A notícia da semana no que à WWE diz respeito foi o desacordo entre Ryback e a companhia na assinatura de um novo contrato, sobretudo em relação ao salário pretendido (por uma das partes) e ao oferecido (pela outra).

Há uns dias, Ryback escreveu um longo texto no qual alertou para a diferença abismal em termos salariais entre os principais nomes da WWE e os jobbers Será uma crítica justa ou estará o “Big Guy” a queixar-se sem razão em vez de ficar quieto e calado no seu cantinho?

No artigo desta semana vou tentar fazer uma pequena análise sobre o que cada lutador da WWE recebe e dar a minha opinião sobre as grandes diferenças verificadas nos salários e nos prémios, com base num artigo do site Crunchy Sports (no qual confio, embora admita que possa estar a ser induzido em erro). O artigo (dividido em duas partes, a primeira referente aos lutadores e a segunda aos comentadores) pode ser visto aqui e aqui.

Olhando para os números, e apenas para os salários fixos, vemos que, por exemplo, Brock Lesnar recebe dois milhões e meio de dólares por ano, marcando presença no máximo em quinze eventos (e julgo que já estou a ser simpático).

Por sua vez, lutadores como Adam Rose ou Damien Sandow recebem 300 mil dólares/ano, sendo que a maioria deles recebe valores entre os 200 e os 600 mil dólares.

Cutting Edge #54 – (Not so much) Equality

Ora, não querendo comparar o impacto que um Brock Lesnar causa no produto em comparação com um Adam Rose, parece-me ainda assim evidente que a diferença é demasiado grande.

Temos tendência a dizer que Lesnar não aparece todas as semanas, ao contrário dos demais, mas referimos-nos apenas aos programas semanais. Não nos podemos esquecer, porém, de que a maioria do plantel luta entre quatro a seis vezes por semana.

Ou seja, mesmo que não sejam as principais atrações da Raw ou da SmackDown, são os Curtis Axel’s e os Darren Young’s que viajam pelo mundo durante o ano, ajudando a expandir o produto da WWE e sacrificando a sua vida, em vários aspetos. Além do tempo que não passam com as suas famílias, julgo que não é preciso explicar os riscos para a saúde associados a quatro combates (muitas vezes, mais do que quatro) semanais.

Se um lutador “normal” fizer quatro combates por semana, ao fim de duas semanas já tem mais combates do que Brock Lesnar em quase dois anos.

Repetindo que Lesnar é, de facto, bastante especial, torna-se ainda assim evidente que as diferenças são abismais e é perfeitamente normal que alguns lutadores mostrem desagrado.

É fácil apontar o dedo e acusar a pessoa “x” de ser uma chorona e de se queixar de tudo. Mas, como quase sempre acontece, esquecemos-nos de nos colocar no lugar dos injustiçados. Afinal, quem é que gosta de não ser valorizado pelo seu trabalho?

Não quero com isto dizer que 300 mil dólares/ano é pouco. Estou apenas a afirmar que a diferença entre os que ganham mais (sobretudo os part-timers) e os que lá estão todo o ano e apenas não têm um estatuto semelhante é demasiado elevada.

Cutting Edge #54 – (Not so much) Equality

Também não quero dizer que devem ganhar todos o mesmo ordenado fixo. Uma coisa é John Cena, outra é Tyler Breeze. Simplesmente devia haver um meio-termo e muito mais bom senso.

Tendo em conta que Ryback trouxe agora à tona este assunto, dá para pensar se há mais gente insatisfeita no balneário da WWE. Acredito plenamente que sim, simplesmente não podem (poder podem, mas…) vir queixar-se “cá fora”, sob risco de serem despedidos ou desaparecerem do mapa até acabarem o contrato.

Infelizmente, esta espécie de ditadura não se vê apenas na WWE. É, atualmente, o “pão nosso de cada dia” por todo o mundo, sobretudo em empresas poderosas e sem concorrência séria, que se dão ao luxo de despedir empregados quase sem razões para tal porque sabem que estarão outros disponíveis para irem para lá, visto que recebem menos do que os colegas mais importantes mas ganham sempre mais do que noutras empresas.

