Sejam bem-vindos ao Lariato, o espaço escrito dedicado a assuntos da New Japan Pro Wrestling escrito por mim, Miguel Gonçalves, autor do podcast Canto New Japan. Este será um espaço de opinião sobre diversos assuntos que envolvem a NJPW. Sem horários ou calendário definido, podem contar com artigos como aquele que já escrevi anteriormente no Wrestling.PT sobre o Kazuchika Okada (ver artigo), por exemplo.
Inicio este novo espaço com algo que marcou pela negativa os dois shows da New Japan nos passados dias 1 e 2 de Julho em Long Beach, nos Estados Unidos. Será um pouco longo portanto se têm paciência para seguir a “viagem”, venham daí!
Em Janeiro, a NJPW anunciou durante o Wrestle Kingdom que daria o primeiro passo de expansão para o mercado americano com dois shows em Long Beach, no estado da Califórnia. Esta é uma iniciativa interessante logo à partida e que deixou os fãs entusiasmados com o que viria por aí.
Esta iniciativa seguiu-se com os bilhetes a esgotarem a uma velocidade alucinante quando foram colocados à venda. O entusiasmo era notório, tanto da parte dos fãs como da New Japan Pro Wrestling, que acabou por ser mencionado até por Dave Meltzer que poderiam ter sido mais ambiciosos e ter arriscado uma arena com maior capacidade (os shows registaram pouco mais de 2300 fãs em cada um dos dias).
Entretanto foi ainda anunciado um novo título, o IWGP United States Heavyweight Championship, a ser disputado num torneio por eliminação com 8 participantes, com o vencedor a ser coroado como o primeiro campeão. Foram ainda anunciados os cards dos shows, com title matches pelos principais títulos da empresa à mistura, como o caso do combate entre Kazuchika Okada e Cody (Rhodes) pelo IWGP Heavyweight Championship.
Até aqui tudo bem, certo? Certo.
Os shows chegaram e sem dúvida que tiramos grandes combates e momentos tanto da primeira noite como da segunda do G1 Special in USA, mas nem tudo foi bem sucedido.
Poderia passar horas a escrever sobre combates que ficam na memória, como o Omega vs Elgin, o Ishii vs Zack Sabre Jr., Naito vs Ishii, a final do torneio entre Omega e Ishii e até o combate entre Okada e Cody pelo IWGP Heavyweight Championship, mas este é o artigo onde olho para o que correu mal (ou menos bem, como preferirem).
No rescaldo dos dois dias fica então muito de positivo, essencialmente a boa reacção do público e os combates, bem como caras que já há muito não pisavam um ringue da NJPW como era o caso dos talentos em excursão (Jay White, Sho Tanaka e Yohei Komatsu). Fica a nota das boas audiências dos dois shows na AXS TV e ainda a informação que a New Japan vai regressar aos Estados Unidos no próximo ano e a promessa do IWGP United States Heavyweight Champion, Kenny Omega, que para o ano o show (ou shows) serão maiores e melhores do que os deste ano.
Olhando então para o que correu mal, saltam à vista dois grandes aspectos: a realização e os comentários.
A realização, a cargo da AXS TV, que nunca tinha transmitido em directo um evento de pro wrestling, mostrou diversas falhas, desde camera cuts que fizeram perder momentos finais de combates a músicas de entrada com delay ou que não correspondiam ao vídeo no tron. Isto foi algo que criou estranheza logo de início porque a NJPW já faz shows há décadas e não há memória de falhas desta natureza, mas a responsabilidade não era da “crew” da NJPW mas sim da AXS. Apesar de não ser algo que impeça os fãs de desfrutarem dos shows, são falhas incompreensíveis e que não correspondem à ambição de uma nova força chegar ao mercado americano, sendo essa força a #2 mundial.
Apesar de tudo, a realização melhorou da primeira noite para segunda, ainda que nada de considerável. Há certamente margem para melhorar e será algo que não terá deixado a NJPW satisfeita.
O segundo ponto, e aquele que levantou mais críticas, foi nos comentários aos shows.
Não sobre os comentários em japonês (que até tiveram um tal de Kota Ibushi), mas sim os comentários em inglês, por Jim Ross e Josh Barnett, os comentadores que estão em acção na AXS TV a comentar os conteúdos da NJPW.
A prestação de Jim Ross, particularmente, foi muito criticada um pouco por todo o lado na internet e até por Tama Tonga, membro do Bullet Club.
Commentating sucked at the #G1Special..at least @realkevinkelly knows the storylines and OUR F#CKING NAMES
— Tama Tonga (@Tama_Tonga) July 8, 2017
Não penso que seja sequer útil estar aqui a apontar cada um dos erros e a dissecar tudo o que podia ter sido melhor, mas a verdade é que seria de esperar bem mais desta dupla, especialmente de Jim Ross, porventura o comentador de pro wrestling mais respeitado a nível mundial e que deu voz a momentos icónicos da história do wrestling.
