Boas a todos nesta grande casa que é o Wrestling PT!

Considerando o meu praticamente fanatismo pelo wrestling japonês e, na atualidade, especialmente pela NJPW, na primeira semana do meu artigo após terem sido anunciados os cards para o maior evento ano no que ao wrestling japonês diz respeito, não perderei a minha oportunidade imediata de analisar esses mesmos cards e o que se pode vir a definhar nos dias 4 e 5 de janeiro de 2020.

Desde logo, apelei à utilização de um plural – “cards” -, e não card, por uma razão muito simples. Este ano o Wrestle Kingom, o 14º desde que o evento foi rebatizado com este nome, dividir-se-à em duas noites, ou melhor, em dois shows, numa decisão na qual não poderei deixar de aplaudir. O crescimento da NJPW nos últimos anos não tem sido apenas em fãs, nem em mercados, com a exploração de territórios como o americano, mas também em títulos, histórias e, principalmente, lutadores habituados aos grandes palcos.

Relembro que o ano passado, lutadores como Hirooki Goto e Minoru Suzuki acabaram relegados para o kickoff e nomes como Taichi nem sequer fizeram parte do card, pela falta de tempo e espaço que era notório no show propriamente dito para incluir lutadores que podiam e deviam ter participado nele. E mais, se este ano a fórmula encontrada foi a correta, também não deixaram de acontecer situações semelhantes: Tomohiro Ishii, EVIL e até mesmo Shingo Takagi ficam de fora dos grandes combates, nomeadamente title matches e special singles matchs, mas não vão vão deixam de fazer parte do grande evento do ano. Esta divisão permite que estejam incluídos nos tradicionais tag team matches que, no Japão, têm a tarefa de anteceder os grandes combates e aquecer o público.

E se a divisão do evento em duas noites permitiu esta preciosa folga, também permite a realização de outro tipo de histórias e até mesmo de um booking mais inclusivo. Relembro que sem ela não seria possível contar a história do combate de unificação (chamar-lhe-ei assim mesmo que os títulos continuem separados mas no mesmo campeão) do IWGP title e do título Intercontinental assim como histórias que envolvessem vários nomes levariam a multi-man matches (3-way, 4-way, etc.), que a NJPW utiliza sempre e, somente, em último caso. Caso paradigmático é a feud entre Lance Archer, Juice Robinson e Jon Moxley. Num único evento teríamos direito a uma 3-way, ou algum destes lutadores ficaria de fora. Ora, em duas noites, permite-nos ver dois combates individuais, com mais história, mais emoção e, principalmente, mais inclusividade dos nomes que merecem estar nos grandes palcos, histórias e combates.

Posto isto, cumpre agora olhar para os principais combates a serem apresentados, com uma última nota: será analisado nesta edição do Brain Buster apenas a primeira noite do Wrestle Kingdom 14. Irei abster-me de comentários sobre a segunda, comentários esses que serão dados na próxima semana e onde acabarei de analisar as histórias que se contarão em duas noites e não apenas numa.

Brain Buster #35 – Via descongestionada (1ª noite)

Jushin Thunder Liger, Tatsumi Fujinami, The Great Sasuke e Tiger Mask vs. Naoki Sano, Ryusuke Taguchi, Shinjiro Otani e Tatsuhito Takaiwa

Será o penúltimo combate da lendária carreira de Jushin Thunder Liger. Os elogios a este lutador e ao que foi capaz de conquistar durante todo o tempo que passou no ringue e as palavras para a longevidade que nunca faltou na sua capacidade in-ring, como na promoção da sua personagem, nunca irão faltar. São 30 anos de puro wrestling, e no seu caso, de magia, que aos nossos olhos eram vistos como algo extremamente especial.

O mesmo traz-nos dois wild-card matches que se antecipam ser bem nostálgicos, divertidos, mas também emocionantes por termos de dizer adeus a um nome tão, mas tão grande, não só do wrestling japonês, mas de todo o mundo do wresting.

No combate da primeira noite prevejo um combate lento, mas muito engraçado pelo retorno por uma noite de todas as lendas anunciadas onde nostalgia não irá faltar e onde penso que Liger quererá partilhar este seu momento com aqueles com quem aprendeu e cresceu para o mundo do wrestling, assim com aqueles com teve grandes combates e grandes momentos. Em parte, a sua carreira não se teria feito sem a presença de alguns destes lutadores na história do que hoje conhecemos como Jushin Thunder Liger.