Curtis Axel, por exemplo, é completamente dispensável para a WWE. Não atingiu, nem de perto nem de longe, estatuto suficiente para deixar a empresa a pensar duas vezes se o despede ou não, pelo que ou aceita ganhar os 420 dólares/ano mesmo sabendo que há quem ganhe seis vezes mais trabalhando cem vezes menos, ou vai para outra empresa ganhar menos do que recebe na atual, mesmo que lá não haja tanta diferença entre os mais e os menos importantes.

A WWE, por sua vez, sabe que pode dar-se ao luxo de dispensar Curtis Axel e pagar o que lhe paga a outro lutador irrelevante que apareça por aí.

Talvez seja também por isso que a WWE não tem criado verdadeiras estrelas. Dean Ambrose, Kevin Owens, Bray Wyatt ou Sami Zayn estão, atualmente, quase no main-event, mas mesmo quando estiverem no main-event não serão estrelas. Essa posição está reservada para Roman Reigns, e o segundo lugar (o “Randy Orton” desta geração) será, em princípio, de Seth Rollins.

Os restantes (tirando os veteranos John Cena e Randy Orton) são dispensáveis. É triste, mas é a verdade.

Olhando para os números, é também curioso verificar que Miz, Sheamus, Kane e Big Show recebem o mesmo ordenado que Roman Reigns, embora nenhum deles receba metade do destaque do atual Campeão da WWE (no caso dos dois últimos compreende-se, nos dois primeiros nem tanto). É de prever, pois, um aumento de ordenado em breve para Reigns.

Dean Ambrose, por sua vez, recebe menos que Jack Swagger, talvez por este estar na WWE há muito tempo. Ainda assim, temos veteranos como Goldust, Dudleys, Cody Rhodes e Kofi Kingston a receber muito pouco quando comparados com outros. No caso de Kofi e Cody não se percebe como recebem tão pouco, visto que já têm muitos anos de casa (e por isso deviam receber mais) mas ainda têm muitos anos de carreira pela frente (ao contrário de Goldust e dos Dudleys, que já lutam há imenso tempo e por isso não precisam de ganhar muito dinheiro).

Cutting Edge #54 – (Not so much) Equality

Gostava, pois, de saber qual é o critério usado para definir os salários dos veteranos.

Por fim, não nos podemos esquecer de que são os próprios lutadores a pagarem as suas estadias em hotéis e os veículos nos quais se deslocam, daí terem tanta necessidade de partilhar quartos e carros. Muitas vezes, até dormem nos próprios carros para poupar dinheiro.

Sim, um lutador ganha 400 mil dólares/ano, mas tendo em conta que está cerca de 300 dias na estrada, quanto gasta em hóteis e transporte?

Por outro lado, temos um lutador que ganha dois milhões e meio e viaja apenas umas quinze vezes por ano, ainda por cima em transportes da própria WWE!!! Ou seja, são dois milhões e meio “limpos”, enquanto os outros ganham bem menos e ainda têm de pagar do próprio bolso para ir trabalhar. É como se uns tivessem 100% de lucro e os outros tivessem que descontar para os impostos.

Não há volta a dar nem meios termos: a vida é mesmo injusta. Não é um chavão, é a realidade. Cabe a cada indivíduo lutar pelos seus direitos e por aquilo em que acredita. No que à WWE diz respeito, duvido que a situação alguma vez mude, até porque os lutadores só fazem “barulho” quando estão prestes a sair ou já saíram da companhia.

Não sendo um grande fã de greves, defendo esse direito e confesso que seria engraçado ver uma greve por parte de lutadores da WWE e a reação de quem manda.

Se eu fosse um lutador, não teria atualmente o sonho de ir para a WWE. Por aquilo que vejo (e posso ver completamente mal) simplesmente não compensa. Mas se calhar o problema sou eu. Talvez eu seja apenas um preguiçoso com ideais questionáveis.

Agradecendo ao user Tibraco o facto de me ter facultado estes dados, desejo-vos um bom fim de semana e já sabem: baixem a cabeça quando os vossos superiores falarem convosco e nunca, mas nunca os questionem. Caso contrário, sofrerão as consequências.

