Alguém disse um dia que a Paciência é a companheira da Sabedoria. Confesso que esta será uma das edições do Impacto mais aleatórias que tive oportunidade de escrever, mas tive de o fazer olhando para o futuro da TNA, e para a forma como quem vê wrestling actualmente se habitou a um reforço imediato, não conseguindo esperar pelo normal desenrolar de uma história.
A TNA esteve nas últimas semanas no Reino Unido em digressão e algumas ideias de lá surgiram. Acabei por tentar organizar o meu discurso interno o melhor que pude e acabei por encontrar dois pontos de ligação – o tempo e paciência.
Bons ventos sopram vindos do velho continente. Vamos começar pelas novidades. Segundo as reacções que já se fazem sentir, quer pelos fãs, quer pelos lutadores, a recente digressão da TNA no Reino Unido parece que foi um sucesso. Com inicio dia 21 em Glasgow, a digressão teve os seus pontos altos nos dias 25 e 26 com os shows em Manchester e Londres, que permitiram a gravação de 4 episódios do Impact Wrestling (precisamente os 4 episódios que teremos o prazer de assistir este mês de Fevereiro). Não irei revelar os resultados, mas tenho que sublinhar três pontos muito importantes.
Primeiro, o Magnus numa entrevista recente comparava o público Norte-Americano ao público Britânico e numa frase explicava as diferenças, dizendo que o público Americano é mimado e espera que as diferentes promoções os surpreendam. O público Britânico gosta de surpreender e mostrar a sua energia às diferentes promoções. Esta caracterização é já um excelente ponto de partida para a TNA. Tenho tido repetidamente que algo apresentado a 2 mil pessoas não funciona da mesma forma e com o mesmo impacto que apresentado a 10, 20 ou 30 mil pessoas (por muito bom que possar ser!). É já esta Quinta-feira que vamos ver como o produto TNA funciona diante de quase 10 mil espectadores! Fora da pequena Impact Zone e longe do “calejado” público Americano, as estrelas e as histórias que a TNA têm vindo a construir vão ser postas à prova diante de uma das maiores audiências do ano. Agora sim a TNA terá um interessante barómetro para medir, quem o público quer ver, que histórias “vendem” e que lutadores conseguem criar uma melhor relação com o público. Só esta ideia já me entusiasma a ver os próximos shows da TNA.
Segundo, para quem não sabe, a TNA é transmitida no Reino Unido pela Challenge TV. Esta cadeia de televisão, renovou recentemente a parceria com a TNA e além de apresentar o Impact Wrestling, exibe ainda o TNA British Boot Camp e o TNA Xplosion. Caso estejam curiosos em relação a audiências, serei obrigado a usar a referência de mercado, ou seja, a WWE. O Impact Wrestling, nas suas 52 edições anuais ao longo de 2012 apenas por uma vez teve uma audiência inferior à WWE Raw. Aliás, não foram poucas as vezes o Impact Wrestling sozinho somou mais audiência que Raw e SmackDown. Não quero comprar nenhuma guerra com esta comparação, mas irei pegar nesta ideia um pouco mais à frente. Li uma recente entrevista da Dixie Carter que me deixou com a “pulga atrás da orelha”. Em primeiro lugar, ela confirmou que em 2014 a TNA estará de regresso ao Reino Unido e dado o anunciado sucesso desta digressão isso não será de estranhar. Mas o que me deixou curioso foram as seguinte afirmação da presidente da TNA: “Irá haver um grande anuncio em 2013 se tudo correr bem (…) há um sentimento a fervilhar que alguma coisa em grande vai acontecer aqui (no Reino Unido).