IWGP Tag Team Title Match: GOD (c) vs. FinJuice

No tradicional combate a que presidem estes títulos entre os seus possuidores e os vencedores da World Tag League, temos uma equipa surpresa este ano. Se é certo que os GOD têm sido a principal cara desta divisão e, bem se diga, a mais constante e talentosa equipa enquanto unidade, a equipa composta por David Finlay e Juice Robinson surge como nome surpresa, não só em combates deste género no Wrestle Kingdom, como será a sua primeira oportunidade de sempre por estes títulos.

Se em anos anteriores os desafiantes têm, quase sempre levado a melhor, este ano apesar de continuar para aí virado, confesso que não ponho de lado a hipótese de uma vitória dos campeões e isto por duas ordens de razões: desde logo, os GOD nunca venceram no WK e vêm de uma 4ª derrota na World Tag League, pelo que seria mais do que justo que tivessem um bom momento e a equipa adversária é perfeita para o fazer – Juice Robinson tem um combate pelo título dos EUA na noite a seguir e David Finlay ainda tem que crescer bastante aos olhos dos fãs.

Acredito que o objetivo da vitória dos FinJuice na World Tag League se prenda mais com razões de inovação para uma divisão que várias vezes fica encalhada nos mesmos nomes do que propriamente para fazer desta ainda verde equipa um grande nome desta divisão. Se assim não fosse tinha sido preferível EVIL e SANADA vencerem e ser EVIL a ter um grande combate no maior evento do ano e não David Finlay. Mas a NJPW fez muito bem em refrescar a divisão.

Brain Buster #35 – Via descongestionada (1ª noite)

IWGP United States Heavyweight Title Texas Death Match: Lance Archer (c) vs. Jon Moxley

Confesso que este é um dos combates para os quais as minhas expectativas estão mais elevadas e isto incluindo as duas noite. Ver um Texas Death match na NJPW é algo que nunca pensei ver e quanto mais estar nele envolvido alguém tão apto para este tipo de combates como Jon Moxley.

Lance Archer, por sua vez, a grande revelação do ano, não pela sua idade, nem por ser novo neste mundo (até muito pelo contrário), mas pela oportunidade que recebeu da NJPW e recebeu-a, principalmente porque foi sempre competente quando chamado pela empresa nipónica. Refiro-me à oportunidade que recebeu em participar no G1 Climax deste ano, onde deu combates muito bons e, mais do que isso, muito acima do que poderíamos esperar de si. A vida é feita de oportunidades e Lance Archer é um exemplo de como as devemos aproveitar. A ausência de Moxley permitiu-lhe chegar aonde nunca tinha chegado no Japão e estou muito contente por ter assistido a esta história. A sua presença num combate tão importante no maior show do ano é mais do que justificada e, acima de tudo, mais do que merecida.

Mas se isto é verdade, também não deixa de o ser, que Moxley deverá vencer este combate e avançar para a noite seguinte onde defrontará Juice Robinson. É o que faz mais sentido e onde as histórias melhor encaixam. Moxley quer o título que nunca havia perdido e Juice ainda tem que terminar a sua história com ele, que ficou em stand-by quando Moxley não conseguiu comparecer ao King of Pro-wrestling. Depois de um grande combate na primeira noite, fará sentido que na segunda, Juice e Moxley terminem os assuntos que iniciaram já em meados de 2019.

Quando ao combate propriamente dito, espero brutalidade próxima do que Moxley apresentou com Omega, mas não a tal ponto, quer em termos de tempo, quer em termos de violência, dado que: (i) Moxley tem um combate com a mesma estipulação no dia a seguir, pelo que não pode dar tudo nas duas noites para bem do seu corpo e para evitar que os fãs vejam duas vezes praticamente a mesma coisa; (ii) o show tem outros combates tão ou mais importantes que precisam do seu tempo.

Brain Buster #35 – Via descongestionada (1ª noite)

IWGP Junior Heavyweight Title Match: Will Ospreay (c) vs. Hiromu Takahashi

E já que estávamos a falar em expectativas elevadas para o combate anterior, porque não continuar com elas, mas ainda mais acima? De facto, o que Will Ospreay tem feito pelo título dos Juniores tem sido bastante memorável a pontos de já haver quem considere que poderia (ou mesmo que deveria) ser este combate o colocado como main-event da primeira noite.

Confesso que não vejo problema com isso mesmo, até mesmo pela razão de que este combate é de apenas uma noite e os combates que estão aludidos ao co-main-event ainda têm sequência na noite seguinte onde aí sim brilhariam no main-event. Por outro lado, os combates desta divisão e, especialmente, de Ospreay são sempre dos mais aguardados da noite e até mesmo, quase sempre os que correspondem às reais expectativas dos fãs desta empresa nipónica.

