Boas a todos aqui nesta casa grande casa que é o Wrestling.PT. Como o prometido é devido, esta semana, trarei um tema que penso ser mais interessante e na qual é a opinião o que mais nele relevará.
Dois dias após um PPV do Impact Wrestling, trarei aqui hoje um artigo que tratará da qualidade que cada programa semanal e PPV que o Impact Wrestling tem apresentado. Note-se que me absterei de todos os possíveis comentadores ao mesmo evento, dado ter escrito este artigo antes do meu ocorrer.
Consideremos nós o que considerarmos dos programas do Impact durante o último ano, com opiniões mais ou menos positivas, assim como algumas indiferentes, o que é facto é que a antiga TNA parece ter ganho uma nova vida, tendo apresentado, na minha opinião, a par do NXT e da ROH o produto mais consistente dos EUA. Essa consistência incide na maior parte dos aspectos que formam uma marca/empresa de wrestling, seja ao nível do booking, da qualidade dos combates ou da credibilidade dos seus lutadores.
Antes de mais queria, no entanto, referenciar, que não se trata efectivamente de um ressurgimento. A TNA/Impact nunca desapareceu, é um termo que utilizo pois de facto, durante bastantes anos, esta empresa parecia condenada ao fracasso e sem hipótese de algum dia voltar a esta qualidade.
Claro está que, foram demasiadas vezes as tentativas de retomar o projecto da TNA que tinha sido deixado a mar alto sem qualquer bóia em que se pudesse apoiar. Aliás, foram demasiadas vezes em que essa bóia parecia existir, mas lhe era constantemente retirada. Demasiadas vezes, até, nos últimos anos, em que assistíamos constantemente a um novo começo da empresa no início de cada ano, fosse pela mudança do canal que transmitia o Impact, fosse pela tentativa de redenção da Dixie Carter ou pela fusão com a GFW. A verdade é que este ressurgimento não é algo novo, ou poucas vezes anunciado pelo pessoal que formou, a cada altura, a sua direcção, mas é sem dúvida aquele que encerra tudo o que tem sido necessário para reanimar uma promotora que parecia estar com os dias contados.
Queria ainda enaltecer que, ao contrário do que muitas vezes aconteceu e continua a acontecer com outras empresas que querem voltar às luzes da ribalta, este ressurgimento surge tacitamente e não de forma expressa. Não temos, a todos os shows, os comentadores a falar da melhoria do produto, esta existe e sabemos que existe pela qualidade do programa e não porque nos dizem que a estão a fazer. Em suma, preocupam-se mais em realmente conseguir esse melhoramento do que efectivamente em dizê-lo. Este é um aspecto que vale a pena salientar e honrar.
Tem-nos sido apresentado, sem dúvidas, um produto muito seguro com um booking inteligente e com uma estabilidade que lhe tem permitido aumentar o número de PPV`s, deixando para trás os anos em que tínhamos de esperar mais de meio ano para assistir a um PPV desta empresa e, com eles, bookings e polémicas que em nada ajudavam a TNA/Impact Wrestling, principalmente ao nível das audiências que, para quem deixou de fazer live-events e passou a ter somente um programa semanal, como fez o Impact há uns anos, assumiam-se como bastante importantes (como ainda se assumem, mas efectivamente de forma diferente como tentarei explicar).
Parece então, pelo menos aos fãs mais assíduos como eu, que continuaram a acompanhar ao Impact todas as semanas, mesmo que o produto que no foi, muitas vezes, apresentado fosse no mínimo, degradante, que esses anos estarão, pelo menos de momento ou enquanto a organização da empresa e da sua equipa criativa se mantiverem assim, ultrapassados e o mundo do wrestling só tem a ganhar com este acrescento de qualidade. Para nós, fãs, wrestling nunca é demais, o que permite sempre a estas empresas que não a WWE também ter o seu espaço.
