A TNA tem vindo a estreitar os laços de amizade com a Wrestle-1, uma parceria que teve origem nas boas relações entre Jeff Jarrett e o The Great Muta, e que tem vindo a crescer de importância para ambas as organizações. Em Outubro, a TNA realiza o seu maior PPV do ano no Japão. Será boa ideia?

Impacto! #134 – A Parceria com a Wrestle-1

É praticamente inconcebível pensar que em 2014, num mundo ligado à internet, com comunicação instantânea, vasta conexão e uma disponibilidade ilimitada de informação, que uma ideia tão simples como um pay-per-view de uma empresa Americana realizado no Japão seja considerado um novo território. Embora tenha havido algumas iniciativas no passado, como os supershows da WCW em parceria com a NJPW no início dos anos 90 e alguns eventos WWF/E, entre outros, nenhum deles recebeu uma enorme importância. Mesmo a TNA já realizou duas tours no Japão e ainda assim o anuncio de um Bound for Glory produzido no continente Asiática não tem grande histórico para comparação.

Impacto! #134 – A Parceria com a Wrestle-1

Independentemente de tudo o que possa ter sido feito anteriormente, a ideia de levar o wrestling ocidental até ao Japão acaba por ter algo de inovador e inexplorado o suficiente para captar a atenção de outras promoções, que certamente irão tentar perceber a recetividade do mercado a um produto como o BFG. Afinal de contas, o Japão ainda é um dos raros mercados onde o wrestling tem relevância e que não é fortemente dominado pelo líder da indústria, a WWE. Como é possível concluir diariamente aqui no WPT, se um lutador, história, região, show ou conceito não tem a marca do gigante monstro que domina esta indústria então eleva-se o nível de controvérsia e de suspeita. Basta ver a diferença na receptividade que aqui mesmo no WPT se tem, por exemplo, quanto ao uso de lutadores mais velhos, ou na contratação de lutadores de MMA, a noticias de despedimentos ou no interesse em lutadores independentes. De uma forma estranha, há um condicionamento distorcido que faz acreditar que se o líder da indústria não seguiu esse caminho, então o risco de ser uma má opção é elevadíssimo.

Impacto! #134 – A Parceria com a Wrestle-1

No entanto, independentemente destes condicionamentos, pensamentos, opiniões e preocupações, o BFG em Tóquio vai mesmo ser uma realidade. Obviament que o pulmão de toda esta operação é a crescente parceria entre a TNA e a Wrestle-1. Novamente, não é nada de novo no wrestling que promoções Norte-Americanas se juntem a promoções Japonesas. Ainda há cerca de um mês a Ring Of Honor preparou dois shows em conjunto com a New Japan Pro Wrestling. A TNA continua a consolidar a sua ligação à W-1 e desta vez parece ir além da ocasional troca de talentos.

Impacto! #134 – A Parceria com a Wrestle-1

Mas afinal, o que é a Wrestle-1? Confesso que não tenho uma ideia muito clara sobre o assunto. Posso dizer que Keiji Mutoh – The Great Muta – é o líder desta organização, a qual tem procurado contratar nomes consolidados do wrestling Japonês (sobretudo da AJPW) enquanto constrói os seus talentos de futuro como é o caso de Sanada. Dos combates que vou assistindo no youtube, parece-me a W-1 tem uma abordagem diferente ao tradicional puroresu, procurando colocar mais elementos de entretenimento, o que aproxima a W-1 ao wrestling ocidental.

Impacto! #134 – A Parceria com a Wrestle-1

Do que podemos ver no recente TNA One Night Only Global Impact Japan, é que os lutadores da W-1 são excelentes atletas. Basta assistir a combates como Austin Aries vs Sanada, Magnus vs Kai ou Bad Influence vs Junior Stars para perceber que há muito talento no lado Japonês e que muito provavelmente vamos voltar a ter um embate Ocidente vs Oriente no BFG 2014.

Impacto! #134 – A Parceria com a Wrestle-1

Uma coisa é certa, a Wrestle-1 está a fazer no Japão, o percurso que a TNA tenta construir em território Americano. No Japão a empresa dominante é a NJPW, onde os seus atletas são glorificados e são verdadeiras estrelas, são apresentados e construídos como tal e os fãs reagem a isso. O maior evento do ano para a NJPW é o Wrestle Kingdom e quem pensar que o Bound For Glory no Japão, ou que qualquer evento da W-1 se aproxima desta Wrestlemania asiática está enganado. Ao ver o TNA Global Impact é possível perceber que o público da W-1 é ainda hesitante em como recebe os lutadores, não compreendendo se são heel ou faces, ao contrário do que sucede com os lutadores da NJPW em que os fãs reconhecem as músicas, interagem na entrada dos lutadores e imitam os maneirismos dos personagens. A W.1 não chegou a este ponto, ainda.

Exatamente por esta razão, existem muitas semelhanças entre a TNA e a W-1 inclusivé na forma como a W-1 tenta apelar aos fãs com o uso de nomes consolidados do wrestling, enquanto tenta construir as suas próprias estrelas.

