Quando este espaço começou, eu encontrava-me bastante otimista com o rumo que a WWE estava a levar. Não sendo perfeito (e enquanto tivermos Raws de três horas as coisas vão andar sempre longe da perfeição), o produto que era apresentado satisfazia-me.

Cheguei ao ponto de admitir, inclusive, que desde 2008 que o meu prazer em ver programas da WWE não era tão grande. A nova fornada de lutadores dava-me uma esperança renovada, a utilização correta de John Cena era uma lufada de ar fresco, a estreia de Kevin Owens era uma luz ao fundo do túnel.

Nos últimos meses, quase tudo se esfumou.

É verdade que as lesões de Seth Rollins, Randy Orton e, mais recentemente, Cesaro foram um enorme azar, mas mesmo que eles estivessem no ativo a situação da empresa seria igual, ou quase.

Embora tenha tido um booking questionável (não tão mau, a meu ver, como muitos pintam), Seth Rollins conseguia brilhar todas as semanas e era, sem qualquer dúvida, uma das grandes atrações da companhia, muito por culpa do seu talento natural. Basta ele aparecer em televisão e o seu brilhantismo acaba por aparecer, o que o faz sobreviver aos obstáculos colocados à sua frente pela equipa criativa.

Por sua vez, Cesaro era dos lutadores mais ovacionados até ao momento da sua lesão. Antes do SummerSlam, recebeu um destaque interessante e os elogios de John Cena às suas performances foram públicos. Umas semanas depois, voltou – mais uma vez – à estaca zero.

Cutting Edge #32 – Complete nonsense

Quanto a Randy Orton, é um daqueles lutadores que já atingiu tudo o que tinha a atingir e que dificilmente acrescentaria algo nesta altura. Porém, caso falhe a WrestleMania, é um revés para a WWE, até porque acredito que fosse ele o escolhido para defrontar Bray Wyatt nesse evento.

Com John Cena de férias, quem sobra para garantir audiências à WWE?

Muito pouca gente. Sobretudo quando se trata de um programa de três horas. Tanto assim é que os New Day (a maior atração do momento) apareceram três vezes na última Raw, com o objetivo de agarrar alguns fãs.

Foi uma ideia interessante, sim, mas apenas um “penso rápido”. Como é que vai ser para a semana? Qual será a estratégia para recuperar alguma audiência?

É este o problema da WWE: parece não haver planos a longo prazo.

Os fãs passam a vida a fazer planos na Internet, trocando ideias sobre o que acham que vai acontecer no futuro próximo. Mas se nem a WWE sabe o que fazer, como é que nós podemos saber? Eventualmente, podemos acabar por adivinhar um ou outro acontecimento, mas será mais por mera coincidência do que propriamente por pistas que a WWE nos tenha dado.

Ao olhar para a última Raw, parece que resolveram, finalmente, criar uma história que fizesse as pessoas verem o programa. Até aqui, tudo bem.

O problema é que a história escolhida não tem pés nem cabeça. Reparem: se Roman Reigns não vencesse em menos de cinco minutos e quinze segundos, os Usos e Dean Ambrose perderiam as suas oportunidades de lutar pelos títulos. Ou seja, a vitória de Reigns era óbvia.

Cutting Edge #32 – Complete nonsense

Porém, era impossível Sheamus perder o título em tão pouco tempo. Ora, em que situação é que o campeão perde o combate mas mantém o seu título? Exatamente. Era óbvio desde o início que o combate ia acabar em desqualificação e que daí ia sair um combate de Tag Team. Quem é que não tem vontade de mudar de canal ao perceber no início do programa o que vai acontecer depois?

Mas o pior nem foi isto.

Faltando menos de um minuto para o fim do combate, Rusev ataca Roman Reigns, fazendo com que este vença por desqualificação, enquanto Barrett e Del Rio tiram o campeão do ringue. Não faria mais sentido que Sheamus fosse tirado do ringue de forma a escapar do “Spear”, o que não causaria nenhuma desqualificação, e os vilões tentassem que o combate continuasse até o tempo terminar, de modo a que os seus objetivos fossem cumpridos?

