O que é que motiva as pessoas a pararem para ver um acidente? A abrandar um pouco veículo para poderem melhor entender o que se passou na via? A perspectiva de um acidente atrai a curiosidade das pessoas. É invulgar. É algo que não se tem a oportunidade de ver no dia-a-dia. É diferente da rotina.

Nos últimos anos, os fãs da WWE têm demonstrado um comportamento bastante atípico. O mesmo está extremamente associado e relacionado com a estrela, Daniel Bryan, visto que foi na Raw seguinte à Wrestlemania XXVIII que esta série de comportamentos surgiu.

Nova Iorque, Chicago, Filadélfia sempre foram conhecidas pelas vociferantes reacções dos fãs, mas outras cidades que nem sempre foram tão conhecidas por tal comportamento, passaram a ser palco para tamanhas demonstrações de dedicação, assim como o termo “Hijack” passou a ser rotineiro.

Opinião Feminina #173 - Have the fans become villains?

As noites após a Wrestlemania ganharam automaticamente este rótulo, pois os fãs que assistem à Wrestlemania e comparecem na noite seguinte são os fãs mais dedicados e apaixonados, viajando assim de todas as partes do mundo para fazer parte do espectáculo.

Mais recentemente, o Royal Rumble, o Elimination Chamber e várias outras Raw transmitiram comportamentos extremamente peculiares.

Babyfaces eram vaiados, nomes de comentadores e lutadores ausentes eram ouvidos nas alturas mais estranhas e uma completa despreocupação foi evidenciada por parte dos fãs para com aquilo que estavam a ver.

Tudo isto tem levado a enorme polémica e discussão dentro da comunidade de Wrestling. Existe todo o tipo de opiniões a defender e condenar este tipo de comportamento dos fãs. E é exactamente nisso que a coluna de hoje se irá focar.

Para este tema, sou forçada a relembrar um dos aspectos mencionados na edição da semana passada, onde raramente existem opiniões 100% acertadas. Isto não é uma tentativa de desculpar as atitudes de alguém mas, tal como disse na semana passada, o mundo do Wrestling  não é a preto e branco. Especialmente neste tópico, tudo depende da perspectiva, intenção e noção de razão para cada pessoa.

Afinal, quantos são os fãs que deliram com o apoio gigantesco a Daniel Bryan, mesmo que tal interfira com o funcionamento normal de um evento, mas ficam irritados quando há alguém que grite “Husky Harris!” a Bray Wyatt?

Se gritar por “Husky Harris” é uma falta de respeito ao trabalho de Bray Wyatt, então porque é que não é considerada uma falta de respeito o comportamento que os fãs têm frequentemente nos combates de Batista, Sheamus, Del Rio, Randy Orton, entre outros?

Até aonde é que vai a liberdade de expressão? Até onde é que o pagamento de um bilhete desculpa ou justifica qualquer tipo de comportamento? Serão os fãs os verdadeiros vilões?

Antes de saltar já para as respostas a essas questões, é necessário compreender o porquê da sua existência. O que é que levou os fãs a, de um momento para o outro, se comportarem desta forma, quando há anos que tal não se via?

Esta situação tem envolvido imensas variáveis. O tratamento de Daniel Bryan por parte da WWE, a saída de CM Punk da companhia e, no geral, a gestão da situação criativa da WWE.

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Várias pessoas defenderam que, até a WWE reconhecer a saída de CM Punk publicamente, o apoio dos fãs iria continuar ou até piorar. Sinceramente, acho que não faria qualquer diferença.

Mesmo que para muitos fãs, CM Punk os tenha abandonado, não existindo por isso a razão para este apoio tão audível, essa opinião não é consensual e provavelmente nunca será.

Muitos fãs partilham com CM Punk o desapontamento e frustração que crêem que este tem com a situação criativa da WWE e, contra isso, não há muito a fazer. A não ser que o próprio CM Punk ou alguém venha esclarecer a verdadeira razão para a saída deste e porque é que o mesmo está errado.

Independentemente das razões, a WWE lidou com a situação em Chicago da melhor forma possível. Respondeu a uma multidão inquieta com a melhor arma que tinha no seu arsenal: Paul Heyman.

Se havia alguém que conseguia subtilmente controlar os fãs de Chicago seria Paul Heyman e foi exactamente isso que ele fez. Não, Heyman não conseguiu que os fãs se calassem permanentemente, mas também não era o objectivo.

