Boas a todos nesta grande casa que é o Wrestling PT!

Nos últimos meses, muito devido à escassez de tempo que as exigências da vida me têm colocado, mas, principalmente, pela falta de interesse que vinha cada vez mais a ter nos produtos de wrestling americanos que ainda via com regularidade (NXT e AEW), confesso que não tenha acompanhado muitos dos seus produtos, pois não tenho visto os seus programas semanais. Tenho-me limitado a ver PPVs/TakeOvers e os programas especiais que o NXT ou o Dynamite têm de vez em quando. Na semana passada, por coincidência, tivemos um programa especial de ambas as marcas, programas que eu acompanhei, e em que ambos os shows senti coisas diferentes, que gostaria de transmitir.

Antes de ir até aí, gostaria de recordar que, desde o início das chamadas “Wednesday Night Wars”, que raramente não preferi o produto do NXT ao da AEW. É certo que no início ambos os produtos eram melhores do que agora, principalmente no caso do NXT, sendo que com o passar do tempo acabei por não ter um programa, uma escolha óbvia entre estes dois, que pudesse realmente, na totalidade, atribuir a preferência a algum deles. Aqui e ali ia tendo coisas que gostava mais num programa do que gostava no outro. Hoje em dia, contudo, o sentimento que tenho em relação ao epicentro do wrestling americano atualmente, que são as quartas-feiras e as guerras pelas audiências destas duas marcas, é bastante diferente, e não para melhor. Verdadeiramente, nenhuma das programações enche o meu olho enquanto fã, nem nenhuma delas se aproxima daquilo que eu quero ver no meu wrestling. Porém, se hoje em dia tivesse que escolher um destes produtos para ter que ver, escolheria, muito provavelmentem, o da AEW, o que contrasta com a minha posição inicial. E isto não porque a AEW melhorou muito de 2019 para cá, porque até considero que fez um caminho relativamente estável onde por vezes desiludiu, mas verdadeiramente se manteve na mesma rota, com um produto muito próprio, fiel à sua audiência e aos seus fãs. O que aconteceu, realmente, foi um decréscimo brutal da qualidade que o produto do NXT costumava apresentar.

Neste artigo, e embalado por ter visto ambos o show de ambas as marcas na semana passada, gostaria de analisar os principais pontos de cada programa, de forma a explicar este sentimento, de uma preferência mais cabal pela AEW, não pela sua vitória clara, mas pela derrota por falta de comparência do NXT, isto porque não acho, nem de perto, que a AEW esteja a apresentar o melhor produto possível, pelos erros que teima em não mudar, mas porque o NXT simplesmente se demitiu do seu produto moderno, diferente e refrescante face ao main-roster, para ser uma reles cópia, com lutadores com menos nome, salvo raras exceções. Começando exatamente pelo que eu vi e retirei do NXT New Year’s Evil esta semana, encontra como ponto inicial, o facto do produto estar completamente dividido ao meio, entre um undercard completamente infantilizado e desinteressante, para uma cena no main-event que tem lutadores que invejariam a qualquer fed do mundo. Quando olhamos para um programa de duas horas no NXT, estamos 1 hora e meia com vontade de mudar de canal e a meia hora final com vontade de impedir que qualquer pessoa lá de casapeça o comando da TV. A diferença é brutal, se não mesmo abismal.