Mas não. Entram em ringue e dão a vitória a Roman Reigns, o que faz com que os Usos e Dean Ambrose mantenham os seus combates no TLC e o próprio Reigns acabe por ter mais uma oportunidade de lutar pelo Título da WWE no PPV. Ou seja, não se pode dizer que os heróis tenham ficado a perder.

Antes de este combate acontecer, tivemos um combate entre os Usos e os Lucha Dragons para determinar os candidatos aos Títulos de Tag Team. Mais uma vez, a partir do momento em que os New Day estavam ao lado do ringue, o resultado era óbvio. No entanto, o mal nem esteve aí.

Como vilões que são, os campeões ficaram todos contentes com o seu plano, porque, como não houve vencedor do combate, não teriam adversário para o PPV. Mal chegam aos bastidores, Stephanie McMahon, como a grande vilã que é, acaba por beneficiar os heróis e prejudicar os vilões, ao marcar um Triple Threat para o PPV! Qual é o sentido disto?!

Mais tarde, os New Day acabam por fazer um favor à Autoridade, sendo adicionados ao main-event e tornando o combate num Handicap 7 vs 4. Ou seja, Stephanie McMahon sabota os planos dos New Day, fazendo deles uns idiotas (neste caso, num mau sentido), e ainda os coloca a fazer-lhe um favor mais tarde.

Mas vamos com calma: o pior ainda está para vir.

Cutting Edge #32 – Complete nonsense

Roman Reigns tem sido prejudicado pela Autoridade. No início da Raw, atacou o campeão e roubou-lhe o título. Qual era o passo seguinte de acordo com a lógica? Dar o título a Stephanie McMahon sem dar qualquer luta. Devolver o título só porque sim, em vez de provocar os vilões e tentar sair por cima.

Como li num artigo durante esta semana, imaginem “Stone Cold” Steve Austin a chegar a uma arena com o seu jipe. Agora imaginem que Vince McMahon lhe exige que lhe dê as chaves e Austin cumpre a ordem sem pestanejar. Faz todo o sentido, não faz?

Pois bem, o que Roman Reigns fez foi basicamente isso, mas com outro objeto e em 2015. É um insulto à inteligência dos fãs conceber momentos destes.

Podia ficar aqui a escrever mais um artigo sobre coisas que não fizeram sentido nenhum na última Raw, mas não tenho motivação para isso (o que até me faz pensar que preencho os requisitos para fazer parte da equipa criativa da WWE).

A celebração da conquista do título por parte de Sheamus é feita uma semana depois de ter acontecido, em vez de ter lugar no dia seguinte; entre tanta gente no plantel, os escolhidos para apresentar a festa do campeão são “apenas” aqueles que o abandonaram no Survivor Series; a preocupação com a possibilidade de Lana e Rusev terem dormido com outras pessoas com as quais mantinham uma relação, como se fosse de estranhar tal ter acontecido em pleno 2015 e eles não fossem adultos; o segmento protagonizado por Mark Henry; o facto de provarem, mais uma vez, que a vilã Paige tem razão naquilo que diz sobre Charlotte; “and on, and on, and on, and on”, como diria Cesaro.

Cutting Edge #32 – Complete nonsense

Eu sei que o produto está direcionado para crianças e não tenho problema nenhum com isso. Mas isso não significa que possam insultar os fãs mais velhos, visto que estes veem para lá do que lhes é posto à frente.

À primeira vista, achei a Raw desta semana razoável. Porém, analisando a fundo, foi intragável e pior do que a da semana passada.

Eu faço parte do grupo de fãs que defende que não devemos analisar tanto as coisas a fundo, sob risco de não desfrutarmos do Wrestling, mas quando as coisas são tão óbvias e insultuosas é impossível ignorar. O que me vale é que não faço análises tão detalhadas todas as semanas, porque caso isso acontecesse muito provavelmente não veria mais programas da WWE durante uns tempos, tal como já fiz no passado.

33 Comentários

  1. Bom artigo.

    Deixaste-me com vontade de voltar a ver as Raw’s.

  2. Marques9 anos

    Bom artigo.

