Quando a Wyatt Family regressou, incompleta sem Luke Harper, os fãs trataram-nos como heróis. O grupo é, muito possivelmente, o único ato cujas ovações são inversamente proporcionais ao seu booking e apresentação.

Para um grupo vilão, presidido por um líder de culto que passa grande parte do tempo a fazer discursos longos e abstratos, que raramente consegue vitórias significativas e é frequentemente gozado e humilhado, eles são incrivelmente populares. Afinal, quem quer apupar uma entrada tão porreira como a do grupo? Por muito ineficazes ou aborrecidos que consigam ser, a apresentação do grupo continua a ser fantástica.

O seu regresso foi marcado pela interrupção dos atuais campeões de equipas – New Day. O grupo tinha vencido as equipas principais da divisão num combate pelos títulos no último evento mensal da companhia e, em vez de rivalizarem com uma dessas três duplas como se esperava, escolheram a Wyatt Family como novo alvo.

Foi uma escolha interessante, mas ao mesmo tempo muito receada. O choque de dois grupos tão distintos e peculiares tanto podia resultar em segmentos interessantes, rivalidades intensas e histórias fortes, como poderia ser mais um desperdício da Wyatt Family que se iria limitar a ser o alvo das piadas adolescentes dos campeões. O histórico da WWE com a Wyatt Family apontava para a segunda hipótese, mas até agora temos visto o início intrigante do que pode ser uma rivalidade surpreendente, pela positiva desta vez.

Todavia, existem alguns pontos que colocam problemas. O primeiro é a natureza da apresentação da Wyatt Family. Antes de Bray Wyatt se ter lesionado, o grupo tinha começado, inexplicavelmente, a rivalizar com a League of Nations (grupo que já não existe). Ao enfrentarem um grupo de óbvios vilões, a Wyatt Family, que por si só já é bastante adorada, foi ainda mais apoiada.

Uma rivalidade com claros vilões levou os fãs a acreditar que o grupo estava prestes a mudar de natureza e que, finalmente, os fãs iriam poder apoiá-los livremente, sem dividir apoio com os seus adversários. Foi uma mudança desejada, pois o grupo já tinha falhado várias vezes como vilões credíveis, sem nunca conseguir vitórias significativas ou sequer intimidar decentemente os seus adversários.

Como heróis, a Wyatt Family ganhava uma nova oportunidade para rejuvenescer e os fãs poderiam apoiá-los livremente. Este cenário foi tão interessante e atrativo que levou os fãs a ignorar o pequeno facto de um líder de culto poder ser também um herói.

Era diferente e, depois de vários anos de apresentação repetitiva e ineficaz, parecia que valia a pena tentar. Tudo isso foi pela janela quando o grupo voltou para rivalizar com New Day. Não deveria ter ido de imediato, visto que os campeões também são um grupo difícil de definir e nem sempre se comportam como heróis, mas dada a sua enorme popularidade, a questão não era tão simples e direta como tinha sido com a League of Nations. Se o objetivo fosse investir na Wyatt Family como heróis, os New Day são péssimas opções como adversários para realizar a mudança.

E isso foi um problema. Depois de algumas semanas a serem provocados com uma possível nova apresentação da Wyatt Family, estes voltaram para fazer o mesmo de sempre – um longo discurso sobre nada de especial, com vagas referências a conceitos abstratos, interrompida por alguns engraçadinhos que gozaram com eles e tiveram como resposta risos maléficos e profecias sobre o seu destino. Mais do mesmo, com uma exceção: Xavier Woods.

Opinião Feminina #294 – The Power of Positivity vs The First Family of Fear

Inicialmente, este pareceu ficar fascinado com Bray Wyatt, talvez até hipnotizado, e é o único do grupo que leva a ameaça da Wyatt Family a sério mostrando verdadeiro receio. Sim, o grupo como um todo já se mostrou desconfortável perante a ameaça da Wyatt Family, mas Woods é o único que até agora mostrou verdadeiro medo e apelou caução.

Isto é uma oportunidade de ouro para ajudar os dois grupos a desenvolver e crescer. Não só os New Day enfrentam verdadeira adversidade e são, pela primeira vez, postos à prova de forma séria, como a Wyatt Family finalmente começa a mostrar alguma eficácia como um culto assustador e temível.

Esta reviravolta foi uma surpresa positiva que tornou a rivalidade infinitamente mais interessante do que era no momento em que os New Day interromperam a Wyatt Family pela primeira vez. Podemos, finalmente, assistir a um desenvolvimento de personagens e uma evolução de dois grupos. Embora os New Day não precisem de tal tão desesperadamente quanto a Wyatt Family, a verdade é que é melhor para a WWE estar à frente do acontecimento e evitar que os fãs se comecem a cansar e fartar do grupo ao manter as coisas frescas, do que deixar que eles se transformem num aborrecimento.

Até agora, a evolução da rivalidade tem sido natural e surpreendentemente lógica. Xavier Woods é o único a mostrar verdadeiro medo e não faria sentido nenhum se, de um dia para o outro, o grupo ficasse absolutamente aterrorizado. Exatamente por isso é que fez sentido Big E e Kofi Kingston continuarem com as suas piadas adolescentes e ridículas, porque Xavier Woods e o seu receio é a promessa que algo mais está para vir. É um asterisco que assinala que há mais para dizer.