Cutting Edge #54 – (Not so much) Equality

17 Comentários

  1. Excelente artigo Daniel. De facto o Ryback tem razão no que diz, há demasiada diferença salarial entre os wrestlers e acaba por ser injusto. O que a WWE gasta com o Lesnar é um exagero para o que ele oferece ao produto. Aliás sou da opinião que a piada do Lesnar está a desaparecer, ele vai ter cada vez menos reações do publico até chegar ao ponto em que é quase indiferente. A ver se o usam ao menos para elevar alguem (já que não quiseram elevar o Ambrose)

    • Obrigado.

      Concordo. Além disso, o Brock Lesnar nem esgota os eventos para os quais é fortemente promovido. A WrestleMania e o SummerSlam não contam, porque esgotariam sempre quer ele lá estivesse ou não.

  2. Tibraco9 anos

    Uma escolha de tema muito inteligente, sem dúvida! Ahah

    Concordo com o que o Ryback disse. As diferenças são grandes e especialmente injustas na medida em que a WWE é que “controla” a popularidade dos seus lutadores. O X ganha muito porque é popular, é verdade, mas também porque a companhia ajudou-o a tornar-se popular. A meritocracia, na WWE, não passa de uma miragem.

    Olha para o Sandow. Podia ter sido uma estrela, ganhar milhões por ano, mas foi sabotado por quem manda e agora vê-se com um ordenado baixo. O que poderia ele ter feito de diferente? Não é como no futebol, onde o empenho e a dedicação podem fazer a diferença. Na WWE só faz se o Vince engraçar com o lutador.

    De resto, mais um bom artigo da tua parte. É impressionante como não baixas o nível e consegues abordar os mais variados temas sem teres necessidade de repetir sempre as mesmas coisas. Parabéns!

    • Obrigado.

      Olha, acredites ou não era para ter falado do Sandow e para ter dito isso mesmo! Mas como já era tarde quando escrevi o artigo acabei por me esquecer ahah

      Completamente de acordo.

  3. Bully Ray rules9 anos

    Bom artigo Daniel.
    Tenho de concordar com você no aspecto meritocrático-risco-desempenho todos deveriam ter o seu salário mais próximo. Mas em qualquer lugar nem sempre somos recompensados pelo esforço que fazemos da maneira mais justa. É uma certa hipocrisia vir criticar a WWE por ser assim, sendo que nós conhecemos seu modus operanti a muito tempo; quem tem monopólio pode fazer o que quiser, se acham injusto os salários da WWE vejam os UFC, Mcgregor ganha muito mais em um evento( segundo os boatos antes dele sair do UFC 200, sua bolsa pós-luta era estimada em 37 milhões de dólares, enquanto um cara normal vai ganhar 5 mais um acréscimo de 10/15 mil dólares, tendo que pagar seus treinadores, se sustentar no período que não estiver lutando, você pode lutar uma vez perder e ser mandado embora; as pessoas aceitam ganhar menos porque é o UFC, não há uma concorrência tão forte, é a mesma realidade em outro lugar) do que um cara normal, vocês podem dizer mas UFC é diferente, lá há possibilidade e crescer e ganhar mais, será mesmo? O negócio do UFC é um dos mais misteriosos, e injustos, faça esse teste depois de um evento do UFC vá ao site do Combate e compare quem lutou no main event e quem lutou mais embaixo e você verá a diferença. Nunca entendi porque a Ronda ganhava quase um milhão por ter lutado 7 segundos e o cara que fez a melhor luta ter ganhado talvez 150 mil dólares.
    Há muita coisa a ser criticada no negócio da WWE ou do UFC, mas são apenas críticas e terão um efeito nulo neles.
    Você recebe pelo que consegue dar, oferecer a empresa que outros não dão. Cada caso é único, mesmo o Lesnar aparecendo 15 vezes nos shows televisivos, lutar em 4 ou no máximo 5 eventos e mesmo assim ganhar quase sete milhões de dólares é injusto, talvez, esses outros lutadores podem trazer o mesmo que o Lesnar ou o Cena? Não! E vendo os exemplos nem conseguiriam.
    Ryback está é mordendo a mão que o alimenta, se ele acha que vale muito mais que vá embora, e depois desse circo midiático que ele fez espero que não seja renovado o seu contrato. Que outra empresa de pro wrestling dá visibilidade global, estabilidade financeira, além de agir como uma competição com testes para drogas, e outros mais?
    É uma questão muito complexa, e cada lado têm seu ponto.
    (…) Quem seria Ryback agora sem a WWE? Talvez um fisiculturista com alguma visibilidade, mas nada comparado ao que é hoje. Os negócios, a vida nem sempre são movidos pela meritocracia, assim é na WWE, assim é em qualquer lugar.
    A WWE é tão injusta que paga as despesas dos caras do NXT que sobem para o main roster po 90 dias, até assinarem novo acordo, é tão injusta que aposentou Bryan e Christian visando a preservação de suas saúdes…. Eu mesmo critico a WWE em muitas coisas, mas ficamos tão fixados em assuntos que dizem respeito apenas a eles e que não temos como mudar, automaticamente taxamo-la como o diabo em pessoa. É uma empresa de nível mundial e, sinceramente, se desse ouvido a seus lutadores toda hora já teria falido, assim é na WWE, UFC o caralho a quatro.

