More Than Words #9 – A Arte de ficar Over

Domingo, 17 de dezembro, deu-se o último PPV da WWE em 2017, o Clash Of Champions, que este ano pertenceu ao plantel do SmackDown Live. Este PPV teve momentos surpreendentes, como a conquista do título dos Estados Unidos por parte de Dolph Ziggler, após uma triple-threat de alto nível, que foi um dos melhores combates da noite, na minha opinião, um dos melhores, senão o melhor combate da carreira de Jinder Mahal e a contagem rápida de Daniel Bryan, que deu a vitória a Kevin Owens e Sami Zayn. Mas a coisa que mais me surpreendeu, num excelente combate de tag-teams, foi o quão over, a equipa de Rusev e Aiden English estava com o público. Sempre que estes estavam a saír por cima no combate, o público apoiava-os fervorosamente. E em embora não tenham ganho os títulos, acho que foram a tag-team que mais saiu a ganhar do combate.

O facto de eles estarem over surpreendeu-me, mas não me devia ter surpreendido, visto que no geral, os wrestlers que recebem maior apoio do público, são aqueles que foram heels antes de se tornarem faces. Basta olhar para este combate de tag-teams que aconteceu no clash of champions para perceber isso. As quatro equipas que participaram neste combate foram: Os New Day, Os Usos,  Chad Gable e Shelton Benjamin e Rusev e Aiden English. Para além destes últimos que já referi, tanto os New Day, como os Usos, precisaram de ser heels para ganharem o apoio do público e posteriormente tornarem-se babyfaces. E a única equipa heel deste combate era Chad Gable e Shelton Benjamin, que supostamente seriam os maiores babyfaces entre todos estes wrestlers, mas que não o são devido à incapacidade da WWE em lidar com babyfaces.

Mas não foram só estas tag-teams que ficaram over apesar de não serem babyfaces. Um dos maiores êxitos da WWE recentemente foi Braun Strowman. Um monstro de 2,03m que era suposto ser um dos maiores heels da WWE, acabou por se tornar um dos wrestlers com mais apoio do público este ano. Isto deveu-se não só à rivalidade entre este e Roman Reigns, um dos wrestlers mais odiados do plantel, mas também ao enorme talento e carisma que Strowman possui, que fizeram com que fosse impossível não apoiá-lo. Strowman ficou over por massacrar Roman Reigns, por virar uma ambulância, por deitar abaixo o ringue com Big Show, por partir a steel cage com Big Show, mas acima de tudo por possuír um inegável carisma, que o fez passar de mais um gigante na WWE, para um dos melhores babyfaces da companhia.

O mesmo aconteceu este ano com Chris Jericho, que no inicío do ano era um dos maiores heels do roster, juntamente com Kevin Owens, e que dois meses depois, após a traição de Owens, já era um dos babyfaces mais apoiados, graças ao seu enorme carisma e à sua capacidade de se reinventar. A verdade é que tanto Jericho e Strowman, apesar de muito diferentes, têm uma coisa em comum ficaram over pelo seu carisma e a sua capacidade de se conectar com o público, que não se ensina, ou se tem, ou não se tem. E é um pouco triste que a maior parte dos wrestlers tenha que passar primeiro por heel, para ganhar o apoio do público, isso mostra a ineficácia da WWE em criar babyfaces puros, ou seja, que nunca tenham sido heels.

Como eu já falei noutro artigo, sobre este problema da WWE e como ainda estou com um espírito natalício, vou apenas louvar alguns lutadores que ao longo deste ano conseguiram ficar over com o público, pelas mais diversas maneiras. Comecemos pelo atual campeão da WWE AJ Styles, que é o wrestler com maior apoio do público na WWE atualmente, simplesmente pelo facto de ele ser AJ Styles, ou seja, o melhor wrestler do mundo (peço desculpa Omega). Ele é tão talentoso que é impossível não gostar dele. Outro dos wrestlers mais over com o público é The Miz, como é que um dos maiores heels do roster pode ser também um dos lutadores mais apoiados? Fácil, as suas promos são tão bem executadas e tão reais, que mesmo os que mais o odeiam não conseguem deixar de reconhecer que o que ele diz é verdade e que ele de facto é um dos wrestlers mais consistentes da WWE e também é inegável o prestígio que ele trouxe ao título intercontinental, por essas razões os fãs respeitam-no tanto, ao ponto de apoiá-lo face a outros babyfaces.

Na divisão feminina não há muitas lutadoras que estejam over com o público, mas aquelas com maior apoio são: Asuka, porque é impossível não gostar dela. Ela consegue conectar-se com o público sem sequer abrir a boca, o que é fantástico e poucos o conseguem. E Sasha Banks, embora sendo mais eficiente como heel, para onde quer que ela vá, tem sempre um pop que a faz destacar das outras lutadoras, pois ela é das mais talentosas e mais carismáticas, dentro da WWE, qualquer que seja o papel que desempenhe.

Em relação às tag-teams os New Day são os detentores dos maiores pops e são a tag-team com maior apoio no público, o que se traduz na venda de merchandise. Em qualquer show de wrestling a que se vá, há sempre centenas de pessoas com algum tipo de merchandise deles, isto mostra toda a popularidade que eles conseguiram alcançar. E no roster do RAW destacam-se os The Shield, que se voltaram juntar apenas este ano e que apesar de um dos seus membros ser um dos lutadores mais odiados da WWE, não há nenhum fã que o consiga vaiar quando se ouve as célebres palavras: Sierra, Hotel, India Echo, Lima, Delta. Afinal de contas é uma stable constituida por três main-eventers e três das figuras mais polarizadoras da WWE atualmente.

Em suma, apesar da grande dificuldade da WWE em criar estrelas e em gerir os seus babyfaces, estes wrestlers que eu acabei de referir e outros que não referi, são capazes de se conectar com o público independentemente daquilo que lhes é dado e conseguem dominar a arte de ficar over. Espero que tenham tido um bom natal e vemo-nos no próximo More Than Words, que vai ser o último de 2017.