Boas a todos nesta grande casa que é o Wrestling PT!

Pelo título deste meu artigo podem os meus caros leitores ter ficado bastante incólumes e confusos acerca do assunto a tratar por mim esta semana e mais ainda entenderão ter ficado assim, quando vislumbraram a imagem de destaque.

Por isso, não tardarei mais a pequena revelação de que se trata de um artigo em que tentarei defender algo que é comumente recordado pelos fãs desta bela modalidade como algo mau. Um ângulo, uma história, uma reinado, uma stable e um lutador cuja opinião dos fãs em geral é bastante negativa. E quando não se trata de uma opinião, mesmo nas tendências de preferidos, este período não aparecerá na lista de coisas para todo o sempre recordar, quer quanto à história, quer quanto ao lutador.

Por esta altura, já terão adivinhado que falarei de um dos reinados mais surpreendentes e controversos da história, a pontos muitos mais altos comparativamente ao reinado de Kofi Kingston ao qual assistimos este ano. È o reinado, claro está, de Jinder Mahal, como campeão da WWE.

Porque falarei deste tema? Muito simples. Na minha vida pessoal, e até profissional, tendo a ser aquilo a que toda a gente apelida “do contra”, por isso, apesar de se tratar efetivamente de um dos reinados mais esquecíveis da história da WWE, não deixei de ver no mesmo alguns aspetos positivos, que não fazem deste período perfeito, nem sequer dos meus prediletos, mas que penso que muitos pontod não foram considerados e valorizados no trabalho deste lutador e que o deviam ter sido.

Brain Buster #32 – Advogado do Diabo

Por outro lado, gostaria de ter a rubrica “Advogado do diabo” uma das categorias sempre a considerar quando redijo os meus artigos, tal como faço com as várias listas pessoais que vos apresento muito pouco frequentemente. Sendo, igualmente, uma oportunidade que vos dou. Como? Gostaria que me deixassem sugestões de temas que parecem à primeira vista indefensáveis para que eu mesmo possa ser, como sempre fui, sou e vou ser, “do contra”. Desde logo, podem deixar um tema que seja para vós o que este tema é para mim, algo que a maioria despreza ou abomina, mas que vocês achem aceitável, razoável ou até bom. Está lançado o desafio!

Mas retornando ao tema ao qual presido aqui hoje, Jinder Mahal, originário do Canadá, interpretou durante a esmagadora parte da sua carreira na WWE (a suficiente para não pormos sequer a questão de ter tido outra) uma personagem de um Indiano heel, que fosse cobarde, batoteiro ou antiamericano nunca se sentiu que tivesse o que era preciso para vingar na WWE. Desde logo, não é nada de especial no ringue, embora cumpra, algo que lhe é equiparável até no microfone, onde não sendo nada de chamativo, também não é mau de todo.

Por outro lado, a forma como sempre nos foi apresentado e até o seu look nunca fizeram com que sentíssemos que o mesmo tivesse alguma possibilidade de ascender no card da WWE. E, a bem dizer, duvido que alguém tenha querido, desejado ou pretendido que tal acontecesse. Pelo contrário, facilmente encontraríamos quem abominasse tal ideia.

A sua primeira passagem pela WWE foi isto mesmo. Um heel cujo hype da sua estreia facilmente se desvaneceu, sendo cada vez mais esquecido nas várias histórias, combates e rivalidades das quais era parte. Fez parte de uma stable bastante engraçada nos 3MB, juntamente com Heath Slater e Drew McIntyre, quando este havia batido no fundo. Era uma simples stable de jobbers para alguns momentos cómicos, que terminou quando Jinder Mahal e Drew McIntyre foram despedidos da WWE, já que Heah Slater teria sempre lugar num papel de jobber e enterteiner que aos outros dois nunca havia sido reconhecido. Enfim, lá saberíamos nós que anos mais tarde, quem iria ter mais sorte no futuro e sucesso na sua carreira na WWE (não fora dela) seria Jinder Mahal.

Despedido com um monte de lutadores renegados em 2014, seria no final de 2016 que Jinder voltaria à WWE, no que pensei na altura e terá sido esse o elemento finalista inicial da WWE, que seria unicamente para fazer número. Para ser mais um, somente mais um quando eram precisos mais lutadores com o renascimento da brand split. E como nos viríamos a enganar…

Brain Buster #32 – Advogado do Diabo

Acredito até que esta oportunidade somente lhe tenha surgido por Heath Slater estar numa história em que procurava trabalho em uma das brands, aproveitando-se para reintroduzir Jinder Mahal aos olhos dos fãs, e para a nada esperada piada dos 2MB (e não 3).