    “Eu sei que o produto está direcionado para crianças e não tenho problema nenhum com isso. Mas isso não significa que possam insultar os fãs mais velhos, visto que estes veem para lá do que lhes é posto à frente.”- Olha que eu acho que até as crianças se devem sentir confusas a ver isto. Quando eu era uma criança mark não havia destas palhaçadas, aquilo que os wrestlers faziam e as storilynes em que estavam envolvidos tinham sempre consequências no futuro ( salvo raras excessoes devido a storilyne, pessoas que tinham estado em recentes rivalidades nunca faziam equipa uma com a outra como se nada tivesse acontecido).
    Se na altura em que eu era criança o produto da WWE apresentá-se as palhaçadas e a falta de sentido de hoje, duvido muito que me tivesse tornado o fã de wrestling que sou hoje, provavelmente teria-me cansado do Wrestling pouco tempo depois de o ter descoberto.

    A popularidade do Wrestling tem caído muito graças à falta de sentido apresentado. Quando uma criança descobre que o Wrestling é pré determinado pura e simplesmente desinteressa-se e deixa de ver pois não lhe dão nenhum motivo para continuar.
    Aliás, se fores ver a informação etária da população que assiste à WWE vês que, ao longo dos anos, o numero de crianças tem diminuido. Se os mais novos quisessem assistir a algo infantil iam ver o Noddy ou a rua Sésamo.

    • Obrigado.

      Sempre houve histórias sem consequências. Já que falas de infância, lembro-me que na minha houve várias histórias que aconteceram só porque sim, como a rivalidade entre os DX e os McMahons. Aliás, tiveste o Triple H a juntar-se ao Shawn Michaels depois de anos de rivalidade.

      Mas concordo que hoje em dia é demais.

      • Marques9 anos

        O Dx vs Macmahons também aconteceu durante a minha infância.
        No caso do Triple H e do Shawn Michaels não nos podemos esquecer que eles já tinham estado juntos numa Stable e que eram retratados como melhores amigos, o mesmo vai acontecer, muito provavelmente, com os Shield.
        Apesar dessa feud ter aparecido do nada conseguiu proporcionar momentos muito engraçados e não nos podemos esquecer do Hell in a Cell.
        Apesar de ter sido considerada a pior feud do ano conseguiu entreter bastante o publico, que é algo que as atuais não conseguem.

      • Eram retratados como melhores amigos? xD

        Tiveram das rivalidades mais violentas de sempre dois anos antes, estiveram em feud quase dois anos… Foi engraçado, sim, mas não fez muito sentido.

      • Marques9 anos

        Quando eu digo melhores amigos refiro-me ao tempo dos Dx nos anos 90.

  3. Tibraco9 anos

    Fui ficando perplexo à medida que ia lendo o artigo. Gosto de ler os teus comentários e lembrei-me que tinhas elogiado alguns pontos da Raw. O teu penúltimo parágrafo acabou por me descansar pois pensava que alguém tinha escrito este artigo por ti!

    Acho normal mudarmos de opinião, já me aconteceu muitas vezes, embora neste caso esteja mais de acordo com a tua primeira impressão. Ou seja, as questões que levantas no artigo são pertinentes, sem dúvidas, mas eu já não ambiciono que as histórias da WWE tenham lógica. Desde que me entretenham já fico contente. E, mesmo com erros, achei a última Raw razoavelmente agradável.

    Um exemplo. É descabido pôr o Del Rio a ajudar o Sheamus. Foi completamente aleatório. No entanto, prefiro que seja assim do que andar lá metido naquela treta com o Zeb. Já cheguei ao ponto em que “qualquer coisa” é melhor do que “nada”. No entanto, é normal que fãs que tenham expectativas altas acabem por perder a paciência mais facilmente.

    • E mantenho alguns pontos que elogiei, como a curta promo do Ryback ou a inteligência em usarem os New Day várias vezes. O problema é que esse uso não pode ser repetido todas as semanas, sob risco de os fãs se fartarem deles, daí ter dito no artigo que foi um “penso rápido”.

      Mudei de opinião porque fiz o comentário à Raw sem a rever antes. Como vi em direto, não pensei tanto nas coisas. Ou seja, a primeira impressão foi a mesma que a tua: “meh, até foi razoável”, apesar de ter logo achado ridículo os New Day e o Sheamus estarem na boa. Mas quando revi a Raw fiquei incrédulo com o facto de o Roman Reigns devolver o título tão facilmente e com outras coisas.

      Eu normalmente também penso como tu. Se calhar por isso é que estava a desfrutar disto há uns meses, embora ache mesmo que o produto estava bem melhor.

