Boas a todos nesta grande casa que é o Wrestling PT!
Se bem se lembram, a semana passada, ao introduzir o tema do respetivo artigo, ficou prometido que no Brain Buster desta semana iria analisar o último PPV da AEW, promessa essa que pretendo manter! Esse compromisso nasceu, essencialmente, de ter considerado o dia 7 de novembro um excelente dia de wrestling, pois conteve dois grandes eventos, o NJPW Power Struggle e o AEW Full Gear. Após a semana passada ter analisado o Power Struggle, eis que esta semana será a vez do Full Gear, um evento que penso até ter passado o Power Struggle em termos de qualidade no wrestling.
Como bem sabem, tenho sido algo crítico da AEW nos últimos tempos, e penso que este último semestre não tem sido nada bom para esta promotora, seja em termos de booking, ou mesmo na qualidade de wrestling apresentado. Contudo, há uma coisa em que a AEW tem sido muito forte, que têm sido os seus PPVs que, por não acontecerem todos os meses, nos deixam com água da boca sempre que temos a oportunidade de ver um. É certo que o All Out foi muito criticado em muitos aspetos, mas se bem se lembram, na altura, até fui da opinião que muitas dessas críticas até foram injustas e que, não sendo o melhor PPV possível, teve combates e momentos que nos fizeram ficar agarrados ao show.
Este PPV, porém, foi muito bem recebido pelos fãs na sua generalidade, e também o foi por mim. Diverti-me imenso ao longo das quase 4 horas, e houveram vários combates que achei de alto nível. Claro que nem tudo foi tremendamente perfeito, e aí cá estarei para apontar pontos que, a meu ver, podiam ser corrigidos, mas, no geral, foi um ótimo PPV! Após o Full Gear, senti mesmo que a AEW pode ter dado um murro na mesa acerca de certas coisas que não estavam a correr tão bem e remar totalmente contra a corrente que vinha do All Out, ou até mesmo antes disso, para melhorar para um produto ao mesmo nível deste PPV. Postas estas considerações iniciais, vamos então analisar o show combate a combate.
Nota: como os meus caros leitores já se devem ter apercebido a este ponto, eu não gosto de combates cinematográficos, por isso, fiz a escolha de ver todo o PPV à exceção do cinematch entre o Matt Hardy e o Sammy Guevara. Não sei se, dentro dos parâmetros acerca dos quais os fãs costumam avaliar e gostar de combates do género, isto foi bom ou mau, mas o interesse que tenho nisso é praticamente nulo, e por isso preferi não ver.
AEW World Women’s title: Serena Deeb (c) venceu Allysin Kay (Buy In)
Quando anunciaram este combate para o Buy In, confesso que fiquei algo desiludido, pois considerei que era um match que podia estar perfeitamente no card, em deterioramento de outros claramente menos interessantes, como era o caso do OC vs. John Silver e do Matt Haardy vs. Sammy Guevara. No entanto, isso era no meu caso, que acabo por preferir o wrestling mais simples ao menos simples e que considero que os combates por títulos devem ser sempre dos mais importantes no card, mas compreendo esta decisão, visto que havia planos para dar destaque aqueles dois combates que referienciei que preferia que estivessem no Buy In invés deste title match.
Por outro lado, não acabou por ser o combate pelo qual esperava, tendo em conta que estávamos a falar de duas lutadoras muito boas, e já com muitos anos de experiência. Claro que devem ter colocado mais limites por ser um combate do Buy In, que serviu essencialmente para aquecer o público e preparar os fãs para a longa noite que ainda os aguardava, mas que deixou algo a desejar, seja na velocidade, na riqueza da história contada, etc., lá isso deixou.
Quanto ao futuro, a ex-campeã Thunder Rosa apareceu para confrontar a campeã após o combate, coisa que poderá indiciar que a Thunder Rosa não se afaste da AEW ou NWA nos próximos tempos, coisa que saúdo, dado que desde que se estreou na AEW, tem sido das presenças mais constantes em termos de qualidade do wrestling apresentado. A Serena Deeb, por seu turno, é uma lutadora que aprecio bastante e fico contente de ver que finalmente teve uma oportunidade que merecia já há muito tempo. Quando à Allysin Kay, penso que seria um bom nome para a divisão feminina da AEW, pois é uma lutadora sólida e muito mais capaz que nomes como Penelope Ford, Big Swole, etc. Além disso, como estrela dos indies americanos e ex-Knockouts champion, penso que seria uma excelente contratação para uma divisão que necessita urgente de melhorar.
