Esta semana a WWE apresentou dois segmentos que para muitos fãs fizeram relembrar, de alguma forma, os tempos da Attitude Era, não pela violência, mas sim pela utilização do sex appeal, que desde que a companhia se tornou PG, não pode ser usado da forma explícita que era durante a Attitude Era. Portanto, esta semana, em ambas as brands, tivemos dois segmentos em que esse Sex Appeal esteve presente, não tão descaradamente como dantes, mas percebeu-se que foi deliberadamente utilizado.
No RAW vimos um camera-man entrar no camarim de Alexa Bliss para lhe dar um café, acabando no entanto por apanhá-la a vestir-se. E no SmackDown Live vimos Mandy Rose marcar um encontro num quarto de hotel com Jimmy Uso e a aparecer de lingerie. Ora se por um lado estes dois segmentos deixaram muitos fãs agradados, o que se pode verificar pelas 9 milhões de visualizações angariadas pelos dois vídeos no canal da WWE ( Alexa 6 milhões e Mandy 3 milhões), por outro deixaram também muitos fãs descontentes, que criticam a atitude da WWE de voltar a objetificar as mulheres ou de estar a dar destaque à sua beleza em vez do seu talento.
Eu não considero que a atitude da WWE ao apresentar este tipo de segmentos tenha sido errada, se as superstars em questão estiverem à vontade com o seu corpo e se tiverem concordado com a decisão de companhia em realizar os segmentos, então não vejo o mal nisso. Contudo, um destes dois segmentos foi completamente vergonhoso e também me deixou algo descontente, embora não pelos mesmos motivos de muitas pessoas, estou a falar pois do segmento de Alexa Bliss no RAW.
Os motivos que me levaram a não gostar deste segmento, não foi o facto de terem usado o sex appeal da Alexa, isso não me incomoda, ela sabe que o tem, usa-o como trunfo e pelos vistos está à vontade com isso e ainda bem, ainda para mais sabendo do seu historial de insegurança com o corpo. O que me incomodou neste segmento, foi o facto de não ter acrescentado nada à sua personagem, nem ter avançado nenhuma storyline. A gimmick de Alexa Bliss em nada lucrou com este segmento, não lhe deu poder, não lhe conferiu uma imagem de superioridade, não deu mais que uns milhões de visualizações no Youtube e o choque de muitos fãs. O segmento de Mandy já serviu para alguma coisa, serviu para desenvolver a sua storyline com Naomi e serviu para mostrar que esta não quer Jimmy Uso para nada e que ele não passa de um peão na sua rivalidade com Naomi. Mandy usou o seu sex appeal como arma para atingir a sua rival, enquanto que Alexa Bliss utilizou esse mesmo sex appeal para absolutamente nada se não para ganhar o interesse da maioria do público masculino.
Ninguém fala neste caso de sensualidade altamente explícita, mas também percebe-se o porquê, aqui Lashley era mais o Butt Of The Joke, como dizem os ingleses.
Claro que as culpas disto não podem ser atribuidas à Alexa, a WWE é que utilizou uma arma legítima como qualquer outra, que é a sensualidade, para os fins errados. Não é correto estar a desenvolver e a promover intensivamente uma revolução feminina, para no fim do dia voltar às táticas fáceis e não muito dignas de utilizar a sensualidade de uma superstar com o único intuito de colocar olhos no programa. Eu percebo que eles queiram mudar o estilo formulaico do programa, que todos nos temos queixado nos últimos anos, mas esta não é a forma correta de o fazer. A WWE já está a fazer algo bem no que respeita a esse aspeto, os vários segmentos de backstage, as transições sublimes entre segmentos e até mesmo as “estreias” dos novos superstars no backstage, tudo isso, é do meu ponto de vista, positivo e fico contente pelo facto de a WWE estar mesmo a tentar mudar a fórmula, mas quando no mesmo show apresentam um segmento como foi aquele de Bliss, rapidamente me desiludo.
