Boas a todos nesta grande casa que é o Wrestling PT!

Depois de, na semana passada, dois dos meus estimados leitores me terem sugerido para escrever mais sobre o Impact Wrestling, algo que só fiz apenas duas vezes desde que comecei com este espaço semanal, decidi, hoje, trazer um artigo afecto a essa promotora. Nos últimos dois anos, o Impact tornou-se numa das minhas brands de pro-wrestling preferidas de acompanhar.

Aprendendo com os erros do passado, ao procurar um roster próprio e construído por si (e não pela WWE) e, ao optar por um booking simples, mas igualmente consistente e sólido e onde bons lutadores e combates não faltam, confesso que, até para mim, é bastante surpreendente não ter redigido mais alguns artigos sobre o Impact Wrestling.

Porém, tal deve-se a uma justificação muito simples. O Impact grava os seus shows semanais com antecedência, as chamadas tapings, algo que não leio, pois prefiro ver o seu programa semanal todas as semanas sem ler qualquer tipo de spoiler. Isto dificulta a escolha de temas que poderia fazer desta promotora, ao nível de rivalidades para o futuro, possíveis campeões e cards para os maiores shows, pois posso cair num erro de tentar prever um caminho, que já é realisticamente verdade ou mentira. Por isso, sem ser avaliações mais gerais sobre o seu produto, ou temas isolados que não necessitam de reflexão futura, torna-se bastante difícil ter sobre o que falar sobre o Impact.

Esta semana, porém, encontrei algo a analisar relativo a esta empresa e, confesso, à boleia das sugestões da semana passada. Irei percorrer o produto do Impact nos últimos dois/três meses, ou seja, desde que toda esta situação da pandemia mundial que atravessamos hoje em dia começou e, daí, tirar ilações acerca do booking do Impact, do seus eventos e até de muitos dos seus combates.

Antes de avançar para questões mais específicas dizer que, globalmente, considero que o Impact foi a promotora mais afectada pela existência da Covid-19. E quando falo desta forma, não estou a referir-me a dificuldades económicas ou de realização dos seus eventos, dado que, nos EUA, a par da WWE e da AEW, o Impact foi a única brand a continuar a realizar os seus shows. Desta forma, estou sim a falar do conteúdo dos mesmos, porque todas as promotoras de wrestling perderam imenso com as circunstâncias recentes, mas em termos de booking e da qualidade dos shows, o Impact foi claramente a mais afectada. Claro que este tipo de conclusões ou ideias só serão possíveis de retirar quando em comparação com os programas semanais da WWE e da AEW.

Brain Buster #62 – O mais afetado

Talvez a ideia que mais contribui para ter essa impressão trata-se do facto do Impact viver muito à custa dos seus combates, pensando menos nos assuntos extra-wrestling, como o espectáculo e as histórias propriamente ditas. É claro que este problema pouco existirá na WWE principalmente, mas também na AEW, pois conseguem fazer os seus programas semanais e PPVs em espaços luminosos, em que não se sinta tanto a escuridão que é assistir a shows de wrestling sem público.

O Impact tem realizado o seu programa semanal numa arena com as luzes apagadas, em que as luzes só incidem sobre o ringue e lutadores. Claro que, numa empresa que se faça valer essencialmente pelos seus combates em que o público tem sempre um papel determinante em determinar a sua qualidade, ou melhor, a percepção com que ficamos deles, no momento em que se fica sem público, é que se perdeu grande parte dos aspectos positivos do produto que se tinha. E quem diria que eu viria a dizer algum dia que apostar principalmente na qualidade dos combates seria um handicap? Pois, mesmo custando analisar as coisas dessa perspectiva, facto é que a mesma é verdadeira neste momento.

Não há promos e segmentos do backstage com abundância, não há fogo-de-artifício para melhor a percepção do espetáculo. Há, essencialmente, wrestling no seu estado mais puro que, numa arena fechada e escura e sem público se torna bastante difícil de conseguir atingir a qualidade que vínhamos assistindo semana após semana no programa semanal desta promotora.

Os combates propriamente ditos não é que tenham sido péssimos, nem sequer maus, eles simplesmente não oferecem nada para além disso. Como não há histórias super-interessantes que os torne “must see”, nem um público para os elevar, eles realizam-se quase que num ambiente de treino dos lutadores e não num ambiente de evento de pro-wrestling, de espectáculo, de emoção, drama, de credibilidade, algo que tem afectado bastante o Impact e a qualidade dos eventos que vem produzindo desde os problemas gerados pelo coronavírus.

Mas o Impact também não é totalmente inocente na situação em que acaba por se encontrar neste momento. O seu booking nos últimos 2 meses tem-se tornado bastante confuso, para não dizer mesmo nada razoável do ponto de vista da simplicidade e eficiência. Continua, sim, a apresentar coisas boas e outras muito boas, mas há outras em que o booking deixou de lado o que funcionou nos últimos 2 anos, nomeadamente as histórias consistentes e sólidas. Isso é bastante notório nalguns lutadores e, principalmente, nos grupos que se têm formado e/ou acabado nos últimos meses, em histórias bastante desinteressantes e com lutadores completamente fora do seu elo mais forte, a fazer coisas muito diferentes do que os tornou conhecidos.

