O wrestling tem um novo projecto televisivo e chama-se Lucha Underground. Antes que comecem os dilúvios de comentários sobre esta ser uma promoção que vem fazer concorrência seja a quem for, é bom saber que o Lucha Underground é um programa televisivo e não uma promoção (semelhante ao Ring Ka King na India sob a alçada da TNA). O show é transmitido na El Rey Network e faz parte da incursão da AAA (México) no mercado Americano e é produzido por um dos meus realizadores preferidos – Robert Rodriguez, que aliás produz igualmente outros projectos para o canal, por exemplo, a versão televisiva do filme From Dusk Till Dawn (Aberto até de Madrugada). Como tal, o Lucha Underground é um produto regional que aponta a um nicho de mercado muito especifico – os latino-americanos.

Impacto! #149 – Lucha Underground

O lucha underground é transmitido todas as Sextas e teve a sua estreia dia 29 de Outubro. Se gostam de wrestling, em particular do estilo Mexicano, eu recomendo encontrarem tempo para verificar este novo produto. Pelo menos desde o primeiro episódio, que tive uma forte impressão de este ser um projecto com um elevado valor de produção e de entretenimento. Sobretudo é uma lufada de ar fresco em muitos aspectos e há algumas lições que a TNA já pode aprender a partir deste lucha underground.

Impacto! #149 – Lucha Underground

Há algum tempo atrás lembro-me de uma edição do Perguntas e Respostas, aqui no WPT em que pedi à Salgado a sua opinião sobre o formato para o qual o wrestling poderia um dia evoluir. Na altura perguntava “Salgado várias modalidades desportivas conheceram mudanças profundas ao longo dos tempos. Adaptaram-se a horários, mudaram o público alvo, renovaram o visual, inventaram novas regras…O wrestling certamente passou por algumas dessas transformações. Vês que seja possivel mudar o formato de um show de wrestling ao ponto de se aproximar mais e uma série de TV (com histórias gravadas fora das arenas, como se de um filme se tratasse) e combates para uma plateia ao vivo?”. Ora, o Lucha Underground parece dar um passo nesta direcção.

Impacto! #149 – Lucha Underground

Uma coisa que tenho reparado em muitos dos mais recentes filmes de acção é a crescente utilização de manobras nas sequências de acção, que nós já conhecemos no wrestling, entre Body Slams, spears, flying punchs, o wrestling parece ter um lado que pode ser levado para o grande ecrã e tenho esta sensação, que seria interessante ter um show de wrestling que fosse além do sistema habitual de promos e combates. Algo que se aproximasse mais de um filme ou série, com personagens mais desenvolvidos e histórias mais pessoais, onde os combates podessem acontecer também foram do ringue e abrindo espaço para novas sequências de lutas e para storylines inovadoras. Este formato ultrapassaria a grande barreira que afasta muita gente do wrestling – o facto de os resultados serem pré-determinados enquanto se tenta convencer o público que tudo o que ali acontece não é. Este tipo de pensamento sobre o que é ou não verdade nunca acontece numa série ou um filme e tirar o wrestling do seu habitat secular pode ser o passo para renovar a indústria. Ao ver os primeiros minutos de estreia do Lucha Underground, a fórmula que estou a dar parece funcionar.

Impacto! #149 – Lucha Underground

Mas o Lucha Underground não é ainda esta evolução. No fundo é uma fusão entre elementos de uma série televisiva e o wrestling tradicional, que terá de lutar para ser diferente do que já existe na TNA e na WWE, mas não tão diferente ao ponto de afastar o público que apenas gosta e percebe o produto WWE.

Impacto! #149 – Lucha Underground

Então o que pode a TNA aprender desde já? Lógica e propósito. Logo no início, temos uma forte explicação do propósito da organização. Percebemos a história da lucha (wrestling Mexicano) e como influencia este novo projeto. Em seguida, temos uma introdução a Dario Cueto, presidente kayfabe da Lucha Underground, que exclamou o seu desejo de encontrar os melhores lutadores do mundo para o seu prazer pessoal. Mas imediatamente, entendemos que os lutadores vinham para um recinto obscuro para lutar em frente dos espectadores com o objectivo de ganhar uma elevada quantia de dinheiro paga por Cueto. Esta simples explicação deu uma razão clara para cada combate acontecer. Percebeu-se também qur Cueto é um heel na forma como manipula a organização. como o calcanhar de forma fácil e como ele estava indo para manipular a organização. O guião está a desenhar-se.