Houve outra crítica feita relacionada com este segmento, que não foi bem direcionada à WWE, mas sim a alguns dos seus fãs, nomeadamente aqueles que contribuem para que estes segmentos ainda sejam bem sucedidos nos dias de hoje, aqueles fãs casuais que vão acompanhando o produto de vez em quando e que não se importariam de ver mais segmentos destes e para os quais a revolução feminina não lhes diz muito. No que toca a esses fãs eu percebo e apoio as críticas dirigidas a eles, mas ao mesmo tempo não posso deixar de apontar que em muitos dos casos a culpa não é totalmente deles, a sociedade em si ou mais concretamente, o consumismo é que está orientado nesse sentido.
O sexo e a sensualidade vendem, não é segredo para ninguém. Quer seja em cenas de um filme ou de uma série, quer seja num anúncio de shampô, quer seja num videoclipe de uma música, a sensualidade está lá e é a ferrementa utilizada para chamar a atenção do consumidor e quer se goste ou não, não há dúvida que tem dado resultados. Portanto se em quase tudo o que consumimos esse fator está presente, porque não haveria de estar também no wrestling? Numa forma de entretenimento em que homens e mulheres lutam com pouca roupa vestida e cuja maioria são fisicamente bem parecidos, é completamente normal que a sensualidade seja um fator presente e não vejo nenhum problema nisso.
Vejo sim um problema quando essa sensualidade e sex appeal são utilizados única e exclusivamente como motivos de interesse de algo ou alguém e o segmento de Bliss no último RAW foi um exemplo claro disso. Há quem compare a entrada de Finn Bálor por estar descaradamente a ilustrar esse sex appeal e de estar a servir o mesmo propósito que o segmento da Alexa, mas eu pessoalmente discordo de tal comparação. Na sua entrada, não se faz nenhuma referência ao físico de Bálor, não se fala no seu sex appeal, ele está lá, mas nenhum comentador toca sequer nesse assunto, enquanto que no segmento de Bliss, a troca de olhares entre Cole e Graves não poderia ter sido mais clara.
Este RAW foi a vez dela, agora é só esperar… que na próxima segunda vamos ter um segmento com Finn Bálor a ser interrompido no balneário pela senhora das limpezas.
Portanto, eu não sou contra o uso da sensualidade no wrestling, isso é algo natural no ser humano e não há absolutamente mal nenhum em utilizá-la como trunfo. Agora, quando esta é utilizada com o único intuito de chamar atenção e subir audiências, não concordo. Se na WWE o que estão a vender aos fãs é Wrestling, chamem à atenção através do wrestling e não dos atributos físicos de um superstar, se querem melhores audiências e mudar as coisas, façam-no, mas façam-no sem objetificar os vossos trabalhadores. Porque foi dessa forma que Alexa Bliss foi apresentada no segmento do último RAW, como um objeto. Foi do género: – Estão a ver como ela é bonita, vejam como ela é sexy, nós agora oferecemo-vos isto no nosso programa, porque é que não começam a assistir regularmente? Isto é algo que a mim me fez confusão, eu quero sentir-me motivado para ver wrestling porque o wrestling que me oferecem é bom, não porque posso encontrar uma wrestler a vestir-se no balneário. Para além do mais, a forma como Bliss foi retratada quase que a prejudicou, não fosse o seu talento já demonstrado, algo que não aconteceu com Mandy.
Mandy usou a sensualidade como meio para conseguir algo, Alexa Bliss nem sequer a usou, foi usada por essa sensualidade e isso para mim está errado. Eu quero apoiar Alexa e todas as wrestlers femininas, pelo seu talento, pelo seu trabalho, não pelos seus atributos físicos. Explorem a sensualidade dos wrestlers à vontade, mas não a exponham como único objetivo claro de chamar a atenção, como acontecia há uns anos atrás. Por isso, espero que este tenha sido um caso único e que esta não seja uma das mudanças que a WWE esteja a planear para o seu produto, caso contrário, é só estar a gozar com tudo o que as mulheres conquistaram até agora no wrestling.