Estamos a falar de várias coisas que podem acontecer ainda este ano. Se a nossa empresa tem um direcção, então tentaremos seguir essas ideias e chegar a um novo patamar, independentemente de com quem trabalhamos. Não deixaremos de concretizar uma boa ideia só porque o nosso parceiro televisivo (Challenge TV) não permite. Se eles não quiserem há outros que nos seguirão. O Reino Unido tem sido critico no nosso sucesso e os fãs têm nos apoiado incondicionalmente. Eles avaliam o nosso produto e acreditam que somos competitivos e dão-nos uma oportunidade. Não podemos pedir mais.” Porque é que estas declarações são tão interessantes? Tendo em conta o sucesso da digressão, as lotações esgotadas, as recentes apostas em programação britânica, penso que a TNA estará a dar alguns passos que podem ser muito importantes. Penso que é obvio que uma das ideias que a Dixie se referia era a de realizar um PPV a partir do Reino Unido. Acredito que o BFG ou Slammiversary (mais provável) poderão mesmo acontecer pela primeira vez fora dos Estados Unidos.
Mas mais do que isso, certamente a TNA continuará a apostar em novos programas inclusive deve estar a ser planeado uma espécie de Ring Ka King mas com lutadores britânicos. Mais interessante ainda é ver até onde vai a coragem de Dixie e pergunto-me se neste momento a TNA estará a considerar uma mudança gradual para o Reino Unido? Pouco provável, mas a ideia fica no ar até porque pegando na ideia das audiências, a TNA pode seriamente reflectir se compensa o risco de sair dos Estados Unidos e sediar-se num mercado onde é dominante. Não acredito que assim seja, mas fica a ideia.
Terceiro, o facto de estes shows terem sido gravados permitem que quem quiser possa ler os resultados e antever o mês de Fevereiro na TNA. Não é surpresa nenhuma que assim seja, mas quero apenas deixar uma curta reflexão. O meu papel aqui no Impacto! Nunca foi e nunca será de defesa da TNA, se por defesa se entender concordar e aplaudir tudo o que a TNA faz. O que eu procuro fazer em primeiro lugar é levantar o véu sobre o que acontece na TNA, explicando a sua história, tentando antever a direcção futura e ajudando a que quem está ai desse lado A ler se sinta à vontade para ver a TNA. O que eu ambiciono é conseguir que quem vê TNA não o faça, porque a empresa A, B ou C não apresenta um produto de qualidade. O WPT tem mostrado quase todos os dias que é possível pensar e debater o que se passa na Total Nonstop Action sem cair no erro da comparação. A TNA tem valor por si só e acredito que tem algo diferente de tudo o resto. Infelizmente, os últimos anos (sobretudo 2010 e 2011) não foram simpáticos, muito por culpa da falta de planeamento de toda a equipa da TNA e sobretudo pelo estilo caótico e imprevisível que sempre marcou o método de Vince Russo. Durante 2012, a TNA provou que se conseguia erguer e ergueu-se das cinzas, reunindo elogios das mais variadas pessoas no mundo do wrestling. Actualmente a TNA tem um plano e esse plano está pensado a longo prazo.
Esta ideia parece simples, mas mas não é até para mim que venho assistindo ao crescimento da organização. Um plano a longo prazo implica que o prémio é dado muito tarde e esta é uma nova forma de ver Wrestling. As histórias e as rivalidades não vão terminar abruptamente, como no tempo do sr. Russo, só pela ideia (errada) de que uma empresa pode sobreviver de audiências de uma noite apenas. Acabaram os combates com estipulações aberrantes, acabaram as contratações inesperadas de lutadores longe dos seus melhores dias, acabaram os “swerves” aleatórios e as alianças sem sentido. Muitas histórias que hoje estão a ser construídas só irão ter o seu “pay-off”, ou seja, o seu prémio após vários meses de espera. É isso que marcou o mais longo reinado da história da TNA quando muita gente pedia o titulo mundial para James Storm. É isso que levou Austin Aries a superar Samoe Joe e Bully Ray antes de se aproximar dos main-events. É isso que tornou a revelação de Tazz como membro dos Aces num dos mais imprevisíveis (e positivos) momentos da história recente da TNA. Acreditem que esta equipa criativa da TNA tem um plano e se Bully Ray agora é face e vai-se casar com Brooke Hogan (que história maldita), não acredito que esta história continue ingenuamente…