Os meses até ao maior evento do ano foram passado e nada na carreira, enquanto wrestler, de Jinder Mahal mudou, mas o que pareceria e se começava a notar era uma transformação que ocorria em si. Não só no seu look, muito mais parecido, como também na sua ferramenta de trabalho, o seu corpo, encontrara-se cada vez mais trabalhado e em bastante pouco tempo.

Pondo desde logo de parte a questão dos esteróides, que são ilegais e como tal teriam acusado nos vários testes de welness policy que a WWE faz com que os seus lutadores passem. Se não acusou e não tendo eu qualquer prova em contrário sou obrigado a aceitar que as mudanças no seu corpo fizeram-se dentro do quadro legal. Se foi totalmente natural tenha acérrimas dúvidas, mas notava-se muito e ainda se nota pelos seus posts nas redes sociais, grande dedicação ao seu novo estilo de vida, o que é primeiro que tudo, de valorizar.

Por fim, findou as personagens de heel indiano cobarde para ter uma personagem mais agressiva, nunca desvalorizando táticas ilegais nos seus combates, mas notando-se um outro à vontade. O seu combate com Finn Bálor num RAW durante este período é notório disso mesmo.

Alvorando a WrestleMania e Jinder seria o último eliminado da Andre the Giant Memorial Batte Royal, depois da intervenção de um ente externo à WWE (sim, regra geral, desprezo bastante estes segmentos e aparições) ter ajudado o vencedor Mojo Rawley. Se é verdade que não contávamos com este destaque, que parecia até justificável por se tratar de um heel bastante odiado para criar expectativa de o, na altura, face Mojo Rawley vencer com o apoio do público, não esperaríamos era que um mês mais tarde Jinder vencesse um multi-man match para se tornar o candidato principal ao título da WWE, na posse de Randy Orton.

Brain Buster #32 – Advogado do Diabo

Foi na altura um combate com gente muito pouco conhecida pelo main-event da WWE, desde um Dolph Ziggler perdido, a um Erick Rowan e a um Luke Harper nas suas personagens iniciais. O único nome que pareceu aceitável como vencedor era Sami Zayn, na altura ainda over enquanto babyface. O combate acabou por superar bastante as expectativas na altura, mas para surpresa de todos, o menos favorito de todos, Jinder Mahal venceu o combate e até obteve o pinfall em Sami Zayn, o que foi muito inteligente, e por duas ordens de razões: credibilizou Jinder por ter obter tal vitória sobre o nome favorito a vencer; e atraiu mais heat por vencer o preferido dos fãs. Venceu com a ajuda dos seus novos “lacaios”, os Singh Brothers, que em diante seriam a sua aposta de segura para continuar a vencer.

Mas tal acontecimento chocou toda a comunidade de fãs da WWE e de wrestling em geral. O que tinha feito Jinder Mahal até agora para merecer tal push? Foi até comparado ao início de reinado e da personagem de JBL em 2004, pela forma repentina como tudo aconteceu. É de notar que nas semanas antes do combate venceu nomes como AJ Styles a pronto de o elevar para o maior combate da sua carreira. Mas a forma como a sua rivalidade com Randy Orton começou foi algo que continuou ao longo do reinado e que prejudicou Jinder, não pela sua prestação, mas pela forma como foi tratado, o facto de ter perdido sempre destaque para algo ou alguém. Isto nas críticas nos fãs, pois quanto a mim, cá tenho uma posição diferente.

Desde logo, Jinder Mahal tornou-se nº1 contender bastantes semanas antes do combate decisivo no Backlash 2017, deixando tempo para Randy Orton terminar a sua paupérrima feud com Bray Wyatt na altura. Jinder pareceu, então, e quando menos podia sê-lo, algo secundário, um simples oponente e uma title defense certa de Randy Orton. E fazer isto foi inteligente e passo a explanar porquê. Por que razão teria agora Randy Orton, uma estrela da WWE e uma lenda deste desporto, que se preocupar com Jinder Mahal até aquele momento? Isso mesmo nada. Ter sido o Jinder a tomar a iniciativa de interferir nos combates do Randy foi excelente porque mostrou que este último não estava nada preocupado com o seu desafiante e sempre o demonstrou até ao embate entre os dois. Isto só fez com que a surpresa de ver vencer Jinder Mahal fosse ainda maior. Aqui, ao contrário do que pensaram na altura, foi um booking nada mais que inteligente, embora não brilhante.

