Desta vez, a WWE não desiludiu. Tivemos um SummerSlam exatamente à altura do que se espera, ou seja, nada menos do que memorável. Por um conjunto de motivos, embora nem todos eles positivos, esta edição do SummerSlam não será certamente esquecida, até porque nela ocorreu o provável combate do ano (CM Punk vs Brock Lesnar). Contudo, não é desse fantástico PPV que hoje vamos falar.
O assunto desta semana é dedicado em exclusivo, pela primeira vez neste espaço, ao homem mais mediático da modalidade ou, pelo menos, ao homem mais conhecido no mundo do wrestling: John Cena. Se isto fosse um programa de televisão, esta era a altura em que vos pedia para não mudarem já de canal. Como é um artigo, peço para que não fechem a janela e me permitam explicar o que aqui vou dissertar.
Antes de mais nada, a constatação do óbvio: já muito foi dito sobre Cena. Já foi analisado de todas as formas e feitios e já foi criticado e elogiado pelos mais variados motivos. Hoje deixo aqui uma alternativa bastante simples: soluções. Logo, é sinal de que a sua situação não é propriamente a melhor. Neste momento, John Cena é um dos lutadores mais cansativos de assistir, pelo que importa analisar o que está mal e como se pode corrigir esse mal.
Começando por dar crédito a quem o merece, há que tirar o chapéu ao facto de John Cena ter recentemente conquistado o feito único que é ser eleito pela terceira vez o número 1 da lista do PWI. É obra e merece destaque. Se formos a constatar, são vários os combates que John Cena teve em grandes palcos contra grandes nomes e conseguiu sempre não só sobreviver às expetativas, como ultrapassá-las na maioria desses encontros.
Por isso, é John Cena um grande wrestler? A resposta é… Não. Daniel Bryan é um grande wrestler. Bret Hart e Shawn Michaels eram dois grandes wrestlers. Tal como Kurt Angle e outros. John Cena é um mero praticante da modalidade.
As diferenças estão basicamente na capacidade para qualquer um dos nomes que referi ter a habilidade para fazer todo e qualquer tipo de manobras dentro do ringue, bem como na forma como as executam. Com o devido treino, acompanhamento e vontade de vencer, efetuar um conjunto de manobras não é complicado para alguém que faz do wrestling a sua vida. Obviamente, isto visto do lado de fora, é sempre fácil falar. Porém, todos concordarão quando afirmo que Cena não é propriamente um lutador com muita técnica.
Tal como Miz, que queria ser um wrestler e treinou muito para lá chegar, John Cena foi pelo mesmo caminho. Só que não veio de reality-shows, mas sim de futebol americano. A partir daí, muita prática, paixão, ambição, empenho e vontade de vencer conduziram Cena a ter uma oportunidade na WWE, onde se viria a afirmar pela tal ruthless aggression.
Degrau a degrau até se tornar na cara da companhia e no fenómeno internacional que é hoje, Cena foi entretendo multidões e combatendo um pouco pelos quatro cantos do Mundo. A diferença para todos os outros é que o fez, não só segurando o WWE Championship, como representando a WWE sem falhas.
O problema é que, a dada altura, o que se passava fora do ringue tornou-se mais importante do que o que se passava dentro do ringue. O que Cena representava tornou-se mais importante do que aquilo que poderia ou não desempenhar. Só assim se explica o porquê da personagem de Johnny boy estar em piloto automático há aproximadamente cinco anos.
Cinco anos nos quais mudaram apenas as cores das shirts, cinco anos com o mesmo discurso, cinco anos a combater exatamente da mesma monótona forma. Cena teve de se adaptar ao mundo do wrestling e, posteriormente, à WWE para conseguir ter sucesso e se impor na indústria. Quando a WWE entrou na PG Era, foi o assumir da adaptação da WWE à sua maior superstar: John Cena.
Isso vesse nas alterações de discurso, nas palavras proibidas, na forma de lutar mais resguardada, nos atos mais cautelosos, tudo moderado à volta do homem que cumpre na perfeição com todas essas regras. Se repararem, as manobras típicas de Cena, que tanta tinta já fizeram correr, são precisamente a cara da PG Era: até o próprio STF foi convertido e perdeu parte da intensidade na forma como outrora era aplicado.
Por aqui se percebe a diferença entre um wrestler e uma superstar: o wrestler dá prioridade exatamente ao que faz dentro do ringue. Um superstar dá prioridade às entrevistas, à fama e todos os aspetos “extra-wrestling” e/ou relacionados com a promoção da companhia que representam. E ninguém faz esse papel melhor do que Cena.
Não pensem que é fácil ser o poster boy. A pressão é constante, os media são capazes de irritar a pessoa mais calma do Mundo e a margem para erros é nula. Por exemplo, Randy Orton já perdeu as estribeiras durante uma entrevista enquanto era WWE Champion, chegando a ameaçar o repórter que o incomodou quando lhe chamou “frágil” devido aos seus problemas constantes com os ombros. Isso é algo que nunca vimos, nem vamos ver com John Cena.
Por isso, quando perguntam se outros no seu lugar, com as mesmas oportunidades, teriam tido o mesmo sucesso do que o homem de Boston, a resposta muito provavelmente seria não. O seu comportamento é exemplar, nunca se deixa levar em polémicas, é um profissional comprometido e um apaixonado pelo que faz. O facto de raramente ter férias e nunca baixar o seu desempenho, é simplesmente incrível.
Inevitavelmente, e porque a WWE assim entendeu, o outrora Doctor of Thuganomics tornou-se num entertainer e o que saiu a perder foi o wrestling. Por estes motivos, Daniel Bryan tem toda a razão quando afirmou que o homem que provavelmente vai ultrapassar o número de reinados de Ric Flair, não é um wrestler, mas sim um entertainer. Curiosamente, a frase que mais me inspirou a fazer este artigo não foi essa, mas sim a seguinte:
“See this shirt? This shirt is a parody of you. Because I think you’re a parody of wrestling.”
[Daniel Bryan para John Cena, Monday Night Raw, 12/08/2013]
Tão simples e tão eficaz. Tão curta e tão verdade. Na minha mente, ainda consigo ouvir a voz de Bryan, o seu olhar destemido e o apontar de dedo bem firme ao seu inimigo. O último promo de Cena e Bryan antes do SummerSlam foi especialmente bom, porque Daniel Bryan conseguiu por breves instantes dar um realismo a toda a situação que apenas CM Punk consegue dar, quando afirmou que Cena era o perfeito exemplo de porquê não ver televisão, como ponto de partida para a sua opinião.
Interessa tentar averiguar como é que Cena pode finalmente deixar de ser aquela fonte de aborrecimento semanal e se tornar verdadeiramente interessante ao final de tantos anos da mesma conversa. A começar pelo que está menos mal, o seu trabalho ao microfone será sempre um ponto positivo enquanto wrestler, embora se encontre estagnado tal como toda a sua personagem.
O discurso de Cena baseia-se constantemente na paixão que sente do WWE Universe, sendo através de reações positivas ou negativas. Ultimamente, como estamos em maré alta e com um produto muito bom, entre cada PPV o Johnny boy consegue nos presentear com um bom promo. O problema é o resto, que gira à volta de constantes repetições e de ideias que já sabemos de trás para a frente. Tal como CM Punk no seu promo de “despedida” pós-WrestleMania29 contou uma história sobre a sua carreira desde o seu histórico reinado até à atualidade, Cena poderia fazer o mesmo quando falasse pela primeira vez no seu próximo regresso daqui a uns quantos meses.
Passando para a imagem de Cena, renovações têm que ser feitas com urgência. Ele que rape o cabelo ou deixe-o crescer. Ele que mude finalmente o estilo de se vestir. Se ter duas versões para o seu equipamento (uma amarela e azul, a outra azul e amarela) foi um jogada deveras inteligente e que permitiu trazer alguma frescura a cada uma das suas entradas, ter uma terceira alternativa completamente diferente das outras duas é ainda melhor. Contudo, temos que recuar até à altura em que Cena ainda era rapper para nos lembrarmos de um estilo realmente diferente do seu atual. Pelo meio surgiu a “Hustle, Loyalty, Respect”, que serviu nada mais como ponte para a situação deprimente de hoje.
Dentro do ringue também há muito que melhorar. Já está mais do que visto que algumas manobras como o dropkick simplesmente não são executáveis para Cena. Em vez disso, apostem em manobras áreas mais simples como um cross body slam. E está mais do que na altura de ele acrescentar um conjunto de manobras típicas que o identifiquem, para além do AA, five knuckle shuffle e outras que tais. Já se viu, no combate contra CM Punk e neste último contra Daniel Bryan, que Cena pode muito bem ter um leque de manobras mais interessante do que o que apresentava até à data da sua recente lesão.
Para além destas mudanças, vejo duas alternativas para a personagem de Cena: a primeira e mais debatida, a solução ideal, mas menos provável seria efetuar o chocante heel turn. Se Hogan o fez e foi épico, imaginem só o que aconteceria se Cena voltasse a ser heel. Este é o “ás de espadas”, o trunfo, o joker que a WWE tem estado a guardar aos anos, para ser usado como uma bomba na história da modalidade. Resta saber se algum dia o vão utilizar.
