Sejam bem-vindos a um novo Top Ten que chega numa altura em que já passou o seu tempo mas ainda se sentem as vibrações. Muita maluqueira que aconteceu naquele Hell in a Cell. E muita dessa loucura residiu no seu fecho, que não foi à volta do Universal Championship – que também foi impecável – mas sim à volta do Women’s Championship. História a ser feita.
Enquanto Charlotte e Sasha Banks fizeram história naquele Hell in a Cell, algo exclusivo, fazendo coisas que muitos – mais lá do lado deles do que cá do nosso – não achavam que elas conseguiam, achei que até dava jeito para listar alguns acontecimentos, não por ordem cronológica mas de importância de um ponto de vista subjectivo, que se considerem de grande valor na história do wrestling feminino ali para os lados conturbados da WWE.
10 – Lita vs Victoria, Steel Cage, 2003
Um Top destes é o ideal para destacar alguns primeiros acontecimentos. E os primeiros acontecimentos tendem a ser aquelas coisas mais perigosas, aquelas que o machão gosta de empurrar a sua protegida para trás e dizer para não ir porque é muito perigoso, mesmo que ela tenha um par maior que ele. É possível. Em 2003, em Las Vegas, lá veio a ideia já várias vezes resgatada do “Raw Roulette” que definia os tipos de combate. Para parecer mais espontâneo podiam calhar combates mais doidos a alguém que não se esperasse, como… Trancar Lita e Victoria dentro de uma jaula para originar o primeiro combate “Steel Cage” feminino! Não foi nenhum espectáculo no qual muito se esmeraram para roubar o show, como foi o Hell in a Cell, e até acabou por meter o Matt Hardy – achou que alguém precisava de uma “DELETION!” – mas sabemos que não iam fazer isto com a Stacy Keibler e a Sable, tinham as mulheres certas…
9 – O incidente de Alundra Blayze
Ligado a outro acontecimento importante. Após um longo período de inactividade, em 1993 resgatam o WWF Women’s Championship e um torneio é feito para coroar a nova Campeã. Alundra Blayze, recém-chegada, vence o torneio e torna-se a primeira Women’s Champion em anos. Não teve muito sossego e vários obstáculos lhe apareceram à frente. Perdeu o título por várias vezes e chegava a 1995 como tri-campeã. Foi nesse terceiro reinado que lhe chegou outra coisa: uma proposta de contrato da WCW. Em 1995 isso era quase irrecusável. Blayze abandonou a WWF, saltou para a WCW e… Levou o cinto consigo. Para fazer asneiras. A pedido de Eric Bischoff, como mais uma facada nas Monday Night Wars, Blayze/Madusa leva o cinto da WWF consigo e atira-o ao caixote do lixo em TV. Arrepende-se e diz que nunca o faria se não fosse por forte persuasão de Bischoff e até pode ser visto como um golpe baixo em todo o wrestling feminino da WWE, com o atirar do cinto ao lixo. Mas também pode ser visto como a maior participação da divisão feminina nas tão infames “Monday Night Wars”…
8 – Chyna, Royal Rumble 1999
Muitos acontecimentos históricos tinham que ser feitos às mãos de Chyna. Mãos essas que eram fortes suficientes para isso. Mais ainda. Não pertenciam propriamente aos braços mais delicados e femininos. O que só lhe serviu de vantagem para fazer história por tantas vezes, dada a sua facilidade. Esta futura Hall of Famer, assim esperamos já que lhe recuperaram aquele bom e velho respeito póstumo, surpreendeu muitos com a não-surpresa que era a sua entrada na Royal Rumble. Sim, normalmente é um combate de 30 “homens”, categoria à qual, por norma, não pertencia. Mas não era assim tão específico. E é facílimo imaginá-la a atirar muitos corpos masculinos e pesados por cima da corda superior. Nada por aí além. Mas foi por aí além. Chyna tornou-se a primeira mulher a entrar na Royal Rumble, acontecimento ainda raro mas já não exclusivo, com a ex-Campeã a abrir portas para entradas de Beth Phoenix ou Kharma – que também se adequam – no mesmo combate para proezas semelhantes.
7 – Sasha Banks vs Bayley
Não distingo qual dos dois encontros intencionalmente. Houve um no NXT Takeover: Brooklyn, no qual Bayley venceu e tirou o título a Sasha Banks e outro no NXT Takeover: Respect, num “Iron Man” de 30 minutos – um “Iron Woman”, gente – como rematch, em que Bayley reteve o seu título. Não distingo e incluo ambos porque não é fácil decidir qual dos dois foi o melhor e é isso mesmo que aqui se deve destacar. Qual teria sido a última vez que um combate feminino, na WWE ainda para mais, tinha sido considerado para combate do ano. Quanto mais, dois! No meio disso, ainda o tal primeiro “Iron Man” – “Woman”, caraças! – que lhes dá mais uma estreia e logo uma arriscada – confiar 30 minutos de combate intenso a duas jovens. Que souberam aproveitá-los bem. Que as duas batalhas batalhem entre si para decidir qual a melhor e qual o tal combate do ano. Já no NXT se notava, com variados encontros protagonizados por nomes como Paige, Emma, Charlotte, Natalya, Becky Lynch ou estas duas meninas, que coisas estavam a mudar. Aqui só nos deram certezas.
