Boas a todos nesta grande casa que é o Wrestling PT!

No passado sábado, dia 7 de novembro, fomos presenciados com dois grandes shows de wrestling, o NJPW Power Struggle, e o AEW Full Gear. Foram dois eventos que preencheram um dia e o rechearam de muito e bom wrestling e o meu objetivo é, para o artigo desta semana, e para o artigo da próxima, fazer uma análise a cada um deles, por isso fica já prometido o tema para o próximo Brain Buster

Hoje irei começar por um dos grandes shows da NJPW, o Power Struggle, que, na impossibilidade de esta promotora realizar vários shows este ano (tours do Wrestling Dontaku e Destruction e o grande evento do King of Pro-Wrestling), acabou por ser um dos shows mais importantes do ano para esta empresa nipónica, contendo combates bem interessantes e determinantes relativamente ao futuro mais imediato da NJPW, que consiste no caminho até ao Tokyo Dome, ao Wrestling Kingdom, a realizar dias 4 e 5 de janeiro.

O evento teve apenas um total de 6 combates, o que até tem vindo a tornar-se regra nos últimos shows da NJPW, e a meu ver, bem. Numa altura em que o público se encontra limitado a bater palmas ou com os pés no chão, a dificuldade de concentração dos fãs presentes na arena e, principalmente, dos que estão a ver em casa é bem maior, pelo que, a meu ver, é tremendamente inteligente evitar qualquer tipo de fillers, e ir diretamente ao que importa, dando-nos 3 combates seguidos, um intervalo, e depois os outros 3 combates para terminar, em que o tempo útil do show não ultrapassa as 2 horas e 30 minutos nos shows menos importantes e as 3 horas e 30 minutos nos eventos mais importantes, como foi o caso deste.

Confesso que foi um evento com o qual me diverti imenso, do princípio ao fim e que, tirando 2 ou 3 shows da tour do G1 Clímax, este, para mim, foi o melhor evento da NJPW desde que a mesma regressou do confinamento. Não foi só o wrestling que, em si, foi excelente, foram também excelentes as histórias contadas em quase todos os combates, bem como as emoções que estiveram à flor da pele, principalmente nos main-event e no cmain-event.

Já é vosso conhecido o gosto que eu tenho pela New Japan e mais ainda vai ficar após lerem este artigo. Se tudo foi perfeito? Talvez não, e isso apontarei ainda neste artigo. Mas se foi um evento recheado de bom wrestling, histórias interessantes e momentos que ficarão sempre na nossa cabeça lá isso foi. São para mim, estes os 3 pilares em que o pro-wrestling deve assentar e a NJPW, atualmente, é a promotora que melhor os concretiza. O meu objetivo a partir de agora será analisar todos os combates do evento, tanto do ponto de vista do seu conteúdo, como do ponto de vista do que podem representar para o futuro. Vamos lá isso então!

Brain Buster #83 – Um jogo de emoções

NJPW King of Pro-Wrestling Title No Corner Pads Match: Toru Yano (c) venceu Zack Sabre Jr.

Abrimos logo com a primeira defesa deste prémio da NJPW que não é bem um torneio, nem é bem um título, e cujo o detentor é o Toru Yano. Para quem possa não estar familiarizado com este conceito, trata-se de um troféu cujo detentor carrega e vai defendendo em vários combates com diferentes estipulações. Como bem conhecemos o Toru Yano e a sua tendência para a comédia, claro que só poderíamos esperar deste seu “reinado” algo do género.

Tratou-se de um combate sem proteção dos 4 cantos do ringue, algo que teve a sua origem no facto de um dos spots tradicionais do Yano, de tirar a proteção de algum dos cantos em quase todos os seus combates. Foi um combate bem engraçado e cujo objetivo não era dar um clássico, mas sim fazer com que o público e os dois lutadores tivessem um momento divertido antes das batalhas que os iriam aguardar. O Yano acabou por vencer depois de conseguir prender o ZSJ fora do ringue e impedir que ele voltasse para o ringue a tempo de quebrar a contagem. Quanto ao futuro do Yano e deste título, penso que será este o modelo para o tempo que ele for detentor deste troféu, e bem, dado que oferece sempre algo diferente ao show e a nós.