O objectivo era cansá-los e acalmá-los. Os fãs não conseguem gritar “CM Punk!” durante três horas seguidas e, especialmente, não teriam vontade de o fazer se acreditassem que havia a hipótese de CM Punk regressar no fim do evento.

A esperança que os fãs tiveram, motivada pelo rumor que tinha sido noticiado vinte e quatro horas antes da Raw sobre o regresso de CM Punk e pela promo inicial de Paul Heyman, manteve-os bastante mais calmos do que estes teriam estado se percebessem que este nunca esteve agendado para regressar.

Além de usarem Paul Heyman, a WWE apropriou-se também o termo “Hijack”, algo que várias contas nas redes sociais tinham encorajado os fãs a fazer, tornando assim a revolução que os fãs tinham planeado uma coisa deles.

De um momento para o outros, os fãs em Chicago não se estavam a revoltar, estavam apenas a reagir da forma como a WWE tinha planeado.

A WWE passou assim com distinção à grande prova de fogo que se seguia à saída de CM Punk: enfrentar os fãs de Chicago. A situação envolvendo CM Punk conseguiu apenas atirar mais achas para a fogueira já existente, ateada por Daniel Bryan.

Infelizmente, a WWE nem sempre teve inteligência de lidar com o comportamento dos fãs, como teve em Chicago. Exemplo disso é a recente, e curta, rivalidade envolvendo Randy Orton e John Cena.

Tal como referi num artigo na altura, a WWE foi incrivelmente preguiçosa na construção desta história. Os combates não são necessariamente maus, mas os fãs já estão cansados deles.

É complicado pedir a um fã que se invista emocionalmente numa rivalidade envolvendo John Cena e Randy Orton quando tudo é uma triste cópia do que já foi feito no passado, sem qualquer intensidade adicional.

O pai de John Cena foi atacado, este sorriu, dirigiu-se ao ringue e lutou de forma normal, como se até os ataques ao seu próprio pai já não tivessem significado. Além disso, nenhum dos dois ganha absolutamente nada ao vencer o outro. John Cena já venceu esta rivalidade de forma definitiva há anos atrás e a mesma já perdeu toda a atracção.

Além disso, nos últimos meses os fãs têm estado bastante de perto de ver algo novo. De ver um talento recente no main-event como Daniel Bryan estabelecer-se finalmente e, ao invés de terem um reinado deste, são presenteados com uma versão antiga do ainda “presente” da WWE.

Há anos atrás, os fãs talvez não tivessem reagido da forma que reagiram. Provavelmente teriam ficado silenciosos a assistir. Mas depois de anos a ver outras audiências a fazerem-se ouvir e tornarem-se polémicas, a escolha dos fãs foi óbvia.

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Batista é outra grande vítima dos fãs. No entanto, tal como na situação com John Cena e Randy Orton, também considero ser complicado culpar os fãs pelas suas reacções.

A apresentação de Batista foi um fracasso, a vários níveis, embora o facto deste ter voltado para ocupar o lugar que os fãs da WWE tinham especialmente designado para Daniel Bryan não tenha propriamente ajudado.

Toda a apresentação de Batista falhou logo na primeira noite. Batista abandonou a WWE na melhor fase da sua carreira e, quando voltou, regressou como alguém ultrapassado, que tentava demasiado ter uma aparência jovem e popular, mas falhava redondamente.

Além disso, Batista surgiu durante o milésimo segmento envolvendo Randy Orton e a Autoridade com mais uma das suas muitas discussões sobre a falta de confiança entre ambas as partes.

A primeira coisa que Batista faz quando regressa neste contexto repetitivo é abraçar a Autoridade, a dupla de vilões que tinha rebaixado, criticado e humilhado vários membros do roster ao longo dos últimos meses.

Batista era suposto regressar como babyface, no entanto, a primeira coisa que fez foi reconhecer a amizade real que possui com Triple H e arruinar qualquer esperança que os fãs pudessem ter deste regressar para ajudar a acabar com a Autoridade.

Percebo que, eventualmente, Batista iria virar-se contra eles ou aliar-se a eles como heel, mas dada a impaciência dos fãs causada por Daniel Bryan, não houve tempo para tal acontecer.