Estou a falar, primeiramente, da recente stable criada denominada #CancelCulture, em que toda a gente que faz parte dela se encontra completamente desfasada do que andava a fazer nos últimos tempos e que poderia muito bem-estar a fazer outra coisa, bem mais interessante e condizente com a sua personagem. Começando pelo seu líder, Joey Ryan, um lutador que nos últimos anos ficou conhecido pela sua personagem cómica, de um momento para o outro virou heel. O problema não foi esse turn, foi a personagem que lhe atribuíram, que nada tem de interessante, limitando-se a ser um “nerd” que se ofende com o que lê na internet, entre outras coisas tão interessantes como esta (percebam a ironia).

Brain Buster #62 – O mais afetado

A ele juntaram-se Rob Van Dam e, a sua valet, Katie Forbes, que se estavam a tornar nas personagens e duplas mais cativantes dos últimos tempos. Este Rob Van Dam heel fez ressurgir a sua carreira do que já era há 20 anos e Katie trouxe muito à sua nova atitude, ajudando-o a criar bastante heat. RVD pôde, assim, continuar a lutar com os principais nomes do card e a ser a estrela que um lutador do seu calibre é.

Então, porquê esta decisão agora de os dois se negarem a fazer o que lhes trouxe mais sucesso desde o final do ano passado? Sinceramente, não percebo. Por fim, a última adição ao grupo foi Jake Crist, ex-membro dos oVe, que adoptou, também ele, um personagem de “nerd” e que não será mais do que um número nesta stable. Desta forma, trata-se de um grupo sem substância, criado apenas “porque sim” e que em nada acrescenta em termos de interesse ao produto do Impact.

Ligado a este último membro está o fim da stable oVe depois de Sami Callahan, seu líder, ter abandonado o grupo. Esta stable foi das melhores razões para ver Impact nos últimos 2 anos e era algo simples, mas cativante pelas personagens e interacções que existiam entre os seus membros, nada forçado como é, hoje, a #CancelCulture. O fim deste grupo desagradou-me, mas fiquei ainda mais aborrecido pela forma como bookaram o seu fim.

Sami, que adoptou uma personagem mais heel e autónoma, decidiu seguir caminhos separados dos lutadores que outrora utilizou. Até aqui tudo bem, mas nenhum angle se tira dos restantes membros? O Madman Fulton saiu pelos seus pés também e a tag team inicial do grupo (os irmãos Crist), acabaram com Jake a trair Dave e a juntar-se ao #CancelCulture. Se isto ficar por aqui, confesso que é um fim bastante decepcionante. Não há emoção nas palavras das interacções dos membros do oVe como havia dantes, não há ninguém irritado e que procure vingança de ninguém. Simplesmente, fez-se tudo de forma tão apressada e genérica que me choca como uma stable tão cativante nos últimos anos pode ter tido um fim tão “sem sabor” como este.

E isto leva-me também a esta nova personagem do Sami Callahan. De facto, foi uma reinvenção necessária e utilitária para este óptimo wrestler, que já vinha fazendo a mesma coisa desde o ressurgimento do Impact Wrestling. Contudo, não tem sido, de todo, o melhor começo da personagem. Desde logo, começou por perder para Ken Shamrock no Rebellion, o que, na minha opinião, lhe tirou muito do gás com que vinha desde que retornou. E agora anda indeciso entre ser heel e face na feud com o Michael Elgin, ao mesmo tempo que ainda não acabou os problemas com o Ken Shamrock. Mais uma vez, é tudo muito mais confuso e complexo e que em nada ajuda o Sami, o produto e a própria marca do Impact.

Brain Buster #62 – O mais afetado

E por falar em Michael Elgin, os seus últimos meses têm-me desiludido pessoalmente. Para mim, overall, trata-se do melhor lutador que o Impact tem no seu roster actualmente e que tem tudo para ser a cara da empresa nos próximos anos. Ele teve um booking impecável até ao Rebellion, mas a partir daí tem deixado muito a desejar.

Quer dizer, perde a 3-way pelo título da TNA, perde no torneio pelo nº1 Contendership ao título Mundial, mas mais que isso, é a forma como ele tem constantemente agido em relação às supostas injustiças que lhe fizeram para ele não ser o campeão Mundial neste momento. Uma personagem como a ele age mais do que a fala, ganha combates e domina no ringue e fora dele e não “chora” por oportunidades nem por injustiças. Ele tira o que quer e não pede nada a ninguém. Foi esta a personagem com que ele se estreou e é pena que se tenham desleixado ao apresenta-lo desta forma.

Mas ele é apenas um dos casos sintomáticos que andam a rondar a luta pelo título Mundial no main-event recentemente, que se encontra e, permitam-me a expressão, uma bela “bagunça”. A campeã Tessa Blanchard não aparece aos shows, o Eddie Edwards falha ao seu title match no Rebellion, regressa e é logo colocado a lutar pelo título quando, em kayfabe, foi ele próprio que recusou a oportunidade (fosse porque motivo fosse), o Ace Austin vence o torneio pelo nº1 Contendership e não recebe uma title shot um para um com a campeã e, com isto tudo, junta-se o Trey que cai no main-event quase do nada.