Fazendo agora uma espécie de enumeração do que penso ter permitido este sucesso recente, podemos encontrar várias razões:
– Booking inteligente que prima pela estabilidade e credibilidade dos seus lutadores. Podemos olhar aqui para o caso de Brian Cage. Este lutador foi alguém que, durante mais de 6 meses, foi dono de uma undefeated streak. Ao contrário do que costuma acontecer em outros planos, quando chegou a altura de o mesmo sofrer um pin, os dois requisitos que penso que devem ser cumpridos quando algo do género acontece cumpriram-se. O lutador que teve esse privilégio era alguém que com essa vitória seria catapultado para novos voos ou que consolidaria a sua posição no card, como foi o caso do Sami Callihan; e o Brian não começou, a partir desse ponto, a perder a torto e a direito só porque agora “podia”. Faz sentido, pelo menos na minha opinião, que alguém que sofria pins muito raramente durante um período de tempo e não haja algo que modifique a sua situação a ponto de isso mudar, comece agora a ser “vítima” de algo do género, sem razão aparente.
Outro dos aspetos que gostaria de relevar no booking prende-se pelo timing em que os combates acontecem ou para os shows para os quais são bookados. Efetivamente, os combates parecem ter sempre o vencedor correto e isso prender-se-à muito, a meu ver, pela consolidação de cada lutador, estes têm um ascensão no card ou a sua descida gradualmente, nada de forma brusca, o que permite não haver grandes surpresas. Mas claro que há casos em que isso não acontece e não acontece porque não é necessário. Este é o caso, por exemplo, da Jordynne Grace, como alguém que estava super over nos independentes na altura em que estreou e com o seu aspecto físico, nada mais faria sentido que uma subida mais ou menos rápida à luta pelo título.
Por outro lado, um pouco à imagem do NXT e da própria NJPW, os combates pelos quais mais ansiamos acontecem, maioritariamente nos grandes palcos. Isto é positivo porque nos deixa a salivar por este ou aquele dream match. Note-se que tal não quer dizer que os combates dos shows semanais não têm tanta qualidade ou interesse, mas penso que deixando os combates com maior star power para os PPV acrescenta e muito às histórias que o próprio show semanal tenta contar, dando oportunidade a uma melhor promoção dos mesmos e dando até espaço aos lutadores menos importantes no card de aparecerem mais vezes.
Por fim, cumpre enfatizar uma última nota acerca deste ponto. Os wrestlers são colocados a fazer realmente aquilo que fazem melhor. Casos gritantes são, por exemplo, a Rosemary e a Su Young, protegidas em storylines mais enigmáticas porque tal é suposto fazer parte das suas personagens. Por outro lado, olhando até para o próprio Brian Cage, o seu ponto fraco é mesmo quando este fala, então o melhor será exactamente mostrá-o a dominar no ringue, que é o que o mesmo faz melhor. Com isto quero dizer que os lutadores não tão todos iguais, uns são melhores nuns aspectos do que outros, por isso não será inteligente deixá-los brilhar ao fazerem o que sabem fazer melhor?
– Consolidação de um roster próprio e apelativo. Todos acabamos por concordar que um dos grandes problemas da TNA começou por ser a contratação de todos os lutadores que saíam da WWE, fossem dos que realmente valeria a pena apostar, fossem aqueles em que a TNA apostava porque “sim” ou porque somente era um ex-WWE e iria trazer o nome da sua empresa novamente às notícias dos maiores sites, quando na verdade já tinham um roster bastante talentoso e o qual deveriam proteger. Mas hoje isso, felizmente, já não acontece, e quando acontece não é em grande número e incide sobre alguém que acaba por fazer sentido apostar, como é o caso de Rich Swann.
Por fim, um roster com Fénix, Pentagón Jr., LAX, entre muitos outros que fizeram a sua carreira “à custa” de si próprios, do seu talento e esforço demonstrado nos vários combates que tinham nos independentes, traz mais competitividade ao conteúdo, chamando até a atenção de novos espectadores, sejam os mais curiosos que querem ver algo diferente seja dos que já conhecem estes lutadores e querem continuar a seguir o seu trabalho. Tal também dá a conhecer ao mundo de wrestling, pelo menos a quem não acompanha tanto os independentes e mais as empresas mais conhecidas, novos lutadores e combates.
