Há sete meses, escrevi um artigo sobre Chris Jericho, logo após o seu heel-turn que colocou um ponto final nos Y2AJ. Na altura, vinha da pior fase da sua carreira, que começou em 2013 quando perdeu com o Fandango e se prolongou até ao início de 2016, mesmo não estando sempre na WWE durante todo esse tempo.

Desde então, venceu AJ Styles na WrestleMania, teve uma rivalidade com Dean Ambrose que, pessoalmente, me agradou – mas que foi globalmente criticada -, na qual fez o trabalho de elevar o futuro Campeão da WWE e, em agosto, começou uma equipa com Kevin Owens.

Julgo que os planos passavam por tirarem os Títulos de Tag Team aos New Day, mas a lesão de Finn Bálor mudou o panorama da Raw e, como Kevin Owens venceu o Título Universal, a WWE resolveu apostar em Cesaro e Sheamus como os próximos campeões. Posso, claro, estar enganado.

O que é certo é que os últimos meses marcaram a ressurreição e o rejuvenescimento da carreira de Chris Jericho, que, verdade seja dita, sempre teve uma capacidade inata para se reinventar, mas estava nos últimos anos numa fase negativa onde já nem conseguia elevar ninguém tal era a falta de credibilidade que possuía.

Cutting Edge #76 – The gift of Jericho

Bray Wyatt foi uma das vítimas dessa situação, tanto na rivalidade de 2014 como no ano passado, quando o “Y2J” se juntou a Roman Reigns e Dean Ambrose para defrontar a Wyatt Family. As vitórias de Bray sobre Jericho não lhe deram mais credibilidade do que aquela que já tinha.

Novas catchphrases, o nascimento da “List of Jericho” e segmentos de morrer a rir têm feito deste veterano a figura de destaque da Raw em 2016. Pode discutir-se até que ponto isso será um bom sinal – tendo em conta a sua idade -, mas pelo menos este é um veterano que eleva (ou tenta elevar) a geração de hoje.

Na última Raw, Chris Jericho apareceu em cinco segmentos, mas todos tiveram um propósito, incluindo aquele que era um simples ato publicitário ao Payday mas que este enorme talento transformou – juntamente com R-Truth – em mais um segmento imperdível.

Não me lembro de ver um veterano tão útil desde que sou fã de Wrestling. Não nos podemos esquecer que este é o mesmo lutador que perdeu contra JTG no verão de 2009 e contra Heath Slater no NXT em 2010 (em ambos os casos era um dos vilões principais da companhia). Não me lembro de ver John Cena ou Triple H a perder contra lutadores de estatuto tão baixo de forma limpa (ou mesmo de maneira suja).

A forma como aponta para um fã na audiência e aponta o seu “nome” na lista, como apagou subtilmente o nome de Stephanie McMahon – que, obviamente, tentou ridiculizar a “List of Jericho”, porque tem SEMPRE que sair por cima de qualquer situação – e mais tarde negou tê-lo feito porque nem sequer sabe escrever o seu nome em condições (para além de negar ter tido alguma vez qualquer espécie de problema com a atual chefe), as expressões faciais depois de proclamar o já lendário “it!”… enfim, uma panóplia de razões para acompanhar todos os segmentos em que ele entra com o máximo de divertimento possível.

Mas não é apenas de segmentos engraçados que se faz o resumo de 2016 na carreira de Chris Jericho: a própria qualidade dos seus combates tem estado a um nível altíssimo, como viu na última segunda-feira em pleno main-event, contra Seth Rollins.

Cutting Edge #76 – The gift of Jericho

Além disso, mesmo não vencendo todos os seus combates (nem perto), vai ganhando aqui e ali. Mais importante, vence quando deve vencer e perde quando deve perder. Venceu AJ Styles na WrestleMania porque precisava de credibilidade para elevar Dean Ambrose; perdeu os dois combates em PPV com Ambrose, como era suposto; no SummerSlam, venceu juntamente com Kevin Owens a equipa de Enzo Amore e Big Cass; e no Clash of Champions derrotou Sami Zayn num ótimo combate de mid-card.

