Bray Wyatt estreou-se no roster principal da WWE há pouco mais de dois anos. Desde então, já participou em muitas rivalidades de destaque com algumas das estrelas mais ilustres da WWE. John Cena, Undertaker e Chris Jericho foram os seus adversários mais conceituados. Dois deles, Wyatt enfrentou na Wrestlemania, tornando a oportunidade ainda mais especial.

Embora a falta de vitórias em momentos cruciais seja um dos problemas que aflige Bray Wyatt, a verdade é que desde a sua estreia que este tem sido tratado como alguém importante. As suas rivalidades, mesmo as que não envolvem as estrelas mais ilustres da WWE, têm sempre bastante tempo de antena para se desenvolverem e este é, frequentemente, colocado no main-event.

Porém, mesmo assim, a WWE falhou na tarefa de dar aos fãs razões para se investirem emocionalmente em Bray Wyatt, seja para o vaiar ou para o apoiar. Não quero, com isto, dizer que a audiência seja indiferente a Bray Wyatt, porque não é o caso. Os mais recentes exemplos ocorreram na rivalidade com Roman Reigns, onde este foi consideravelmente ovacionado. Uma das razões para tal é a aversão dos fãs a Roman Reigns e a outra é o facto de Bray Wyatt ser, de certa forma, porreiro.

Opinião Feminina #259 – Summoning Lightning and Thunder

Para além do efeito visual da sua entrada ser tremendo, este continua a ser completamente diferente de todos os outros lutadores que estão no roster. As suas promos nem sempre cativam a atenção e interesse dos fãs, mas são diferentes, assim como a sua música, a sua entrada e a forma como se comporta. No geral, a apresentação de Bray Wyatt é cativante e interessante. Mas, creio que este apoio seja bastante superficial e se deva apenas à sua apresentação, nada mais.

Para os fãs se investirem de forma mas séria e significativa – da forma que verdadeiramente interessa – é preciso que a jornada de Bray Wyatt importe e tenha um rumo. É preciso que cada percalço, cada vitória, cada rivalidade tenha impacto no seu percurso. Os fãs precisam de sentir que estão, de facto, a acompanhar a história e evolução de alguém. Isso não existe com Bray Wyatt.

Desde que se estreou que a maioria das rivalidades de Bray Wyatt começaram, progrediram e terminaram exatamente da mesma forma. É um facto que, em algumas Wyatt venceu e noutras perdeu, mas o seu comportamento e o seu posicionamento na WWE não refletiu isso.

Bray Wyatt vive numa realidade alternativa, onde não existem consequências. Enquanto nós, fãs, estamos preocupados com o facto deste não vencer um combate importante, não reparamos que, no mundo em que ele vive, tal não fará a maior diferença. Num mundo sem consequências, não existem preocupações, logo não existe investimento emocional.

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Quando, num filme ou num livro, o herói sofre uma derrota ou um contratempo, as consequências são um dos grandes destaques, pois os autores querem explorar ao máximo o sofrimento de quem está a ler/ver. A maior alegria que se pode sentir é aquela que provém de uma vitória difícil e sofrida. Se falarmos de vilões, o processo inverte-se. É preciso que cada vitória suscite bastante raiva, para que no fim, exista verdadeiro prazer em vê-lo a ser castigado.

Não há uma situação na curta carreira de Bray Wyatt em que algum dos dois casos tenha acontecido. Este já venceu e perdeu rivalidades, já lutou em combates de enorme destaque e com algumas das maiores estrelas de sempre, e mesmo assim, nada do que referi em cima já aconteceu. E acho que já percebi a razão para tal.

Os exemplos que referi acima, sobre o que acontece ao herói e ao vilão, são sobre protagonistas. Bray Wyatt nunca foi um protagonista. É por isso que os fãs não se conseguem investir profundamente em Bray Wyatt. Não é a sua jornada que está a ser contada. Bray Wyatt é apenas a ferramenta que a WWE usa para contar a história de terceiros.

Analisemos então a carreira de Bray Wyatt. A WWE não pode colocar Bray Wyatt num combate com John Cena na Wrestlemania sem, primeiro, lhe dar algumas vitórias significativas e o proteger um pouco. É aí que surgem Kane (a rivalidade de estreia de Bray Wyatt) e Daniel Bryan.

Depois foi Chris Jericho que tentou dar alguma credibilidade a Bray Wyatt para que este, mais tarde, ajudasse John Cena a recuperar da sua derrota no Summerslam. Logo de imediato, Bray Wyatt desaparece durante mais de um mês e, quando volta, escolhe Dean Ambrose como o seu próximo alvo e vence todos os combates que tem com ele. Porquê? Porque está a ser protegido para poder enfrentar Undertaker na Wrestlemania. Este enfrenta Undertaker na Wrestlemania num combate cuja única razão para a sua existência foi: Undertaker não pode falhar a Wrestlemania.