6 – Women’s Revolution, Julho 2015
Acontecimentos muito próximos. E até é daquelas coisas às quais a Stephanie McMahon gosta de se afiambrar e sugar todo o crédito para ela. Mas foi um grande momento que aconteceu em Julho de 2015, quando Stephanie anunciou uma “Women’s Revolution”, tratando-a por esse mesmo nome. Com esse anúncio vieram mais três grandes anúncios: três novas aquisições que o plantel principal tinha o privilégio de pescar ao NXT: Sasha Banks, Becky Lynch e Charlotte, já aqui mencionadas. Charlotte e Becky juntaram-se a Paige para formar as “Team PCB”, Sasha juntou-se a Naomi e Tamina nas “Team B.A.D.”, ficando a “Team Bella” com as Bellas e Alicia Fox. Esta formação de equipas, novas entradas, novos talentos e fome de marcar a diferença deu origem ao início da tal “revolução” que viria a colocar a divisão feminina numa merecida divisão privilegiada. Enquanto existiram estas equipas, a coisa não foi muito bem bookada, é verdade. Mas foi o início. Mais tarde viriam os grandes combates, os conflitos pessoais, a abolição do termo “Diva” e substituição do mal-amado “Divas Championship” pelo mais respeitado “Women’s Championship” actual, um combate de Wrestlemania de respeito e por aí fora. Mais tarde até podiam vir a encabeçar algum PPV com algum combate muito especial, quem sabe…
5 – Wendi Richter vs Leilani Kai, Wrestlemania I
Primeiro combate feminino na Wrestlemania. Ter sido mesmo na primeira Wrestlemania não o desvaloriza, até é bom sinal que já tenham marcado presença logo mal se inaugurou este palco que ainda não foi superado. Até foi vendido como um dos três “main events” do espectáculo. Como parte da conexão “Rock n’ Wresling” da década de 80, Cyndi Lauper levava a sua extravagância para além dos palcos e dos videoclips, até aos ringues de wrestling, acompanhando Wendi Richter num árduo combate pelo WWF Women’s Championship de Leilani Kai, acompanhada pela lendária Fabulous Moolah. Mas como nem sempre “Girls Just Want to Have Fun”, as coisas ficam sérias e intensas e Lauper até tem que interferir e mostrar as suas “True Colors” – é, estou mesmo a ir por aí, sem vergonha. O combate foi um “feel good moment” de Wrestlemania, com a vitória a sorrir a Wendi Richter, que se tornava Campeã no primeiro combate feminino da Wrestlemania, onde até teve muito boa exposição. A única coisa parecida a uma oposição que eu tenha é a de haver uma ala de celebridades no Hall of Fame com Snoop Dogg, Drew Carey ou até mesmo – nossa! – Donald Trump e uma das que mais sentido fazia, Cyndi Lauper, está fora desse Hall of Fame. Como se não fosse suficiente estar fora do “Rock and Roll Hall of Fame”. Está tudo contra a menina da “She Bop” e da “Time After Time”!
4 – Chyna vs Jeff Jarrett, No Mercy 1999
Sim, Chyna é de aparecer aqui várias vezes por fazer coisas que não eram, teoricamente, para ela. A falta de alguma “delicadeza feminina” talvez a tenha ajudado, mas ela ainda estava lá para ser influente para toda a divisão feminina – mesmo que, por trás da cortina, ela a desvalorizasse um pouco e quisesse ficar fixa a competir entre homens. O feito histórico aqui destacado remonta a uma rivalidade com Jeff Jarrett quando este era Campeão Intercontinental. Antes disso, já Chyna se tinha tornado a primeira competidora feminina no torneio “King of the Ring” e a primeira competidora candidata ao WWF Championship. Agarrou a chance pelo título Intercontinental de Jarrett e este subestimou o seu género, desafiando-a para um combate “Good Housekeeping”, combate jocoso e machista com um ringue rodeado de objectos mundanos da lida da casa. Como quem diz que é o que ela devia andar a fazer. Má sorte para Jarrett que comeu a própria guitarra e perdeu o seu título. Chyna tornou-se a primeira e única Campeã Intercontinental na história. Feito que, de facto, talvez não desse para atribuir a qualquer uma.
