Boas a todos nesta grande casa que é o Wrestling PT!

Não será de estranhar que, tendo em conta o booking pelo qual a WWE enveredou na última década, a mesma se encontre, em diversas situações, com um problema entre mãos no que diz respeito a combates em que o mesmo lutador, não ganhando praticamente nada com a vitória em determinado combate, tem tudo a perder caso a decisão seja a de sair derrotado.

Várias razões contribuem para um booking com estes problemas, pelas quais percorrerei ao longo deste artigo, analisando igualmente as consequências a prazo que, com essas decisões, vêm associadas. Podemos, actualmente, ver esta situação verificar-se em dois combates que acontecerão brevemente no próximo PPV da WWE, o Backlash, que são: Jeff Hardy vs. Sheamus e, por mais incrível que pareça, e talvez muitos de vós ainda não tenham reparado, Edge vs. Randy Orton.

Comecemos pelo primeiro, olhando para a situação dos dois lutadores. Por um lado, Sheamus regressou no final de 2019 com grande ímpeto, mas assim que voltou aos combates esse momento criado ao longo de meses de vídeos e promos com um conteúdo bastante interesse esvaiu-se.

Venceu Shorty G no Royal Rumble, mas nem no Royal Rumble match participou e partir desse momento voltou a ser afastado dos programas semanais do SmackDown, até que retornou no evento pós-WrestleMania, para recomeçar o que devia ter sido feito à meses, iniciando uma feud com outra estrela de topo da WWE, Jeff Hardy, a quem tudo leva a querer que terá nos próximos tempos a sua última grande run da carreira, um último push.

Jeffy Hardy não lutava à meses e regressou com tudo. A história não tem sido desinteressante e, estando na equação dois dos nomes que formaram o up-midcard da WWE durante largos anos, será, certamente, uma feud que toda a gente quererá ver, seja ou não fã de um ou dos dois envolvidos. Hardy conseguiu vencer Sheamus na 1ª ronda do torneio pelo vago título Intercontinental, através de um pin rápido e em que conseguiu uma vitória surpresa no fim. Combates assim não me agradam muito, mas percebo que, para início de feud, fosse uma ideia útil.

Mas, derradeiramente, o problema coloca-se agora no futuro. Qual destes dois sairá por cima nesta rivalidade? Não importa a quantidade de combates que tenham e que distribuam as vitórias em igual número para ambos os lados, haverá sempre alguém que sairá por cima e alguém que ficará por baixo. Mais, se esta for uma feud que terá vários combates, cada derrota que um dos dois leve será como que uma agressão à credibilidade destes dois lutadores acabados de regressar.

Sheamus sofrerá da situação do heel credível que perde facilmente e Jeffy Hardy da questão de ser um face acabadinho de regressar como um herói que perderá para um heel que perde facilmente. De facto, na minha opinião, esta rivalidade não ajuda ninguém, nem ninguém ganha com ela.

Brain Buster #61 – Dificuldades evitáveis

Mas agora os meus caros leitores poderão pensar: então qual seria a solução? Seria não colocar estes dois lutadores numa rota de colisão tão cedo após o seu recente regresso. Jeffy Hardy beneficiaria de uns meses a derrotar heels do mid-card, e Sheamus beneficiaria de mais uns meses a vencer faces que lhe aumentariam a credibilidade perdida nos últimos anos.

Após essa construção, esta rivalidade teria ainda mais star-power e, fosse qual fosse o vencedor da mesma, nenhum dos dois lutadores seria vistos aos olhos dos fãs como um perdedor, pois tinham meses de base em que tiveram boas vitórias, um pano de fundo que lhes permitisse voltar após uma derrota numa blood feud como é esta.

Porém, faz-me ainda mais confusão ter-mos de assistir a um rematch entre Edge e Randy Orton. Sim, a forma como como têm promovido o combate é ridícula, pois ninguém acredita que sairá daqui o melhor combate de wrestling (propriamente dito) de sempre. É verdade que estes dois podem dar um combate excelente, mas já há combates excelentes, que ninguém acredita que estes dois poderão superar. A WWE está a vender uma coisa que os fãs não acreditam. Mas não é essa a razão de eu achar que este combate não deveria acontecer novamente e as razões são muito similares ao que já vim referenciando para a situação anteriores.