Depois disso, Bray Wyatt começou a lançar uma série de vídeos misteriosos onde dava pistas sobre o seu próximo adversário. O seu adversário acabou por ser Ryback e Bray Wyatt derrotou-o no Payback. No pay-per-view seguinte, Bray Wyatt não lutou no evento e Ryback venceu o Título Intercontinental. Isto provou que Bray Wyatt não precisa de Títulos. Aliás, está acima deles. A sua função não é perseguir Títulos, ser campeão ou a estrela. É credibilizar outros.

Contra Ryback, Wyatt tinha vencido mais um combate, logo o reset estava feito. Ou seja, este era novamente uma força temível e credível, portanto já podia passar ao próximo projeto: Roman Reigns.

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É esta a rotina. Bray Wyatt escolhe, de forma aparentemente aleatória, um adversário. Começam os vídeos misteriosos, as promos assustadoras, os ataques dos seus seguidores e o resultado é decidido com base no que é que a WWE quer fazer com o seu adversário. Numa reviravolta bastante surpreendente, chegamos à conclusão que Bray Wyatt nunca é o protagonista das suas próprias histórias. Este é apenas uma ferramenta que a WWE usa para contar a história de outros e, por vezes, disfarçar a sua preguiça.

Não é preciso terminar rivalidades decentemente ou contar uma história usando motivos razoáveis e com sentido. Basta enviar Bray Wyatt e os seus seguidores para interromperem o combate e depois, com as suas palavras bonitas, Wyatt arranja uma justificação que ninguém irá compreender ao certo ou lembrar-se alguns meses depois.

É pura preguiça. Creio que Bray Wyatt está perto de chegar ao ponto em que nem uma grande vitória, aquela que todos queremos há muito tempo, irá ter qualquer impacto.

Ora, o ciclo repetiu-se no Hell in a Cell. Este perdeu o seu combate de Hell in a Cell com Roman Reigns, depois de meses de rivalidade e, horas mais tarde, atacou Undertaker, agindo como se nada tivesse acontecido. Uma rivalidade de meses e um combate de Hell in a Cell perderam qualquer impacto que pudessem ter tido numa questão de horas.

Não quero, com isto, dizer que o ataque em si foi uma má ideia ou que foi mal executado. O problema é que não foi um caso isolado. O problema é que num só evento, a WWE resumiu na perfeição a carreira de Bray Wyatt e porque é que nada do que este fez até agora tem tido impacto.

A ideia deste atacar um novo alvo tão pouco tempo depois de ter perdido um combate daquela importância, daquela suposta gravidade, deveria ser nova ou estranha. Não deveria ser um hábito. Não deveria ser o resumo de uma carreira.

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Ora, nesta sua nova rivalidade, os próximos alvos de Bray Wyatt serão os Brothers of Destruction: Kane e Undertaker. Ambos foram atacados, ambos foram raptados e, supostamente, os poderes de ambos foram transferidos para Bray Wyatt. Tudo isto evidenciado no excelente jogo de pirotecnia que a WWE apresentou na Raw.

Ao contrário de algumas reações que vi, não fiquei particularmente aborrecida com esta nova faceta de Bray Wyatt, mas também não fiquei impressionada. Aliás, estava preparada para criticar detalhadamente a decisão da WWE de fazer aquele segmento, até me lembrar de um pormenor que pode, ou não, ser importante: idade.

Se há algo que estou farta de apontar neste espaço é como, em 2015, não se justificam certas histórias e certos segmentos. Um dos exemplos mais referidos é a forma como Kane arrasta as pessoas para o “inferno” debaixo do ringue.

E mantenho a minha opinião em relação a isso. Acho que o mesmo abrange os espetáculos de pirotecnia e, em suma, muitas das ferramentas que Undertaker e Kane usaram ao longo das suas carreiras. Penso que, nos últimos anos, os fãs são mais lenientes com Undertaker, porque as suas aparições são mais raras e estão contadas. Raramente os fãs têm a certeza de quando o irão voltar a ver, ou se o irão voltar a ver de todo. Todavia, a idade continua a ser um fator importante.

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Há dez anos atrás, quando Undertaker usava estes truques para atormentar Randy Orton, esta não era a minha opinião. Há dez anos atrás, Undertaker assustava-me o suficiente para me forçar a parar o que estava a ver e olhar à minha volta para ter a certeza que estava sozinha. Há dez anos atrás, Undertaker, com todos os seus truques de pirotecnia, conversas num suposto cemitério e promessas de vingança, arrepiava-me. Genuinamente.

No entanto, não tenho quaisquer dúvidas que, em 2005, alguns adultos reviraram os olhos a pensar que, em 2005, tal era dispensável e pouco credível. Tal como devem agora haver fãs mais novos que estão genuinamente impressionados, quiçá assustados, com Bray Wyatt.

Nesse sentido, talvez seja tudo uma questão de perspetiva. E tal como John Cena não existe especialmente para agradar pessoas da minha idade, talvez Bray Wyatt tenha também um alvo diferente. Ou, se calhar, estou a considerar algo que a WWE nunca considerou. Para uma companhia que, em 2015, ainda acha que o tamanho é tudo, talvez este seja apenas outro aspeto que acreditam que ainda é credível em 2015, quando na realidade, deveria desaparecer juntamente com aqueles imortalizaram estes truques: Undertaker e Kane.