Além disso, quando teve oportunidade para falar, Batista foi directo ao assunto, mas conseguiu escapar por completo ao que realmente interessava. Não foi explicada a sua saída da companhia, o porquê do seu regresso, nem sequer uma mera referência às promessas de que continuaria longe da WWE enquanto esta fosse PG.

Se realmente a WWE quisesse ter apostado em Batista como babyface, poderiam ter este a prometer que iria trazer uma boa dose de realidade de volta à WWE. Mesmo que fosse mentira, funcionava muito melhor do que abraçar os heels principais.

Aliás, tal apenas reforçou mais a ideia de que Batista era apenas mais uma das Lendas que pouco precisava de fazer para ter um lugar de destaque garantido na Wrestlemania. A forma como a sua rivalidade com Del Rio estava a ser construída apenas confirmou isso.

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Há umas semanas falei de como Dolph Ziggler perdeu para Del Rio em 90 segundos. Tal foi feito para promover Del Rio, para que este tivesse credibilidade quando enfrentasse Batista, para criar credibilidade para o próprio Batista. Assim como o momento de Kofi Kingston no Royal Rumble foi valorizado, de forma a que a sua rápida derrota para Alberto Del Rio tivesse o mesmo resultado.

Esta é a razão pela qual não existem tantas estrelas de grande dimensão. E tal é apenas mais um dos muitos motivos que levou os fãs a virar as costas a Batista.

Tal como aconteceu com Randy Orton e John Cena, a WWE não investiu nem um pouco nesta semi-rivalidade, nem para disfarçar estas horríveis evidências. Del Rio nunca teve qualquer hipótese contra Batista e os fãs sabiam isso.

Del Rio desafiou Batista porque acha que este não é digno de oportunidade ao título, mas também não exigiu uma para si. Não houve qualquer desenvolvimento ou tentativa de colocar Batista em perigo, para criar interesse no combate. E, antes mesmo desse ser anunciado, já Batista tinha destruído Del Rio de forma decisiva na Raw.

Foi no Royal Rumble e a Elimination Chamber que mais se notou a rejeição dos fãs a Batista.

A forma como os fãs rejeitaram qualquer possibilidade para vencer o Royal Rumble que não fosse chamada “Daniel Bryan” foi impressionante e histórica. Não havia segunda opção. Os fãs, especialmente os fãs de Pittsburgh, queriam uma novidade. Queriam um novo presente. Queriam Daniel Bryan.

Aliás, antes mesmo de chegar ao fatídico nº 30, os fãs já começavam a mostrar a sua impaciência e agitação no nº 20.

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Tal como afirmei na altura, Roman Reigns quase se tornou um babyface por associação, apenas porque os fãs notaram que se não fosse Bryan, seria Batista, o que automaticamente os fez embirrar com ele.

Assim que a música de Rey Mysterio soou como nº30, a esperança dos fãs presentes na arena morreu por completo. Os fãs não se cansaram ao longo do evento, pois estavam com esperança de que no fim tivessem o seu grande momento e tal não aconteceu.

Nunca passou pela cabeça de ninguém que Rey Mysterio, um babyface tão adorado, alguma vez fosse vaiado daquela forma nos dias que correm. Até a sua eliminação foi ovacionada. Tal sentimento durou até à noite seguinte, na Raw.

É exactamente por isso que este Royal Rumble vai ser conhecido. Independentemente da qualidade dos combates, será a reacção dos fãs que irá ficar para a história. Os fãs, em uníssono, rejeitaram o main-event da Wrestlemania que a WWE propunha, assim como herói que estes tinham designado.

E o mais curioso de tudo isto é que, tal como em Chicago, a WWE teve claros sinais de que isto iria acontecer. Meses e meses de sinais dados pelos fãs em como nenhuma outra sugestão seria aceitável.

A embirração com Batista tornou-se assim oficial e permanente. Tal voltou a ser evidente no combate deste com Alberto Del Rio, no Elimination Chamber. Um combate que os fãs não tinham qualquer interesse em ver, ou qualquer motivo para querer ver.

A forma como os fãs apoiaram Alberto Del Rio foi um sinal óbvio da situação em que a WWE se tinha colocado. Quanto mais longo o combate fosse, pior seria a reacção, portanto também não compreendo porque é que a WWE os deixou ter um combate que deixasse os fãs chegar tão longe.

