É cada vez mais rara, na WWE, a personagem que cativa um fã sempre que aparece, todas as semanas. É o resultado de anos de booking preguiçoso, de falta de criação de estrelas e, sobretudo, da falta de personagens que façam a diferença e que não sejam apenas “mais uma”.

Ainda por cima, quando aparecem personagens únicas, a WWE não consegue gerir essa peculiaridade e acaba por arrasar com toda e qualquer hipótese de serem relevantes.

No entanto, ainda existe alguém que me cativa dessa forma. E por incrível que pareça – há uns atrás, todos nos riríamos desta possibilidade – esse “alguém” pertence à Divisão Feminina da WWE, a mesma divisão que até há dois anos atrás era uma anedota e que, sobretudo até 2007/2008 (antes de a nudez ser proibida), servia apenas para os fãs do género masculino “lavarem a vista” e fazerem um intervalo dos combates que eram verdadeiramente importantes.

A pessoa a que me refiro, como já devem ter percebido pela imagem principal do artigo, é Bayley.

Não é surpresa nenhuma, até porque nos últimos dois anos (sobretudo no último) não foram raras as ocasiões em que a elogiei de forma veemente nos comentários a eventos do NXT, em artigos de colegas, em notícias, etc.

Como qualquer fã de Bayley, tenho imenso receio da forma como a WWE a vai tratar no plantel principal. No seu primeiro mês na Raw, a ex-campeã do NXT já venceu a atual Campeã Feminina (não vou referir-me a Charlotte como “Campeã Feminina da Raw”, nome ridículo para um título), o que não vai ao encontro da sua personagem de underdog.

Ainda assim, seria um bocado ridículo bookar Bayley como se esta fosse uma rookie. É uma rookie no plantel principal, sim, mas já tem dois anos de NXT na bagagem e não faria sentido começar tudo de novo, pelo que também não estou a dizer que devia perder os combates todos em que entra apenas porque é uma desfavorecida. Defendo, isso sim, um meio-termo: faz todo o sentido derrotar Dana Brooke, alguém que é, neste momento, apenas uma sidekick da campeã, mas derrotar a própria campeão apenas na terceira semana como membro do main roster parece-me exagerado.

Cutting Edge #72 – I’m A Hugger

Felizmente, na última Raw, vimos Bayley a perder para Sasha Banks (e, assim, a mostrar que não é invencível), o que, a juntar ao segmento que precedeu esse combate, é um forte indício de que uma rivalidade entre elas está a chegar.

Mais uma vez, tenho algum receio do que poderá sair daqui, mas neste caso não é apenas por causa da WWE.

Já aqui critiquei mais do que uma vez a geração atual de fãs da WWE. Mesmo quando a companhia faz alguma coisa de jeito, é criticada. Como Bayley e Sasha Banks já rivalizaram antes, imagino perfeitamente alguns fãs a queixarem-se dessa repetição, o que poderá influenciar negativamente a popularidade de Bayley e de Sasha Banks.

São os mesmos fãs que, hoje em dia, não suportariam uma rivalidade entre Shawn Michaels e Triple H ou The Rock e Steve Austin, porque houve muitos combates entre eles. Esquecem-se que as grandes rivalidades estão cheias de vários combates entre os protagonistas e com intervalos no meio, sendo essas rivalidades reatadas mais tarde, como acontecerá agora com Bayley e Sasha (e mais tarde, espero eu, com Sami Zayn e Kevin Owens) e aconteceu com John Cena e Edge (primeira parte da rivalidade em 2006, a segunda em 2009) e nos casos apontados em cima.

O maior receio, porém, vai mesmo para a forma como a WWE irá retratar Bayley. É uma personagem única, cativante e peculiar, como mais nenhuma na WWE, e por isso com enormes probabilidades de falhar.

Continuo a achar que a Divisão Feminina não devia ter sido dividida em duas e devia ter ficado como um exclusivo da Raw, até porque nesse caso Bayley não necessitaria de entrar logo na rota do título e podia estar ocupada com outras coisas antes.

Não nos podemos esquecer que, no NXT, demorou mais de dois anos a sagrar-se campeã. No main roster, o mais provável é ganhar o título na próxima WrestleMania, o que poderá ser demasiado cedo.

Se a divisão não tivesse sido separada em duas, podíamos ter neste momento Charlotte e Sasha Banks a disputar o título e Bayley ocupada com Natalya, por exemplo, enquanto Becky Lynch podia rivalizar com Nia Jax ou Naomi.

Cutting Edge #72 – I’m A Hugger

É verdade que, com a separação, Becky Lynch aproveitou para ganhar um título. Mas esse título nunca deveria ter sido criado e o momento da irlandesa podia chegar mais tarde, quiçá na próxima WrestleMania, ficando a conquista de Bayley reservada para o SummerSlam.