A segunda alternativa e mais provável trata-se de Cena fazer o seu return com uma nova t-shirt, com o papel de “cavaleiro branco” que terá como missão salvar a WWE do reino de terror dos McMahon’s e do ainda WWE Champion Randy Orton, formando uma equipa WWE em conjunto com Daniel Bryan e outros elementos. Eventualmente, as coisas vão acabar por levar ao Cena que cansa o mais vibrante dos fãs e que ouve “We still hate you” durante os grandes combates que ocasionalmente produz, como sucedeu no passado Domingo.
Esta necessidade de operação (para mim o verdadeiro motivo pelo qual Bryan derrotou Cena) não poderia ter vindo em melhor altura. Esperemos que a sua recuperação não seja apressada, pois o período que se vive na WWE é muito bom e não se vai sentir falta de John Cena. Assim, idealmente deve ficar meio ano de fora para que possa aproveitar para recarregar baterias e voltar fresco, com uma imagem e forma de atuar diferentes da que estamos habituados. Impõe-se essa renovação. Resta saber se tal vai acontecer ou se, quando voltar, Cena vai continuar a ouvir cânticos como… You Still Suck.
Nota: Ao contrário do que é habitual, na próxima sexta-feira (dia 30 de Agosto) e, ainda a confirmar, na sexta-feira seguinte (dia 6 de Setembro), não vou poder escrever a habitual Long Horn Peep Show. O motivo é simples: vou finalmente estar de férias. Durante esse período não vou estar online, o que me impossibilita continuar a acompanhar a WWE. Espero que os meus peeps sintam saudades da leitura da vossa crónica favorita das sextas-feiras e como diria o outro: holla holla!
9 Comentários
Ricardo um artigo com um requinte fenomenal!
O tema Cena é sempre controverso, como nunca fui grande fá dele mas, nunca um “hater”, compreendo o porque de queremos, que ele esteja ausente por algum tempo.
A verdade é pura e simples, falas nisso no teu artigo, a mudança tem que ser feita, a cartada que referes, para quando?…não saberemos, será sem contar…
Cena quando era o face da Smackdwon era adorado e talvez efectuasse todas as manobras que ainda faz, mas havia um senão, não era a cara da companhia.
Crescer o cabelo não digo Ricardo( 🙂 ) mas se houver uma mudança, talvez seja épica!
Boas férias e bom descanso
PS: O logo meu?!?!?! 🙂
Antes de mais, obrigado por comentares sempre o meu espaço.
Respondendo ao teu PS, não coloquei logo por dois motivos: o primeiro e mais forte, foi por ter feito uma “edição especial” apenas para o Cena e não queria dar a marca mais pessoal do logo neste artigo. O segundo, tive poucas opiniões sobre o segundo logo em comparação com o primeiro. Foi melhor aceite, mas gostava de ter lido mais opiniões sobre o logo da semana passada.
Parabéns Ricardo pelo fantástico artigo!!!
O tema mais habitual e mais polémico de sempre, é, e continuará a ser Cena…
Quando Cena chegou eu adorei-o e venerei-o durante muito tempo, como referes e bem desde há 5 anos para cá…a coisa tornou-se chata e aborrecida e aquele sentimento de veneração tornou-se apenas num carinho que senti por alguém que já venerei, imagine-mos uma ex-namorada que evitamos mas nunca esqueceremos os bons momentos…
Revejo-me por completo em cada palavra do que escreves-te…com enfâse nos pontos certo (o que é Cena, o que fez Cena, como é visto Cena, o que virá de Cena, soluções para Cena)…
Exelente trabalho Ricardo…
Excelente artigo, Ricardo!
Não há muito a acrescentar, até porque este assunto já está bastante batido, mas gostei da tua “versão”, pois foi algo que considerei inovador.
Eu gostava que ele voltasse diferente, não digo como “heel”, o ideal seria um “face” não boring ou um “tweener”. Eu adorava o “Doctor of Thauganomics” mas não sei se ele ainda está em idade para andar a armar-se em rapper mas muito provavelmente, sim!
O problema é que eu só vejo uma mudança a ocorrer quando for efetuada uma passagem de testemunho, o que para já ainda não aconteceu (embora tenha dados uns sinais na promo com o Bryan desta Raw. Considerei uma “mini-passagem de testemunho”.
Excelente artigo e boas férias!