E é aqui que a metáfora do acidente se torna aplicável ao mundo do Wrestling. Este tipo de comportamento por parte dos fãs tornou-se num dos atractivos de um evento. Quem não estava ansioso para ver a Raw em Chicago e a forma como os fãs se iriam comportar?

Se a WWE for mesmo para a frente com o combate entre Batista e Randy Orton na Wrestlemania XXX, quantos de nós não vão assistir, na antecipação de ver os fãs a arrasar com o mesmo?

Os fãs divertem-se a assistir a isto na televisão e, quando chega a altura de irem às arenas, querem também eles fazer parte da diversão. Independentemente da motivação, a participação dos fãs num evento resume-se a isso mesmo: a necessidade de fazer parte do evento. De serem ouvidos e reconhecidos pelas pessoas a quem se dedicam tanto.

Os exemplos que tenho dado ao longo deste artigo, além de serem os mais óbvios e polémicos, são também os mais compreensíveis, dada a frustração com a situação criativa da companhia.

Além disso, existem tantos combates apresentados com pouco cuidado ou construção, pois a WWE só se preocupa com o que 1% do roster está a fazer, que os fãs acabaram por atingir o limite.

Alberto Del Rio e Rey Mysterio até podem ter combates brilhantes todas as semanas, mas se os fãs não tiverem qualquer motivo para se interessar por esses combates e, principalmente, se souberem que a própria companhia não quer saber, é complicado esperar que se invistam emocionalmente no mesmo.

Como já se sabe, depois de CM Punk ter abandonado a WWE, os fãs começaram a chamar por ele. Lembro-me de ter lido no relato de um dos live events que sucedeu a partida de CM Punk que o combate em que os cânticos sobre CM Punk se tornaram mais audíveis foi Alberto Del Rio vs. The Miz.

Alberto Del Rio, a pessoa que passou os primeiros meses a ser preparada para credibilizar Batista e The Miz, o lutador que desceu mais na lista de prioridades da WWE nos últimos anos. Ambos sem qualquer direcção.

Os fãs respondem a bom Wrestling. É por isso que ali estão. Se lhes for apresentado um bom e consistente produto, os fãs não terão oportunidades, nem vontade, para se lamuriar e tornar o centro das atenções. Foi assim que a WWE combateu a audiência de Chicago e resultou.

Não interessa as intenções que os fãs têm, pois se a WWE lhes apresentar algo de qualidade, eles irão aderir. Especialmente quando a razão para tamanho comportamento é a frustração com a qualidade do produto apresentado.

No entanto, nem sempre é fácil encontrar justificação para o comportamento dos fãs e a revolução despoletada pela derrota em dezoito segundos de Daniel Bryan na Wrestlemania XXVIII abriu mesmo a caixa de Pandora.

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Esta situação com Daniel Bryan parece ter relembrado os fãs de que podem manifestar-se da forma que entenderem, motivando-os assim a serem mais participativos.

Os fãs já eram participativos, de certa forma, mas este movimento começado por Daniel Bryan relembrou-lhes do poder que têm de torcerem, apoiarem e criticarem aquilo que bem entendem, ao invés de ficarem apaticamente a assistir ao evento.

No entanto, ao passo que algumas destas reacções são legítimas, outra são fruto de apenas a aderência a mais uma moda.

Portanto, sempre que estão aborrecidos ou a assistir a um combate que sabem perfeitamente que não vai levar a lado nenhum, tentam divertir-se à sua maneira, possivelmente desrespeitando os lutadores em ringue.

Esse comportamento é facilmente visto por muitos fãs como sendo egoísta e infantil, especialmente quando é só isso que os fãs fazem.

Já discuti neste espaço que a WWE apenas lê os números. Entende quando as audiências sobem ou descem e se vendeu mais ou menos bilhetes. A WWE entende dinheiro. Logo, não é surpresa nenhuma que seja essa a forma mais efectiva que os fãs têm de comunicar com a WWE. De lhes dizer o que realmente querem.

A WWE não quer saber se gritam por Daniel Bryan todas as noites, se nunca compraram uma t-shirt dele. Desses fãs a WWE não quer saber. A WWE ouve quem lhe estiver disposto a pagar por alguma coisa. E aqueles que, por muito que reclamem, continuarão a pagar, também são irrelevantes, pois já estão conquistados.