Mas também apresento facilmente razões para tal não acontecer. Desde logo, o título Intercontinental e principalmente o IWGP title estão muito acima do título dos Juniores (pelo menos ainda) e também pensando em Hiromu, no seu combate de regresso depois de uma lesão tão séria que poderia ter acabado com a sua carreira, quererão os responsáveis da NJPW protegê-lo e bem. Sei que ele lutará nos shows de promoção do WK, mas serão simples tag matches, pelo que em termos de combates individuais em grandes palcos convém dar tempo para que tudo se normalize na sua carreira.

Espero um combate rápido, intenso e emocionante por não termos visto o fim da carreira de um dos lutadores mais carismáticos da NJPW. Por isso mesmo, espero igualmente uma vitória sua e um bom momento de comemoração do Hiromu com os seus fãs, que aliás, é qualquer fã de NJPW!

IWGP Intercontinental Title Match: Jay White (c) vs. Tetsuya Naito

Quanto a este combate uma ideia muito pouco elaborado: Naito vence, der por onde der. Depois de duas derrotas para o Jay White, Naito encontra-se numa situação bastante frágil quanto ao que a sua credibilidade diz respeito. Se vence na segunda noite irei deixar essa consideração para a semana, mas este título e este combate ninguém lhe pode tirar.

Considero que o momento que todos esperamos de ver Naito finalmente como a cara da NJPW, das duas uma, ou acontecerá nestes dois dias ou não acontecerá. Mas para isso, é fundamental que o Naito, com esta personagem que toda a gente adora vença este combate. E apesar de gostar da maneira como o booking da NJPW nos está a fazer salivar por esse momento o que é certo é que se começam a ser muitas as vezes que Naito está perto e cai a seguir, também é certo que a expectativa dos fãs também começa, ela própria, a cair.

Quanto ao Jay White, por muitas críticas que se façam à sua personagem, aspeto ou até ao seu talento in-ring quando comparado com as restantes estrelas da NJPW que leva muita gente a considerá-lo overrated, não merecendo o destaque que tem…bem, quanto a essas críticas não me cabe a mim silencia-las, até porque o Jay tem feito um excelente trabalho em fazê-lo.

Um heel natural, à antiga, que não faz coisas que o público gosta, como em dar bons combates pela sua própria vontade, tal parte sempre do seu adversário, nas suas promos excecionais e entre muitos outros aspetos, até no mais pequeno detalhe que faz a diferença e o torna no lutador mais odiado da NJPW. Jay faz um trabalho fantástico e ao qual as críticas não são nada justas.

Brain Buster #35 – Via descongestionada (1ª noite)

IWGP Heavyweight Title Match: Kazuchika Okada (c) vs. Kota Ibushi

Por fim, falar do main-event da primeira noite. Um rematch do último G1 Climax, combate esse vencido por Kota Ibushi, que viria a vencer o torneio para ganhar esta oportunidade. E se esta oportunidade para Ibushi é mais do que merecida, não aparece, contudo, muito provável a hipótese de o mesmo voltar a vencer Okada neste grande evento.

Primeiro, estamos a falar de kazuchika Okada, que depois de no último ano ter perdido e bem para Jay White, deverá este ano ter pelo menos um grande momento. E penso que esse momento irá acontecer nesta primeira noite. Segundo, porque creio que Naito irá avançar para o combate de unificação e nada mais sentido fará que defronte aquele lutador que sempre se mostrou um obstáculo à sua conquista e manutenção como a cara do topo da NJPW.

Não obstante qualquer resultado, este combate deverá e bem exceder todos aqueles que o antecederam, nem que seja por ser essa a prática quase sempre certa que decorre no Wrestle Kingdom, isto é, o main-event ser o melhor combate da noite. Este ano, mais uma vez, pelos nomes envolvidos não tenho dúvidas que tal se sucederá também este.

De resto, parece-me um combate pelo IWGP title com muito menos história que os combates por este título que acontecem no Wrestle Kingdom geralmente têm. Okada vs. Naito, Okada vs. Tanahashi, Okada vs. Omega, Tanahashi vs. Omega, etc., foram combates em que além da qualidade e capacidade dos nomes envolvidos tinham uma grande história por trás. Este ano, não passa de um simples combate de competição. Um desafiante que quer o título e um campeão que não o quer perder. Não é um combate entre um campeão estabelecido e o principal desafio que se aparece, não é um embate entre dois rivais históricos, nem sequer é um combate entre gerações diferentes.

No entanto, isto acaba por ser natural, dado que a história da unificação dos títulos se tem sobreposto a qualquer rivalidade individual e por ser este um combate secundarizado perante o que irá acontecer na segunda noite. Por todas estas razões é um combate com menos carga emotiva mas com igual capacidade para nos fazer levar as à cabeça.