Como Zayn não é uma prioridade de momento, a derrota contra um veterano e um dos melhores de sempre não o afeta. Já Jericho pode beneficiar dessas vitórias contra mid-carders para que as suas derrotas contra as principais estrelas signifiquem algo, como aconteceu com Seth Rollins na última Raw e irá acontecer brevemente com Kevin Owens.

Se Jericho tivesse perdido contra Sami Zayn, que credibilidade teria agora para estar envolvido com quem precisa de ser consolidado no main-event? Em termos de resultados de combates, também está a ser um ano bastante positivo para Chris Jericho.

Não sei quando é que se vai ausentar devido a compromissos dos Fozzy, mas gostaria imenso que o “Y2J” permanecesse na WWE até à WrestleMania do próximo ano. Não só seria um prémio justo como defendo que os destaques ao longo dos doze meses anteriores devem sempre fazer parte do maior evento do ano, salvo em casos de lesões. Seja como for, é pouco provável que Jericho continue na WWE durante tanto tempo.

Curiosamente, não sou grande fã de uma das suas novas catchphrases: “drink it in maaaan”. No meio de tantas, é normal que surja uma que não nos agrade tanto. Ainda assim, gosto muito daquilo que diz antes dessa frase (“the gif of Jericho”).

O termo “gift” pode ser usado nos seus dois sentidos quando falamos de Chris Jericho. Tanto nos podemos referir à dádiva (gift) que é vê-lo todas as semanas, como ao dom (gift) que ele tem para o Wrestling.

Ao longo dos últimos anos, tenho referido o nome de Kurt Angle sempre que se fala do melhor wrestler da História. Pelo que tenho visto em 2o16, começo a considerar a hipótese de colocar Chris Jericho nesse patamar. É absurda a forma como se reinventa a cada semana, ao longo de tantos anos.

Cutting Edge #76 – The gift of Jericho

Felizmente, perspetiva-se uma oportunidade de lutar pelo Título Universal em breve. Pelo menos é isso que a WWE tem dado a entender. Em princípio, será Chris Jericho a fazer o face-turn, mas gostaria que não fosse um face como o que vimos no início de 2016 (muito forçado e sem piada) em segmentos com os New Day. Até gostava que fosse uma espécie de tweener, sempre disponível para chamar “stupid idiot” a quem quer que seja, faces ou heels.

É um prémio mais do que justo tendo em conta o ano que Jericho teve, para além de ir credibilizar minimamente o reinado de Kevin Owens, que bem irá precisar.

Pedindo desculpa pelo atraso de um dia na publicação deste artigo, despeço-me de vocês com votos de um bom fim de semana e cá estaremos daqui a uma semana para mais uma edição do “Cutting Edge”.

28 Comentários

  1. Óptimo artigo Daniel, completamente de acordo.

  2. Não há como discordar do artigo Daniel, o Jericho esta numa das melhores fazes da sua carreira, tanto em promos como combates. Mas não gostei muito quando ele venceu o Sami no CoC, tinha quase a certeza que o Zayn ia vencer e ser elevado ao main event e defrontar o Owens pelo titulo mas tal não aconteceu (nem deve acontecer tão cedo), mas no final compreendo perfeitamente que o Jericho merece mais uma oportunidade para estar num main event de um ppv.

    • Sami Zayn e Kevin Owens outra vez? Deviam era estar em programas diferentes e só voltar a rivalizar daqui por uns bons tempos.

  3. Ricky Nakamura8 anos

    Parece que Chris Jericho tirou o ano para interagir e/ou lutar com toda a gente que vai ser o futuro, é o presente, ou, de uma forma ou de outra, são os melhores lutadores, os mais queridos do público ou as apostas da WWE. Este ano já foram, pelo menos, AJ Styles, todos os ex- SHIELD, Kevin Owens, Sami Zayn, New Day, Enzo e Cass. Devia ter uma lista na qual dizia que não acabava a carreira sem este pessoal todo passar por ele. Pode ser que ali fique um pouco da “gift of Jericho”.
    Uma coisa é certa, é sempre uma lufada de ar fresco os momentos em que aparece. E tendo em conta a idade e o tempo de WWE que tem, é impressionante como ainda consegue ser uma das atrações de topo. Talento é talento. Experiência é experiência.