Brain Buster #92 – Ano novo, vida velha

O main-event, neste momento, será constituído, essencialmente, por cinco nomes, e quatro nomes muitíssimo fortes: Finn Bálor, Kyle O’Reilly, Adam Cole, Karrion Kross e Pete Dunne. Para já não coloco aqui o Pat McAfee pois demorará, ou pelo menos devia demorar a que o mesmo entre na rota pelo título, pois ainda tem, definitivamente, muita coisa a aprender e outras a melhorar, mas não acho que no médio espaço de tempo o NXT possa continuar a ter um lutador tão talentoso e daqueles que já dificilmente se encontra como ele fora do main-event. Mas regressando ao ponto inicial, aqueles cinco nomes são fortíssimos, e permitem imensas combinações: Finn vs. Adam Cole, Kyle vs. Dunne, Kyle vs. Finn, etc., havendo ainda muito para explorar com o Kross, o que não tardará a acontecer. Estes são os combates possíveis do NXT que toda a gente quer e são aqueles que o NXT, inteligentemente, tem sabido guardar para o momento certo. Contudo, há lutadores que poderiam e deveriam ter uma presença nestes grandes palcos de forma igualmente interessante e credível. O booking do Tommaso Ciampa em 2020 foi das coisas mais confusas que vi e não percebo como alguém como o Timmothy Thatcher não foi mais protegido depois de vencer o Matt Riddle naquela Cage Fight. São dois nomes perfeitamente capazes destes voos, ou por já lá terem estado (caso do Ciampa), ou porque têm potencial e talento para isso (Thatcher). Felizmente, estes dois encontram-se numa feud interessante e pode ser que no final dela pelo menos um deles tenha um booking ainda mais generoso.

Mas o NXT fica-se por aí. A divisão feminina, se o ano passado por esta altura era das melhores do mundo, Japão incluído ou não, deteriorou-se de tal forma que perdeu claramente todo o Buzz à sua volta. É certo que os nomes continuam a estar lá, mas a sua utilização não tem sido a melhor. A Rhea Ripley acabou por não ser nada protegida no final deste ano, a Toni Storm nunca deveria ter virado heel, a Candice e a Shotzi estão numa rivalidade da qual toda a gente já se tinha cansado antes de ela sequer começar. A Dakota Kai foi deixada para trás, e a única coisa que há de palpável é o recente e bom push da Raquel González. A Io não tem tido um reinado nada mau, mas também acabou por sofrer por este decréscimo da divisão.

Olhando para o mid-card, e desculpem-me a expressão, é a “balbúrdia total”. O atual campeão Norte-Americano Johnny Gargano era um lutador que eu adorava como face nos últimos anos do NXT. Mas como heel? Bem, se até agora tinha dúvidas e achava que ele mesmo sendo mau podia melhorar, hoje em via vejo-o como um dos piores heels de sempre. Teria de pensar muito para, a este nível e com este push, encontrar um heel pior. Ele não acredita em nada do faz ou do que diz, tenta fazer coisas para nos irritar, mas só acaba por fazer algo embaraçoso. E, pior do que isso, está rodeado de lutadores só porque sim, porque não vejo qualquer nexo, qualquer denominador comum naquele grupo com o Austin Theory, a Candice e a Indi Hartwell. O Austin principalmente, que tinha voltado ao NXT para ser revitalizado depois de ser chamado demasiado cedo ao main-roster, está a ter um tratamento pior do que o que tinha no RAW. É alguém que facilmente veria como ótimo heel do mid-card NXT North-American champion e com ascensão de futuro ao main-event, mas anda a ser tratado como marioneta. E a falta de aproveitamento de nomes com talento do roster não acaba com ele, mas com nomes como Bronson Reed e Cameron Grimes.

A própria divisão de tag, apesar de ter uns campeões bastante aceitáveis, dos quais eu sempre fui fã, não tem qualquer concorrência para além dos UE, ou melhor, boa concorrência, dado que equipas como Breezango (que caíram bastante) e os Legado del Fantasma (que ainda são muito verdes e com falta de personalidade) não ameaçam fazer mossa nenhuma em combates pelos títulos. Nisto tudo, safa-se o bom campeão dos Cruiserweights Santos Escobar que eu gosto muito e já elogiei muitas vezes. Contudo, não tem adversários ao seu nível, e sinceramente nunca percebi porque o KUSHIDA nunca teve uma verdadeira oportunidade na divisão, enquanto tinha o momentum todo da sua estreia e da credibilidade com que tinha chegado da NJPW. Esta feud podia revitalizar divisão.