Hoje ficamos por aqui.

Até para a semana e obrigado pela leitura.

11 Comentários

  1. Bom artigo!

    O facto de o evento ter 2 noites deixa algumas coisas bem mais imprevisíveis.
    Primeiro quanto ao IWGP US Championship, acho que por um lado, a NJPW vai querer aproveitar para usar o Moxley nas duas noites, por outro, não os vejo nem a dar-lhe duas vitórias consecutivas, nem a ganhar o titulo para o perder no dia seguinte, mas pronto, não sei mesmo o que pode acontecer. Sei que vão ser dois grandes combates sem dúvida.

    Por falar em grandes combates, acho que o melhor deste dia vai ser o Ospreay vs Hiromu, o regresso do Takahashi foi ÉPICO, e o gajo é dos melhores wrestlers da NJPW, todos os combates dele têm um ritmo alucinante, acho que a grande expectativa aqui é ver se ele mantém este ritmo, ou se vai estar mais calmo.
    Quanto ao Ospreay, para mim é um dos melhores do mundo, em termos de qualidade de combates, em 2019 não sei se houve alguém melhor que ele (Okada talvez, Shingo Takagi também teve um grande ano, e o inevitável Ishii vêem-me à cabeça), mas acho que é aqui que ele perde o título e segue para voos maiores na Heavyweight Division.

    Quanto ao Gold Rush, acho que Naito e Okada são os vencedores lógicos, e se o Okada ganhar tudo no dia 5, vai ser provavelmente, uma das melhores história em termos de long-term booking de sempre!
    Acho que estas duas noites de Wrestle Kingdom vão ser absolutamente ÉPICAS, sendo que a 2ª, é capaz de ser ainda melhor.

    Ah, e FinJuice perdem, lamento, mas não vejo o Juice a ser Double Champion, e mesmo que ele não ganhe o IWGP US Championship na 2ª noite, não o consigo imaginar a ir para lá com essa hipótese.

  2. 5 anos

    Parabéns pelo 35° arigo.

  3. José do Japão5 anos

    bom artigo como sempre. Eu estou extremamente hypado para esse evento daqui a três semanas, principalmente por causa da história envolvendo o IC title e o heavyweight Title.
    Em relação aos combates principais da noite, eu acho que o G.O.D consegue reter os títulos, falta dois meses para eles completarem um ano de reinado, e tbm penso que eles vão perder o titulo somente em fevereiro ( quem sabe para uma Aussien open ou taichi e Zack).
    O combate pelo USA championship também penso que vai ser muito bom, o Lance teve uma metade de 2019 fantástico, um cara que era renegado a penas para divisão de duplas, teve uma run em carreira solo muito boa, porém, penso que moxley vence e finalmente vai fechar sua história com juice, estou de acordo com o rapaz que comentou abaixo, acho que juice não sai com nenhum belt.
    agora falando das três príncipe combates. hirumo vs ospreay vai ser um grande combate, penso que hirumo ganha o titulo e fixa de vez como principal junior da njpw, e para o ospreay, acho que ele vai anunciar sua ida para heavyweight division no new year dash.
    naito e jay white penso que naito finalmente derrota o white e se torna mais uma vez ic title e acho que dessa vez ele finalmente derrota okada ( acho que o okada ganha do ibushi) e tem seu momento de glória, se perde, penso que o naito não terá esse momento de novo. Se, okada vencer será o coroamento máximo de um wrestle espetacular.

    estou no aguardo do proximo artigo pta falar do ponto mais fraco desse grandioso evento que é mais uma vez o goto entrar na rota do never mais uma vez.

    • Obrigado!
      Aussie Open é uma equipa que já conheço há bastantes anos, desde o momento exato em que ela nasceu e uma equipa com a qual simpatizo imenso. A NJPW para a aproveitar é agora, porque a WWE não vai demorar muito tempo a reparar nela.
      Não tenho tanta certeza que o Ospreay passe já para a Heavyweight division mas vamos ver.
      No próximo evento analisarei todas as outras questões, fica atento (inclusive essa em especial que referiste).

  4. Sandrobr5 anos

    O combate ao qual mais aguardo é Ospreay vs Hiromu. Não importa o resultado, só quero que os dois mostrem seus maximos no evento

  5. Jay Branco5 anos

    Bom artigo, e sobre o white, ele é um talento especial, um wrestler que tem ótima psicologia in ring, selling e ofensiva também, e tudo isso com apenas 27 anos, o futuro nos aguarda um dos melhores wrestlers da década