Espero uma grande revelação no primeiro episódio de Março! Se Hardy tem o titulo agora, por muito fartos que os fãs estejam, mais sabor dará a quem o roubar e a recente parceria Aries/Roode não é ingénua – certamente haverá novos candidatos a esse titulo que vão avançar, sem que os fãs questionem o porquê de Aries e Roode estarem fora da corrida. Há ainda uma reconstrução muito importante em curso: A divisão feminina precisa de ser repensada, a X Division repovoada e a Tag-team Division reformulada. Está tudo bem na TNA, então? Claro que não. Há muito trabalho em curso, mas há que ter paciência. É neste último ponto que quero sublinhar a ideia principal – Paciência. Nos últimos anos e ainda hoje quem vê wrestling está habituado a receber o prémio imediato – Um bom combate, o nosso lutador preferido ganha o titulo, quando nos fartamos dele ele muda ou perde o titulo, regressa uma lenda, dois lutadores juntam-se numa tag-team ou forma-se uma nova stable e os maus perdem. Tudo em poucas semanas, por vezes no mesmo show. Se calhar não ajuda o facto de vivermos numa sociedade de informação, onde tudo acontece de forma mais imediata, onde muitos combates estão hoje disponíveis na internet e qualquer pessoa pode assistir ao main-event do Bash at the Beach em 1996 e pensar que já sabe o que foi a WCW, ou assistir a meia dúzia de vídeos da WWF e “sente” o que foram as Monday Night Wars. Lamento aqui a ideia muito estereotipada, mas a verdade é que já li algumas pessoas que escreveram sobre estas promoções com a presunção de terem assistido a alguns vídeos sem nunca ter percebido o que realmente aconteceu, seja para criticar, seja para glorificar. Por favor não me interpretem mal, qualquer pessoa pode e deve alimentar o seu gosto pela industria assistindo a todos os conteúdos que a internet oferece. Aliás, muitos que hoje vibram com a WWE, TNA ou ROH, nem sequer eram nascidos na década de 90 e não é por isso que devem ser deixados de fora do período dourado da história do wrestling. Para estes períodos dourados no wrestling acontecerem foi preciso tempo.
É por isso que na TNA um combate um entre AJ Styles e Daniels tem sempre história. É por isso que James Storm e Bobby Roode no mesmo ringue leva os fãs a pedirem sangue, é por isso que o público canta “Joe’s Gonna Kill You!”, um gritam por Tables diante de Bully Ray e Devon ou aplaudem quando os chamam de assholes ou Creatures of the Night ou até compreendem o que Sting armado com um taco de basebol representa. Tudo o que referi existe porque houve tempo para contar uma história e envolver o público. É por isso que acredito que se há razão para hoje estar entusiasmado com o que a TNA tem para oferecer é porque a TNA percebeu que precisa de tempo e a recompensa acabará por vir.
Por tudo isto, na próxima sem dúvida que estou empolgado para ver como a TNA funciona num palco maior e mais paciente.
Até ao próximo Impacto!
20 Comentários
Li com muita atenção o que escreveste e gostei do jogo de palavras entre Tempo e paciencia…mas també á uma que podes acrescentar que é emoção…
Ou a falta dela…um publico extremamente babyface…mas isso não é o mais importante o que é importanteé tornar as coisas mais emotivas…uma grande brecha da TNA…o publico da impact zone torna as coisas muito enfadonhas…até podia aparecer lá o CM Punk que a arena era boring(ou talvez não).
A TNA quer se tornar uma alternativa a WWE , bem muito dificil mas não impossivel,tem boas storylines tal como dizes e imprevisiveis…mas a emoção não está lá.
Hogan e os seus, ajudaram muito a TNA estes anos mas neste momento já não fazem falta,muito atenção tem aquela familia Hogan e não deveria de ser assim…mas talvez devemos de ter alguma paciençia…como dizes
Esta empresa procura crescer e ganhar mais dinheiro como é claro e acredito que Dixie o consigua…talentos no roster Há aos montes…espero que este ano a TNA torne as coisas mais emotivas é omeu desejo
Grande artigo Parabéns.