AEW World title Eliminator tournament final: Kenny Omega venceu Hangman Page
Foi um ótimo combate para dar início ao show propriamente dito, pois permitiu aos fãs focarem toda a sua atenção no show ao começar com dois wrestlers deste calibre, mas que, em termos de qualidade, especialidade dos momentos, etc., foi ultrapassado por outros combates do evento, e ainda bem, porque é assim mesmo que um show deve ser planeado: a última impressão que os fãs vão ter do show é que conta, e não a primeira. Foi um combate rápido como estes dois lutadores sabem fazer, e continuou a história de haver alguma tensão entre eles após a separação enquanto tag team, mas que deixou algo a desejar, pois parece algo para ter terminando aqui, ou então algo que ainda vai ter o seu grande momento mais à frente.
Passo a explicar: ao vermos o Kenny Omega vencer e no final ter cumprimento Page, a tensão que havia entre os dois parece ter-se dissipado, pois o Omega tornou-se nº1 Contender, ficou satisfeito com isso e deixou de lado esta sua “feud” (se é que lhe posso chamar assim) com o Hangman. Isto leva-me a crer em vários cenários possíveis. Poderiam haver mais, mas eu quero acreditar que o Hangman se manterá face e, a haver um heel, será o Omega, isto porque o Hangman está tremendamente over e tem um carisma e personalidade fáceis de gostar, ao contrário do Omega que, não sendo um mau babyface (de todo), penso que falo por todos quando digo que o seu melhor trabalho em termos de gimmick, foi enquanto heel.
Um cenário possível é que isto fica por aqui, o que não acho, de todo, correto, porque nos andaram tanto tempo a vender uma possível rivalidade entre dois, e ter isto a acabar aqui seria, no mínimo, desolador. Outro cenário, será o Omega tem o seu World title perder, aparecer o Hangman no final para o confortar, e Omega fazer um heel-turn descarregando a sua fúria no seu ex-parceiro. Por fim, vejo o Omega a vencer o título Mundial, o Hangman se tornar nº1 contender e antes, durante ou após esse combate o Omega fazer o heel-turn. Mas, há, efetivamente, diversos cenários pelos quais a AEW pode optar aqui, pelo que temos de esperar para ver, eu que considero que até já esperamos demais e que a AEW andar a construir algo do género durante tanto tempo é prejudicial para o interesse que os fãs podem vir a perder até esse momento de desenlace tão esperado.
Orange Cassidy venceu John Silver
Este combate acabou por ser bem melhor do que eu esperava, e foi muito mais interessante do que poderia imaginar. Teve uma história mais cómica no início e mais agressiva no final, e desde o momento em que o Silver rasga os bolsos do OC ao final em que o OC vence, foi algo bem construído, e as coisas nunca pareceram ter acontecido no ar.
No entanto, é um combate que podia, e deveria ter acontecido num episódio do Dynamite. Estamos a falar de um combate em que o vencedor era óbvio e em que um dos lutadores não é nada mais do que um glorifed jobber. Num show tremendamente longo, um combate destes não pode ter muito destaque, quanto mais ter o tempo que este teve, isto logo num show em que os fãs anseiam pelos main-events e não querem desperdiçar energia e capacidade de atenção para estarem frescos para esses matches que realmente querem ver.
E mesmo aqueles pontos positivos que eu descrevi no primeiro parágrafo, são algo cujo fã mais comum só chega lá depois de pensar no match mais profundamente, pois durante o show, um fã só pensa no momento em que o OC vai ganhar e pouco mais. Se a AEW quer captar a atenção de fãs casuais, e menos dos fãs hardcore, deve ter em mente este tipo de pensamento. Não obstante, aplausos para estes dois lutadores que trouxeram interesse para um combate que partia sem nenhum.
AEW TNT title match: Darby Allin venceu Cody Rhodes (c)
Foi um match acerca do qual tive sensações mistas. Desde logo, é inegável que os dois lutadores, mesmo com praticamente build-up quase nenhum, tornaram a aura deste confronto especial e muito cativante. A luta de mentalidades, o contraste de estilos, etc., tornaram tudo isso possível, pois são dois wrestlers carismáticos e com gimmicks muito interessantes, especialmente o Darby, que tanto falo do seu carisma mais “dark”, apesar de achar que ele ainda pode e deve melhorar em muitos aspetos no que ao in-ring wrestling diz respeito. Seja como for, a cativação e os momentos especiais não faltaram e isso é também a essência do wrestling, pelo que nesse aspeto, este foi um dos melhores combates do evento.