3 – Lita vs Trish Stratus, Raw 2004
Momento histórico e habitualmente dos primeiros a vir à baila quando se fala em momentos históricos no wrestling feminino. Já utilizado como comparação, quando algo de grandioso e pioneiro acontece. Ao que se recorria com nostalgia, nos dias mais negros da “divisão de Divas”, para sublinhar uma queda. Aquela vez no Monday Night Raw, em finais do ano de 2004, em que o fecho não ficou ao cargo do World Heavyweight Championship, de Triple H, dos Evolution ou de qualquer estrela de mais alto calibre. Foi Trish Stratus a defender o título contra a sua rival-de-todos-os-tempos, Lita. Num combate que mereceu aquele lugar, em TV ou em PPV. Lita venceu o combate e o título. Todo o balneário feminino venceu com aquilo. Podia ser o derradeiro passo para o Women’s Championship e para a divisão que competia por ele mas, infelizmente, coisas aconteceram e, anos mais tarde, viria a encontrar a sua pior fase até encontrar novos raios de esperança em estrelas endossadas por estas duas Mulheres de M maiúsculo…
2 – Sasha Banks vs Charlotte, Hell in a Cell 2016
O acontecimento recente que ainda causa falatório. Numa altura em que o Hell in a Cell parece ter perdido aquela força de culminar de uma violenta feud pessoal e banalizou-se como um mero combate anual num PPV temático, este ano captaram mais interesse com um. No meio de três, havia um com uma promoção especial pelo simples factor: primeiro Hell in a Cell entre competidoras femininas, com Sasha Banks e Charlotte a disputar o Women’s Championship do Raw. Venderam o factor histórico e concretizaram-no. Debatido mas ainda considerado como combate da noite, vimos as duas jovens a submeter-se a algumas loucuras a que muitos espectadores – pelo menos os exclusivos à WWE – não esperavam vê-las a fazer. Enquanto uns apontam falhas, outros apreciaram bastante o combate e aceitam o bom que nos queriam vender: história a ser feita. E foi agora mesmo!
1 – 13-Woman Battle Royal, NWA Women’s World Championship, 1956
E que tal? Só uns sessenta anitos de diferença desta posição para a segunda. No entanto não é fácil destacar um certo e determinado momento, em termos temporais, para destacar como o derradeiro. Mas lá tento dar a volta para dar ênfase. Fabulous Moolah venceu uma Battle Royal de 13 mulheres para vencer o NWA Women’s Championship em 1956. Mas não foi a Campeã inaugural. Essa foi Mildred Burke em 1935, que manteve o título durante quase vinte anos. Pronto, enorme e digno de primeira posição mas neste tempo a (W)WWF/E ainda nem um projecto era e é nessa companhia que tantos altos e baixos tem na competição feminina que me quero focar. É aí que avançamos para a Battle Royal de 1956 vencida por Fabulous Moolah. É a que consideram a inaugural vitória pelo primeiro WWF Women’s Championship, até hoje ainda assim reconhecido. Moolah perdeu e venceu o título por várias vezes até ser contratada pela WWF e vender-lhes o cinto sobre o qual tinha direito – o cinto feminino da NWA acabaria por voltar de novo ao activo anos depois – mas nenhuma dessas mudanças de título é reconhecida pela WWF. Em vez disso é reconhecido um reinado contínuo e ininterrupto de Moolah desde 1956 até 1984, quando o perdeu para Wendi Richter. Fica quase tão longo como o de Burke mas mais aldrabado. Confuso? Culpem-nos a eles e às suas manipulações históricas. O que aqui quero destacar nesta primeira posição: a inaugural Women’s Champion. O momento em que se pode dizer que começou tudo.
E é com estes momentos que fecho mais um Top Ten voltado para a história que espero que seja do agrado. Sei que falhei muitos enormes momentos do wrestling feminino como o primeiro Bra & Panties, a introdução de Santina Marella, o Strip Poker da ECW, a 3ª temporada do NXT no seu antigo formato, ou os segmentos da rivalidade recente entre as Bellas. Sei que também fizeram muito para enaltecer as maravilhas do wrestling feminino mas perdoem-me a sua exclusão. Espero então que tenham apreciado a lista, que a queiram comentar, estes episódios, os que conhecem, a importância que lhes consideram, outros que achem que deviam cá estar mas que acabaram por falhar por cerca de 75% do artigo ser feito por mera memória e conhecimento pessoal. Muita conversa que despejo para aqui. Isto agora é vosso, até mesmo daqueles que lamentam que isto não liste as maroteiras que outrora eram associadas às meninas em ringue. Tirem lá a mente do esgoto e apreciem disto que é bem bom. Lá vos volto a ver na próxima semana. Marquem presença que eu também pretendo não falhar. Portem-se bem!
5 Comentários
Chris JRM, está de parabéns excelente artigo, a divisão feminina evoluiu bastante e pode melhorar ainda mais.
Só acho que as pessoas não dão o devido valor para The Fabulous Moolah, enfim….
Grande artigo! Apenas senti falta do combate triplo na Wrestlemania deste ano. Se a divisão feminina continuar a evoluir dessa maneira dentro de um ano já terá vários outro momentos icônicos para ser adicionados a esse top 10.
Excelente artigo!
Outro grande artigo, com um grande tema!
Creio que a TTM na WM é mais representativo da revolução das divas do que o seguimento inaugural, a bem da verdade.
Excelente artigo (: