Mais um PPV e mais um seguinte Raw de enorme qualidade levam-nos, como já abordei na edição 18 deste espaço, a exigir que não se perca este comboio e que o espetáculo continue tão bom quanto está. A WWE está perigosamente a seguir um caminho de enorme expetativa e interesse que pode resultar num gigante tiro no pé caso os espetadores sintam, mais uma vez, a sua confiança traída e o seu tempo mal gasto.

Se há altura em que a WWE pode aumentar o buzz, o número de audiências e de vendas através do espetáculo que está a produzir e não fruto de um regresso de uma estrela ou à volta de um grande combate ou até da morte de alguém, essa altura é esta. Finalmente, após anos de discussão sobre quem seriam os próximos lutadores a assumirem o estatuto legítimo de campeões mundiais, os fãs têm exatamente aquilo que previam e desejavam: Dolph Ziggler e Daniel Bryan envolvidos nos dois principais títulos da companhia.

A surpresa nem está, curiosamente, no facto de Dolph ou Bryan estarem envolvidos na rota desses títulos (ambos ex-Campeões Mundiais), mas sim na consistência da aposta. No primeiro caso, e adotando a teoria mais otimista, esperamos todos que seja uma questão de tempo até que o Show Off volte a capturar o World Heavywheight Championship e consiga obter a tal consolidação enquanto maineventer, com algumas defesas do título com sucesso contra alguns nomes consolidados como Del Rio. Já sabemos o quanto Dolph necessita de uma vitória idêntica à que Bryan conseguiu sobre Orton naquele Raw em que conseguiu fazer desistir o surpreendente novo Mr. Money In The Bank.

No segundo caso, a oportunidade de Daniel Bryan é o culminar perfeito daquilo que eu defendo: quando um lutador faz bem o seu trabalho, deve merecer a confiança dos seus superiores e dos seus colegas. Quando um lutador supera as expetativas e constantemente prova que é efetivamente tough enough para desafios maiores, arrastando consigo uma multidão de fãs que já tinha e convertendo progressivamente alguns ao Bryanismo, esse lutador deve ser recompensado. Isto como regra geral, pois por vezes é sempre necessário agitar às águas e surpreender, mesmo que tal não seja feito da melhor forma.

E como é que essa recompensa surge? Naturalmente, através de títulos. E que oportunidade se dá ao lutador mais popular da modalidade no presente? Exatamente, uma oportunidade pelo título mais prestigiante da modalidade. Mesmo que tal deixe alguns a torcer o nariz. Mesmo que o “cara da companhia” demonstre alguma relutância em ter de escolher como seu adversário Daniel Bryan. Mesmo que se perca a enumerar todo e qualquer possível e imaginário adversário (exceto Christian, claro) pelo ainda seu WWE Championship. Mesmo que pareça que queria passar uma mensagem aos superiores de «tanto por onde escolher, tantas opções e escolheram a pior». Mais um exemplo para a coleção de “tesourinhos deprimentes” de John Cena.

Pormenores à parte e focando o essencial, os fãs não podem e não devem sair insatisfeitos desta rivalidade. Não estou a afirmar que Bryan vá derrotar Cena, até porque tenho quase a certeza que é o contrário que vai acontecer, mas estou a afirmar que Bryan tem necessariamente de estar envolvido na rota do WWE Championship em 2013 e, eventualmente, até o conquistar este ano, já que se adivinha uma rivalidade com Randy Orton (heel preferencialmente) em grande plano. No entanto, há sempre que ter em conta a presença do crónico candidato CM Punk e de uma eventual cláusula no contrato de Brock Lesnar que envolva uma conquista do WWE Championship.

Imaginando um cenário onde Dolph se perde numa rivalidade com um individuo tão pouco carismático como Big-E Langston e outro onde Bryan é direcionado para o Intercontinental Championship (aproveitando o ataque de Curtis durante o combate MITB) como se “ainda não estivesse pronto” para subir ao mais alto nível definitivamente, são cenários sem interesse. Por muito lindamente que isso possa correr, muitos vão deixar de ver e a chama vai, eventualmente, se extinguir. E quem sabe, poderá se perder a oportunidade de consolidar dois lutadores que têm tudo para serem main-eventers da WWE durante os próximos anos. Quem sabe se o novo John Cena não será mesmo um destes dois?

Long Horn Peep Show #21 – Winds of Change

Interessa igualmente perceber quem vai ocupar os lugares deixados em aberto por Dolph e Bryan, quem vão ser escolhidos como seus adversários (ex-Campeões Mundiais ou novo sangue?), quem vai surgir como mid-carders, quem vai renovar a corrente da WWE, entre outros.

Se no caso de Daniel Bryan não parecem faltar clientes para lhe desafiarem pelo WWE Championship (quando a altura chegar em que Bryan conquista o título), afastando Del Rio da equação não se conseguem adivinhar muitos adversários para Dolph pelo World Heavyweight Championship. Será que vão ser ex-Campeões Mundiais como Sheamus e Henry a desafiar o Show Off? Ou a aposta vai recair em veteranos como RVD e Christian?

O ideal seria uma nova injeção de talento do mid-card para o nível mais alto, que me leva inevitavelmente a falar no homem que está na limbo mais perigosa de toda a WWE: a limbo entre o estatuto de mid-carder e main-eventer. Nessa limbo foi onde esteve durante muito tempo, por exemplo, Drew McIntyre, até que uma série de acontecimentos o levaram à desprezível situação em que hoje se encontra.

Refiro-me, obviamente, a Wade Barrett que se encontra sem rumo definido, sem adversário e sem sinais de finalmente dar o passo que merece rumo ao main-event. Não entendo a demora, mas já é altura para me preocupar e questionar o que se passa no backstage para que Barrett não seja incluído, pelo menos, numa rivalidade digna do nome como foi a que teve com Randy Orton antes de se lesionar.

Se Vince procura por alguém com tamanho, look, credibilidade, impacto e que tenha carimbo de main-event, não precisa certamente de recorrer a indivíduos como Ryback. Não podemos excluir o push que Sandow recebeu rumo a um garantido Campeonato Mundial, que será o seu primeiro título na WWE, mas será exagerado pedir que o Bare-Knuckle Fighter seja também promovido?

Long Horn Peep Show #21 – Winds of Change

Aparentemente, o lugar de Dolph parece que vai ser ocupado pelo intelectual Mr. MITB Damien Sandow, que deverá demorar vários meses até efetuar o seu cash-in e que deverá defender a mesma mala contra o renovado Cody Rhodes, que concretizou o previsto e necessário face turn para dar nova vida à sua personagem e novo rumo à sua carreira.

Curiosamente, com esse face turn Cody Rhodes tornou-se num favorito do público como já não víamos há muito: aquele cenário de “coitadinho” parece que vai resultar na perfeição para que Cody ocupe o lugar de mid-carder favorito do WWE Universe e, idealmente, o possa catapultar para o estatuto de main-eventer conforme já sucedeu definitivamente – espero não agoirar – com Daniel Bryan.

Progressivamente percorrendo a pirâmide, a divisão mid-card é atualmente liderada por dois jovens: Dean Ambrose e Curtis Axel. Se neste SmackDown, antes da despedida, Jericho ainda vai fazer o favor de consolidar ainda mais Curtis Axel com uma defesa do Intercontinental Championship, o mesmo não se pode dizer de Dean Ambrose.

De facto, a vitória de Curtis Axel no Money In The Bank foi importantíssima, tendo em conta que não só ganhou sem a presença do seu manager, bem como obteve uma vitória completamente limpa sobre um ex-WWE Champion caído em desgraça desde que virou face, como conseguiu o bónus de reforçar o seu novo finisher: não é o Perfectplex, mas ao menos também não é aquele nada convincente running one-armed swiinging neckbreaker (bem que lhe podia ter dado um nome).

Já Ambrose, para além de não ter adversário à vista, também não defende o seu título desde o Payback, onde derrotou Kane por DQ. E ao contrário de Curtis, que em tão pouco tempo já se expôs individualmente (sublinho, individualmente) no ringue contra adversários de muito maior calibre e evidenciou um move-set bem construído, Dean Ambrose individualmente ainda não o fez. A verdade é que Dean Ambrose, neste momento, tem ainda menos manobras típicas do que Fandango. O seu estilo caótico de luta não chega e falta claramente apostar em melhorar o seu move-set, isto é, trabalhar em manobras que o caracterizem para além do seu finisher.

Para tal, dava jeito estar envolvido numa rivalidade, sendo o nome que rapidamente aparece como possível candidato é o de Christian. Porém, depois de dois combates tag-team consecutivos, Christian e Ambrose não se voltaram a encontrar e o Captain Charisma já tem mais vitórias sobre Damien Sandow (2) do que sobre Dean Ambrose (1). O único combate que Christian e Dean tiveram 1 vs 1 terminou com um final  inconclusivo graças à interferência de Rollins e Reigns e, por isso, com uma nada relevante vitória por DQ de Christian.

Long Horn Peep Show #21 – Winds of Change

Há que retomar esta rivalidade o quanto antes, para que depois Ambrose possa eventualmente vir a defender o seu título – e quem sabe até o perder – contra o novo Cody Rhodes, depois de este ter tratado dos seus assuntos com Sandow no SummerSlam. É claro que Curtis também vai precisar de adversários… E aqui levanta-se a questão do papel de RVD: será que vai seguir o trabalho de Jericho? Será que vai lutar contra Axel ou Ambrose e até conquistar títulos secundários? Ou será que apenas vai servir para consolidar alguns talentos como main-eventers?

Uma vez que ambos os campeões são heels, para além de Christian e Cody Rhodes, não se adivinham muitos mais credíveis candidatos face. A não ser que se considerem credíveis nomes como Sin Cara, Zack Ryder, Evan Bourne, Brodus Clay… E como não deve estar para acontecer algum regresso de lutadores como Kofi e Mysterio (afastados por lesões), prevê-se que mais alterações poderão estar para surgir quanto a turns ou subidas/descidas de estatuto.

Desejo muito honestamente que para tal não se tenham de recorrer a manobras altamente questionáveis, como seria (estou a rezar para que tal não seja o caso) tornar babyface o melhor heel da WWE: Mark Henry. Refugio-me na natureza caótica dos Shield para afirmar que tal ataque não implica necessariamente um face turn de Henry, que ganha especial relutância quando se constata que Punk, Dolph e Cody (outrora três consolidados heels) acabaram de mudar de atitude. Resta esperar para ver se os ventos de mudança vão continuar a soprar rumo a bom porto.

10 Comentários

  1. O melhor “Long Horn Peep Show” até hoje… Fantástico, tens aí grandes ideias de “booker”. Não queres ir trabalhar para a TNA?

    Não gostei de todas as tuas ideias, mas que todas fazem sentido, lá isso fazem. Continua assim.

    • Ricardo Silva11 anos

      Não sei se o Kapitas ia facilitar a vida à Dixie, acho que só saía mesmo pela cláusula de rescisão xD

  2. Bom Artigo, o que sugeres para o Ambrose faz muita logica, Christian seria o melhor adversário!

  3. Cadu Ito11 anos

    O que me preocupa mais na WWE é o grande fortalecimento do Main Event e o abismo que tem para os Midcard.

    As vezes penso que dar o título Midcard para um Main Eventer e com isso “pushar” lutadores Lowcard para o Midcard seria o ideal…

    No caso de Sheamus e talvez CM Punk pegarem os títulos de Midcard e toda semana tiverem novos desafios como Curt Hawkins, Drew McIntyre, Zack Ryder entre outros.

    Mas gostei bem de suas idéias.