É certo que teria preferido uma construção mais lenta, em que Jinder fosse somando meses de vitórias (e não apenas um mês em toda a sua carreira), podendo ou não ser campeão no mid-card ou até vencendo o Money in the Bank. Mas na altura apreciei a decisão por finalmente a WWE mostrar algo diferente do habitual, tal como havia feito com JBL, 13 anos antes.

Por outro lado, comecei a ganhar empatia com o trabalho de Jinder Mahal e principalmente com a sua personagem. Quanto ao primeiro, penso que será de valorizar o facto de este lutador ver-se, de um momento para o outro, obrigado a entregar combates de main-event, enquanto toda a sua carreira tinha estado no low-card, e tudo o resto correspondeu suficientemente. As promos eram sérias, os ataques tinham propósito e Randy finalmente encarou o seu novo rival com seriedade após perder o título para o mesmo.

Brain Buster #32 – Advogado do Diabo

Quanto à personagem, gostei da mesma no início do seu reinado. Era um indiano, mas não fazia do antiamericanismo a sua bandeira, foi apresentado como o campeão do seu povo e como a grande sorte do seu país. Até o seu novo look combinava com o design do título da WWE. Mas repito, tudo teria sido melhor se a personagem e sua credibilidade tivessem sido mais construídas com a lentidão e estabilidade do tempo. Quem sabe é se os fãs não abortariam o seu push de forma feroz se ele não tivesse sido atribuído de forma tão rápida e precisa…

Contudo, depois de um início de reinado inovador, criativo e bastante satisfatório tudo começou a ruir com o terceiro combate que teve com Randy Orton. Desde logo, sofreu como todos os lutadores da WWE na altura dos rematches instantâneos e eternos, mas ao qual se juntou uma estipulação que já havia parecido da WWE, ou pelo menos considerávamos nós, e teve um final ainda mais abrupto, ignorante e estúpido. Não há outras palavras.

Depois de dois combates com Randy, que seriam facilmente os melhores da carreira do Jinder Mahal, este terceiro teve tudo de errado. Primeiro, foi o campeão heel que escolheu uma estipulação onde não poderia ter ajuda de ninguém, então por que razão a escolheu? Porque é indiano e aparentemente aos olhos da WWE todos os indianos sentem-se mais confortáveis com bambu. E pelos vistos também todos os indianos veneram Great Khali, facilmente um dos cinco lutadores mais pobres em toda a sua capacidade para esta profissão que passaram pela WWE.

O combate em si até teve os seus momentos, mas novamente algo teria que estragar o bom trabalho do Jinder (e também do Orton claro) e foi o final deste embate, no qual o campeão foi ajudado por Great Khali, que retornou por uma noite para fechar um dos piores PPV´s de que tenho memória nesse Batteground 2017. A partir daí e sem que Jinder tenha alguma culpa no cartório, porque entendo que o mesmo sempre deu o seu melhor para tornar este seu reinado o mais agradável possível, foi sempre a descer, não propriamente no conteúdo dos combates, mas no seu final e nas rivalidades.

Desde logo, só era autorizado ao campeão que vencesse com a ajuda dos Singh Brothers. Ou seja, a cada combate, a cada title defense, Jinder vencia somente com interferências externas. Lembro-me que na altura, num Battle Royal do João Basílio, no qual não me lembro de ter participado ou não, o mesmo usou uma metáfora que espelhava bem a situação: “o Jinder é como um Magikarp que só sabe fazer o ataque splash, mas quem me dera que a qualquer momento possa chegar ao nível 20 e evoluir para um Gyarados”. Para quem vê ou viu Pokémon sabe do que estou a falar. Para quem não vê, neste momento, estará já a desistir deste artigo.

Brain Buster #32 – Advogado do Diabo

Por conseguinte, entrou numa rivalidade com Shinsuke Nakamura onde usou, de forma muito básica, muito pouco interessante e até fazendo-nos sentir pena de si, imagens caricatas de Nakamura, numa rivalidade onde nem sequer a nacionalidade do seu oponente foi deixada sem riso ou piada pouco cómica e até triste. Como era vago e habitual na altura, rematchs atrás de remacths, Jinder venceu Nakamura em dois PPV`s seguidos antes desafiar Brock Lesnar para um combate no Survivor Series num embate entre os dois principais campeões da WWE na altura. Vi muitas críticas na altura a este combate, mas sem nunca perceber muito bem porquê ou no que é se fundamentavam.