Brain Buster #92 – Ano novo, vida velha

Relativamente à AEW, para ser sincero, em poucos ou mesmo em nenhum momento senti a vontade de mudar de canal durante aquelas 2 horas. Como disse, entre os dois produtos, é o único que ainda se mantem relativamente na rota daquilo que era no início das Wednesday Night Wars, tendo claramente como vantagem sobre o NXT: o facto de não ser tratado como programa secundário; a liberdade que cada lutador tem nas suas promos e que as fazem tão autênticas; o booking com capacidade de suspense, com storytelling a longo prazo mais satisfatório, que o NXT conseguia fazer muito bem antes e que hoje em dia parece andar ao saber do vento, tal como mais uma brand da WWE.

Gostaria de salientar o segundo ponto. É que, de facto, a AEW não atribui só liberdade aos lutadores quanto à forma como transmitem o conteúdo das suas personagens nas palavras mais adequadas à sua personalidade. A AEW dá essa oportunidade a quem realmente tem esse à vontade. Raramente vemos más promos na AEW porque, primeiro, elas não forçadas e, segundo, elas são feitas só e exatamente por quem as sabe fazer. Nomes como Eddie Kingston, Jon Moxley, Chris Jericho, MJF e Cody são dos melhores do mundo nesse aspeto, e em nada são limitados, nem têm de o ser. Mesmo segundas linhas nesse aspeto como PAC, Hangman Page ou Kenny Omega cumprem o seu papel, nem que seja pelo facto de tudo aquilo que dizem condizer com a sua gimmick e personalidade enquanto lutador. Se continuam a haver promos algo desleixadas e nada cativantes? Claro que sim, nomes como o Chuck Taylor, Young Bucks, entre outros ficam para trás quando comparados com muitos naquele roster, mas tal defeito acaba por ser colmatado por outros colegas que têm o que é preciso neste departamento, não esquecendo aqui a referência aos FTR.

Por outro lado, em termos de wrestling, sim, não é aquilo que eu realmente mais procuro enquanto fã, mas será certamente, aquilo que a audiência habitual da AEW procura. O NXT, por seu turno, também peca cada vez mais em apresentar algo parecido ao que a AEW apresenta ao in-ring, a meu ver mal, pois a audiência que gosta desse estilo já está ocupada a ver AEW, por iss o NXT deveria procurar apresentar algo diferente. É verdade que combates com imensa gente em que ocorrem inúmeros spots, muitos deles sem sentido continuam a acontecer, mas esta semana surpreendi-me com um lutador que eu não sou confesso fã, mas que achei que se inseriu muito bem. O Fénix deu boas cartas no combate com o Omega. Continuou com o seu estilo high-flyer bastante exagerado, mas se repararem todos os seus moves foram com a intenção de causar dano ao adversário, e não só para chocar fãs. Foi um combate curto e grosso, explosivo, e se a AEW usasse os seus high-flyers desta forma, usando lutadores com um estilo mais realista e de wrestling propriamente dito para os combates mais longos, acho que seria uma evolução bastante positiva.

Por outro lado, a AEW tem muito mais ovos para fazer omeletes do que o NXT, muito mais possibilidades com que jogar, mais alternativas ao booking, mais momentos para criar, não estando limitada ao mesmo roster à meses (como o NXT), mas sabendo inteligentemente como usar as novas caras, não os atirando todos de uma vez sem ter um plano para eles, mas atirando-os para o card quando há uma estratégia para os consolidar no roster: a afirmação de Will Hobbs, esperar pela estreia dos Good Brothers no momento certo, são apenas alguns exemplos de uma novidade que a AEW soube usar para além da sua estreia. Ainda estou para ver o que esta parceria com o Impact trará mais para o futuro, sendo que ainda não falei da mesma aqui no meu espaço, porque quero ver primeiro qual o objetivo da AEW com essa parceria.

