Boas a todos nesta grande casa que é o Wrestling PT!
Depois de na semana passada ter analisado o reinado de Kofi Kingston como campeão da WWE, decidi, esta semana, analisar a situação atual do seu maior rival, Randy Orton, uma já lenda da WWE, alguém que tem o seu lugar assegurado e com quem se terá sempre de contar nas contas para os combates de destaque, quer na Mania, quer em todos os eventos e deverá sempre ser um nome a contar e a nunca deixar de fora, quando falamos do booking dos títulos mundiais da WWE. Randy, pela posição que ocupa, desempenhará sempre um de três papéis: ser campeão; ser nº1 contender; ou estar envolvido numa das rivalidades mais interessantes com que a WWE deve contar e planear na sua atualidade.
Mas a verdade, é que se a sua posição, com os anos, atingiu um estabilidade inamovível, em que mais do que estabilidade estamos a falar de um problema de estagnação, em que o mesmo faz sistematicamente as mesmas coisas, algo que não tem sido bom, nem para WWE, nem para o próprio Randy, assim como para os seus adversários e fãs, dele no plano específico ou da WWE no plano geral.
Não querendo com isto dizer que tudo aquilo que esta lenda faz atualmente é muito, até muito longe disso, estou sim a dizer que tudo o que ele faz nunca é brilhante, nunca é inesperado e chega por vezes, a nem poder ser classificado como bom, mas como simplesmente razoável.
Estamos a entrar na reta final de 2019 e o que temos a dizer quanto ao ano do Randy? Limitou-se a fazer número no Royal Rumble e Elimination Chamber, teve uma feud de pouca dura com AJ Syles na Mania que serviu apenas para os manter ocupados e a sua rivalidade reativada com Kofi Kingston terá de ser classificada como uma desilusão. E porquê? Porque se nunca tínhamos visto Kofi Kingston naquela posição e num papel em que o mesmo mais que cumpriu, na mesma posição já havia Estado Randy Orton, que com aquilo que conhece e com a experiência que já tem, devia e tinha a obrigação de fazer mais e melhor, de tornar tudo mais emotivo, de atrair toda a atenção para si. Limitou-se, a meu ver, a ser um típico heel com a ajuda de dois “lacaios” – os Revival.
Mas podemos até recuar anos que encontramos o Randy na mesma posição. O que Randy fez em 2018? Foi campeão dos EUA para ter lugar assegurado na Mania e no final de 2018 teve rivalidades com Jeff Hardy e Rey Mysterio em que mostrou mais do mesmo, sendo que na feud com o primeiro mostrou uma gimmick mais agressiva que hoje já ninguém lembra, e na rivalidade com o segundo perdeu os combates mais importantes.
Ficando-me por 2017 e o que me basta para provar o meu ponto, o que Randy Orton fez em 2017? Terminou uma feud horrenda com Bray Wyatt iniciada em 2016, perdeu o título da WWE para Jinder Mahal, que na minha opinião sempre esteve mais empenhado na rivalidade do que Randy e terminou o ano a fazer equipa com Nakamura.
Pelo menos três anos em que Randy tem sido só mais um e três anos em que também considero que o mesmo não fez nada para merecer mais do que isto. E quando me refiro a “isto”, refiro-me ao mínimo de destaque que o mesmo, pela sua família, história e palmarés sempre terá e poderá contar. Quem o ouve a falar, quem o vê a lutar, sente que não vê nada do que já não viu, mais, sente que tudo o que tudo o resto que está a ver é mais e melhor, ou não o sendo, pelo menos mais interessante do que o Randy anda a fazer.
As suas palavras não transmitem um pingo de sinceridade, não são as palavras daquele heel obsceno que tinha vontade de ter o mundo a seus pés e que por isso procurava mais poder. São somente palavras vazias que estar lá ou não estar têm o mesmo resultado. É certo que o mesmo pode ter decorrido do facto de, nos últimos anos, terem sido muitas as vezes em o mesmo virou face, virou heel, virou face, virou heel… Recordo que no final de 2014 era heel, em 2015 fez um face-turn. Aliou-se a Bray Wyatt para depois se separar e em 2018 voltou a virar heel.
Isto acontecerá também porque este lutador já fez tudo o que tinha para fazer na WWE, sendo que da sua personagem e estilo já não há mais para tirar, não há mais sumo para espremer. Randy já foi múltiplas vezes campeão mundial, já venceu o Royal Rumble duas vezes, já foi Mr. Money in the Bank, é um Grand Slam champion e poucos são os lutadores que ainda não entraram em rota de colisão com este lutador, seja em feud, seja num mero combate.
Contudo, convém recordar que Randy ainda só tem 39 anos…O facto de ter começado tão jovem e principalmente de ter vencido muito coisa ainda muito jovem (recordo que nos primeiros 3 anos da sua carreira já tinha sido campeão Intercontinental, o mais jovem campeão mundial de sempre e já tinha rivalizado, quase durante um ano com Undertaker) são aspetos que neste momento jogam contra si, ou melhor, contra a sua estadia na WWE.