São os indecisos e os jovens que a WWE está a tentar conquistar. Pois, todos nós fomos crianças um dia e, muitos de nós, ainda cá estamos desde então.

Ora, existem várias variáveis que condicionam a predisposição dos fãs a comprar qualquer coisa envolvendo, por exemplo, Daniel Bryan. Depois de meses e meses a ser tramado em pay-per-view, não é propriamente chocante que os fãs não estejam dispostos a apostar neste monetariamente.

No entanto, a WWE não vê isso, nem quer pensar nisso. Ou vende, ou não vende. Os “porquê” são absolutamente irrelevantes, especialmente se tiverem culpas no cartório.

E essa foi uma das opiniões que mais li online após eventos pautados com o comportamento atípico dos fãs.

Os fãs votam com a sua carteira e até todos os que se manifestam o fizerem, não serão ouvidos.

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Ninguém o disse melhor que CM Punk, em 2011: “The reason I’m leaving is you people. Because after I’m gone, you’re still going to pour money into this company. I’m just a spoke on the wheel. The wheel is going to keep turning and I understand that. Vince McMahon is going to make money despite himself.”

Foi com base nisso que a WWE construiu o seu monopólio. Os fãs de Wrestling são criaturas de hábito e a companhia sabe disso.

Os fãs que conduziram até à arena, em Chicago, para gritar por CM Punk pagaram pelo seu bilhete, logo não prejudicaram a WWE nem um bocadinho.

Podemos estar a atravessar uma das Road to Wrestlemania mais complicada, a nível criativo, dos últimos anos, mas as acções da WWE nunca estiveram tão altas, desde que a companhia se tornou pública na década de 90.

Dinheiro e dinheiro. A linguagem que a WWE entende.

Portanto, serão os fãs os verdadeiros vilões? Os fãs que se deslocam a uma arena com o único objectivo de interromper a progressão natural do mesmo?

Tal como muitos fãs, consigo concordar com estes quando apoiam Daniel Bryan. No entanto, sou a primeira a revirar os olhos quando alguém responde com “What?” a Undertaker, grita “Husky Harris” a Bray Wyatt ou arruina um bom combate, apenas porque sim.

A meu ver, o Wrestling depende dos fãs. Os próprios lutadores serão os primeiros a admitir que não há nada mais irritante que actuar perante uma plateia muda. Wrestling é, desde os tempos primórdios, uma actividade dependente dos fãs, que existe para agradar e entreter os fãs ao vivo. Só depois evoluiu para a televisão.

E embora os tempos tenham mudado, assim como as prioridades, não acho que se deva desvalorizar por completo os que estão na arena apenas porque já pagaram bilhete. A participação dos fãs é vital para um bom evento de Wrestling.

Mesmo as reacções mais ridículas e insultuosas podem ser dominadas e revertidas. Os fãs só querem ser ouvidos. Só querem ser notados. Só querem ser participar. Com a interacção certa, com a manipulação certa, quase todo o tipo de reacções são revertidas.

Excepto quando se fala de pequenas e teimosas minorias. Mas lá está, é uma questão saber interagir com as massas que, rapidamente, se abafam as minorias.

Acho que os fãs têm todo o direito de interagir, mesmo que não se concorde com a interacção em questão ou com a motivação por detrás da mesma. Não se pode adorar os fãs que tornaram as edições após a Wrestlemania históricas, e depois criticar veementemente os fãs de Chicago porque, ao contrário de muitos, são leais à causa de CM Punk. Caberá a cada fã decidir qual será o comportamento mais adequado.

Além disso, a perspectiva de uma audiência hostil em Chicago forçou a WWE a dar o seu melhor. Não sei até que ponto é que a interacção dos fãs é má quando, com a falta de competição verdadeiramente ameaçadora, é das poucas coisas que ainda força a WWE a dar o seu melhor.

E tudo isto começou com Daniel Bryan. Há dois anos atrás, tudo isto seria absolutamente inacreditável. Os fãs tornaram-se impacientes e sem qualquer vontade para estarem calados.

Felizmente, a WWE sabe lidar com o assunto. Infelizmente, nem sempre estão com vontade para o fazer, como tantas outras coisas. É assim que a WWE funciona. Enfim, desejo uma boa semana a todos e até à próxima edição!