Impacto! #134 – A Parceria com a Wrestle-1

A Wrestle-1 nasce quando Mutoh renuncia ao cargo de Presidente da All Japan Pro Wrestling depois de esta ser comprada e, eventualmente, ver o seu braço direito Masayuki Uchida ser despedido. A saída de Mutoh levou a um êxodo na AJPW, com muitos lutadores leais a Muta a seguirem-no para aquilo que hoje é a W-1, onde há uma verdadeira paixão e visão para criar uma nova marca que se torne cada vez mais forte. Esta paixão foi forte o suficiente para que muitos lutadores acreditassem e decidissem seguir Mutoh nesta aventura. No negócio que é o pro wrestling, isso não é uma decisão fácil. A partir desta história, pode-se definitivamente ver que há uma filosofia por trás da Wrestle-1 que não a torna só numa nova promoção. A W-1 propõe-se a mudar a dinâmica do wrestling no Japão, forçando e apresentando uma alternativa ao que a grande máquina está a oferecer. Isto não soa familiar?

A TNA fez o mesmo em 2002, com nomes e com talentos que lutaram noutras organizações, ou que simplesmente não obtiveram uma verdadeira oportunidade. Ambas as empresas estão a tentar lutar contra gigantes que têm décadas de história e muitos biliões no bolso, têm um legado, e reconhecimento de marca no mercado.

Impacto! #134 – A Parceria com a Wrestle-1

A Wrestle-1 conseguiu reunir um grupo muito talentoso, por exemplo com Renee Dupree (que passou pela WWE), Kaz Hayashi (que esteve na WCW) ou Sanada, que temos vindo a apreciar, como parte do roster da TNA. Os Junior Stars Koji Kanemoto e Minoru Tanaka são uma grande tag-team, assim como a dupla Hayashi e Kondo. Masakatsu Funaki e Kai são dois main-eventers. Do site da W-1 é possível retirar ainda o nome de Tajiri (que passou pela ECW e WWE).

O que temos aqui são duas empresas, que procuram sobreviver num mercado em decadência, lutando contra universos, pelo que me parece que é uma boa decisão estreitar esta parceria entre a TNA e a W-1 como forma de se ajudarem e, de certa forma, partilharem as suas perspetivas, visões e objetivos. Dentro desta parceria, ambas as organizações vão ganhar a entrada no mercado oposto, algo que é difícil para cada uma das partes. A TNA pode conquistar a entrada no mercado Japonês e a W-1 no mercado Americano. Esta é de longe a maior vantagem e de maior potencial. O wrestling Japonês é altamente elogiado pelos fãs de wrestling mais atentos, seja a Wrestle-1, NJPW, AJPW ou a NOAH, mas é desconhecido para a esmagadora maioria do público. O mesmo vale para as promoções Norte-Americanas, como a WWE, TNA e ROH no Japão. Sim, até mesmo a WWE. Chocante, não? Esse tipo de reconhecimento da marca e expansão nunca foi feito com sucesso. Quando se trata destes dois mercados, a história tem mostrado que o sucesso junto dos fãs tem sido mutuamente excluído. Então poderá estar parceria TNA/W-1 funcionar? O tempo dirá.

Impacto! #134 – A Parceria com a Wrestle-1

O Bound for Glory é enorme para a TNA, é o PPV mais importante do ano e como o Abyss referiu numa recente Conference Call, é aquele evento para que todos se preparam durante grande parte do ano. O Bound For Glory no Japão é enorme! Curiosamente, a TNA terá que confiar num parceiro para ter sucesso. O BFG chegará em Outubro a território desconhecido e cabe à W-1 não só ajudar a despertar interesse, mas até vender bilhetes. Além disso, o Korakuen Hall é um local muito notável no Japão, onde muitos consideram que é o Madison Square Garden de purureso. Isto traz enomes responsabilidades. Embora existam muitas perguntas sobre toda a logística de emissão, sobre a introdução dos lutadores de ambas as empresas e a forma como estes se vão relacionar aos olhos do público, e claro sobre qual vai ser o card deste PPV, o certo é que os fãs poderão reconhecer nestas empresas muitas semelhanças. Se funcionar, é uma aposta por parte da TNA com uma enorme recompensa. Imaginem se este evento é um sucesso e a TNA de repente tem uma porta de entrada para o Japão? Imaginem se a Wrestle-1 ganha notoriedade entre os fãs da TNA, e torna-se uma “opção” para os fãs de wrestling fora do Japão. Imagine-se se esta relação cresce e ambas são capazes de manter esse sucesso. Como irá mudar a indústria? A Wrestle-1? A TNA? NJPW? WWE?