    • Connor iria ganhar 10kk de dólares, confirmado pelo fertita inclusive, ele nao ia ganhar participação do PPV, já que a sua luta não era válida pelo título, agora o Adam rose ganha mais que o Demetrious, chega até ser engraçado

    • Então para ti nada se deve mudar. O teu dia a dia deve ser a coisa mais comodista que existe. Se é assim, para quê criticar não é?

      Não falei de UFC, tal como não falei da divisão feminina, dos comentadores ou dos árbitros, porque haveria muito pano para mangas.

  4. Detalhe que o Brock sofreu uma diminuição no salário, fiquei surpreso ao saber que o Adam ganha isso tudo, lutador de PW tá ganhando muito mais que de MMA, sobre a nota do Ryback, fico no meio termo

  5. Bom artigo,Daniel.
    Começando pelas declarações do Ryback,ha seria esperado que ele disse-se qualquer coisa ja que está de saída…
    Agora,analisando o que ele disse,de certa maneira concordo com o que ele disse.
    Quem trabalha mais deve ser melhor remunerado como reconhecimento do seu trabalho,mas toda a gente sabe que isto não é bem assim.
    Quem tem mais destaque,é teoricamente mais especial (ex:Lesnar)tem um salário elevado,aparecendo poucas vezes e quem tem menor destaque ganha menos dinheiro
    (Ex:Ryback)
    Isto mais que uma situação na WWE,acontece em todo o lado,é uma situação dos dias hoje.Pode não se concordar,mas é assim que as empresas funcionaram.

    • Obrigado.

      Eu não digo que o Lesnar e o Ryback deviam ganhar o mesmo, simplesmente as diferenças não deviam ser tão grandes.

  6. Grande Artigo!

    Fiquei chocado quando vi o salário do Ambrose. A WWE não o cuide bem que ele ainda faz o mesmo que o Punk…
    O The Miz já tem 10 anos de WWE, um Main-Event de Mania, diversos títulos, faz muito trabalho de publicidade pela WWE e alguns Filmes. Não me surpreende o que ele ganha.
    O Del Rio fez um “rico” contrato quando voltou xD
    O Wyatt ate ganha bastante bem.

    No que toca às palavras do Ryback são, sem duvida, verdade. Os lutadores tem de se impor. Lembro de à uns anos atrás um grupo de lutadores, foi tentar melhorar a sua situação e depois quando chegaram lá acobardaram-se. A WWE parece cada vez mais uma ditadura.

  7. Anónimo9 anos

    Bom artigo, mas essas diferenças existem em qualquer esporte e em se tratando de lutas, essas diferenças e valores são ridículos comparadas as bolsas dos lutadores de topo no boxe,

  8. Excelente artigo Daniel, concordo com tudo.