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56 Comentários

  1. Quem dizia que há dois anos isto ia acontecer, que um pequeno talento iria fazer isto. Vai parecer parvo, mas esta semana quando percebi isto comovi-me. O pequeno Bryan que há dois anos ninguém dava nada, e que perdeu o titulo em 18 segundos, arrisca-se a ser main-eventer de um Wrestlemania.

    Pronto ele vai ser main-eventer da Mania(ainda ponho alguma defesa sobre a vitória sobre o Triple H), muito embora não duvide que ela vai acontecer.

    Como dizes a questão Batista foi um conjunto de questões: Regresso em péssima forma, a forma como o apresentaram, promos de má qualidade porque não explicaram nada. Um conjunto de questões que dava um artigo todo para ser abordadas.

    Sim, desta vez os fãs foram ouvidos, mas forma porque começaram a comprar as coisas do Bryan. Ou seja, o pequeno passou a ser o segundo mais lucrativo em termos de produtos, e isso é um dos factores que levaram a esta mudança, não foi somente as vozes que se ouviram nas Raws.

    Mesmo assim, não consigo deixar de pensar que os fãs, nós que o apoiamos durante dois ano tivemos um papel importante neste processo. E repito, eu comovo-me quando começo a lembrar de todo o percurso, e tudo o que ele já ultrapassou, as patadas, o mau booking, e mesmo assim sobreviveu a tudo.

    • Não acho que o Batista tenha regressado em má forma, por assim dizer. Fisicamente, está em excelente forma, mas é só na aparência. Como é natural, depois de quatro anos parado, também seria irrealista esperar que ele fizesse logo um combate muito longo, sem problemas. Apenas mostra que este não se preparou o suficiente para a fisicalidade em ringue antes de regressar. Mas, não é nada que os live events em que este participa não resolvam.

      Ainda não é o mais lucrativo. E o facto de CM Punk ter saído da WWE também influenciou a subida de Bryan na lista.

      É de facto impressionante. Tal como já disse imensas vezes, se tivesse sido com outra pessoa qualquer, essa pessoa não teria sobrevivido.

      • Sim, ele não se preparou devidamente, mas espero que melhore, mesmo não sendo do fã do homem porque não.

        Sim, claro que ajudou. Mas também comprova, que se quiserem ele pode-lhes trazer lucro, basta saberem construir direito.

        Eu não tenho palavras como ele se segurou durante dois anos, para mim como cronista é impressionante, mas como fã dele não posso deixar de não ficar tocado por isso. Olha o Ziggler estava muito over e caiu, é um bom exemplo de alguém que não se aguentou, apesar de ter apoio dos fãs na mesma.

        • Oh sim, mas se a WWE quisesse, imensas coisas seriam diferentes, não seria apenas a situação de Bryan.

          É impressionante como os fãs não desistiram dele. A meu ver, Zack Ryder ainda é melhor exemplo que Dolph Ziggler, pois Ziggler ainda é apoiado durante os seus combates, já Ryder caiu da face da Terra e ninguém quer saber dele.

          • Claro que sim. Sim, e o Ziggler ainda não é totalmente um caso perdido. Pelo menos acredito que não o seja totalmente ainda, mas o cenário não é agradável claramente.

            • Não acho que nenhum dos dois seja um caso perdido, mas o Ryder está claramente pior.

              • No caso do Ziggler eu vejo melhorias, já não tem perdido por squashes, ou simplesmente no modo jobber. Desde que veio com o Aaron Paul que se nota, uma pseudo nova vida para ele. Espero que seja o inicio de algo bom para ele depois da Mania, porque ele bem merece.

                • A meu ver, ainda não passou tempo suficiente desta “nova vida” do Ziggler para acreditar que é mesmo nova. Pode ser apenas um acaso das circunstâncias.

                  No que toca a merecer, não podia concordar mais.

                  • Sem dúvida é muito cedo para festejar algo. Nem podemos chamar bem nova vida, é uma fase melhor vá lá, mas ele já teve fases assim e caiu de novo.

                    • exacto. preciso de muito mais que isto para lançar os foguetes.

  2. Grande OF! Grande Salgado! Disseste tudo e não discordo de nada.

  3. MicaelDuarte10 anos

    Excelente artigo Salgado.

    Por mim, os fãs podem (e devem) continuar a fazer barulho e mais barulho… Pode ser que a WWE acorde para a vida!