Brain Buster #92 – Ano novo, vida velha

A AEW continua a ter lutadores que eu considero que não merecem estar em TV, e continua a ter gimmicks que ainda me fazem bastante confusão, como Marko Stunts, Luchasaurus e Joey Janellas desta vida, mas pela negativa neste programa do Dynamite New Year’s Smash fico-me pela Abadon que enfrentou a Hikaru Shida pelo título Feminino. Eu percebo a visão de muitos fãs que a AEW usou nesta personagem. Uma lutadora tão maluca que é capaz de se confundir com um ser quase sobrenatural. Todavia, pessoalmente, eu não acredito em nada, mas em nada mesmo do que ela pretende ser e de tudo o que faça no ringue. É tudo demasiadamente forçado. Alguém acredita que a Hikaru Shida realmente tinha medo dela? Acho que é uma personagem que não durará muito tempo sinceramente, estamos em 2021 e nenhum booking conseguirá credibilizar uma personagem assim durante tanto tempo. Por outro lado, interações do roster com o Snoop Dogg também não me convencem, mas aí tratou-se mais de uma tentativa de marketing da AEW para uma audiência maior, tal como se tratou da presença do Mike Tyson ou do Shaq. A AEW ainda é bastante desconhecida à esmagadora maioria da audiência americana, e é um erro não pensar dessa forma. Acho que é algo que prejudica, em parte, o produto, mas não infinitamente se for feita por um curto período de tempo e de uma forma inteligente. Vejamos que rumo terá.

Por fim, algo que ainda não tive a oportunidade de comentar foi a estreia e presença de Sting na AEW que ainda não se percebeu realmente o que o mesmo foi contratado para fazer. Tinha as minhas dúvidas que o Sting fosse alguém que a AEW podia usar regularmente fosse em que posição fosse, dúvidas que continuo a ter, mas gostaria de esperar mais uns meses para poder avaliar o que a AEW realmente pretende fazer, porque não acredito que ele tenha sido contrato para fazer apenas estas aparições nostálgicas continuamente, tem de haver um plano por trás. A probabilidade de esse plano ser errado e dar para o torto é, a meu ver, grande, mas ainda assim, para já, e mesmo para mim que não sou grande fã do Sting, consigo vislumbrar interesse na sua presença, pelo que é mais um ponto positivo do programa nas últimas semanas.

Em suma, temos um ano novo, mas que os programas do epicentro do wrestling americano continuam com os meus problemas/defeitos que tinham o ano passado. O NXT continua com um produto degradável, salvo raras e boas exceções e a AEW continua a gerar interesse com um produto refrescante e novo, mas que tem muita dificuldade para ter um produto que agrade a uma audiência para abrangente, com um produto mais realista e, em certa medida, mais old school, que seja capaz de captar audiência para lá dos fãs habituais. Ao contrário do NXT, não sinto pudor ao ver AEW, mas ambos os programas continuam sem me satisfazer enquanto fã.

Hoje ficamos por aqui.

Até para a semana e obrigado pela leitura.

6 Comentários

  1. Victor X4 anos

    Como em toda guerra que há, ambos os lados saem derrotados. A AEW na minha humilde visão está se limitando a fazer o que a WCW fez durante os anos 90 e a Impact fez na era Hogan, com alguns pontos melhor trabalhados do que a WWE, mas sempre foi assim. E o NXT decaiu demais, era adorável acompanhar o produto entre 2018 e 2019, mas do ano passado pra cá decaiu demais e realmente não anima ninguém a consumir novamente. Como dito no começo do comentário, a guerra faz mal aos envolvidos. Façam amor, não façam guerra!

  2. Sandrojr4 anos

    Concordo quando diz que os shows do NXT perderam um pouco o interesse, eu assisto highlights do shows só uns 4 dias depois de passa, não se tem mais aquela graça que tinha antes. Ótimo artigo. E Sporting maior de Portugal.

  3. Vitor Oliveira4 anos

    Excelente artigo. Penso que o Nxt sem publico ficou muito mais prejudicado por que querendo ou não dava um outro aspecto para o show, fora que sempre preferir o Nxt como era antes (território de desenvolvimento), mas é claro eu entendo a evolução