Olhando para a situação dos dois lutadores, Edge teve, muito provavelmente, a melhor comeback story de sempre, por isso, é um lutadores mais over no roster da WWE e dos quais os fãs adoram genuinamente. A sua vitória na WrestleMania contra um lutador tão credível e estabelecido como Randy Orton ajudou a cimentar esta sua posição, mas em que é que mais uma vitória sobre Orton o ajudará a provar? Aumentar-lhe-à a credibilidade e irá deixá-lo exactamente na mesma posição? Pois… e uma derrota? Não afectará essa mesma posição? Mais, não sendo Edge um lutador part-timer, pelo menos nos rígidos modos que vimos nos últimos anos, não faria sentido a sua primeira derrota após o regresso ser contra um lutador mais jovem que beneficiasse bastante com essa vitória, em vez de ser para alimentar o ego e o heat de um heel que já tem bastante como Randy Orton?

Por outro lado, Randy Orton tem tido os anos mais difíceis da sua carreira. Se não acreditam nisto, tentem pensar na última grande vitória deste lutador e não se lembram de qual foi. No último ano perdeu com AJ Styles na WM, perdeu a feud com Kofi Kingston pelo título da WWE, andou perdido no mid-card e perdeu para Edge na WrestleMania. De facto, em que posição acham que mais uma derrota para o Edge o irá deixar? Pouca gente pode ter pensado nisto, mas os custos-benefícios destes rematch estão completamente desequilibrados. O que de bom poderá sair deste combate não colmata os riscos que se terão que correr seja qual for o vencedor.

Considero que foi extremamente inteligente a escolha de Randy Orton para adversário de Edge na WrestleMania. Mais uma vez, não sendo Edge um part-timer em termos muito rígidos e se a ideia é tê-lo a lutar várias vezes ao longo do ano, cimentar a sua posição de babyface numa grande vitória contra Randy Orton para começar foi muito bem pensado pois, a partir desse momento, ele estaria num grande momento para enfrentar as novas estrelas da WWE em vários Dream matches. Contudo, a continuação desta rivalidade é tudo menos necessária e coloca dificuldades de pensamento e de decisões a tomar que seriam perfeitamente evitáveis.

Brain Buster #61 – Dificuldades evitáveis

Estes tipos de situação têm-se tornado cada vez mais comuns nos últimos anos, em que a WWE, até de forma incidental e sem se aperceber, se coloca a si própria entre a espada e a parede. São resultado de um booking a curto-prazo, teimoso, descredibilizado e, muitas vezes, até preguiçoso, que tem sido a regra desde há uma década atrás na WWE.

Estamos a falar de decisões que têm em conta apenas o curto-prazo, isto é, não acredito que Edge tenha enfrentado Orton pelas razões que elenquei à pouco, mas porque era um combate fácil de bookar e interessante, decidido aquando do regresso de Edge, pois os planos até eram outros antes disso e que resultou da excelente interacção que ambos tiveram no Royal Rumble e que a WWE aproveitou, e bem, para explorar. Mas não foram pensados planos a médio ou a longo-prazo para ambos os lutadores. Simplesmente se deixam passar os meses e faz-se o booking a cada PPV, sem se olhar para histórias que podem acontecer nos próximos meses.

Um booking PPV a PPV faz com que assistamos a demasiados rematches, pois quase nunca surgem novas ideias para novas rivalidades e novos combates. É um booking levado pela vontade do vento e para o lado mais fácil em que o mesmo sopra. Colocar Sheamus e Jeff Hardy numa feud é interessante, mas não se pensou no momento da carreira destes dois antes de esta feud. Fez-se apenas porque os dois estavam disponíveis e não há planos para nenhum dos lutadores depois da sua feud.

Por conseguinte, é um booking teimoso, não propriamente quanto a más histórias ou feuds que não resultam, mas principalmente nas que resultam. Quando Vince McMahon encontra uma rivalidade ou storyline que é extremamente bem-sucedida ou uma feud que agrada aos fãs, a WWE não faz com que a mesma acabe, isto é, as melhores rivalidades ou histórias da WWE nos últimos anos não acabaram com um clímax antecipadamente pensado, nem num momento em que muitos fãs ainda se interessavam pela feud ou história. Acabaram num momento em que a mesma foi tão gasta, tão usada, tão utilizada que os fãs se fartarem dela de tantos combates ou momentos associados a ela. Mais do que não gostar dessas histórias, chega a uma altura em que os fãs simplesmente são indiferentes a elas.

É isto que está acontecer com Edge e Randy Orton, que depois de uma história e combate bastante bem-sucedidos na WrestleMania, a WWE não resistiu em os mesmos continuarem a rivalidade, mesmo quando toda a gente poderia apostar que a mesma havia terminando, criando uma tentativa de promoção quase ridícula para a feud que até aí estávamos a assistir para criar algum interesse e a ideia de novidade nos fãs, que definitivamente não existe.

