Boas a todos nesta grande casa que é o Wrestling PT!

O WWE Royal Rumble 2014 marcou a última presença de CM Punk enquanto lutador ativo num ringue de wrestling. Depois de vários anos a ter que lidar com desilusões pessoais pela forma como era tratado, quer ao nível de booking, quer ao nível da proteção que achava que não tinha a nível físico, nesse fatídico dia que também viu a WWE a puxar para baixo a estrela mais over do wrestling no momento, Daniel Bryan, CM Punk aceitou que não aguentava mais ter que lidar com todo este jogo mental e decidiu vir embora e não aparecer mais naquele que tinha sido o seu local de trabalho durante quase 10 anos.

Se estava certo ou errado em tudo aquilo que veio a referir, acho que nunca ninguém poderá ter totalmente a certeza, a não ser o próprio e as pessoas com que lidava diariamente na WWE. Mas o que é certo, no entanto, é que podíamos entender sempre das palavras do Punk nos últimos 7 anos que o mesmo, outrora não apenas um lutador enorme por seu direito, talento e trabalho, mas também um dos lutadores que mais sentia o wrestling, que mais o respeitava e o amava antes de tudo enquanto fã, se havia tornado apenas em mais um empregado de uma máquina, controlado a todos os níveis, vendo o seu amor pela modalidade pela qual sempre foi apaixonado se desvanecer a pouco e pouco até ao ponto em que nem mesmo a presença dentro de um ringue lhe dava alento para querer continuar a fazer o que mais gostava.

E, pessoalmente, foi algo que sempre admirei no Punk, isto é, o facto de colocar em primeiro lugar a sua saúde física e mental acima de qualquer dinheiro ou fama, e não acabar a fazer algo por fazer, sem empenho, dedicação e alegria, e, principalmente, o facto de recusar ser parte de uma máquina que vê toda a gente como igual, toda a gente enquanto peças nas quais se pode mexer consoante a vontade do momento, tenha ou não razão em todas as suas pretensões, o que como disse, será sempre difícil de avaliar.

Brain Buster #120 - Palavras sinceras e reais

Num mundo da WWE em que cada vez mais os lutadores não conseguem dizer “não” a nada, não conseguem traçar o seu próprio destino, protegerem-se a si mesmos, e, acima de tudo, serem um nome relativamente grande e independentemente da promotora em que trabalham, serem uma personalidade real, admiro esta forma de estar do CM Punk, assim como admiro a forma de estar de WALTER, por exemplo, lutadores que trabalham segundo os seus termos, que não são parte da máquina e que têm coragem de recusar aquilo que consideram não lhes ser benéfico. Mais lutadores deveriam ser assim, e não, como já assim adjetivei, “marks de si mesmos”, felizes por estar na empresa apenas por estar, sem qualquer ideia ou objetivo para si na indústria, que fazem exatamente o que lhes dizem e lhes pedem, e que mesmo que no final acabem totalmente descredibilizados ou arruinados enquanto lutadores ainda conseguem dizer “obrigado por me permitirem cumprir o meu sonho”.

Os lutadores não eram assim, nem dentro, nem fora da WWE nos anos 60, 70, 80, 90 e até no início dos anos 2000. Wrestlers sempre se apresentaram como trabalhadores independentes com nome próprio em relação à fed em que trabalhavam, e cabia depois a cada promotora conseguir falar com eles e conseguir booká-los da melhor forma possível para si, de acordo com as exigências de cada wrestler. Os fãs querem ver personalidades reais, personalidades fortes e enormes para além da promotora para a qual trabalhem. Os lutadores sempre foram e sempre deveriam ser o foco principal do wrestling, e não a promotora, não o dono da promotora e não as equipas criativas. Deveriam ser ss lutadores e apenas os lutadores.

CM Punk manteve ao máximo esta filosofia e é por isso que eu, nem sendo propriamente o seu maior fã enquanto lutador, embora reconheça enormíssimas qualidades e o coloque facilmente como um dos melhores dos últimos 20 anos, o respeito enquanto lutador, enquanto uma grande personalidade do mundo do wrestling, talvez a mais real dos últimos anos. Por todas estas ideias, é muito mais fácil gostar das suas promos, adorar as suas palavras, senti-las e acreditar nelas, e não pensar que é apenas mais um a tentar ser algo que não é.

Ora, CM Punk regressou na última sexta-feira no programa da AEW, o Rampage, após 7 longos anos em que os fãs esperaram, muitos até não quiserem esperar, muitos até se desiludiram pelo caminho quando perceberam que tal regresso poderia nunca acontecer, mas em que ninguém deixou de gostar do Punk ou de pelo menos o respeitar. 7 longos anos para chegar a uma promotora nova, num evento do seu Estado de origem, sem saber o que dizer e longe deste tipo de holofotes à bastante tempo, e mesmo assim o Punk entregou uma das promos com maior significado e, acima de tudo, com palavras reais que saíram do coração de um homem que voltou a fazer aquilo que sempre gostou. O público veio abaixo só de ouvir a sua música, o público adorou as suas palavras, sentiu-as e muitos até se emocionaram com o que o mesmo disse.