Relativamente ao ZSJ, irá certamente concentrar-se agora na World Tag League, pois sendo um dos IWGP Tag Team Champions com o Taichi quererá entregar o melhor possível no torneio. Aliás, estes dois, como equipa, foram uma das revelações de 2020, se não mesmo a revelação deste ano. Todos os seus combates foram must-see e todas as histórias por detrás das suas defesas e interações com os adversários foram deliciosas, coisa que se pode prolongar agora no torneio mais importante da divisão.

Brain Buster #83 – Um jogo de emoções

NEVER Openweight Title Match: Shingo Takagi venceu Minoru Suzuki (c)

Este já é o terceiro confronto entre estes dois belíssimos lutadores no espaço de 3/4 meses e, por incrível que pareça, na minha opinião, este acabou por ser o melhor deles todos. Aliás, antes de ir lá e explicar porquê, diria até que, num ano em que não houveram grandes rivalidades ou rivalidades que saltam à vista quando alguém pergunta pela feud do ano, arrisco-me a considerar mesmo a feud Shingo vs. Suzuki a melhor de 2020. Foram 3 confrontos muitos bons e com uma história super simples e fácil de compreender, o que mais poderíamos pedir?

Ao contrário dos últimos dois confrontos, em que a história contada foi que o Minoru Suzuki, já numa fase muito avançada na sua carreira, pouco se importar com derrotas ou vitórias, mas em procurar a melhor competição possível, competição essa que encontrou no Shingo Takagi. E se o primeiro match é claramente dominado pelo Suzuki, que vence assim o título, o segundo já é mais equilibrado com o Shingo a redimir-se dos erros que o tinham levado à derrota num primeiro momento.

Este match foi muito mais além disso. Desde todo o tipo de strong style aqui presente, que já foi o que menos importou, contou a história do Shingo ultrapassar definitivamente o Suzuki. Prova disso? É que o Suzuki foi obrigado a fazer no sell a vários lariats e manobras do Shingo, tentando não mostrar parte fraca até ao momento em que não se conseguiu levantar mais. O Shingo acabou por vencer um Minoru fragilizado, não havendo dúvidas de quem saiu por cima desta rivalidade, tendo-se de elogiar o trabalho fenomenal do Suzuki, que abandona o ringue com ajuda num primeiro momento, mas depois rejeitando-a, como uma lenda que acaba de sair derrota, mas que sabe que o prime já passou. Percebem a diferença da existência nestes pormenores e detalhes deliciosos trazem aos combates? Foi uma história de competição linda, onde tudo bateu certo. Combate da noite!

Brain Buster #83 – Um jogo de emoções

Special Singles Match: Kazuchika Okada venceu The Great-O-Khan

Este acabou por ser o ponto menos positivos deste show e também o menos interessante, mas também acabou por ser a prova que o Great-O-Khan não será mais do que o lacaio do Ospreay ou dos Empire. Se tem o seu talento e valências? Claro que sim, todos na NJPW o têm, mas quando comparado com muitos outros lutadores do roster da NJPW, está claramente atrás, quer seja no ringue, quer no carisma e interesse da sua personagem. O Okada acabou por vencer este combate como se esperava e também como já era expectável foi desafiado pelo Ospreay para um combate no Wrestling Kingdom, depois deste último o ter traído durante o seu combate no G1 Clímax.

O que quero aqui dizer com mais afinco quanto a este combate/rivalidade, é que não tenho gostado da prestação do Ospreay como heel. Sim, continua a ser o Ospreay, um lutador que mesmo tendo um estilo ortodoxo, continua a ser uma das maiores promessas da NJPW no que aos seus lutadores mais jovens diz respeito. Mas se a sua prestação no ringue era muito boa, ela agora terá de mudar um pouco, terá de ser mais lenta, terá de ser menos espetacular, visto que ele agora é um heel, o que não tem acontecido muito para já.