O cena so percisa de voltar a isto http://www.youtube.com/watch?v=B-3D6__fZCI
Mais um bom artigo, Ricardo. Confesso que sou um hater assumido de John Cena. Nunca gostei do seu trabalho e por isso acho que, aos meus olhos, nada que ele faça me pode vir a interessar. Seja como heel ou face. Mas para os restantes, acho que uma turn, ou pela menos algumas mudanças na personagem, são algo que ele bem precisa. E como aconteceu esta lesão, talvez até tenhamos algumas mudanças, sem ela nunca as teríamos. Mas não criem grandes expectativas, pq as mudanças não serão nada que o afaste da rota de super cena que continuará a ser a cara da companhia.
Até quando? Bem, isso é outra historia. Já não vejo muitos anos para cena como cara da companhia. A idade não perdoa, especialmente quando o publico alvo é de uma faixa etária infantil. As crianças rapidamente procurarão uma nova referencia quando este chegar aos quarentas. Será uma altura em que perderá a relevância junto do publico alvo, e por isso talvez só nessa altura se veja o tal heel turn, que deverá ser algo muito falado. Não tão épico como o de Hogan, pq os tempos são outros, mas ainda assim será algo que, se for bem feito, entrará na história. Apenas estou feliz por ver o homem fora do meu ecrã. xD
Ps: Espero que apresentes o logo em breve, ou mais alguma opção para considerarmos. Boas férias.
Para começar, devo dizer que gostei bastante do facto de teres olhado para a situação actual do Cena como um “outsider”, alguém “de fora” que não é fã nem hater, isso é de louvar.
Concordo com tudo o que disseste, e sem dúvida que será preciso um abanão à personagem desempenhada pelo “Johnny Boy” para que este volte a ter apoio por parte das (como diz o outro) “unwashed masses”. Um simples corte de cabelo não irá fazer grande diferença, assim como as calças não trouxeram nada de mais ao Kofi. Tanto pelo facto de isso não contribuir directamente para uma mudança, como pelo facto de ele não ter o tipo de cabelo certo para que este cresça como dizes. Assim como a sua personagem, o seu cabelo também está “gasto” xD E visto que o cabelo dele não é longo, ao rapar não haveria aquele “wow factor” que aconteceria se este tivesse o cabelo como o Sheamus ou o Bryan.
Um heel-turn era bem vindo, e acho que este afastamento pode muito bem levar a isso porque nos próximos 6 meses alguém tem de fazer o papel de “embaixador” da WWE no contacto com os “media” e pode ser que ao encontrarem um novo nome para executar essas funções, o caminho ficasse aberto a uma mudança radical no rumo das coisas. Muito sinceramente, pela sua personagem e pela sua personalidade, Bryan será muito provavelmente o escolhido para suceder a Cena nessa função.
O move-set dele está “gasto”, toda aquela sequência tão célebre conhecida como “Five Moves Of Doom” precisam de uma remodelação, precisam de um novo “look”. Aquele “Five Knuckle Shuffle” não é nada convincente e merece uma atenção especial. Cena é atlético, dentro do possível tendo em conta o seu corpo. Ele faz “top turnbuckle moves” como o leg drop, faz o “Monkey Flip” e até já o vimos fazer um “Hurricanrana”. Se é o melhor a fazê-los? Não, de longe, mas é a prova de como Cena é capaz de elevar as coisas a outro nível quando as situações assim o exigem, e podia-se ter isso em conta se uma remodelação ocorrer.
De resto, acho que seria interessante ir buscar um pouco da atitude que o “Doctor of Thuganomics” tinha e aplicá-la no que quer que seja que façam com o Cena pois seria algo interessante.
E acho que é tudo, boas férias Ricardo!
PS: Sobre o teu logo tenho a dizer que gostei bastante do segundo pois foi de encontro ao que eu te aconselhei a fazer quando teci a minha opinião ao primeiro. Se fosse eu, escolheria o segundo como definitivo sem sombra de dúvidas! 🙂
Cena volta na Rumble, sendo que os dois últimos serão ele e Bryan, Bryan elimina Cena. Bryan x Orton na WM.
Excelente artigo.
Desde que o John Cena fez aquela promo na última Raw, fiquei a matutar numa coisa: o seu heel-turn.
É quase certo que o Cena volta na RTWM ( até pode ser umas semanas antes do Royal Rumble, mas vai dar praticamente ao mesmo). Ora, duvido MUITO que ele ganhe o combate RR pela terceira vez, por isso deverá intrometer-se na história dos McMahons & Triple H. A outra hipótese é lutar com o Undertaker, mas vou mais pela primeira.
Sinceramente, acredito que o Cena pode fazer um heel-turn na WrestleMania. Não sei como, mas é um “feeling” que eu tenho. “You may say I’m a dreamer, but I’m not the only one…”