Brain Buster #120 - Palavras sinceras e reais

O próprio parecia estar a viver um momento que certamente imaginou variadíssimas vezes na sua cabeça durante 7 anos, notava-se que não tinha completa certeza que o que estava a viver era mesmo real, que até nem esperava tanto apoio passado tanto tempo. Mas ainda maior do que isso foi quando pegou no microfone, em que disse tudo aquilo que ficou por dizer durante muito tempo, desde o que sentiu quando deixou a ROH, falou do seu estado físico e mental durante os complicados anos de WWE e ainda conseguiu fazer a ponte para o futuro, justificando o porquê de ter vindo para a AEW, para enfrentar todos aqueles jovens que têm uma paixão e uma perspetiva nova para o pro-wrestling, tal como ele tinha à 16 anos atrás quando deixou a ROH. Em muitas palavras se notava o Punk menos tenso, mas confiante em si e agradado com a sua pessoa, tivemos um ser humano perante nós a dizer o que lhe vinha na alma, criando empatia até com aqueles mais desconfiados do seu regresso. É verdade que talvez demasiadas vezes referiu-se ao “outro lugar” (WWE), mas em nada tais declarações beliscaram um belíssimo discurso.

E dizer também que é por momentos destes que precisamos de uma AEW forte, como já tive a oportunidade de escrever aqui no Brain Buster, precisamos de uma promotora que possa ser um lugar onde os wrestlers tenham a liberdade para serem eles mesmos, que é feito por fãs de wrestling e para fãs de wrestling, e mesmo que seja verdade que por vezes vão demasiado longe em vários aspetos, têm algo que a WWE à muito tempo perdeu, que é o interesse do público pelo que os wrestlers fazem ou podem vir a fazer, pelas suas palavras e pelos seus combates, sendo que sabem que nada os irá puxar para baixo se conseguirem, por si mesmos, se tornarem um nome próprio e conhecido além do nome da sua promotora, que isso até jogará a seu favor quando se tratar de apostar realmente no seu trabalho.

Isto para dizer que, num mundo do wrestling em que há cada vez menos personalidades e mais personagens e gimmicks, em que há cada vez menos realismo, o regresso do CM Punk tem que ser saudado e muito bem-vindo. Por muito que os fãs de wrestling falem dos moves, strikes, spots em mesas, cadeiras e outro tipo de objetos e dos 5 star matches hoje em dia, continuam a querer aquilo que sempre quiseram e que se viram pouco a pouco privados, querem ver algo real, algo que podem acreditar, algo que sabem que não é planeado ao pormenor como se o wrestling fosse um filme ou uma peça de teatro. CM Punk, apesar de não ser o único capaz de transmitir essa ideia, é certamente aquele que os fãs mais lhe reconhecerão essa qualidade.

Espero ansiosamente pelo que poderá vir a fazer na AEW, com um roster mais jovem, mas recheado de qualidade, de wrestlers diferentes, de personalidades diferentes capazes de nos darem promos, histórias e até combates diferentes. O Darby Allin colocou-se como seu primeiro teste nesta nova etapa da sua carreira, em que procurará fazer aquilo que ficou por fazer, mas em que certamente, mais até do que o dinheiro ou a fama, que apesar de contarem e serem bastantes importantes, lhe importará poder voltar a fazer aquilo que sempre fez e que realmente nunca queria ter deixado de fazer. Num ponto em que o lutador, os fãs e a empresa convergem, pelas palavras do coração e pelas emoções que foram capazes de sentir e transmitir, já começou a última etapa da carreira do CM Punk, uma etapa que anseio de bastante sucesso, tanto para o mesmo, como até para a AEW.

Hoje ficamos por aqui.

Até para a semana e obrigado pela leitura.

6 Comentários

  1. L26MC3 anos

    Grandes palavras, ótimo artigo, nada a dizer. Parabéns 👌

  2. SandroJr3 anos

    Esse retorno do CM PUNK foi perfeito, o público tinha uma ideia de que ele estaria alí, só que ainda estavam sem acreditar que ele apareceria, mas ele apareceu e recebeu o maior pop dos últimos tempos, o futuro é brilhante pra AEW, ótimo artigo.

  3. Não tenho nada a complementar, fazia 2 anos que eu não antecipava um evento e ficava genuinamente feliz, alegre após ele, que no caso foi quando o Kofi ganhou o WWE Title na WM35. Ótimo artigo!