No Wrestling, a aprendizagem nunca pára: todos os dias (e em todos os combates) aprendemos algo novo. No entanto, acredito que pelo caminho encontramos aquele momento em que nos sentimos preparados para tudo. Aquela altura em que percebemos que já só está nas nossas mãos trabalhar a sabedoria e o talento que temos e fazer o melhor possível com esse potencial.

Quando terminei a minha licenciatura na universidade, disseram-me que a partir de agora tinha “licença para” exercer a profissão- que a verdadeira aprendizagem ainda estaria para vir, mas que teria as ferramentas necessárias para começar.

Na altura, depois de devorar tantos livros de Marketing, essa expressão não fez muito sentido, mas passado um tempo percebi (graças ao Wrestling) o que isso significa. As verdadeiras aprendizagens aparecem depois, mas as bases, a inspiração e a direcção, essas ganhamos na escola. Como qualquer outra escola, a academia do WP também tem a sua licenciatura: quem a obtém, passa a ser designado por “graduado WP”.

Bammer: “O Graduado WP”

Esta é a distinção máxima que um aluno da Academia pode obter

Ao contrário de uma licenciatura, treinar Wrestling não requer 3, 4 ou 5 anos da tua vida. Em pouco tempo consegue-se ter uma ideia do que serás capaz se mostrares empenho e marcares presença em todos os treinos. Como disse anteriormente, o progresso de cada aluno é muito variável, portanto nunca há promessas de prazos até te tornares aquilo que eu considero um graduado WP. Alguns conseguiram em poucos meses, outros demoraram um par de anos.

Como é natural, nem todos os que andaram por Queluz são aquilo que considero graduados WP- a grande maioria não atingiu esse nível. Pelo WP devem ter passado pelas minhas mãos mais de 50 alunos e alguns acham que apenas por ter respirado o ar de Queluz ou aprendido um hammerlock na primeira aula ficaram automaticamente com o mesmo “selo de qualidade” que alguns dos lutadores do WrestlingPortugal possuem. Por outro lado, também há pessoas que estiveram na academia durante vários anos, de forma intermitente, que nunca conseguiram chegar lá.

Assim sendo, quais são os critérios? Porque é que uns alcançaram esse estatuto e outros não?

Vamos então aos factores críticos para atingir esse estatuto. Se és um graduado WP, é porque…

#1: Respeitas os teus colegas e o Wrestling

Já mencionei a importância do respeito no Wrestling em posts anteriores e se há requisito fundamental, é provavelmente este. Uma boa atitude leva-te muito longe neste mundo e o respeito deve ser parte integral da tua conduta. O Wrestling está cheio de gente que acha que é especial, que pensa que pode ter as coisas à sua maneira e que põe o seu ego à frente da companhia ou do Wrestling em geral- essas pessoas infelizmente só desaparecem passado um tempo, quando as coisas se complicam. Até lá, vão inundar professores e colegas com “sim, mas…”, vão querer mais destaque em cima deles mesmo sem estarem preparados para tal e vão atrasar toda a gente ao não prestarem atenção ao que lhes é dito.

Quando dava aulas todos os sábados, eram os graduados a ouvir-me com mais atenção (apesar de estarem a receber a mesma informação pela 10ª vez) e não os recém-chegados. São os graduados que demonstram semanalmente vontade em montar o ringue, preparar os colchões e conduzir o aquecimento, mesmo se essas tarefas já não apresentam qualquer desafio para eles. Os outros geralmente chegam tarde e procuram fugir à responsabilidade, o que aos olhos de todos os outros se traduz em “falta de respeito”.

#2: Tens um enorme coração

Aqui não me refiro a seres uma pessoa excepcionalmente bondosa. Ter coração é ter uma grande tolerância ao fracasso, à vontade de desistir quando a coisa se complica. Que fique claro, a vontade de desistir está presente com frequência; muitas vezes pensamos em parar de fazer algo, seja aparecer nos treinos, terminar um conjunto de flexões ou sair de um combate a meio devido a lesão.