Impacto! #149 – Lucha Underground

No wrestling moderno e na TNA, existem alguns segmentos ou combates questionáveis, logicamente falando. Por exemplo, eu nunca percebi a razão pela qual o MVP e o Kenny King se envolveram com o Chris Melendez. Ou até na semana passada, não é estranho que o Davey Richards sequer aceite envolver-se com o grupo de James Storm? Estas falhas na lógica têm potencial para arruinar um bom conjunto de lutadores.

Impacto! #149 – Lucha Underground

O Lucha Underground teve neste primeiro episódio uma simplicidade muito positiva na história. O início de uma história é uma das coisas mais importantes para cativar o público, e este show fez tudo o que precisava nessa frente. Na verdade, ele destacou-se em todos os fatores introdutórios. Tal qualidade no primeiro episódio leva-me a acreditar que a comunicação dos elementos da história será um ponto forte no futuro. A TNA pode beneficiar se prestar atenção à metodologia de como contar uma boa história.

Impacto! #149 – Lucha Underground

Outra lição bem aprendida pelo Lucha Underground é a identidade. O show posiciona-se como um produto de lucha americanizada. É um clube de luta transformado em organização wrestling, o que é consistente com as declarações do Sr. Cueto. Os lutadores combates por orgulho e dinheiro, tudo bastante simples. Ao mesmo tempo, este clube é um recreio para a diversão do Sr. Cueto. A primeira mostra revela uma boa integração da lucha com um estilo americano de apresentação. Com o tempo, haverá mais camadas, mas neste momento é fácil entender a direcção. Uma falha ssencial no produto atual TNA é a questão da identidade. A partir das gravações em Nova Iorque, houve uma nova ênfase nas divisões secundárias, nas mudanças visuais (ringue de seis lados), na aposta em jovens talentos, ao mesmo tempo, enfatizando o wrestling como o ponto crucial de tudo isto. Apesar da indefinição quanto ao seu futuro televisivo estar a criar um profundo fosso entre storylines e wrestling, ainda assim a TNA começa a posicionar-se como um show de wrestling muito completo, mas falta-lhe ainda perceber como posicionar-se no mercado – algo que a ROH já o fez ao intitular-se como tendo os melhores combates de wrestling com uma entrega formidável e ao ser um centro de recrutamento de futuras estrelas, algo que a CZW fez ao posicionar-se com a organização de referência no trash ou hardcore wrestling ou que a Chikara fez ao posicionar-se como uma organização algo cartoonizada. A TNA precisa de distanciar-se ao máximo da WWE e oferecer um produto original e com uma identidade marcada.

Impacto! #149 – Lucha Underground

Talvez o aspecto mais notável do Lucha Underground é o quão bem ele se destaca de outras produções de wrestling. Eles contrataram uma empresa de produção de televisão experiente para escrever e produzir o show. Como resultado, sente-se como se estivesse a ver um filme em comparação a outros produtos de wrestling. Eles utilizam o trabalho de câmara, que geralmente é usado em programas de televisão, mas não no wrestling. Eles filmam em locais que nada têm a haver com os bastidores das arenas de wrestling e captam ângulos diferentes quabdo estão no ringue. A TNA tem usado elementos de produção igualmente inovadores, desde o modo de entrevistas nos bastidores, quase ao estilo dos reality-shows, até às introduções do Impact Wrestling com uma recapitulação da acção da semana anterior. A TNA percebeu, muito com a ajuda de Jason Harvey e Eric Bischoff a importância de introduzir estes elementos na produção televisiva e poderá evoluir com algumas ideias exploradas pelo Robert Rodriguez.

Impacto! #149 – Lucha Underground

Por fim, onde a TNA pode tirar muito valor da Lucha Underground é para a sua X Division. Obviamente, um show de lucha contará com um estilo muito mais rápido ritmo que o tradicional. O combate entre o Prince Puma e o Johnny Mundo é algo digno de se ver e que vai buscar os tempos áureos da X Division. A TNA precisa de focar-se novamente nesse estilo arrojado, atlético e high-flyer para renascer a divisão.

Impacto! #149 – Lucha Underground

Com isto não me interpretem mal. Eu não estou a avaliar o Lucha Underground para dizer que este é o melhor produto de wrestling ou que é melhor ou pior que A, B ou C. Como fã de wrestling parece-me que há lições a tirar daquilo que é bem feito e a TNA pode beneficiar com essas ideias.