Jinder já era campeão há alguns meses e tinha vencido desafiantes credíveis. Não era nome à altura de Brock Lesnar? Não, como nem de Randy Orton ou até de Shinsuke Nakamura. Havia um argumento que a mim me engraça bastante: nenhum resultado nos deixaria satisfeitos. Primeiro, e como analisarei noutro artigo, a tradição do Survivor Series em fazer combates do género obrigava a isso e, por outro lado, Brock vencendo, Jinder, como grande heel que era, era destruído pela “besta” e continuava o seu reinado no SmackDown. O que nunca iria acontecer era Jinder vencer Lesnar. Até o som desta frase na minha cabeça, mesmo lida e relida sucessivamente continua a não fazer sentido.

Mas Jinder acabou por perder o título antes do PPV`s para AJ Styles. Para ser sincero, a partir desse momento só tenho a dizer bem do trabalho de Jinder, ainda mais do que até aquele momento. O à vontade com que iniciou o seu regresso (nunca confirmado) ao título da WWE foi notório da sua evolução. Mesmo os meses que se seguiram continuaram a mostrar que Jinder mereceu destaque, que mesmo tendo sido exagerado, não foi por ele que correu mal.

As histórias em que se envolveu seguidamente foram mais simples e a sua conquista do título dos EUA na WrestleMania (podemos discutir se justa pois na altura tínhamos o “Rusev day” demasiado over para ignorar como a WWE fez) merecia uma outra continuação que não uma simples derrota semanas depois para Jeff hardy. A partir daí, Jinder voltou ao low-card, mais uma vez mostrando a WWE que pensa que os seus fãs são muito esquecidos, corolário de uma instabilidade no push e credibilidade dos seus lutadores que não ajuda ninguém.

Este lutador, que respeito e admiro, mas não aprecio no mesmo patamar que muitos outros, está neste momento lesionado, mas não posso deixar de deixar aqui votos para que novos voos o mesmo possa vir a alcançar, pelo menos no mid-card onde penso que a sua capacidade e qualidade encaixam na perfeição enquanto eterno heel, pois numa altura em que é modo os heels serem os mais apoiados, estes lutadores heel mais “old school” devem ser valorizados, se queremos continuar a ter algo diferente de semana para semana, de combate para combate e de rivalidade para rivalidade.

Hoje ficamos por aqui.

Até para a semana e obrigado pela leitura.

13 Comentários

  1. Showstealer5 anos

    Jinder Mahal também é, para mim, um lutador de mid card. Aliás, creio que no SmackDown poderia ser um candidato credível ao Interncontinental Championship. Agora, main event? Penso que o precipitaram para esse patamar, apesar de concordar que até não correu tão mal quanto muitos dizem.

  2. 5 anos

    Parabéns pelo artigo. Devo dizer que quando ele regressou eu não o conhecia, mas depois de ter ganho o titulo ao Randy passou a ser um dos meus favoritos. Agora quanto ao desafio que deixaste, vou responder-te de forma diferente. Tenta defender e arranjar palavras boas para a atual storyline entre o Rusev, Lana, e Lashley.( pessoalmente não gosto do que está a acontecer)

    • Obrigado pelo comentário e pela sugestão.
      Isso não é um desafio, é uma missão impossível…
      Mas vou pensar no assunto 😉

  3. Beatriz Lynch5 anos

    Otimo artigo(como de costume), peço que pense no pedido do Luke Harper acima, sobre essa horrivel storyline.

  4. Sandrojr5 anos

    Nosso heroi Indiano está lesionado, mas ele voltará grande como nunca. Alias nessa foto vc esta parecendo o Demolidor kkk

  5. Bruna Stratus5 anos

    Claro que já sabes o que vou referir… e que tal um artigo direcionado apenas à Women’s Divison? Sei lá, um top 5 dos piores combates/ storylines… ou pelo contrário top 5 de melhores combates/ storylines. Mas também gostava de ver um artigo em que comparas as eras diferentes, desde a Golden Era até à Women’s Revolution. Fica aqui a sugestão e continua com o bom trabalho!

  6. Bruna Stratus5 anos

    Mas pensando melhor, tenta defender a Bayley, tenta só 😂

  7. Mateus5 anos

    Mais um bom artigo, parabéns. Eu que não acompanhei o tão polêmico reinado do Marajá agora posso entender um pouco melhor o que foi.