Para o Slammiversary está marcado um 5-way match pelo título Mundial, em que dois participantes não merecem lá estar, em que em que outros dois merecem uma oportunidade isolada e em que a campeã não dá notícias há dois/três meses. Isto é profundamente confuso e complexo e retira uma aura de credibilidade do título Mundial pois o mesmo é de fácil acesso.

Por outro lado, temos lutadores que regressam sem impacto quase nenhum, como foi o caso do Crazy Steve que podia estar a fazer algo bem mais interessante do que um mini-feuds de mic-card com o Joey Ryan e os #CancelCulture.

Por fim, o título da X-Division também parece um pouco perdido depois de ficar sem Jake Crist, Rich Swann e Ace Austin que, ou por lesão, ou por booking se afastaram deste título e deixaram a competição pelo mesmo mais pobre, algo que só deveria ter acontecido se novos lutadores fossem direccionados para fazer isso. Até agora, somente Chris Bey foi construído nesse sentido e é pena, pois a X-Division dos últimos anos tornou-se num dos pontos de destaque deste novo Impact Wresting.

Já a divisão de equipas, encontra-se num momento de difícil avaliação. Sim, os cinematchs dos campeões, The North, realizados no Canadá foram muito engraçados, mas como já puderam notar, não sou o maior fã deste tipo de apresentação no wrestling. Contudo, do outro lado, temos equipas como o TJP e o Fallah Bah, os Rascalz, entre outras, que continuaram muito activas nos últimos meses e tornaram a divisão razoavelmente interessante. Estou bastante curioso para assistir ao regresso dos campeões à TV e às defesas dos títulos “a sério”.

Brain Buster #62 – O mais afetado

No entanto, é preciso que se diga que nem tudo é mau, embora este não seja um artigo para ver as coisas positivas, que quase que têm sido ofuscadas pelas negativas, mas o que é facto é que elas existem, e merecem menção. A principal é a divisão feminina. Sim, é verdade que a campeã também esteve afastada durante estes meses, e a ex-campeã também, mas há, de facto, uma grande aposta nesta divisão para o futuro.

Nos últimos tempos, contrataram-se várias lutadoras como Neveia, Tasha Steelz, Kaylie Ray e Deonna Purazzo e redireccionou-se a carreira de algumas que lá estavam que precisam de algo novo, nomeadamente Rosemary, Havoc e Kiera Hogan. Com todos estes nomes e apostas, prevejo que no final do ano, esta divisão feminina se torne das mais cativantes do mundo do pro-wrestling e em que os apreciadores de wrestling feminino irão colocar os seus olhos. Neste ponto, bom trabalho do Impact!

Posto isto, concluir que, por estas razões, sem dúvida que o Impact, em termos de produto, foi, sem dúvida, a promotora mais afectada pela Covid-19. É facto que tanto o NXT, como o Dynamite também o foram, mas o Impact foi o principal prejudicado. É com tremenda tristeza que digo isto, pois o esforço que muitos homens e mulheres colocaram neste projecto nos últimos anos foi excelente, esforço esse que foi sabotado por estes últimos meses difíceis.

Contudo, como palavra de futuro, gostaria de dizer que acredito e tenho esperança que o Impact Wrestling saia desta situação, quer de um booking menos bom, quer de um voltar a ter um produto mais interessante. A actual direção fez um verdadeiro milagre desde eu chegou em 2017, ao conseguir recuperar um produto que se encontrava praticamente morto e fez dele um dos programas semanais mais sólidos e consistentes da actualidade. Sem dúvida que assim que as circunstâncias actuais melhorarem, também o Impact melhorará.

Hoje ficamos por aqui.

Até para a semana e obrigado pela leitura.

4 Comentários

  1. O Michael Elgin deveria ter ganho o torneio. O 5 way marcado para o Slammiversary sem sentido, quase de certeza que o Trey irá levar o pin. Como escreveste, a ida do Jake Crist para o #CancelCulture, também sem sentido. A divisão tag, até se pode safar. Tem TJP e Fallah Bah, XXXL, Rascalz, Reno Scum, Deaners. Quem achas que vai ganhar no ME do Slammiversary? Para mim vai ser o Elgin.

    • Obrigado pelo comentário. Na minha opinião, o único resultado possível do Slammiversary é o Elgin vencer o título. Como disseste, deveria ter ganho o torneio e desafiado a Tessa no PPV one-on-one.

  2. Sandrojr5 anos

    Pra min oque mais pesou em algo sem sentido foi o ACE Austin vencer o torneio e não ganha uma singles match contra o campeão ou a campeã da Impact, foi aí que eu vi que o booking deles esta decaindo, é uma pena pois eu gosto muito dos shows deles, ótimo artigo, e obrigado por fazê-lo.