    • Obrigado 🙂

      A questão do artigo é mesmo quando o barulho é visto como desnecessário ou até inconveniente. Mas, é um facto que a WWE reconhece a necessidade de lidar com uma audiência hostil.

      • MicaelDuarte10 anos

        Eu sei Salgado, eu percebi. Apenas quis dizer que, quando em situações aplicáveis, têm mesmo que fazer barulho e não ficarem apáticos nessas situações.

        Claro que casos como o do Bray Wyatt, ou mesmo o caso de algumas Lendas que são desrespeitadas pelos fãs, são totalmente desnecessários.

        • Eu prefiro barulho a qualquer tipo de apatia. Até mesmo o “mau” barulho pode ser transformado em qualquer coisa de útil e interessante pelos lutadores. Apatia completa é que faz enorme confusão quando se está a assistir ao evento.

          Exacto, mas aí irá depender de cada fã.

  4. JoãoRkNO10 anos

    Primeiro de tudo, começaste logo “bem”, logo pela minha área, que não é provocar acidentes como é óbvio mas sim socorrer vítimas. Segundo, esmeraste-te neste artigo, muitos parabéns. Terceiro, os acontecimentos que se passaram última Raw foram o verdadeiro “People Power”, foi algo que ficará para sempre marcado na história da companhia, e sobretudo deste pequeno Grande Homem.

    E acredito plenamente que se o WWE Universe não parar com a contestação, o panorama atual irá mudar, nem que seja um pouquinho, mas como já os antigos sábios diziam, é devagar que se vai ao longe.

    • Obrigado 🙂

      O facto da WWE já estar a considerar Daniel Bryan em dois combates na Wrestlemania, ambos de grande destaque, significa que já começou a mudar. As reacções dos fãs estão, garantidamente, a fazê-los pensar duas vezes naquilo que, originalmente, já estava decidido. Isso já é uma vitória.

  5. The Game10 anos

    Excelente artigo e devo dizer que concordo,os fás tornaram-se vilões , apoiam os heels apupam os faces,desprezam combates e desrespeitam lutadores. Mas não os culpo as decisões criativas da WWE tem sido miseráveis. Os fás com todo o seu protesto conseguiram uma coisa, mudar o main-event da Wrestlemania,porque Batista Vs Randy Orton poderia ser um duns piores main-events de sempre. Sobre Bryan provavelmente lutar pelo título na Mania não acredito que vença, porque se o fás tornaram-se heels e estão a apoiar o Bryan,só tenho a dizer isto, os heels normalmente perdem no main-event da Wrestlemania.

    • Obrigado 🙂

      Iria ser um dos mais odiados, isso é certo! Também não acredito que Bryan vença o Título, mas isso já é outra conversa xD

  6. john3:1610 anos

    Foi um otimo artigo parabens salgado, de facto os fans tem todo o direito a manifestar-se e tem de continuar, no entanto tambem a wwe deve controlar essas situacoes, esta semana nao deixo um comentario com muitas linhas mas adorei as tuas continua assim salgado!

  7. 434 Days10 anos

    Excelente artigo.

    Concordo plenamente com o facto de os fãs fazerem-se ouvir, pois assim as coisas não mudam. Também o investimento monetário pode trazer vantagens e ainda bem que agora o Bryan está em grande destaque neste Road To WrestleMania. Para acabar também acho mal quando os fãs começam com cânticos estúpidos durantes bons combates, pois acaba por estragar um bocado o que de bom se faz na WWE.

    • Obrigado 🙂

      Também não existem garantias de grande mudança, mas é preferível ao silêncio.

  8. zhk10 anos

    Excelente artigo

  9. Arvanix10 anos

    Excelente artigo Salgado! Não tenho absolutamente nada a acrescentar, concordo com tudo o que disseste.
    Pode ser que a WWE aprenda com o passar do tempo… o que acho um pouco dificil, mas pronto…
    Aqueles cânticos ao Bray Wyatt a dizerem : “Husky Harris” , sim, são completamente desnecessários quando estamos a falar de uma superstar como o Bray… ele é fantástico em promos, e no ring já demonstrou bastantes melhoras…
    Mais uma vez, excelente artigo! Parabéns!