Brain Buster #61 – Dificuldades evitáveis

Outra coisa que a WWE tem tentado atenuar nos últimos 2 anos (e ainda bem) é o seu booking 50/50, em que dois lutadores, numa rivalidade, trocam imensas vitórias entre si, de forma a nenhum deles sair por baixo. As consequências a longo prazo deste tipo de decisões são enormes, porque basta 1 ou 2 anos a tomá-las com frequência, que fazem com que ninguém fique acima de ninguém e, se isso acontecesse, não se criam novas estrelas. Não há interesse nos fãs gostarem ou apoiarem aquele lutador ou outro, pois todos se encontram ao mesmo nível, ninguém sobressai.

Mas, efectivamente, com o fim das cláusulas de desforra dos ex-campeões após perderem o seu título deu-se um grande passo com a finalidade de mudar este tipo de booking, o que ajudou, mas, como em tudo, a WWE não resiste em utilizá-lo em certas histórias e rivalidades.

É isso que espero que aconteça entre Sheamus e Jeff Hardy e, infelizmente, será isso que acontecerá com Edge e Randy Orton se este vencer o combate entre ambos no Backlash, com um horizonte temporal tão pequeno depois da vitória de Edge na WrestleMania, vitória essa que deveria ter servido para recolocar Edge no mapa da WWE e não para ser mais um passo na continuação de uma rivalidade que já ninguém esperava ver continuar.

Após esta análise, sem dúvida que um booking a longo-prazo, como a WWE fazia muitas vezes no passado e como a AEW e a NJPW (esta sempre com mais sucesso) tendem a fazer neste momento, permitira resolver e solucionar muitos destes problemas e, mais do que isso, evitar que a própria WWE se coloque em decisões assim.

Por fim, falar também da quantidade de PPV´s que a WWE faz por ano, que já aqui referenciei várias vezes no Brain Buster e da qual sou profundamente crítico. A WWE não precisa de fazer tantos PPV´s por ano, não precisa de 12 ou 13 eventos deste tipo a cada calendário anual, quer porque não tem concorrente directa que também faça isso e porque todo o mundo do pro-wrestling se tem apercebido, nos últimos anos, que um booking com poucos PPV´s (uma média de 5 ou 6) é a melhor solução. É esse o método de trabalhar do Impact Wrestling, da ROH, da AEW, etc., cujo booking sofre menos por terem menos PPV´s por ano.

Será à toa que a única brand da WWE (o NXT) que segue este modelo seja também a mais bem-sucedida neste momento? De facto, o NXT também parece ter um booking TakeOver a TakeOver como o resto da WWE, mas muito mais bem pensado e em que situações como estas não acontecem e, na minha opinião, tal se deve, entre outros motivos, ao facto de produzir poucos grandes eventos, que lhe permite construir histórias sólidas e promovê-las devidamente por aquilo que elas são e não só para criar interesse.

Dificilmente algumas rivalidades no NXT, apesar de muito boas, se arrastam por meses a fio, com inúmeros combates entre os envolvidos e terminam com um clímax pensado e sem os fãs perderem o interesse pela sua história.

Hoje ficamos por aqui.

Até para a semana e obrigado pela leitura.

7 Comentários

  1. Também acho que não seria necessário vermos Edge vs Randy outra vez, vai acontecer só para atrair mais público. Quanto aos PPV, concordo de novo. É “exagero” haver 12+2 quando os +2 são os que em pouco ou nada favorecem as storylines e os lutadores envolventes. Como escreveste e bem deveriam reduzir o n° de PPV.

  2. Anonimo5 anos

    por mim seriam 12 ppvs no ano, 4 para o raw 3 para o smackdown e 5 em conjunto: 4 grandes e a elimination chamber antes da wrestlemania sendo que neste ultimo cada show teria a sua propria chamber

    • Obrigado pelo comentário. A fazer PPVs por brand muitos dos problemas que mencionei também se evitavam. É uma outra solução que faz todo o sentido.

  3. Sandrojr5 anos

    O nome disso é ganância, enrola rivalidades por longos períodos para tentar vender, faz muitos ppvs por ano para tentar vender, a WWE hj em dia só é ganância, eles olham mais a quantidade do que a qualidade, essa que a verdade. Ótimo artigo cara, aliás, vc poderia tentar falar em algum próximo artigo da situação atual da Impact?

    • Também gostava que escrevesse sobre a Impact.

    • Obrigado pelo comentário e sugestão.
      Acho que têm razão, só falei de Impact aqui no Brain Buster 2 vezes e é uma promotora que tenho gostado bastante de há uns 2 anos para cá. Trarei mais temas sobre o Impact no futuro!