Video da Semana

Lucha Underground – Episódio 1

Até ao próximo Impacto!

29 Comentários

  1. Jorge tema muito bem escolhido,fantástico!

    O Lucha Underground é uma lufada de ar fresco no wrestling, posso afirmar que neste momento (sei que ainda é muito cedo) é uma mais valia por todos os aspectos diferentes e inovadores, como referiste.

    Em relação ao produto, fiquei “pregado” ao ecrã. O boss doa “coisa” é um dos factores mais cativantes, um verdadeiro mafioso latino.

    Os combates foram qualquer coisa, então o Prince Puma contra o Jonhy Mundo, o que dizer?

    Para quem acha que o Chavo é aborrecido(eu acho 🙂 ) o Lucha conseguiu ver nele uma razão para um história que parece ser bastante boa, vamos aguardar…

    Podemos ver lutadores contra Lutadores e por ai fora, para não falar noutros aspectos que também mencionas, como a produção ao redor.

    A TNA pode aprender com este 1º episodio do Lucha.

    • queria dizer lutadoras contra lutadores xD

    • O único combate que não gostei foi mesmo do Chavo. Teve um ritmo muito baixo, mas eu entendo que a AAA o queira utilizar dada a importância do nome Guerrero no wrestling Mexicano. De resto, os combates foram bastante sólidos e o Prince Puma (Ricochet) vs Johny Mundo (JoMo) foi a cereja no topo do bolo.

      Estou bastante curioso para perceber se no futuro a tendência será este Lucha Underground aproximar-se mais de um produto de wrestling tradicional (com os segmentos filmados nos bastidores e as promos feitas no ringue) ou se continuarão a apostar numa espécie de série televisiva com combates de wrestling.

  2. MicaelDuarte10 anos

    Excelente artigo, Jorge.

    Já tinha visto o primeiro episódio e, tal como tu, também fiquei impressionado com a qualidade apresentada. A primeira impressão é a mais importante, e o Lucha Underground cumpriu nesse campo.

    No que toca aos ângulos de câmera e aos outros pormenores que referiste, estou absolutamente de acordo. Por exemplo, gosto bastante do ângulo em que colocam a ring announcer (com uma visão de cima), no momento em que esta se prepara para apresentar os lutadores.

    Depois, a apresentação de algumas personagens foi essencial. Neste ponto, falo, principalmente, da Sexy Star. Não só apresentaram um vídeo em que esta explicava a razão da máscara, como a colocaram a enfrentar o Son of Havok, fazendo a ligação com as afirmações dela, de que as mulheres conseguem ser tão duras quanto os homens.

    O main-event foi um excelente combate.

    Pela negativa, destaco a presença do Ezekiel Jackson. Espero que seja (apenas!) uma espécie de guarda-costas do Dario Cueto.

    • Eu não sou de todo um admirador do Chavo, tal como não pareces ser do Ezekiel Jackson, mas temos de pensar que esta malta tem de trabalhar e a WWE não pode ser a única entidade patronal possível.

    • Nota-se a mão do realizador( Se não me engano o Robert Rodriguez o que fez o sin Sity tem papel nesta promoção).

  3. Lwrestling10 anos

    Realmente a algo novo surgindo, algo que serve não só para TNA quanto a WWE

  4. Davmad10 anos

    Gostei desse Lucha underground, vai ser colocado sempre aq

  5. 12345678910 anos

    O johnny mundo é o john morrisson! Ainda ira chegar ainda o dia em k ele volta a wwe e sera wwe world heavyweight champion,ele e o jeff hardy também um gajo pode sonhar ne?

    • John Morrison e Jeff Hardy na mesma frase e em igual patamar? Enfim…

      • 12345678910 anos

        Tiveram fases de ascensão em diferentes anos eu sei o jeff hardy em 2008/2009 e o john morrisson em 2011 mas eles sempre foram dos meus wrestlers favoritos e apesar do jeff ter chegado ao topo da wwe, nunca se manteve lá e o john morrisson teve oportunidades mas nunca conseguiu dar o salto portanto são wrestlers que eu como disse posso sonhar que um dia cheguem e se mantennham no topo da wwe, não vejo que mal têm

  6. Isto vai fazer as maravilhas dos mexicanos, mistura lucha libre, acrobacias e telenovela mexicana. Foi bom ver o regresso do Morrison, esta é mesmo a praia dele, infelizmente continua sem conseguir fazer o finisher como deve ser, de resto continua muito bem.