Saltou à vista o claro desconhecimento de diversas caras da NJPW, bem como de personagens da Ring Of Honor que incorporaram os shows e até finishers e storylines, entre erros de pronúncia nos nomes dos wrestlers.
- Jim Ross e Josh Barnett só sabem o que comentam
Estes são erros que pouco se esperam de um comentador tão respeitado como Jim Ross, mas o próprio já deu a sua versão dos acontecimentos, afirmando falta de informações para os comentários quando chegou à arena e ter tido de improvisar. Isto vem no seguimento de tanto Jim Ross como Josh Barnett terem já feito saber que não acompanham o produto da NJPW, sem ser aquilo que comentam para a AXS TV. No entanto, não seria de esperar que os comentadores tivessem um pouco mais de profissionalismo e estarem a par do produto que estão a cobrir ao invés de apenas os combates que comentam?
- Jim Ross antes e durante o G1 Special
Jim Ross estreou-se a comentar New Japan Pro Wrestling no Wrestle Kingdom 9 e depois disso desde Janeiro de 2016 que comenta com regularidade alguns combates da empresa. Tanto a nível de preparação como de rigor nos comentários foi claramente superior em tudo o que havia apresentado até ao G1 Special.
- Jim Ross e a ligação à WWE
É certamente estranho na mesma altura em que vemos Jim Ross a comentar combates da NJPW para a AXS TV e ter comentado os dois dias do G1 Special, vemos também Jim Ross a trabalhar em datas para a WWE, mas se alguém o pode e consegue fazer, é o JR.
Para além disso, é de estranhar quando já repetidas vezes, quer no seu podcast, quer nos próprios conteúdos que comenta para a NJPW, dar a entender que estrelas da empresa japonesa acabarão por dar o salto para a WWE. Não seria de esperar um pouco mais de rigor, uma vez mais profissionalismo e já agora um pouco mais de lealdade para com a NJPW? Certamente que não teceria comentários da mesma natureza a comentar um show da WWE.
O que acaba por não ser de estranhar é alguma diferença de entusiasmo e de hype para conteúdos da WWE relativamente a conteúdos da NJPW, sendo que o próprio é fã de WWE e acompanha com regularidade o produto.
- Jim Ross: A saúde e os problemas familiares
O WWE Hall Of Famer tem tido uma fase conturbada da sua vida com o falecimento da esposa e os problemas de saúde dos quais sofre, mas será que isso é um factor a ter em conta?
Josh Barnett, por outro lado, “apenas” de “só saber o que comenta”, nos seus comentários traz uma interpretação mais técnica dos moves e do trabalho dentro do ringue, sendo uma mais-valia em termos de transmitir a quem está a assistir um pouco da psicologia e história do combate.
A questão principal que fica é: Terá sido a dupla Jim Ross/Barnett a melhor opção para comentar os shows?
Esta dupla acabou por ser usada por duas razões: A AXS TV ia transmitir os shows e o canal tem contratada esta dupla e Ross e Barnett acabam por ser dois grandes nomes que chamam à atenção do público.
Com os comentadores habituais Kevin Kelly (agora apenas focado na NJPW depois de terminada a sua ligação à Ring Of Honor) e Don Callis (cada vez mais à vontade com o seu parceiro e com o produto), não haveriam maiores garantias de sucesso na mesa de comentadores? Creio que sim. E indo mais longe, é de crer que tenha aborrecido de certa forma os comentadores habituais que em duas noites tão importantes para a empresa e para os conteúdos em inglês da NJPW se tenha dado o destaque a Jim Ross e Josh Barnett, que até acabaram por desiludir.
Não ficam dúvidas que o G1 Special in USA foi um passo em frente e abre portas a mais presença da NJPW nos Estados Unidos, com planos de abrir um dojo e ter mais shows em solo americano, mas a verdade é que ficam também aspectos a melhorar quando a Shin Nion Puroresu (New Japan Pro Wrestling) voltar em 2018.
Ficam algumas perguntas para os comentários ao artigo:
- Concordam com as críticas à realização dos shows e aos comentários?
- Algo mais saltou à vista de negativo nestes dois shows?
- Quais devem ser os objectivos para 2018 nos Estados Unidos para a NJPW?
- Melhor e pior momento dos dois dias do G1 Special?
Obrigado a quem tiver lido o artigo até ao fim e até ao próximo Lariato!
Podem seguir ainda o Canto New Japan todas as semanas aqui no Wrestling.PT com um assunto da actualidade da NJPW.
5 Comentários
Muito bom artigo e que espelha bem alguns dos pontos mais negativos destes shows.
