excepto se for um “badass” de mota, aí a única coisa sobrenatural que tinha era a barriga de cerveja que andava a desenvolver – mas o melhor seria focar num episódio concreto. Para além daquele ali do nosso amigalhaço Josh. E a este teremos que recuar a uns tempos em que o surrealismo era mais comum. E era giro. Royal Rumble de 1994. Undertaker enfrentava Yokozuna pelo WWF Championship num Casket Match e levava a vantagem psicológica de Yokozuna ter fobia a caixões. Até aí se tinha uma boa história, até. Muito bem contada para a altura que era. Nisto chega ao combate e Yokozuna tem que recorrer a tudo o que fosse Heel no balneário para meter Undertaker no caixão e ganhar o combate. Pronto, o booking desse finish já teve a foleirice mais à altura daqueles tempos. Mas a história não acaba aqui. Assim que empurram o caixão para fora da arena, fumo começa a sair do caixão. Não, não era o Brian Kendrick que estava lá dentro, era Undertaker a fazer das dele. Nisto, o caixão explode – no ecrã mas não na arena porque era mais barato, suponho eu – e Undertaker, no grande ecrã, promete um regresso. A seguir, a visão fantástica de um Undertaker suspenso no ar, enquanto os lutadores olham em espanto, os miúdos olham em terror, os restantes olham com o maior dos gozos. Não se pode criticar muito o segmento de Bray Wyatt quando antigamente gajos matavam-se a eles mesmos através de explosões, prometiam uma ressurreição e ascendiam aos céus. O que vale é que era o Undertaker a fazer disto e nós nele perdoamos de tudo. Numa Royal Rumble tão cheia de eventos em que o Owen Hart “kicked the leg out of Bret Hart’s leg”, Bret Hart e Lex Luger se abraçaram com paixão para partilharem a vitória da Rumble e Bastion Booger achou que a Rumble estava muito bem com apenas 29 homens para nem precisar de aparecer sequer… Há que dar destaque a um momento destes.
Nota: Estes meus textos são escritos conforme o que me vier à cabeça no momento para construir o texto. Logo atirei ali aquele “namedrop” meio aleatório do Marty Jannety no início porque sim, aquilo veio-me à cabeça. Só depois de avançar no texto é que me lembrei do pormenor de que corre ainda o rumor não confirmado de que aquele Undertaker suspenso no ar foi, na verdade, interpretado por Jannety. Eu sabia que devia falar nele para alguma coisa. E devo ser o único gajo na Terra a dizer esta frase que acabei de escrever.
1 – Amaldiçoado!
Imaginariam que a primeira posição fosse para algo de Undertaker, por reinar nisto. E compreende-se. Mas eu queria dar o destaque a um segmento ainda melhor. E com isso quero dizer ainda pior. E recorro a outro grande personagem do fundo do baú dos embaraços que todos adoramos: Papa Shango! Fantástica personagem do início da década de 90, este indivíduo parecia praticar vudu, levava uma caveira a fumegar para o ringue, tinha umas pinturas esquisitas e parecia controlar as luzes. Nem era o melhor: o sacana também conseguia lançar feitiços às pessoas! Logo após uma entrada directa para o main event em que interfere no main event da Wrestlemania VIII entre Hulk Hogan e Sid Vicious, em que ele se atrasa na sua entrada e obriga a mudar o spot final todo – é assim que se causa uma boa impressão! – entra em rivalidade com um dos grandes: Ultimate Warrior! Seria aqui que se formariam clássicos segmentos que comprovavam os poderes de Papa Shango, com Warrior a ser vítima das suas maldições, ao sofrer convulsões, sangrar sem explicação, dizer disparates ao falar em línguas estranhas – mas isso podia ser ele a falar normalmente – ou, a melhor de todas, a vomitar descontroladamente. A coisa era séria. É claro que uma rivalidade que envolva bruxaria e interferência com o sistema digestivo de um indivíduo só pode ter uma grande culminação. E Warrior teve-a, no SummerSlam, pelo WWF Championship contra Randy Savage. Hã? Exacto, não ligaram peva à rivalidade e rapidamente seguiram cada um ao seu caminho. Warrior é um gajo que perdoa rápido até se lhe fizeres alguma bruxariazita ou outra. Pagas-lhe um café e está tudo bem. Não viram o quão rápido ele se reconciliou com a WWE para integrar o Hall of Fame?
E com estes contos de terror bons para umas risadas me retiro. Apesar do tom humorístico sempre presente nestes texto, nunca planeio desrespeitar qualquer coisa aqui feita. Sim, muitos destes segmentos são maus. Muito maus até. Mas também há uma boa dose de entretenimento em alguns e a malta, no fundo, até lhe acha piada. E num mundo já tão surreal como é o do nosso wrestling… Porque não dar mais um passo em frente de vez em quando? O que é que vocês acham deste tipo de fantasia no wrestling? Algo a evitar, a ser mais frequente, a fazer de vez em quando com os tipos certos? Comentem de vossa vontade o assunto, os episódios aqui apresentados e acrescentem mais algum caso de actividade paranormal que não esteja aqui listado. Nem que seja para substituir ali o do Little Jimmy que só está aqui como fantasma “by default”. Cá penso estar na próxima semana, nem que o Papa Shango me dê diarreia e espero que lá estejam para me receber. Até lá, tenham cuidado com os monstros debaixo da cama, dentro do armário, suspensos no ar ou a sair da água quando forem à praia. E cuidado com as possessões!
4 Comentários
Bom Top Ten.
Devo ser o único que adorou o seguimento do Bray.
Bom TOp Ten.
Está um bom top ten, mas acho que se podia ter incluído o Mil Muertes e essa malta toda.
Otimo top ten
parabéns