“Consiga”,”paciencia”
André é claro que tens toda a razão quando falas do factor emoção. Mas precisamente esse factor nunca é construido no imediato. Se pensares nos teus filmes preferidos, nas tuas séries preferidas, elas não te cativaram certamente em 5 minutos. Foi uma descoberta tua e uma conquista da história. Há que despertar a curiosadade, o interesse, há que dar razões a quem vê para querer voltar a ver, há que construir um tipo desprezível que queiramos ver perder e um heroi que ansiamos que apareça. Todo este envolvimento requer tempo e isso significa que muitas vezes a história vai ter que fugir para um lugar mais obscuro que nós não gostamos, que se vai tornar previsível ás vezes, mas no final a recompensa valerá a espera.
Tens razão tal como diz o título “A pressa é o inimigo da perfeição”e entendo que no fim seja compensador,mas talvez muitos fás deixaram de ver pela lentidadão dos desenvolvimentos e deixaram de ver o fim,mas aí é que vemos os verdadeiros fás.
Vamos ver e absorver tudo que a TNA quer dar.
Excelente artigo Rebelo!!!
Quem trata da vossa página do facebook, publica as coisas e responde ás mensagens ? 🙂
Sou eu : ) Mas para a próxima manda email em vez de vires deixar esta pergunta a um post que não tem nada a ver.
Artigo muito bom, li da primeira à última palavra.
Basicamente abordaste bem as temáticas e conseguiste pôr água na boca para ver os shows da TNA no Reino Unido.
Obrigado João e estou bastante entusiasmado para ver a TNA diante de uma grande plateia.
Grande artigo Jorge, a palavra certa é paciência, espero que a TNA use isso nas suas storylines, porque com apenas 4 PPVs, ela terá tempo suficiente para preparar com calma e com esmero as histórias, e creio que ela fará com que as torne estas interessantes e que os PPVs sejam marcantes.
Excelente artigo Jorge.
Pelos vistos, os shows no Reino Unido correram muito bem, e fico muito satisfeito por saber isso. Mal posso esperar para ver um show da TNA com uma crowd muito mais numerosa do que a da IZ, que é absolutamente horrível.
“não acredito que esta história continue ingenuamente…” Ora aí está…
Apesar de o Bully para já ser face, a TNA sabe perfeitamente o que tem ali e aliás o gimmick Bully Ray é criação com a marca TNA. Há que esperar para ver o que ainda vai sair desta história.
Excelente artigo Jorge, perfeito mesmo !
Na minha opinião, embora saiba que é de sonhos quase.. Mudar a TNA para o UK seria algo super arrojado e penso que uma grande jogada pois domina totalmente o mercado em relação à WWE que se torna fraca no terreno. E quem sabe a partir daí a TNA não se poderia expandir mais no mercado europeu para suplantar a rival que domina quase totalmente o monopólio mundial, sendo que nos USA é impossível de destornar.. E todas estas jogadas e expansões me deixam muito muito curioso !
Já para não falar do fantástico povo inglês que em todos os desportos tem crowds do outro mundo, sendo os melhores adeptos do mundo de desporto (futebol é exemplo).
Vince concordo. Se a TNA mudasse para o Reino Unido seria o seu fim. Apesar de tudo, os Estados Unidos são o grande motor da industria de wrestling e para uma empresa ter sucesso lá tem, no minimo, de estar lá. Uma coisa que a TNA imediatamente perdia com uma mudança radical desse tipo era a transmissão do Impact Wrestling na Spike TV e, logo, no continente norte-americando. Por isto e muito mais essa é uma mudança impossivel.
Mas que a TNA continue a reforçar a presença no Reino Unido onde é lider, não tenho dúvida que vai continuar a acontecer.
Exato Jorge, seria muito arrojado e arriscado. Era uma grande jogada sem dúvida como referi, mas lá está, venceria a WWE pois é dominante no terreno e podia expandir para o resto da Europa, mas para uma empresa a nível mundial, não teria sustentabilidade alguma… Penso que apesar de estar muito curioso com isto tudo, o certo é a TNA implementar-se cada vez mais no UK, sem descurar os USA.
Ninguem te perguntou nada o espertinho em wrestling
Onde é que se vê o email.
Hã?
…alguém o acuda…
Amigo trata-te deves de estar zangado com alguma coisa,mas não é aqui que descarregas,deve ser no site da Maia, ou no querida Julia…Stupid
Que tem este rapaz ? 😮