– Aproximação a uma nova era. Não querendo versar muito sobre este assunto dado não estar tanto ligado ao wrestling em si, mas sim à estrutura organizacional da promotora, não poderia deixar de referenciar, todavia, a abertura à twitch. Efectivamente cada vez mais as pessoas dão menos importância à TV, optando por ver o seu conteúdo noutras plataformas, seja pela maior facilidade de transporte, o que permite a visualização em qualquer lugar, seja para evitar os desconfortes que hoje todos sentidos em relação à televisão, como a espera durante os intervalos ou a distorção da hora do programa para os nossos horários. Ora, para uma empresa cujo suporte principal é um programa semanal é muito inteligente fazê-lo, principalmente para aqueles que vêm, terem agora melhores formas de o fazer, mas também para chamar a atenção dos mais fãs mais novos, mais familiarizados com a internet e neste caso, a twitch. Esta abertura, suscitará muito mais o seu interesse pelo Impact do que se não existisse.
– “Menos conversa e mais wrestling”! Começar shows de wrestling com um promo de 30 minutos penso que será algo que se encontra “morto”, ou deverá ser feito muito raramente e por razões que sejam tão importantes ao ponto de o fazer. Aliás, começar um show de wrestling com wrestling não fará sentido? Isto aplica-se, naturalmente, ao resto do conteúdo. Principalmente numa era em que os fãs desta modalidade valorizam mais o talento dos lutadores e a qualidade dos seus combates e não as histórias em que estes se envolvem (pelo menos contando que a maioria dos fãs de Impact é mais rapidamente fã das indys do que propriamente da WWE), entendo, tal como o Impact entende, que estas devem ser o mais simples possível, mas sem nunca menosprezar esta prática. A sua existência é inevitável e quanto mais necessária dependendo dos lutadores e personagens, pelo que tem de haver sempre um ajuste.
– Definição correta de tudo o que rodeia o ringue. Refiro-me aqui aos comentadores, aos entrevistadores de backstage, aos árbitros, etc., mas gostaria de enfatizar sobretudo o papel dos comentadores. Esta é uma questão mais difícil de obter maior consenso. Lembro-me de gostar bastante dos comentórios do Mike Tenay e do Don West (este último mais sujeito a crítica), eram alguém que transmitia a emoção e adrenalina da malta jovem que compunha o roster e nos dava uma alternativa mais “hardcore” face à WWE. A substituição deste último por Tazz não foi vista pela maioria, e até por mim, como algo mau. Nos seus anos de WWE tinha sido alguém que tinha provado sempre o seu valor na mesa de comentários. No entanto, com a sua saída, assim como a do Mike Tenay, ficamos entregues ao Josh Matthews e ao Pope. Digam o que disserem, este último não estava completamente numa posição que não era sua e o próprio Josh não era o mesmo que é agora, Com o agora, refiro-me à sua parceria com o Don Callis, que se não é o melhor comentador “non-WWE” actual não sei quem será. O mesmo traz à mesa de comentários o que esta precisa em cada momento, seja humor, seriedade, etc. O Josh, que me parece hoje muito mais motivado tem feito um belíssimo trabalho ao lado dele. Também o pessoal do backstage só tem a ganhar com a Melissa como entrevistadora.
Posto isto, penso que será à volta destas questões que andará o sucesso recente do Impact, mas havendo, obviamente outras, sucesso que desejo que continue pois, mais uma vez, o mundo do wrestling só ganha com isso, e parte dele, nós, os fãs, ganha-mos com isso também.
Se viam TNA/Impact e deixaram de ver, aconselho a darem mais uma oportunidade. Para além da qualidade, é um produto bastante simples de acompanhar – bastará verem o programa semanal e os PPV`s, deixando ao vosso critério ver os shows de cooperação com outras promotoras e os One Night Only’s, cujo feedback também tem sido bastante positivo.