  4. Dolph Ziggler11 anos

    Excelente artigo. Gostei de algumas ideias mas também há outras que não concordo. Contudo, boa escrita. Continua assim.

  5. Rafael Rodrigues11 anos

    Grande artigo e grande conteudo!
    Vamos ao principal:
    Realmente,Ziegler e Bryan sao hoje a par de Punk os melhores na WWE(curiosamente todos estao abaixo dos 100 kg e fora daquele esteriotipo do patrao) e o futuro esta com eles.Manter Cena e Del Rio como campeoes por enquanto parece ser o mais provavel mas seria um trmendo erro porque nao tenho duvidas que se isso acontecer os contenders perderiam muito do seu pop alcançado ultimamnete.Quanto as questoes Big E e Axel,resolvem-se facilmente num dos shows semanais ate para da-los ainda mais push.

  6. LuisMPBO11 anos

    Ótimo “Long Horn Peep Show”, com sugestões muito boas, muitas das quais deveriam ser aplicadas.
    Acho que o RVD vai para a rota do World Heavyweight Championship, por isso não o estou a ver a elevar um campeão secundário, mas até seria uma boa ideia.
    Não concordo com o afastamento do Ziggler do Título Mundial. Acho que ele devia ser uma prioridade em relação ao Sandow. Mas sendo que parece que isso não vai acontecer, gostava de ver uma rivalidade muito longa entre Sandow e Rhodes. Vamos supor isto: No próximo PPV, o Rob Van Dam derrota o Alberto Del Rio pelo título e o Sandow e o Rhodes lutam com o combate a acabar em No Contest (eles que arranjem uma maneira). No PPV a seguir, o RVD defende com sucesso contra o Del Rio, que sai da rota do título, e o Sandow combate novamente com o Rhodes, desta vez com a mala em jogo. O Sandow vence sujo. Depois, o Sandow faz o cash in no RVD. No PPV seguinte, o Sandow defende com sucesso contra o RVD, e o Rhodes vence um heel para ganhar momentum, mas Sandow e Rhodes continuam a interagir. No PPV a seguir, Sandow vence um triple threat contra RVD e Rhodes, efetuando o pin em RVD. No outro PPV, Sandow volta a vencer Rhodes com uma completa batota. Rhodes afasta se do título e vai para outra rivalidade, da qual sai por cima. Sandow mantém o título até a Wrestlemania. Os dois nunca param de interagir e, na Wrestlemania, o Rhodes ganha o título. Eu achava bem 🙂
    Só uma coisa, não sei se o Fandango tem mais moves tipicos que o Ambrose… (apesar do que disseste).
    Gostei muito do artigo.

  7. Luiz Justt11 anos

    Eu acho como muitos que Barrett devia ter conquistado o WWE Championship contra Orton em 2010 !

  8. Awesome! Absolutamente excelente, o teu melhor artigo até agora 🙂 Sem dúvida que fazes uma excelente análise das situações e que tens ideias consolidadas que fazem todo o sentido.

    A situação do Ambrose ficou um pouco em stand-by devido aos combates MITB, mas acredito que o futuro oponente do Ambrose possa muito bem ser o Christian, mas é preciso que isso se confirme porque estes ataques ao Henry e o facto de ele ter vindo ajudar os Usos e ficar 3 vs 3 pode levar a que haja um combate com esses mesmos intervenientes no SummerSlam, mas dessa forma o USA Title seria muito deixando em backgroud e dois PPV’s sem defesa de um titulo é muito mau pelo que acredito que não aconteça. Mas será que com isto pretendem colocar Henry na rota do US title? Fica a questão, diz-me de tua justiça Ricardo ahah

    • Ricardo Silva11 anos

      Claramente, tudo aponta para que Henry enfrente Ambrose pelo USC. Eu, por aqui, continuo a acender velinhas para que isso não aconteça: primeiro porque implicava a destruição de um heel que está no topo; segundo porque não tem qualquer lógica a maior ameaça ao WWE Championship passar numa noite para… candidato nº1 ao USC.