Os graduados WP já foram testados por mim em inúmeras situações- já foram “tratados que nem lixo” de todas as maneiras e mais algumas… e continuaram lá. Já tiveram treinos-surpresa de 5 horas envolvendo apenas preparação física, já passaram horas a trocar chops, já tiveram treinos inteiros apenas de promos e já estiveram no ringue agarrados ao braço, à perna ou à barriga. Já fizeram muitas viagens à casa-de-banho e já foram para casa muita vez bem depois da hora do jantar – e nunca desistiram.

#3: Já encontraste “o teu lugar no Wrestling”

Dediquei um post inteiro a esta questão há umas semanas atrás, portanto em resumo: se és original, se trabalhas constantemente o teu look, personalidade e qualidade no ringue e se entendes verdadeiramente o negócio, sem dúvida que te qualificas neste departamento.

#4: Estás sempre disposto a “pagar as dívidas”

No Wrestling nunca chegas ao ponto em que tudo acontece por ti. Há sempre todo o tipo de situações fora do ringue que surgem e que temos de tratar. São tarefas que frequentemente fogem à job description de uma pessoa contratada para descer uma rampa, ter um combate de Wrestling, dar espectáculo e voltar para dentro. O Wrestling é muito mais do que isso e toda a diferença que possas fazer fora do ringue é apreciada e valorizada- seja carregar tábuas, conduzir uma carrinha o dia inteiro ou distribuir flyers à porta de supermercados.

#5: Dominas perfeitamente as bases do Wrestling

Todos os graduados passaram por um período em que tiveram de transmitir alguns ensinamentos para recém-chegados à academia. Às vezes, a melhor forma de entendermos manobras fundamentais é explicá-las a alguém, visto que temos de ser bons a decompô-las e observar rapidamente os erros feitos pelos iniciados.

Quando um novato aparece, é frequente um aluno mais experiente ensinar alguns movimentos mais básicos, como as quedas, os lock-ups ou os bodyslams– os graduados mais capazes foram evoluindo ao ponto de se tornarem professores por trazerem tanto valor acrescentado à academia. Mesmo que não utilizassem com frequência todas as manobras de Wrestling ou cortassem promos incríveis diariamente, todos os graduados tinham de saber toda a teoria e toda a prática visto que poderiam ser chamados para ajudar os mais novos a qualquer momento.

Os graduados WP estão em condições de trabalhar com qualquer wrestler, fale ele ou não a mesma língua. É um pouco diferente do cenário de muitas escolas de Wrestling espalhadas pelo mundo, em que apenas conseguem trabalhar entre eles por terem um código muito específico.

Bammer: “O Graduado WP”

A massa cinzenta é a única massa que tens realmente de trabalhar

Todos diferentes, todos iguais

Como viste, nesta lista não estão critérios como “seres um super-atleta” ou “conseguires fazer combates de 1 hora”. Sem dúvida que há graduados que falam muito bem ao microfone, há alguns que conseguem fazer dezenas e dezenas de flexões, há aqueles que são capazes das manobras mais incríveis, mas no fim… têm todos de partilhar “apenas” aquelas 5 máximas para obter o estatuto.

Se observares com atenção, 4 dos 5 critérios são essencialmente aspectos mentais- o que mostra que de facto é essa a principal parte que deve ser trabalhada, ao contrário dos aspectos físico que são, para a grande maioria, a parte fácil. É preciso inteligência aplicada ao Wrestling, algo que é difícil de ensinar e que só alguns conseguem captar.

Já o disse antes e volto a dizer: por muito que te possam ensinar numa academia, a “milha extra” terá de partir de ti. Na academia do WP podia ter um aluno com o triplo de horas de treino face a outro e tal não impedia que o aluno mais recente se tornasse um graduado mais cedo.

Bammer: “O Graduado WP”

Nada é impossível, desde que dês o litro

O caminho para a Geração de Ouro

Cada escola de Wrestling tem a sua própria cultura e identidade- no início do WP persistia uma dúvida: criar 10 bons lutadores ou ter 50 pessoas todas as semanas a dar saltos? Ser algo de nicho ou tentar agradar a todos? Sempre fui adepto da primeira opção e foi esse o caminho que se seguiu. As pessoas que estavam ali constantemente a perder o seu tempo (e o dos restantes) acabavam por não durar muito e é por esse motivo que esta academia conseguiu criar uma geração repleta de tanto talento a nível nacional.