  4. JquimSousa8 anos

    You know what?
    You just made the list… xD

  5. KILL OWENS KILL8 anos

    Artigo curto, porém agradável. O Jericho é um ícone da modalidade, o cara já conseguiu credibilizar nomes pra cacete desde o inicio dos anos 2000 e ainda consegue ser uma das figuras do ano em 2016! Por isso que ele é “o melhor do mundo no que faz”.

  6. Excelente artigo, mais um.

    O Jericho realmente é especial, quando podia estar no fim da sua carreira e simplesmente a elevar talentos, ele fá-lo na mesma mas continua a ser dos melhores activos do roster, não consegue parar de se reinventar o que o torna especial. “Stupid Idiot”, “You just made the list!” e a sua personagem estão fantásticas e não paro de me rir com ele. O seu auge supostamente teria passado mas não com o Y2J, continua no topo e consegue ser um dos melhores em pleno 2016. Ele realmente é especial e é o “Best in the World in everything he does” e merece ter novamente destaque daqui em diante, ninguém é capaz de se reinventar como o Jericho.

  7. Ótimo artigo Daniel!

    É impossível discordar das tuas palavras. O Chris Jericho é talvez o melhor do atual plantel da WWE. Ele só este ano valorizou imensos talentos como o AJ Styles, Dean Ambrose e mais recentemente o Kevin Owens. É incrível como uma só pessoa tem jeito para praticar wrestling, cantar e até dançar (para quem não sabe ele participou no Dancing with Stars em 2011). Para não falar dos grandes combates que tem tido ultimamente, das suas grandes promos com expressões memoráveis (“You just made the list, stupid idiot!”). A única coisa que adicionava ao artigo era aquele confronto que teve com o Brock Lesnar que mostrou a sua paixão pela modalidade.

    Já agora, tu foste a minha inspiração para começar a escrever artigos!

    • Esqueceste-te foi de dizer que também enterrou o Neville (2x) e o Apollo Crews (1x) (dentro da lista dos mais talentosos, esses 2 são os que me recordo de momento).

      • Enterrou o Neville em quê?

        E enterrou o Apollo em quê? Para já, acho que até lhe pediu desculpa durante o combate; e depois, se o Apollo o vencesse ali a sua carreira estaria melhor hoje em dia? Não me cheira.

        Agora o Jericho tinha que perder os combates todos, como em 2013, e ao mesmo tempo exigiam-lhe que continuasse credível.

    • Obrigado!

      A sério? Fico contente por saber isso :O Boa sorte!

  8. Marques8 anos

    Quando alguém consegue pôr a palavra “it” over” está logo tudo dito acerca da qualidade desse wrestler.

  9. Anónimo8 anos

    Fantástico artigo! Tal como o Jericho, também arranjas sempre forma de tornar os teus artigos interessantes. Muito bom mesmo.

    Concordo com tudo mas, só numa de te chatear um bocadinho, acho injusto que o tenhas comparado (ainda que de forma parcial) ao Cena e ao HHH. Como sabes, o HHH e o Cena sempre tiveram personagens mais “dominantes” do que o Jericho, logo não faria muito sentido perderem limpo para o JTG em nenhuma circunstância. Mas, sem dúvida, a disponibilidade do Jericho para elevar os talentos mais jovens devia servir de inspiração a muita gente.

    De resto, gostava de ver o Jericho como campeão. Acho que não seria prejudicial para o KO e este até poderia recuperar o Título no RR ou algo do género. Acho que este momento do Jericho devia ser recompensado com ouro e, embora saiba que é altamente improvável, vou alimentar essa esperança.

    • Obrigado!

      Acho que não é necessário. Se acontecer, não é o fim do mundo, mas preferia que o KO tivesse um reinado longo (coisa que ainda não teve desde que está na WWE).

  10. Anónimo8 anos

    Ficaria muito feliz se ele ganhasse o Universal title

  11. Óptimo artigo.

    Sobre o Jericho não tenho nada a acrescentar. Já à muito tempo que fiquei sem palavras para descrever esta lenda do Wrestling 🙂

  12. drink it maaaan

  13. The Gift of Daniel Articles.
    Read it Maaaannn!!!!!

    Y2J é a coisa mais refrescante de ver no Raw para mim.
    Espero que antes de sair, tenha mais um combate pelo título máximo.