A isto há que acrescentar o seu trabalho in-ring. Por muito que possamos gostar de Randy Orton, sendo ou não fãs deles (embora sempre o respeitando), não podemos ignorar o trabalho medíocre com que o mesmo nos tem deixado nos últimos anos. Confesso que só me recordo de duas coisas nos combates do mesmo: as pisadelas consecutivas no adversário e o RKO. Não há nada a inovar nem nada de interessante para apresentar. Se o RKO salvava tudo, hoje, encontra-se com tanto interesse como qualquer spot mais rápido e emocionante.
Mas o que me mais irrita e me deixa mais desconfortável com os seus combates terá de ser a sua velocidade. Tudo de passa a “cinco à hora”. Será normal que como heel tenha o seu tempo para dominar o adversário enquanto recebe as tradicionais vaias do público, mas não será normal que todo o combate, incluindo Suplex´s, murros, etc., sejam também preparados e executados de forma tão lenta. Em boa verdade nem me posso irritar de tão sonolento que estou quando vejo os seus combates.
E se é verdade que o mesmo se podia redimir noutro tipo de combates (No DQ, por exemplo), também nesses nada de interessante nos é mostrado. Os mesmos spots nas mesas, os mesmos ângulos quanto ao RKO, são já uma rotina da qual estou sinceramente farto. Relembro a participação de Randy Orton no Money in the Bank Ladder match deste ano. Dois suplex´s de Randy em dois adversários na mesa dos comentadores e é só. É certo que alguém com a imunidade e posição de Randy na WWE não terá ficado muito contente com o resultado do combate e terá “amuado” por assim dizer, mas tal nível de vontade limitou-se a ser somente ainda mais baixo do que o costume.
Em suma, Randy chegou a uma situação em que não demonstra vontade, empenho, reinvenção, inovação, criatividade e isto por uma única razão: a sua posição assegurada na WWE. Faça o que o mesmo fizer, o mesmo sabe que a WWE não o mandará embora e mais do que isso, a sua posição nunca baixará do upper-midcard. É uma posição triste e frustrante, mas para a qual não antevejo qualquer solução. Não há face-turns e heel-turns que ajudem o Randy neste momento e até ao fim da sua carreira na WWE, uma mudança de personagem não funcionará, porque no fundo nunca deixaria de ser o Randy Orton, mais que consolidado aos nossos olhos. Não há títulos que não tenha vencido ou rivalidades que toda a gente queria vê-lo ter.
Isto prejudica também a sua posição se pensarmos que o mesmo já começa a estar abaixo do estatuto de Steve Austin, The Rock, Triple H, John Cena, etc. Está-se a transformar cada vez mais num número e não num nome sonante, o que terá implicações quando se escrever a sua história e a compararem com a das restantes lendas da sua época e do seu século.
E isso é comprovado até pela posição distante da sua quando comparada com a de The Rock, com quem teve algumas intervenções nas redes sociais acerca de um combate. E se The Rock está num nível acima de toda a gente, falo facilmente em Undertaker, Brock Lesnar e até Goldberg (imagine-se).
Por fim, cumpre falar dos pequenos teasers da sua ida para a AEW. Confesso que não consigo pensar nessa situação que não com um sorriso na cara, não por depender da AEW, que acredito que adorasse contar com o Randy, mas porque quebraria uma relação de lealdade e gratidão entre a WWE e o Randy, que funciona e sempre funcionou como “unha com carne”.
Em primeiro lugar, é difícil que a WWE se desfaça de um ativo tão valioso assim, não lhe fazendo propostas de renovação do seu contrato em valores no salário cada vez mais estratosféricos, que a própria AEW nunca conseguirá atingir. A ideia de que a WWE deixaria Randy sair porque já não lhe era útil como fez com Hulk Hogan e Randy Savage no passado com a WCW é remota, a meu ver. Vince já passou por isso e sabe o que o mesmo significaria um aumentar dos fãs da AEW. Afinal, o Randy tem e continuará sempre a ter um grande numero de fãs que o quererão ver lutar seja onde for.
Por muito que eu acredite que ajudaria este lutar mudar de ares, de ringue, de símbolos, de nome (que seja), de alcunhas, de rivais, de estilo, também há que contar com a vontade do Randy, quer na sua gratidão à WWE, quer em fazer algo pela sua carreira. Quanto à primeira questão, alguém imagina Randy na TNT a ser desrespeitoso com a WWE? Se Randy alguma vez fizesse parte dos quadros da AEW seria com o maior dos profissionalismos. Mas isto contando que os lutadores conhecem a história da sua modalidade. Randy sabe que custos isso teve para Randy Savage, Kevin Nash, Ultimate Warrior, entre muitos outros e para a sua imagem, quando voltaram mais tarde para a WWE. Continuaram a ter destaque, é certo, mas nunca como antes, e mesmo a história que a WWE escreveu sobre eles nunca foi ao mesmo nível de Steve Autin e The Rock, por exemplo.