Um momento sobre o qual fiquei de pé atrás, foi quando o Cody aplicou o Cross Rhodes da 3ª corda, e o Darby Allin acaba por se safar, pois tinha parte do corpo debaixo da corda. Compreendo que a história contada foi que o corpo do Darby foi arremessado com tanta força, que o levou para essa posição e o Cody com tanta pressa de querer ganhar o combate nem se lembrou disso e que, se o Cody tivesse estado atento, o combate teria acabado ali. Contudo, achei um move e um momento especiais, aliás, foi o momento mais espetacular do combate e, só por aí, deveria tê-lo terminado, mas como não terminou, perderam-se algumas coisas que se poderiam fazer utilizando este move daqui para a frente. Desde logo, perdeu-se a oportunidade de este ser o finisher de recurso do Cody, quando o Cross Rhodes “normal” não funcionasse.
Por outro lado, sendo um move tão brutal, deveria ter acabado com muitos big matches do Cody, ao ponto de, quando alguém se conseguisse safar, tal momento seria ainda mais especial e o lutador que conseguisse tal feito ficaria ainda mais over e, principalmente, muito mais credível. É certo que poderão usar na mesma isso daqui para a frente, mas nunca mais poderão dizer aquele move, sempre que usado, acabou todos os combates em favor do Cody. Por fim, achei algo pragmaticamente contraditório o match acabar com um pin rápido do Darby.
Quanto ao futuro, não sei se o plano é ter o Darby a ter um reinado razoavelmente longo, ou se o objetivo será tê-lo a perder para um bom heel que capitalize heat instantâneo, algo que sinceramente não me acanhava em fazer. Quanto ao Cody, os rumores de um possível heel-turn intensificam-se, mas, à semelhança do que disse em relação ao Hangman, espero que não aconteça, ainda mais quando ao Cody, que se tornou dos melhores lutadores no mundo a despertar as emoções dos fãs e a trabalhar com elas antes, durante e após o combate. Acho que seria um desperdício não valorizar isso num momento em que há poucos lutadores assim.
AEW Women’s World title match: Hikaru Shida (c) venceu Nyla Rosa
Bom combate feminino, que foi o rematch da troca de título que ocorreu no Double Or Nothing, aliás, coisa que tenho gostado no booking da AEW é que rematches se guardam para momentos posteriores e, muitas das vezes, bem mais importantes, o que torna certa rivalidade mais especial e importante, assim como evita situações que são sempre de evitar: a opção entre dar um reinado demasiado curto a um dos lutadores e fazer com que os fãs se esqueçam rapidamente do combate que lhe deu o título, ou dar duas derrotas importantes seguidas a determinado lutador/a.
Por exemplo, neste caso, a Shida chega a este combate bem mais credível como campeã, e a Nyla Rosa não chega como a ex-campeã que acabou de perder o título, mas como a ex-campeã que acumulou várias vitórias para merecer outra oportunidade pelo título. Isto faz toda a diferença! Todavia, o combate, apesar de ter os seus momentos, serviu essencialmente para colocar a campeã over, dado a história de superação contada no combate, em que a Shida ultrapassou não só a Besta que chegou a estar em vantagem, como as táticas da Vickie.
Confesso que esperava algo mais arrojado no final do combate, como a Vickie trair a Nyla e anunciar a Awesome Kong como sua nova cliente, mas aquele momento de tensão serviu essencialmente para começar uma relação diferente entre a Nyla e a Vickie e, quem sabe, talvez até chegar àquele momento que referi. Penso que não sou apenas eu que gostaria de ver um confronto entre a Awesome Kong e a Nyla, pois apesar de a Awesome King já estar longe dos melhores anos da sua carreira, seria um combate must-see, por serem raros estes confrontos de titãs na divisão feminina. Seria realmente algo diferente.
AEW World Tag Team title match: The Young Bucks venceram FTR (c)
Melhor combate da noite. Sabem que costumo criticar os combates dos Bucks quando não têm grande história e se limitam a ter demasiados spots arriscados que, no dia a seguir, nenhum dos fãs se vai lembrar. No entanto, algo que nunca desmenti, como até corroborei, é que os Bucks nos grandes combates nunca falham e conseguem contar uma história que nos faz colar ao ecrã. Foi assim com os Golden Lovers ainda na NJPW, como o Hangman Page e com o Omega no Revolution e agora com os FTR. Bem, que combate!