Se formos a um “ginásio do ferro”, vemos as mesmas caras diariamente- poucas pessoas, que treinam contudo com grande motivação, obtêm resultados e mostram que não têm tempo a perder. No entanto, se nos deslocarmos até um ginásio mais popular, arriscamo-nos a ter 10x mais pessoas, com uma percentagem grande de membros a passear pela passadeira, sentados nos bancos ao telemóvel ou à conversa ao pé dos pesos.

Essas são as mesmas pessoas que daqui a 2 meses já não estão no ginásio (porque não é para elas) mas que entretanto roubaram tempo àqueles que realmente queriam dar o litro durante aqueles 60 minutos. Não esquecer que nesses 2 meses essas pessoas saíram, mas entretanto chegaram outras que fazem exactamente o mesmo, pelo que é um ciclo que nunca pára.

No WP, a intenção foi sempre criar “um ginásio do ferro” aplicado ao Wrestling, com os belíssimos resultados que são conhecidos.

E é tudo por esta semana. Fico a aguardar, como sempre, os vossos comentários, tweets e mensagens!

12 Comentários

  1. THFGPEREIRA11 anos

    Gosto muito dos teus artigos são diferentes e enriquecem o site.
    Vou me inscrever no WP no início de 2014 e estou ansioso.

    • Bruno "Bammer" Brito11 anos

      Obrigado pelas palavras e força nisso, espero que os artigos ajudem e inspirem! 🙂

  2. Miguel Costa11 anos

    Grande artigo que já faz parte do meu dia-a-dia de 6ª.

    Gostaria apenas de perguntar uma curiosidade que é como “inventaste” o nome “Bammer”?

    • Bruno "Bammer" Brito11 anos

      Obrigado por leres 😉
      Vem de Bam Bam. Na altura do Bam Bam Bigelow (um dos meus powerhouses preferidos) lia por vezes reports em que o chamavam de “The Bammer” e gostei do som e do nome, associei a algo com impacto tipo *BAM*. Não esperava que fosse um nome “para ficar” mas a verdade é que já é associado a mim há uns 15 anos 😉

      • Miguel Costa11 anos

        Obrigado pela resposta e se estou correcto o finisher dele era a diving headbutt (algo que utilizas), por influência de Bigelow?

        • Bruno "Bammer" Brito11 anos

          Sim era um dos finishers dele (o outro era o “Greetings from Asbury Park”). A Headbutt era uma manobra que muitos wrestlers que eu gostava utilizavam (Benoit, Bigelow, Owen Hart, Jushin Lyger…) e foi uma manobra que sempre quis ter no meu arsenal como tributo a eles.

  3. Conspo11 anos

    Bom artigo Bammer.
    Queria perguntar-te como escolheste o teu finisher e o seu nome,a Bammer Bomb.

    • Bruno "Bammer" Brito11 anos

      Obrigado por leres 🙂
      Foi inspirado na running Lyger Bomb do Jushin Lyger (quando comecei o que via mais era os Jrs da NJPW dos mid-90s) mas depois deixei de a fazer em corrida.
      Ao início tinha a mania de meter “Bammer” à frente dos golpes (Bammerline, Bammerplex, etc) mas só o BammerBomb é que ficou.

  4. Jessie11 anos

    Alguém de bom coração que abra uma academia de wrestling aqui ,sempre quis saber ate onde iria neste ramo , quem sabe um dia essa oportunidade surja ..

    • Bruno "Bammer" Brito11 anos

      Mais facilmente vais tu ter com eles, do que eles todos contigo…

  5. Maybeornot11 anos

    Boas… Uns amigos já me propuseram imensas vezes ir treinar com eles para a Academia do CTW. Mas o meu físico é um pouco frágil, mal chego ás 10 flexões e isso complica um pouco as coisas. Achas que deva fazer uma experiência e ver no que dá?

    • Bruno "Bammer" Brito11 anos

      Acho que experimentar não faz mal a ninguém e, como podes ver segundo os artigos, a parte mental é a parte verdadeiramente complicada do Wrestling.