Impacto! #134 – A Parceria com a Wrestle-1

BFG é a rampa de lançamento para este. Isso não vai fazer ou quebrar o relacionamento, mas é definitivamente uma oportunidade para fazer uma declaração. Bound for Glory no Japão é metaforicamente uma bases carregadas, duas saídas, e seu rebatedor de limpeza na placa de identificação de situação. A chance de quebrar as coisas abertas, ou simplesmente reunir a sua luva, minimizar as despesas, e retornar o próximo turno com pequenos singles para chegar depois de novo.

Impacto! #134 – A Parceria com a Wrestle-1

A TNA é criticada por tudo e por nada, mas que há algo que se tem que reconhecer mérito é na coragem de arriscar. A ligação à Wrestle-1 e à Bellator são provas dessa coragem, resta saber se o trabalho de equipa irá compensar.

Video da Semana

Behind the Scenes of the Knockouts 2015 Calendar Photo Shoot

Até ao próximo Impacto!

7 Comentários

  1. Alexandre Romano10 anos

    Excelente Jorge.
    Eu acho que o Japão é um grande mercado de Wrestling e que a TNA pode ganhar aqui nesta parceria. Até a WWWE já quer levar o seu mercado para o Japão visto que para o ano a NetWork também vai ser acessível no Japão e a WWE contratou o KENTA mesmo para abrir o mercado na WWE no Japão.

  2. JoãoRkNO ®10 anos

    Sinceramente estou ansioso por este BFG . Não assistia muito a Wrestle 1 , lá está , assisto mais a força dominante no Japão , a NJPW . O Nakamura é o meu favorito , é dos poucos oriundos daquela zona que trabalham a fundo uma personagem . Acho que o Japão poderá ser um ” salário extra ” para a TNA , é um mercado com muitos adeptos desta modalidade , só deverá ser positivo , dependendo claro se fizerem as escolhas certas .

  3. Claro que sim e percebe-se essa decisão da WWE, tal como a ROH tem procurado estabelecer uma parceria com a NJPW. É que o Japão é um mercado onde o wrestling tem uma presença muito significativa e onde as empresas ocidentais têm muita dificuldade em entrar. Hoje em dia é dificil encontrar estes novos territórios, mas se o mercado Asiático decidir investir nesta indústria será um enorme balão de oxigênio para as empresas que forem bem sucedidas lá.
    Não esquecendo que não há hoje nenhuma organização em território Americano que não esteja a passar por muitas dificuldades financeiras.

  4. O meu único senão com a realização do BFG no Japão é a forma como o público Japonês se comporta nas arenas. É um ambiente muito diferente daquilo a que estamos habituados, pois o público costuma estar respeitosamente em silência durante grande parte dos combates e geralmente só reage quando há aqueles grande spots…

    • JoãoRkNO ®10 anos

      Nisso tens razão , mas também deverá ser dos poucos fatores contraditórios .

  5. Excelente Jorge.

    Bem com este artigo tiraste as duvidas que ainda tinha acerca da W-1, porque comparava-a com a TNA, em relação as comparações feitas nos states.

    Aprecio muito wrestling Japonês mas especialmente a sua história passada e, confesso que não acompanho atentamente o panorama actual.

    O que me parece é que esta parceria tem tudo para resultar e tornar-se muito útil para ambas as partes e a realização do BFGS será sem duvida um sucesso. Compreendo que será um risco, devido a factores que apresentas, como os próprios fás nipónicos não conhecerem alguns dos próprios wrestlers e os da TNA serão também englobados.

    A conclusão que tiro é que sem duvida nenhuma a TNA quer sair daquele espaço chamado Orlando…porque já vimos que prejudica e muito a companhia.Basta ver o show que deram em NY para tirarem conclusões.

    Eu como adepto da TNA compreendo que muitas vezes uma arena cheia não é tudo(apesar de ajudar) o que interessa é os fás vibrarem e sentirem aquilo que se passa no ringue e storyline.

    Mais um passo para a TNA voltar a ser o que era…marcar pela diferença!

    • Desde o Slammiversary que a TNA tem conseguido estar muito consistente e a tomar boas decisões. Lamento todo o dinheiro que a organização enterrou nos últimos anos nas ideias de Bischoff e Hogan, lamento que não tenham tido a visão de conservar os fãs base e construir a partir dai e lamento nunca terem investido no reconhecimento da marca TNA. São erros que se pagam muito caro e que leva a que hoje tudo o que a TNA possa tentar de novo seja recebido com desconfiança.

      Ainda assim o Impact Wrestling tem histórias e segmentos muito bem construídos, no ringue não fica atrás de ninguém e se conseguirem manter esta consistência até Outubro, tenho a certeza que haverá muitas e boas razões para não perder este BFG.

      É um risco realizar um PPV no Japão. Do que sei até hoje, o PPV deverá ser gravado e transmitido nos EUA em diferido (uma hora depois). É um evento realizado noutro continente, com um público pouco familiarizado com a TNA, com um público ainda por conquistar pelas organizações ocidentais e é um evento que vai envolver um esforço partilhado de organização entre a TNA e W-1. Funcione ou não, se há coisa que não se pode críticar a TNA é pela coragem de arriscar.