Acabo este artigo com aquilo que eu acho que Vince terá pensado ao planear o RAW desta semana:
– “Muito bem, neste RAW tenho que mexer ainda mais coisas, para subir as audiências. Já sei que vou retirar o gigante dos rosebuds do combate contra o Brock e metê-lo a destruir aquela limousine que eu não dou uso, mas isso não chega, vou dar o lugar dele ao irlandês com pouco beef que eles adoram, mas isso também não chega, epá, se calhar tenho que dar um segmento à Trish…, à Alexa, já que não a posso meter a ladrar, ela que mostre as costas, isso que é o público vai delirar!”
Obrigado a todos os que leram este artigo, espero que tenham gostado e vemo-nos possivelmente na próxima segunda-feira, com mais um More Than Words, que irá ser uma análise ao Royal Rumble.
7 Comentários
Muito bom artigo,mas o que realmente me deixa puto é o fato da WWE se dizer PG,esse tal de PG muitas vezes atrapalharem o conteúdo(principalmente nas promos) ai aparecem cenas como essas citadas no texto,Brock Lesnar fazendo uma neuro cirurgia no Orton etc…
Ou faz 100% PG ou nao faz PG,volta pra classificação etária antiga.
Sinceramente não vi mal nenhum nos segmentos.
Não é preciso fazer uma grande pesquisa para encontrar nas redes socias de ambas as lutadoras fotos com menos roupa e mais sex appeal, e devem tê-las publicado de livre vontade.
“Se na WWE o que estão a vender aos fãs é Wrestling, chamem à atenção através do wrestling e não dos atributos físicos de um superstar”
Compreendo perfeitamente o que queres dizer, mas na WWE o que vendem é entretenimento, e em termos de wrestling convenhamos que nenhuma delas é especialmente talentosa.
Vou dar exemplo que se passou na Fórmula 1 onde proibiram a presença de grid girls na pista por “estarem a ser tratadas como objectos”, quem mais se opôs foram as próprias porque sabiam que iam ficar sem trabalho.
Em conclusão, acho que toda esta discussão é mais profunda e nada tem a ver com a wwe, mas sim com a sociedade actual que por um lado diz que quer liberdade de escolha e expressão mas por outro parece cada vez mais conservadora.
Concordo quando dizes que está é uma discussão mais profunda, que de facto não tem a ver com a WWE.
Mas tal como disse no artigo, o que me incomodou no segmento não foi o facto da Alexa ter aparecido quase topless, se ela se sente à vontade com isso, ainda bem e não me importo nada que o faça, agora, quando este tipo de segmentos são feitos com o único objetivo de por olhos no programa, sem avançar qualquer storyline ou acrescentar alguma coisa à personalidade dela, eu pessoalmente não gosto. É verdade que a WWE produz mais que wrestling, também produz entretenimento e o segmento da Mandy, por exemplo, foi entretenimento e acrescentou alguma coisa, desenrolou alguma coisa numa storyline que embora não aprecie pelo menos faz sentido, agora o segmento da Alexa não serviu mesmo para mais nada, o único motivo foi simplesmente atrair visualizações e não acho que isso seja benéfico de todo para a revolução feminina que eles têm construído.
Para de chatice caralho, ainda bem que pelo menos fizeram algo diferente….
muito bom artigo mas esta a generalizar com os ultimos tempos. porque uma grande legião de faz começou a ver wrestling na epoca em que existiam esse genero de segmentos e sao uma porçao importante do dinheiro que a wwe fez desde entao.
Isso não é justificativa para isso. Os tempos mudaram, sexualiza uma mulher sem nenhum objetivo claro de storyline não é mas aceito nos dias de hoje.
a WWE não é bem um mundo politicamente correto,Vince sempre usou lutadores como objeto.
Qual era o papel de Shawn Michaels ? Sexy Boy,a cara de empresa é sempre um rapaz bonito,Vince usa o corpo do rapaz para chamar atenção todos sabemos que só talento não define nada na WWE,se você parecer um Kevin Owens.
Isso é errado ? Sim,mas o mundo não é um mar de rosas.