Teríamos apenas um título, verdadeiramente importante, e não dois, que tiram relevância um ao outro. Neste momento, não há uma “WWE Women’s Champion”. Há uma campeã da Raw e uma campeã da SmackDown.

Se, no próximo Draft, as campeões forem sorteadas para a brand contrária, como é que a WWE resolve esta situação? Em 2009, o “Women’s Championship” foi para a SmackDown e o “Divas Championship” para a Raw, sem problemas, porque não tinham os nomes das brands associados aos seus nomes; em 2017, das duas uma: ou as campeãs ficam sem os títulos ao mudarem de programa (a Raw não vai ficar com um título da SmackDown e vice-versa) ou teremos que partir do princípio que os campeões de Tag Team e as campeãs femininas nunca poderão ser sorteados, o que tira imprevisibilidade ao próprio Draft.

Em relação a Bayley, e falando agora da minha experiência como fã, é neste momento a personalidade que mais me faz vibrar. Seth Rollins, Kevin Owens e AJ Styles enchem-me as medidas, mas Bayley desperta em mim o lado mais ingénuo de um fã, um lado que há muito julgava perdido, visto que já não tenho a mesma forma de ver as coisas que tinha há dez anos atrás.

Basicamente, sou um mark quando se trata de Bayley. Não me interessam as racionalidades, o que é certo ou o que é errado. Interessa-me, apenas, torcer pela minha favorita.

Quando fez equipa com os New Day, vibrei com a vitória de Bayley num simples combate de Tag Team. Não é normal e acredito que, como eu, muitos homens adultos sentem o mesmo. Não estamos perante uma personagem qualquer: Bayley é uma verdadeira heroína, a derradeira babyface, que mais de 90% dos fãs quer ver singrar.

Cutting Edge #72 – I’m A Hugger

Mas será sempre assim? Será que, daqui a um ano, ainda sentirei o mesmo ao ver Bayley no meu ecrã? Ou irá a WWE deixar-me ficar com o que me resta do meu lado ingénuo de fã, tratando-a com pinças e não desperdiçando a oportunidade de ganhar muito dinheiro com uma estrela feminina?

Cá estaremos dentro de um ano para responder a essa pergunta. Tal como estaremos cá na próxima semana para mais um “Cutting Edge”. Desejo-vos um ótimo fim de semana e estejam atentos ao Wrestling.PT nos próximos dias, porque haverá novidades.

23 Comentários

  1. Kevin Owens gordinho gostoso8 anos

    Otimo artigo Daniel
    Se a WWE não fizer merda, há uma enorme possibilidade de que primeira vez em sua historia o maior nome de momento da companhia seja uma mulher, não digo só Bayley não, digo Sasha Banks também, as duas tem totais requesitos para tal, mas repito, se a WWE não ferrar com elas..

    • Obrigado.

      Resta saber até que ponto eles estão dispostos a deixar que duas mulheres sejam as principais figuras da companhia, ou pelo menos que façam parte do Top 5.

  2. Matanza8 anos

    Não acho que um titulo desvaloriza o outro, Só é manterem os dois sempre no mesmo, E se querem que os pensem que realmente isso é uma rivalidade eles não poderiam deixar as mulheres em uma só brand ou deixar a campeã nas duas, acabaria com o conceito da brand Split.

  3. 434 Days8 anos

    Excelente artigo Daniel.

    Tal como tu adoro a Bayley e o entusiasmo que traz ao panorama da WWE. Quer me parecer que ela vai ser aposta forte na divisão feminina, mas claro que há riscos na forma como a WWE poderá apresentá-la. Pessoalmente estou confiante que ela vai singrar e ter sucesso na WWE, algo que eu penso que ela merece muito.

  4. Bom artigo.

    “Basicamente, sou um mark quando se trata de Bayley. Não me interessam as racionalidades, o que é certo ou o que é errado. Interessa-me, apenas, torcer pela minha favorita.” – exatamente aquilo que eu sinto, mas quando se trata da Sasha 😀

    Quanto à Bayley, é sem dúvida uma lutadora única que se for bem aproveitada pode vir a ser uma das maiores estrelas da WWE. É por isso que discordo bastante quando vejo comentários a dizer que devia ganhar já o Título porque seria o maior erro que a WWE podia fazer com ela pois iria matar completamente a sua “gimmick” espectacular de underdog.

    Por mim, no Raw tinha sido marcado uma Triple Threat para o Clash Of Champions, onde a Sasha ia roubar descaradamente a vitória à Bayley iniciando aí os problemas entre elas. Um “angle” parecido com o do Money In The Bank de 2013 quando o Cody Rhodes dominou completamente o combate, para no fim o Damien Sandow roubar-lhe a vitória.

    • Obrigado.

      A Sasha Banks como babyface não me diz muito.

      Exatamente. Ganhar já o título seria absurdo e um erro de todo o tamanho. Mesmo o facto de ter vencido a campeã já me pareceu exagerado.