O trabalho que o Matt fez a vender o tornozelo, a forma como os FTR sempre tentaram jogar com isso, as referências ao passado de ambas as equipas (Dudleyz e Hardyz por parte dos Bucks e Streiner Brothers e DIY por parte dos FTR) fizeram todo o seu sentido, pois tratava-se, efetivamente, de um confronto de estilos completamente diferentes, mas que, quando conjugados, proporcionaram-nos pura magia. O final também fez muito sentido, porque os FTR foram levados durante todo o combate a cair no erro, o que permitiu aos Bucks vencer.
Bom wrestling, moves arriscados quando tinham de existir, momentos para recordar e um final que respeitou toda a história contada durante o combate. Parabéns às duas equipas, que terão muitas mais oportunidades para nos dar clássicos destes. Quem sabe não temos rematch já no próximo PPV, onde os FTR podem recuperar os títulos e prolongar isto para uma trilogia que no futuro ainda vamos estar a falar. Isto sim é AEW!
MJF venceu Chris Jericho
Acabou por ser o combate mais fraco do show, bem como o menos interessante. É verdade que ocorreu no seguimento de vários combates que já tinham roubado o show e, no sentido em que nunca ia ser um combate mais espetacular que os anteriores, então talvez tivesse sido melhor antecipar este combate para mais cedo no evento.
Não é que tenha sido mau, limitou-se foi a ser decente ou razoável, até porque o objetivo não era terminar nenhuma feud, mas apenas ser mais um episódio desta história do MJF se juntar aos Inner Circle e, nesse sentido, foi propositadamente feito para nenhum destes lutadores sair por baixo, pois acredito que mais à frente tenhamos verdadeiras batalhas entre estes dois.
Os segmentos entre os dois têm sido engraçados, pois ambos são excelentes heels, que quando é preciso, conseguem ser bem engraçados sem, no entanto, se limitarem a ser palhaços. Vamos ver onde esta história vai acabar, pois para agora, é difícil adivinhar, e há pouco mais a dizer. Esperemos para ver então.
AEW World title “I Quit” match: Jon Moxley (c) venceu Eddie Kingston
Finalmente, tivemos um main-event brutal que, não sendo algo demasiado brutal para os nomes em questão o foi suficiente, e ainda bem, pois níveis de brutalidade tão altos como os que vimos com Kenny Omega e Jon Moxley devem ser guardados para momentos especiais, que acontecem de longe a longe, e só para esses momentos.
Confesso até que o build-up para este combate foi algo fraco, tirando aquela última troca de palavras no Dynamite antes do PPV, mas, tirando isso, limitou-se a ter uma construção bastante genérica e pareceu até que encontraram no Kingston um nº1 contender à última da hora. Isso levou a que tal estipulação que exige grande nível de agressividade aparecesse aqui quase do nada, pois o que aconteceu no primeiro confronto que eles tiveram no Dynamite, não me pareceu suficiente para subir a parada desta forma.
Não só era preciso melhor construção, como era preciso essa construção ter tido mais tempo. Contudo, acabou por ser um main-event que fechou muito bem o show, e que em nada o Kingston perdeu na sua credibilidade. Quando ao futuro, o próximo adversário do Moxley vai ser o Omega, e eu confesso que mal posso esperar para esse combate. Quero, desta vez, um ótimo combate de wrestling que sei que estes dois são bem capazes de dar.
Hoje ficamos por aqui.
Até para a semana e obrigado pela leitura.
4 Comentários
Omega vs Hagman, Cody vs Allin e Bucks vs FTR, foram os melhores combates. Ótimo artigo
Muito obrigado!
Artigo integro e de respeito.
O Full Gear foi um evento sólido, o meu PPV favorito da AEW esse ano, grandes combates, e juntamente com o DON teve algumas das principais feuds da AEW esse ano. Estou muito satisfeito com resultado.
Como eu sou um grande entusiasta dos combates cinematográficos, apreciei a Elite Deletion, muito divertido, Matt Hardy é muito criativo.
Moxley vs Kingston foi brutal, o esperado de dois ex-CZW, no intervalo de poucas semanas tivemos duas I quits, uma terminando com um storyline volatado para o emocional (jey), e essa com agressividade.
Omega vs Page foi muito bom, e tem potencial para ser melhor, ficarei no aguardo para o próximo confronto deles, mas imagino que deve demorar um pouco para acontecer.
FTR vs Young Bucks, foi sublime, o segundo melhor combate de tag teams da aew.
Muito obrigado pelo comentário!