Acho que houveram combates que não entravam no “estilo” NJPW como Hangman vs. Lethal, Juice vs. Sabre Jr. e até mesmo Okada vs. Cody que quando começou parecia claramente um combate americano, embora tenha acabado como um combate à NJPW. Na minha opinião, o Cody ainda não tem o que é preciso para combater “de forma japonesa”, precisa claramente de tempo para melhorar neste aspecto, quando mais ser líder dos Bullet Club?
No fundo, acho que é importante que a NJPW, para além de se expandir para os EUA, não perca a magia do wrestling japonês que tem em si e que principalmente não mude a sua forma de trabalhar e de os seus lutadores combaterem, porque isso é que é importante quando se tem uma marca tão boa como a que a NJPW tem.
Espero que para o ano tenhamos comentários em inglês mais satisfatórios, o JR é uma nódoa fora da WWE seja em que empresa for, na minha opinião, apenas gostei da sua performance no WK9 ao lado do Matt Striker, já agora, era este que eu adoraria ter na mesa de comentadores ao lado do Don Callis, já que não sou grande apreciador do Kevin Kelly.
Obrigado! Quero que este espaço se torne algo minimamente regular e o feedback é absolutamente fundamental nas primeiras edições!
Alguns combates, como referiste, foram de encontro a um estilo mais “americanizado” mas isso também basta olhar para os nomes que referiste e tens aí boa parte da resposta. O caso do Okada e do Cody, foi claramente na tentativa de deixar o Cody em território mais “amigável” em termos de estilo e penso que ajudou em termos de confiança e para ganhar força para a transição para um “combate à NJPW”. A questão do “pós-Omega” na liderança do Bullet Club dava um bom artigo com várias áreas para especular, mas sim, o Cody não está ainda pronto para pegar nesse papel, até porque duvido que alguma vez venha a estar full-time na NJPW.
Um dos meus próximos artigos em termos de ideias é mesmo o potencial da NJPW no mercado americano e sinceramente concordo contigo, o estilo tem de se manter o mais fiel possível, com a possibilidade de aqui ou ali se dar espaço a algo mais “friendly” para um público com uma cultura diferente.
No aspecto dos comentários, a sugestão do Matt Striker para mim é interessante mas não acho que ele encaixasse bem com o Don Callis, isto porque para mim ambos são excelentes color commentators e perdia-se algo ao colocar o Matt Striker como narrador, já do Don nem se fala. Fui muito crítico do Kevin Kelly ao início mas acho sinceramente que o Kevin Kelly tem feito um imenso investimento pessoal, que vai desde ter deixado de vez a ROH para se concentrar na NJPW apenas, ao facto de se dar de facto com os fãs da NJPW nas redes sociais (Twitter maioritariamente) e interagir. Também noto imenso que ele tem todos os dias acompanhado live o G1 apesar de não estar a comentar, o que acho de louvar porque o homem podia simplesmente ver depois ou vir apenas para os últimos dias onde vai comentar com uma nota ou outra dos shows. Ao invés disso, está acordado a horas ridículas de madrugada nos Estados Unidos para ver os shows e trocar ideias com quem segue o G1 em directo.
Obrigado uma vez mais pelo comentário!
Não tens de quê! Debater assuntos relacionados que não WWE são sempre agradáveis para mim, ainda para mais NJPW, wrestling japonês que tanto adoro. Queria referenciar que acho que o Cody simplesmente não se encaixa na NJPW, pelo menos por agora e mesmo que gostasse de ver a Elite a separar-se do Bullet Club, ter o Cody como líder seria a última coisa que faria, e até nem me importo que ele nunca venha a ser full-time na NJPW se continuar assim, coisa que não acredito, porque acho que se a NJPW lhe quisesse dar um bom push, eu acho que ele não teria problema nenhum em trabalhar e treinar mais para dominar o estilo.
“…o estilo tem de se manter o mais fiel possível, com a possibilidade de aqui ou ali se dar espaço a algo mais “friendly” para um público com uma cultura diferente…” Disseste tudo! Só espero que esse espaço mais friendly não se distancie muito do que a NJPW é.
Em relação aos comentadores, o Matt Striker e Don Callis poderiam formar uma boa dupla, mesmo sabendo que os produtos são diferentes, o Striker é muito bom naquilo que faz na Lucha Underground com o Vampiro, mesmo sem nenhum dos dois ser um “autêntico” narrador, o Striker assume muito bem esse papel, na minha opinião. Não digo que o Kevin Kelly não seja, pelo menos razoável, nem que o mesmo não trabalhe e esteja atento ao produto, e faça até mais, ele promove o produto da NJPW com essas interacções no Twitter, contudo, simplesmente acho que a palavra que o descreve melhor enquanto comentador é “meh”…e um dos pontos fracos que lhe aponto é o facto de não colocar nas suas palavras a emoção que certos combates têm o poder de provocar.
Excelente quadro, bem interessante.
Obrigado pelo comentário!