  7. Pedro Vytor10 anos

    Parabéns por esse excelente artigo Jorge! Eu faço reviews do Impact e você é uma inspiração para mim pelas ótimas visões e opiniões. Concordo contigo quanto ao Lucha Underground que tem muito a ensinar a TNA. Deixei uma pergunta no Perguntas & Respostas sobre a TNA e ficaria enormemente honrado se respondesse:

    Jorge, o roster da X Division anda meio pobre em talentos nos últimos anos. Quais contratações e alterações você acha que a TNA tem condições financeiras de fazer e que poderiam tirar a amada empresa de Nashville do fundo do poço e resgatar o orgulho da empresa que é a X Division?

    Obrigado e continue esse trabalho ótimo!

    • Obrigado pelos elogios Pedro e terei todo o gosto em responder quando for a minha edição do Perguntas e Respostas 🙂

  8. Excelente artigo. Ainda hei de dar uma vista de olhos a este programa de Wrestling.

    • Acabei de ver o segundo episodio.. assim q vires, até esqueces a wwe.

      • FAlmeida_1010 anos

        Efeito Richochet.

      • Também vi, não faz esquecer a WWE mas é muito bom, principalmente em termos de produção apesar de os segmentos acabarem por fazer parecer algo mais irrealista, principalmente a música de fundo. Provavelmente seria esse o objectivo pois parece mesmo uma serie de TV. A WWE e a TNA podiam aprender com a promoção deles. No entanto falta um campeão, falta um titulo para o qual todos lutem.

  9. silascosta10 anos

    Lucha Underground é transmitida as quartas-feiras n?

  10. JoaoC,10 anos

    Gostei bastante da lucha underground. Vão continuar a colocar os episodios aqui?

    • Sim posso ir colocando os episódios aqui no Impacto! apesar de não ser o meio mais eficaz. Já pensei em fazer um apanhado de alguns eventos indy e trazer os videos também neste espaço. Vamos ver se me consigo organizar.

      Já agora, tem tiver fontes para os shows das promoções indy (tipo czw, pwg, chikara, etc) pode divulgar aqui que será uma grande ajuda.

      • Zé Pedro Delgado10 anos

        Coloca ai o Battle of Los Angeles 2014 da PWG, foi awesome mesmo: http://watchwrestling.ch/watch-pwg-bola-2014/
        Continua a postar os episodios da Lucha Underground, é algo que todos vamos querer seguir de certeza, ah e uma correçao, a lucha é transmitida as quartas e nao sextas…
        Excelente artigo!!

      • FAlmeida_1010 anos

        Olá Jorge. Sou totalmente a favor dessa tua ideia de shows Indy aqui neste espaço também. Aconcelho principalmente PWG e ROH. Depois se ainda quiseres poderias dar um saltito à EVOLVE e à CHIKARA.

        http://watchwrestling.ch/

        Nesse site tens um pouco de tudo. Puro, Lucha, CZW, ROH, PWG, CHIKARA…

      • O watchwrestling conheço, mas obrigado pela indicação e se tiverem mais fontes partilhem!

  11. FAlmeida_1010 anos

    Bom artigo Jorge. A minha opinião sobre o Lucha Underground: Não gostei. Para quem diz que foi um GRANDE SHOW DE WRESTLING, não o foi! Teve um bom combate, e de resto foram combates fracos, um show de Wrestling não vive só do Main Event, vive do Card todo e muitos mais fatores. O Blue Demon Jr, esteve um algo trapalhão no combate. E no outro meteram um homem a “squashar” uma mulher, qual o interesse destes dois combates? Nenhum. Em termos de produto, eu particularmente não gostei. Pensei que ia ver o estilo rápido da Lucha e apareceu-me uma série à frente. Em meu gosto pessoal isto não resulta, mas tenho noção que bastantes pessoas gostaram deste conceito, coisa que não aconteceu comigo.O Main Event sim senhor. Bom combate entre o Morrison e o Richochet. Um Main Event digno, e o único bom combate que se viu.

    A mim particularmente, não me deu vontade de acompanhar o próximo episódio. Portanto, a mim não em captaram como fã.

  12. Vi o segundo episódio também, os combates são muito bons, a realização é um exemplo que a WWE e a TNA deveriam seguir mas falta um titulo de campeão para dar sentido a tudo.