Bray Wyatt não deveria estar a repetir os truques de outros que, hoje em dia, soam demasiado disparatados. Muito pelo contrário, este deveria adaptar-se aos tempos em que vive e tornar-se o mais real possível. Nada é mais assustador que a realidade, porque a realidade é aquilo que todos têm de encarar.

Bray Wyatt é um manipulador nato, capaz de influenciar seguidores bem mais fortes e maiores que si para fazerem o seu trabalho. Isso deveria ser mais assustador que um truque de pirotecnia, porque isso é algo que toda a gente corre o risco de enfrentar todos os dias. Bray Wyatt deveria mexer verdadeiramente com o medo das pessoas, em vez de se limitar a assustar crianças com truques fora de época. Este deveria ser uma evolução de Undertaker. A versão personalizada de 2015.

Não se pode achar que para assustar as pessoas em 2015, apenas é preciso usar exatamente as mesmas ferramentas que se usaram há décadas atrás. Mesmo que, neste momento, existam crianças assustadas com que Bray Wyatt fez, irá o medo permanecer quando olharem para o lado e virem adultos a revirarem os olhos ou a gritarem “boring?” O medo é um conceito adaptável e mutável. Talvez a nova face do medo também devesse ser.

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Segundo a rotina que tem, aparentemente, ditado a carreira de Bray Wyatt, a sua rivalidade com os Brothers of Destruction irá terminar com uma vitória de Wyatt, de forma a credibilizá-lo para o próximo desafio.

Não teria problemas em apostar em tal desfecho se Undertaker não tivesse perdido para Brock Lesnar no último pay-per-view e o Survivor Series não fosse o aniversário da sua estreia. Não acho que Undertaker precise de vencer para validar a sua carreira, mas raramente estou em sintonia com a WWE neste tipo de situações.

Mesmo assim, acho que uma vitória de Bray Wyatt continua a ser bastante possível. Talvez assim seja porque, embora a WWE não tenha conseguido que me invista emocionalmente em Bray Wyatt, depois de passar tanto a apresentá-lo como sendo importante, comecei a vê-lo como tal.

Afinal, depois de mais de dois anos a ser constantemente posicionado desta forma, torna-se uma questão de hábito. Será que este hábito está a afetar mais fãs?

Desejo uma excelente semana a todos e até à próxima edição!

Opinião Feminina #259 – Summoning Lightning and Thunder

13 Comentários

  1. Excelente artigo. É impossível não concordar com o que escreveste.

  2. Jorge9 anos

    Bom artigo. Concordo contigo.

  3. Anónimo9 anos

    A qualidade dos teus artigos, a diversidade de assuntos que apresentas e a coerência que demonstras, fazem da Opinião Feminina o melhor e mais completo artigo do wrestling.pt.

  4. BRRM9 anos

    Excelente artigo, concordo com tudo.

  5. Bom artigo.
    Acho que para o Bray Wyatt parecer mais assustador, devia atacar os seus adversários sozinho, mas como ele sempre está cercado de sua família.
    Faz ele parecer um covarde e não a nova face do medo

  6. wwe9 anos

    Li uma notícia que a wwe iria apresentar alguém como a aAbigail e agora a wwe contratou o the boogeyman será???

    • Primeiro lugar Abigail é uma mulher. Segundo lugar Bray Wyatt já disse que ela está morta. Terceiro lugar, o Boogeyman foi contratado pra ser uma lenda (lenda, hall of fame) tendeu?

  7. Parabéns Salgado, seus artigos estão cada vez melhores.

  8. Excelente artigo.

  9. Muito bom, Salgado.

  10. you cant see me9 anos

    Excelente artigo.
    O bray wyatt enfrentou algumas lendas da wwe,mas não ganhou nenhuma feud entre essas lendas. A wyatt family começou no nxt acho eu,e desde entao a wyatt family tem atacado muita gente. O bray para mim tem sido muito desperdiçado acho que é raro ele ganhar num ppv ainda mais na wrestlemania que nunca ganhou,para mim ele merecia um título mas acho que não é para ele porque ele mete se em rivalidades se fosse possivel ele para wwe world heweweight champion ou para united states champion mas se ele fosse campeão era muito bom.

    F

  11. Muito bom artigo. Não consigo gostar do Wyatt justamente por conta do que escreveste: pula de rivalidade em rivalidade, escolhendo oponentes aparentemente aleatórios e fica sempre com a mesma conversa, as mesmas frases de efeito (“Follow the Buzzards, Find me, Run”) e parece que nunca vai evoluir.

  12. Anónimo9 anos

    Ótimo artigo. Eu gosto de Bray Wyatt por suas habilidades e mic-skills, mas o personagem é um jobber de luxo e suas promos cada vez mais aborrecidas não assustam nem criança… deveriam dizer para alguns executivos da WWE que os anos 80 acabaram, e avisem ao Dolph Ziggler também.