Por outro lado, as suas promos como heel parecem tremendamente forçadas, para não dizer mesmo que ele parece estar pouco à vontade com esse papel. É certo que as mic skills do Ospreay nunca foram por aí além, mas como face notava-se muito menos, pois eram mais curtas, precisas e firmes. Como heel, fazendo promos mais longas, ainda está longe de me convencer. Espero que consiga melhorar nesse aspeto.

Brain Buster #83 – Um jogo de emoções

IWGP United States Heavyweight Title Briefcase Nº1 Contendership Match: KENTA venceu Hiroshi Tanahashi

Gostei deste combate. Talvez não tenha sido espetacular como o Shingo vs Suzuki, nem tenha tido as emoções dos main-events, mas foi um combate com uma história e que tinha um objetivo muito delineado, que foi cumprido na perfeição: manter o KENTA ocupado enquanto não pode desafiar o Moxley pelo IWGP US title, ao mesmo tempo que se lhe dão vitórias importantes contra nomes cujas prestações e vitórias o elevarão bastante. É esse o caso do Hiroshi Tanahashi, que se tem dedicado nos últimos tempos a ajudar os mais novos na sua credibilização e pondo-os o mais over possível, trabalho que já elogiei aqui no Brain Buster aquando do G1 Clímax, e que o volto a fazer.

As valências deste combate consistiram num match sólido e muito bom para despertar o público depois do intervalo, um combate dominado pelo excelente heel no qual o KENTA se tornou e onde o Tanahashi sentiu dificuldades em acompanhar, indo sempre procurando a sua oportunidade. Numa manobra de génio, o Tanahashi deu tap-out ao KENTA e aumentou a sua legitimidade em níveis que poucas vitórias lhe podiam dar. Por outro lado, aumenta a história de compaixão do público pelo Tanahashi que, embora não desistindo dos grandes palcos, sente cada vez mais dificuldade em acompanhar o ritmo deles.

O KENTA deverá manter-se o detentor desta mala até ao WK, pois não estou a ver quando o Jon Moxley podia voltar para defender o seu título, já que não há nenhum evento digno de um retorno de tal importância até dia 4 de janeiro.

Brain Buster #83 – Um jogo de emoções

IWGP Heavyweight & Intercontinental Title Briefcase Nº1 Contendership Match: Jay White venceu Kota Ibushi

Já há poucos momentos e combates no wrestling que ainda me façam markar, dar um pop enorme ou sequer levantar-me da cadeira, mas o resultado deste combate levou-me a ter esse tipo de reação. Sim, podia falar do combate em si claro, e do quão bom heel o Jay White é no facto de sempre que o Ibushi tentava sair do seu controlo era completamente parado por um big move que tirava toda a respiração do combate, porém, isso pareceu totalmente irrelevante quando o Jay White, da maneira mais cobarde e heel possível venceu o combate.

Este é um booking que na WWE nunca levaria a este tipo de reação, pois resultados controversos e lutadores que fazem batota existem na WWE aos montes e em quase todas as suas rivalidades. Na NJPW, como guardaram um momento destes para ocorrer pela primeira vez em 6 ou 7 anos desta tradição do vencedor do G1 ser main-event do WK, tudo foi sentido como especial e completamente surpreendente. Acredito que seja para tornar a caminhada do Ibushi mais turbulenta e conseguir com que os fãs o apoiem ainda mais no seu rumo até ao título principal.