      • Tibraco9 anos

        Dou-te os meus parabéns por, depois de pensares melhor, reconheceres que mudaste de opinião. Normalmente ficamos “presos” à nossa primeira impressão e não queremos dar o braço a torcer.

        Eu gostei do artigo porque, sinceramente, reparaste em cenas que eu não me dei conta. Por exemplo, na altura não valorizei a cena do Reigns mas, lendo o que escreveste, sou obrigado a reconhecer que tens razão.

        Para terminar, acho que anda aqui um equivoco com os New Day. Eles são, de facto, engraçados. Os segmentos deles têm sido, inacreditavelmente, das melhores coisas da Raw. Contudo, é bom lembrar que eles não estão envolvidos em nenhuma história interessante. Podiam, perfeitamente, ainda estar mais over se esses “segmentos de qualidade” tivessem outro género de sequência.

      • Também já pensei nisso. Desde que acabou a feud com os Dudley Boyz que o uso dos New Day se resume a fazerem coisas engraçadas todas as semanas. É agradável, sim, mas convém terem uma história com pés e cabeça nos próximos tempos.

  4. Coloque mais fotos da Paige em seus artigos XD, boa edição. Concordo também, por mais que tenha gostado do RAW apesar de tudo.

  5. Se esse artigo fosse da Salgado eu pensaria “Nada de novo no front”, mas vindo de você é profundamente triste. Fico feliz que mais alguém tenha notado a parvice com os titulos de tag team, de qualquer forma.
    Pra variar, excelente artigo.

  6. Bom artigo,Daniel

    A melhor coisa no RAW tem sido os New Day,o Dean Ambrose e o Kevin Owens,de resto,enfim

  7. Dolph Ziggler9 anos

    Muito bom, Daniel. Talvez o teu melhor artigo até agora.

  8. 434 Days9 anos

    Muito Bom Artigo

    Eu até gostei do Raw esta semana, mas sei reconhecer estes erros que por vezes são demasiadamente claros. Já há muito tempo que a WWE não liga nenhuma a lógica e se não fossem talentos como o Rollins, Cesaro, Owens, etc. provavelmente estaria ainda mais insatisfeito com o produto. Felizmente por enquanto ainda temos os New Day que são o ponto alto do actual panorama da WWE e uma boa razão para continuar a gostar um pouco do que se vê

  9. Nunex9 anos

    Pegando apenas no Raw o Raw e wrestling é como a NBA tirar a bola de basket e dizer que ainda é basket, a FIFA tirar a bola de futebol e dizer que é futebol, ou a ATP tirar a bola de ténis e dizer que ainda é ténis. Isto não é nada já e os New Day para mim tá nas 5 piores gimmicks de sempre. Da Triple Threat ou até mais recente dos SHIELD para isto meu deus .

    • Bem, a maioria das pessoas gosta dos New Day, ou seja, eles estão over. No fundo, é isso que importa. Ninguém agrada a toda a gente.

      Triple Threat?

      • Nunex9 anos

        É tão mau que acaba por ter piada às vezes os New Day a triple threat na ECW ( Shane Douglas, Chris Benoit, Dean Malenko). Se calhar é como CM Punk disse, eles (New Day) já se estão tão a cagar que vão para lá e fazem o que calha. São 3 gajos com imenso talento mas para variar não são aproveitados da melhor maneira, dão-lhes uma gimmick da merda e mesmo assim estão over.

  10. Vitor Oliveira9 anos

    Excelente edição. Concordo com seu ponto de vista, Daniel

  11. Parabéns pelo ótimo artigo.
    Concordo com tudo o que dissestes, é incrível como o produto da WWE decaiu ao longo do ano, e chega a ser inacreditável se olharmos a qualidade do roster.
    A WWE precisa de uma mudança criativa radical, algo novo, que façam os fãs se interessarem novamente, é necessário que se crie mais títulos, para que não se tenha tantos gajos completamente perdidos no card, que se tenha rivalidades de midcard relevantes, e que sirvam para para lançar jovens talentos mais facilmente ao main event, e por fim, que se crie mais star powers, e consequentemente mais contenders ao título principal.

  12. Bom artigo, não tenho nada com que discordar.