  10. Gostei da tua visão do assunto. A minha é mais radical. Se pagaram bilhete podem gritar o que lhes apetecer e o resto é letra. Se quiserem gritar Husky Harris, que o façam. E até chegaram a fazer, mas Bray Wyatt acabou por dar a volta a isso com todo o talento que tem. Deixem-nos gritar à vontade, pq quando têm aquilo que deviam ter (um bom produto) lá eles deixam de fazer hijacks. A responsabilidade e a culpa de td isto é da WWE e espero q esta tendência continue a crescer.

    • Então para ti é normal gritaram “What?” durante uma “promo” do Undertaker, apenas e só porque sim?

    • Exactamente por isso é que referi que depende da visão de cada pessoa. Pessoalmente, não gosto quando fãs têm esse tipo de comportamentos, porque considero que na situação não se justifica. Exacto. A WWE provou isso na Raw em Chicago, a melhor resposta para uma multidão ansiosa é um produto de qualidade.

  11. Excelente artigo, Obrigado e Parabéns Salgado. 🙂

    Concordo com tudo, o WWE Universe realmente devia ter mais respeito pelos profissionais que estão ali para nos entreter, gostem ou não da sua gimmick e qualidade/talento, gostem ou não das decisões da WWE, devem respeita-los e não ultrapassar certos limites.
    Aquela em que chamaram “Husky Harris” ao Bray Wyatt, foi péssima, todos sabemos que o Husky Harris não passou de um jobber e que nada correu bem com a gimmick e o Bray Wyatt é uma gimmick excelente e tem qualidade e muito talento e merece mais consideração e respeito por parte do WWE Universe.
    A situação do Punk é ridicula e a do Bryan já cansa, para mim.

    • Obrigado 🙂

      Mas lá está, essa é a minoria teimosa que vai gritar o que quer. As grandes massas cederam ao talento de Bray Wyatt e à sua apresentação.

      É normal já cansar as pessoas!

  12. David Miguel10 anos

    Excelente artigo melhor impossivel

  13. Excelente artigo Salgado. Os meus primeiros comentários nesta nova vida do WPT só podiam ser aqui no “Opinião Feminina” xD

    Concordo contigo em relação ao revirar de olhos aquando das manifestações sem sentido dos fãs. Gritar “what?” ao Undertaker e chamar “Husky Harris” ao Bray Wyatt só para mostrar que sabem quem ele é e que, por isso, supostamente percebem mais sobre o Wrestling do que quem não sabe que o Bray era o Husky.

    Outro dos cânticos que me irritou foi “Boooring” durante um grande combate entre o Sheamus e o Christian há umas semanas. Aquele combate de “boring” não teve nada, e se querem mudanças, não deviam -digo eu- tentar “sabotar” um combate entre um lutador que ainda pode dar muito à WWE no futuro e outro que podia ter dado e que é, reconhecidamente pelos fãs, um dos maiores “injustiçados” da História da WWE. Assim, só estão a dizer à WWE que não vale a pena apostar no Sheamus e no Christian. Sim, eu compreendo que não tinham razões para se envolverem emocionalmente no combate, o problema é que este foi mesmo de grande qualidade, ou então sou eu que já nem consigo ver o que é um bom combate.

    Este foi o teu melhor artigo dos últimos meses. Espero que mantenhas o nível 🙂

    • Ahahaha obrigado 🙂

      A WWE não presta atenção ao que os fãs gritam durante um combate do Christian e do Sheamus. O Christian, por muitas injustiças que tenha sofrido durante a sua carreira, já tem a carreira feita e a WWE não vai apostar nele. O Sheamus, por sua vez, tem o lugar garantido. A WWE quer e vai apostar nele quando assim o entender.

      A WWE presta atenção a estes cânticos em situações limite, como Chicado e a ausência de CM Punk, e é se quiserem. Se quiserem fazer ouvidos moucos, fazem e nem pensam duas vezes.

      É esse o objectivo 🙂

  14. Resposta curta e grossa?
    Sim!
    Bom artigo, e acima de tudo um bom tema

  15. Grande artigo.
    Sou muito a favor que os fãs executem cânticos nos shows e se manifestem, contanto que saibam que o direito de um termina quando o do outro começa.

  16. Grande artigo Salgado! Mais um!

  17. Rolls Reus10 anos

    bom artigo! como sp!
    Will you marry me? xD

  18. Grande Artigo.
    Não há mais nada para dizer.