Isto é um resultado inédito. Nunca ninguém havia perdido a mala de nº1 contender ao título principal por ter ganho o G1 antes do WK, e por ter sido inédito causou esta surpresa toda. O próprio público, limitado a bater palmas, não se conseguiu contar na sua surpresa. O plano anunciado será então, no dia 4 de janeiro, primeiro dia do Wrestle Kingdom, o Naito defender os títulos contra o vencedor do G1 Clímax 30, o Kota Ibushi, sendo que será o vencedor desse combate que no dia seguinte, dia 5 de janeiro, segundo dia do WK, irá defender os títulos contra o Jay White. É um booking inovador para o que a NJPW nos tem habituado, mas um booking que pode fazer maravilhas para a gimmick do Kota Ibushi. Imaginem que, ao contrário do ano passado, onde perdeu os dois combates nesses dois dias, este ano vence os dois combates? Caminhada de sucesso, história dramática e emocional, em que numa noite vence os títulos e, noutra noite, vence finalmente um adversário que em 3 confrontos, nunca conseguiu vencer em 2020. Isto admitindo claro, que consegue detronar o Naito…

Brain Buster #83 – Um jogo de emoções

IWGP Heavyweight & Intercontinental Title Match: Tetsuya Naito (c) venceu EVIL

E se poderia parecer ingrato para estes dois lutadores ainda terem um combate de exigência altíssima depois do ar ter sido sugado da arena pelo resultado do combate anterior, eis que estes dois, depois terem tido 3 combates anteriores em que realmente ninguém viu nada especial (eu incluído), nos deram um combate que brincou com as nossas emoções a partir de certa altura, e em que se sentia completamente o medo daqueles fãs japoneses da possibilidade do Naito perder os títulos.

Tudo começou quando o Dick Togo e o Yujiro Takahashi tentaram ajudar o EVIL, tendo mesmo o Yujiro aplicado o seu finisher no Naito, o que parecia ser trágico naquela altura, tendo o SANADA vindo ao ringue ajudar o Naito, com o público a dar um pop bem grande, o que já mostrava o receio que ele tinha em ver o Naito perder, dado que depois do resultado do combate anterior, não só não queriam ver o seu babyface ganhar, como já tinham percebido que tudo podia acontecer, o que é um booking de génio.

Mas o que foi ainda mais excelente foi o Jay White vir ao ringue para surpreendentemente ajudar o EVIL, parceiro do Bullet Club, mas cuja relação ainda não se conhecia, sendo depois parado pelo Kota Ibushi, para mais uma ovação do público. Pelo meio, o EVIL foi acertando vários low blows no Naito e esteve sempre na iminência de aplicar o seu finisher, que seria sinónimo da sua vitória. A satisfação e alívio por parte do público foi provado quando o mesmo não se conteve na contagem do pin que deu a vitória ao Naito.

Que momento! O wrestling é a qualidade dos combates? É. Mas o wrestling precisa de ser, muitas vezes, algo acima disso, precisa de ser emoção e momento, e estes dois últimos combates tiveram isso tudo conjugado, deixando qualquer fã de wrestling orgulhoso destes intervenientes e da promotora que teve um booking tão bom, que tanto nos cativou e que jogou e brincou completamente com as nossas emoções.

Hoje ficamos por aqui.

Até para a semana e obrigado pela leitura.

6 Comentários

  1. josé do japão4 anos

    belo artigo, e mais um grande show da NJPW, fiquei triste pela derrota do Suzuki pensei que ele teria um reinado solido, mais, o Shingo é um monstro e merece esse reinado, agora fico na duvida quem vai enfrentar o shingo no WK. Em relação aos combates principais, fiquei surpreso com a vitória do White, pensei que o Ibushi iria ganhar e iria se matar com Naito, porém, foi um grande combate e espero que menino de ouro Ibushi ganha do Naito e finalmente derrote White (tenho minhas duvidas sobre isso).

  2. Rapaz… Faz um tempo que não tô assistindo nada de wrestling, só vendo as noticias… Mas depois desse Brain Buster me deu vontade de voltar a assistir. Artigo top.

  3. Sandrojr4 anos

    Confesso que fiquei surpreso com a vitória do Jay white, que grande momento, mas acho que o Naito não perde os títulos neste wrestlekindom não, acho que ele perde depois, ótimo artigo.

    • Obrigado pelo comentário. Vamos ver. Ver um lutador como o Naito que teve o seu momento de glória o ano passado este ano ganhar dois combates de seguida…acho difícil. Mais vale apostar tudo na caminhada do Ibushi. Mas vamos ver!