Então, qual é a tua relação com a TNA/Impact Wrestling? O que acham deste ressurgimento? Quais os pontos positivos e aspectos preferenciais que retiras do seu produto actual? Encontras mais alguma razão para esse ressurgimento?
Hoje ficamos por aqui, espero que tenham gostado.
Boa semana a todos e obrigado pela leitura.
11 Comentários
Eu vejo os shows semanais e os antigos da Tna\Impact na Fight Network ( canal 150 da minha box). Depois de todos os grandes nomes terem saído e dos problemas todos que tiveram, aos poucos a Tna está a aparecer de novo ao apresentar semanalmente melhor conteúdo. Pontos positivos atualmente é não estar constantemente atrás de ex-WWE como fizeram no início apesar de terem contratado o Fulton recentemente, e durante os shows semanais apresentarem combates de vários tipos.
Obrigado pelo comentário.
O Fulton não é um wrestler do outro mundo mas é perfeito para a posição que ocupa.
Sei que não foi o que quiseste dizer, mas dessa ideia retiro também que não é pelo Impact aproveitar este ou aquele ex-WWE que a podemos logo condenar. Se for para a posição certa no roster e não for aos montes, penso que é muito inteligente o Impact fazê-lo.
Sim, esse também é um dos aspectos que mais gosto. PPV´s com variedade de estilos de combate, desde high-flying, technical, hardcore, etc. Evita que estejamos sempre a ver a mesma coisa e torna o produto mais interessante.
O meu comentário não foi de condenar o Impact de contratar ex-WWE acho que eles fazem bem contratar um ou outro de vez em quando para chamar mais público. O que eu quis dizer foi que há muito pessoal não WWE com talento suficiente para irem para lá. O caso do Fulton acho que a personagem atual serve para o grupo em que ele está.
Concordo plenamente 😉
Acho super interessante referires outras empresas sem ser a WWE, o facto de expandires a tua opinião para outros horizontes do wrestling é simplesmente fantástico e apelativo. Mais uma vez, parabéns!!
Muito obrigado 😉
Wrestling não é WWE…WWE é que é wrestling!
É muito bom ver esse tipo de quadro aqui no site, antigamente tinha bastante e com o tempo e saídas acabou.
Acho que o principal foi a gestão e equipe criativa ter realmente um plano e saber onde querem ir com o produto, conseguiu quitar as dividas da TNA, estabilizou a empresa e hoje consegue oferecer um bom contrato para qualquer lutador.
Outro ponto é o Impact tá fora do Universal studios a mais de 1 ano e não vai voltar mais para lá
Obrigado pelo comentário.
Sim, sem dúvida. Quando o Impact era constantemente gravado no Universal Studies e mesmo os PPV´s eram realizados lá, tal trouxe um afrouxamento do cenário e uma rotina interminável.
Foi um aspecto super positivo eles gravarem agora o Impact em diferentes arenas por diversas zonas.
Que senhor da escrita
Ahahah obrigado.
São ossos do ofício de ser estudante de direito :))
Acho que um dos principais motivos, de um bom show que ultimamente a Impact está a produzir. É o fato que ela começou aprender que nem tudo que a WWE faz é bom, que o que é bom é algo que você mesmo consegue produzir e fazer que aquilo se torne bom, e não imitando algo pois ninguém gosta de imitação. Também o esforço de conseguir manter o mesmo rosto sem precisar procurar loucamente um Powerstar e sim saber criar um Powerstar, saber que algumas rivalidades tem que ser construída com cuidado e a longo prazo um erro que a mesma cometeu e que a WWE está cometer, não dá prazo para que os fãs possam acompanhar a rivalidade o booking a construção , pois quando o fã começa a gostar acabam já dando a cereja do bolo antes mesmo de iniciar a festa.
espero que tenha entendido o meu pensamente e sim mais um bom artigo.