      Isso era uma excelente ideia. Ainda assim, prefiro que ela não lute já pelo título, mesmo que fosse para perder. Tem que ser mais complicado lutar pelo título, não é chegar ali e ao fim de um mês lutar logo por ele, salvo uma ou outra exceção, como o Finn Bálor, mas isso não tem nada a ver com a personagem da Bayley. Pelo contrário.

  5. BRUNOju.8 anos

    Depois da forma como levaram a Banks nesse primeiro ano, eu fiquei confiante em relação a Bayley.

    • Como assim?

      • BRUNOju.8 anos

        Porque, eu achei o booking que a Banks recebeu muito bom. Souberam dirigir seu face-turn sem ser algo genérico e mantiveram a personagem dela.

        É também, olhando os primeiros segmentos da Bayley no Main Roster, me parece que a equipe criativa entendeu “qual é” a da sua personagem.

  6. Anónimo8 anos

    Os fãs nunca mudaram simplesmente hoje tem Internet…

  7. Artur8 anos

    Excelente artigo Daniel.

  8. Bom Artigo. Visto que a paige não vai sair da wwe, aonde é que metias Paige nessa divisão exclusiva ? a rivalizar com quem ?

    • Obrigado!

      Gostava de vê-la na SmackDown, mas ela faz parte do plantel da Raw e acho que podia ser uma boa rival para a Bayley.

  9. Bom artigo Daniel. Belo pensamento esse sobre os nomes dos títulos Femininos e de Tag Team, ainda não tinha pensado nisso dessa forma, tal como a WWE não deve ter pensado.

  10. Awesome One8 anos

    Tudo bem que é um tipo de personagem que precisa de ter derrotas para os seus triunfos serem realmente impactantes mas convem nao exagerar pois por essas mesmas razões para mim Dean Ambrose nunca foi um main-eventer campeão mundial e sim um midcard com um titulo do main-event. Nao convem nada ela perder demasiado ou pode acabar como dolph ziggler que agora querem elevar um bocado e as pessoas nem reagem.

  11. Artigo interesse, como é habitual.

    Sobre a Baley, não estou preocupado. A minha única preocupação é a sua personagem criar reações mais tarde como o Cena. Do resto, dificilmente se o público estiver por detrás dela, mesmo que façam um booking mais ou menos, ela safa-se perfeitamente. De qualquer forma, ainda é cedo, pelo que tenho de esperar mais tempo para tirar melhores conclusões.

    Sobre a divisão feminina, e mesmo a de equipas, a brand split só seria melhor viável se tivéssemos mais números. No entanto, se fosse possível, deixaria todas as 14 lutadoras no plantel do raw e criava um título tag para mulheres, e como tal enquanto Charlotte andava com o cinto principal, enquanto Becky e Nikki eram campeãs de equipas e rivalizavam primeiro com Carmella e Alexa. No entanto, quando existe uma divisão na marca WWE é impensável que neste momento exista um plantel sem nenhuma mulher. Desde da Diva Revolution, é impossível NXT, Smackdown ou Raw não ter uma divisão feminina, pelo que neste sentido concordo plenamente com a decisão a WWE e estou curioso para ver como irão gerir um plantel feminino tão apertado.

    Relativamente ao título feminino da Smackdown é um mal extremamente necessário por agora. A Divisão feminina a ganhar cada vez mais relevância e com cada vez mais nomes relevantes, era necessário dois títulos, tal e qual como o título da WWE e um título intercontinental. Becky, Sasha, Baley, Charlotte, Natalya, Nikki, sem contar com novas entradas e/ou investimento em Eva Marie, etc, pelo que já achava que a divisão feminina precisava de outro título, daí eu falar sobre um título de equipas feminino. Pois se todas as wrestlers femininas estivessem apenas numa divisão, a atenção seria sempre centrada na campeã feminina e na candidata principal, enquanto as outras ficavam em fila e a maioria na irrelevância.

    Mesmo que uma campeã seja escolhida para outra brand, basta tirar-lhe o títlo e dar-lhe uma title shot contra a campeã da divisão para onde vai ou as campeãs não poderem ser escolhidas para o Draft. Por enquanto isto aceitasse, desde que a divisão feminina só venha a melhorar.

    De qualquer forma, irei observar melhor os desenvolvimentos, mas até agora estão muitos bons na Smackdown, enquanto na Raw apenas considero bom para a Charlotte que cada vez mais acumula recordes que dificilmente serão batidos.

    • Obrigado.

      Já eu acho que se a divisão fizesse apenas parte da Raw teríamos o mesmo destaque para cinco ou seis lutadoras. E se calhar não haveria tanto “filler” durante aquelas 3 horas, porque terias sempre algo a acontecer. Um segmento da divisão feminina por cada uma das 3 horas já chegava para dar destaque a pelo menos 7 ou 8 dessas lutadoras. As que não fizessem nada nessa Raw, lutariam no Superstars.