Caso único terá mesmo sido o de Hulk Hogan, mas esse tinha uma história e uma posição na WWE, pelos seus fãs e passado que a WWE nunca poderia ignorar. Se será também essa a situação do Randy, tenho dúvidas. Fica no entanto algo no ar, algo para o Randy pensar. Confesso que aguardo curiosamente pelo fim do contrato deste lutador e perceber o que se desenrolará. Uma renovação que trará mais do mesmo ou uma saída que abalará o mundo do wrestling.
Hoje ficamos por aqui.
Até para a semana e obrigado pela leitura.
14 Comentários
Bom artigo! Estou de acordo com o artigo na íntegra, é um pouco triste ver Randy Orton sem planos para o futuro quando cresci a vê-lo a lutar constantemente em main events de grandes palcos por títulos mundiais.
E realmente não há grande coisa a fazer neste momento, pode-se pensar numa ou outra solução/mudança mas seria complicado visto que Randy já está consolidado como lutador e personalidade aos olhos de todos nós.
Obrigado pelo comentário.
Concordo com quase tudo, mas questiono uma coisa: “É uma posição triste e frustrante”. Para nós, fãs, certamente. Mas para o Randy, como o próprio texto deixa claro, não é uma posição nada ruim.
Tem um ótimo salário e uma boa perspectiva de renovação de contrato com mais regalias (graças à AEW), está sempre em destaque e tem seu nome garantido no Hall da Fama – se não vier no mesmo grau de destaque que as outras lendas, como foi muito corretamente levantado no texto, terá sempre os números e a história para contra argumentar os críticos.
A história pode ser menos generosa com ele, é verdade, mas será que ele está preocupado com isso? É uma posição preguiçosa, sim, mas ele se importa? Se eu estivesse numa posição dessas, não posso garantir que não faria o mesmo.
Nossos ídolos, superstars de wrestling, muitas vezes parecem super heróis e até gostaríamos que o fossem, principalmente em seu comportamento – alô, Jeff Hardy! Entre outros – e postura profissional, mas na verdade são bem humanos.
Obrigado pelo comentário.
Sem dúvida que essas palavras foram dirigidas a nós fãs pois evidentemente o Randy está numa excelente posição profissional, se não materialmente, em termos formais.
É um problema para a WWE e não ele.
Tu farias o mesmo que ele, assim como eu.
Bom artigo. Concordo com o que escreveste.
Obrigado pelo comentário.
Concordo com a análise se tivermos em conta o que fazer com randy orton individualmente. Contudo consigo vislumbrar um género de push que este poderia ter como heel que daria resultado e seria algo inovador e diferente de tudo o que ele já nos apresentou e isso seria sem duvidas a criação de uma stable juntamente com john cena e alguns outros nomes. Poderiam revolucionar novamente o produto da wwe mas isso já seria ser muito ousado e com ideias que os bookers jamais iriam querer ou poder por em pratica.
Obrigado pelo comentário.
Excelente artigo! Se irmos para a divisão feminina eu vejo isso que você falou sobre os três papéis ocorrendo com a Sasha Banks.
Obrigado pelo comentário. Na divisão feminina acho que a Natalya é mais um caso crónico do que a Sasha Banks. Esta ainda pode oferecer muito.
Artigo incrivel e profundo. Acho que ele não sai da wwe pois ele tem um lugar assegurado e tranquilo, ganhando um bom salario e tendo regalias que nenhum outro wrestler da atual geração tem.
Obrigado pelo comentário.
Bom artigo..
concordo com o que escreves, que parte da culpa é dele estar um pouco acomodado, mas nao se esquecam quem tem palavra final.
ele pode sugerir alternativas aos combates, mas se nao aceitarem chega a um ponto “que se lixe, ganho na mesma o meu”.
uma coisa que ja li varias vezes “um grand heel tem de ter um grande Face”. pois por mais que bom ele seja, se o que esta a lutar com ele, seja um a um ou em storylines nao for bom como ele ou melhor para o obrigar a superar, nao o podem obrigar a mais…
E fora uma ou outra feud (repetitivas), ele tem tido storys de caca.
Se forem ver quando foi que ele teve grande sucesso? Cena, Triple H,Egde,Batista,Undertaker,Shaw,…. tudo pessoal “doutro mundo” a lutar, e o que tem agora? Kofi,(por mais bom que seja nunca sera um edge), Seth,Daniel..
Em resumo para mim sim, ele deixou-se acomodar, mas a propria WWE nao tem pessoal pessoal com qualidade para o por o Orton em desvantagem, para o pressionar a ser melhor..
mas esta é a minha simples opiniao
Obrigado pelo comentário.
Concordo em parte com o que dizes, mas não por ache que faltam bons faces ao roster da WWE, simplesmente eles não são bookados como tal e enquanto credíveis para enfrentar alguém com aura tão especial que o Randy já tem. Claro que quando o Ali enfrenta o Orton não nos soa a muito e é pelo que disse, o Ali não é bookado com a mesma seriedade que foi o Cena, o Triple H, etc…, nem como foi o Seth ou o Daniel Bryan, e ao não fazê-lo, o Randy encontra-se nesse combate como a única razão para o ver aos olhos dos fãs mais casuais.