No meu entender, no Battleground, os New Day seriam derrotados pela Wyatt Family – será um combate de equipas de três contra três sem títulos de equipas em jogo – o que irá levar Big E e Kofi Kingston a perceber a seriedade da situação e o grupo terá de reagrupar. Seja ou não esse o caminho que a WWE vai seguir, é imperativo que a atitude de Xavier Woods tenha significado a longo prazo e ajude ambos os grupos. Não pode ser simplesmente varrido para debaixo do tapete depois de uma vitória dos New Day no Battleground.

Opinião Feminina #294 – The Power of Positivity vs The First Family of Fear

Mais recentemente, a Wyatt Family e os New Day deram que falar por razões diferentes – a luta dos dois grupos no recinto da Wyatt Family. A luta, editada de forma demasiado rápida para acompanhar a ação decentemente, envolveu carros, machados e várias outras armas. A edição da luta e o timing da sua transmissão levou vários fãs a fazerem comparações – e até a acusarem a WWE de plágio – com o Final Deletion da TNA.

O timing  é, sem qualquer dúvida, suspeito e depois do furor que o Final Deletion fez nas redes sociais, não tenho quaisquer dúvidas que grande parte do staff da WWE viu o vídeo. Além disso, não seria a primeira vez que a WWE copiava algo da TNA, tal como o inverso também é comum. Ao longo dos anos, as duas companhias trocaram mais do que apenas talento e não são as únicas entidades no mundo do entretenimento a fazê-lo.

Quero, por isso, deixar bem claro que não me admirava que o Final Deletion tivesse servido de inspiração para esta luta, mas também ninguém pode dizer que é a primeira vez que a WWE apresenta a Wyatt Family desta forma. Aliás, durante as semanas que antecederam a sua estreia no plantel principal, os fãs assistiram a vários vídeos assustadores e arrepiantes da Wyatt Family. Os exemplos de tal estão no vídeo acima. Tal parece-me ser algo que muitos fãs, com a febre do Final Deletion, se esqueceram.

Opinião Feminina #294 – The Power of Positivity vs The First Family of Fear

Apesar de não se poder negar a conveniência do momento de transmissão e a possível inspiração, existem suficientes diferenças entre as duas apresentações para não considerar a luta apresentada pela WWE um insulto à inteligência dos fãs. A WWE apresentou um regresso às raízes da Wyatt Family. Foi uma apresentação mais séria e assustadora, se bem que sem qualquer história ou desenvolvimento significante, enquanto a TNA apresentou uma história, do início ao fim, autoconsciente e algo satírica.

Pessoalmente, gostaria de ter visto mais a WWE a explorar a casa apresentada em cima, numa tentativa de intimidar o grupo, em vez de ter saltado já para uma luta que começou por sim e acabou exatamente pela mesma razão. Essa é capaz de ser a minha verdadeira crítica ao que a WWE apresentou. Preferia ter visto os New Day a deambular pela propriedade da Wyatt Family à procura deles, possivelmente até a perguntar direções no caminho para lá, e a ficarem cada mais frustrados por não os encontrarem e assustados com o que os rodeia, do que vê-los logo a lutar.

A WWE até podia ter gravado um segmento em que Renee Young, no momento em que os New Day regressam depois de terem estado nas instalações da Wyatt Family, perguntava aos campeões o que tinham a dizer sobre a visita e estes, em estado de choque, não diziam absolutamente nada. Podíamos ter esperado até ao Battleground para os ver lutar. Não faz sentido nenhum simplesmente irem lá, começarem a lutar porque sim, quando não o tinham feito até aquela altura, e depois pararem pela mesma razão. Foi repentino, frio e brusco. A imagem de várias pessoas a rodearem os campeões com as máscaras colocadas foi, apesar de tudo, fantástica e arrepiante.

Sinto que a WWE tirou as lições erradas do Final Deletion. O problema não foi a realização do segmento ou a sua apresentação, mas sim o conteúdo. Aponta mais uma vez para a sua incapacidade de contar histórias e desenvolver personagens, o que me deixa receosa com o futuro desta rivalidade.

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Receio que a WWE anuncie que os títulos irão estar em jogo no Battleground, embora saiba que o combate é de três para três. Não acho que os títulos devem entrar em jogo tão cedo por várias razões. Primeiro, sinto que os New Day devem perder o primeiro combate para legitimar a ameaça que são a Wyatt Family e para lhes dar motivo para reagruparem, crescerem e tornarem-se um pouco mais sérios.

Segundo, se a sua recuperação correr bem, Luke Harper pode voltar já no fim de agosto. Luke Harper é, sem dúvida, o melhor lutador do grupo e acho que seria melhor para a qualidade dos combates se este fizesse parte deles e/ou fosse um dos campeões de equipas. Além disso, depois dos excelentes combates que este já produziu como membro do grupo, acho que este também o merece.

Não defendo a existência de uma regra que dita que os campeões devem ser derrotados em combates sem os títulos em jogo para depois os defenderem contra as mesmas pessoas que os derrotaram. Não serve, nem faz qualquer sentido como regra, mas pode fazer sentido se uma história decente e lógica o exigir.

Se Luke Harper conseguir, de facto, regressar em agosto ou início de setembro, gostaria de ver a Wyatt Family a tirar os títulos aos New Day, não para os separar, mas para lhes mostrar verdadeira adversidade e ver que tipo de sucesso podem ter como heróis atrás dos títulos. Já vimos que são um sucesso de vendas e uma das apresentações mais populares como grupo engraçado e carismático, mas depois de um ano disso, gostaria de ver se conseguem crescer e manter o interesse dos fãs.

Acho que se as cartas forem bem jogadas, a WWE tem nas mãos a oportunidade de realizar primeira grande rivalidade dos New Day. Como é óbvio, o Draft desta semana é uma incógnita e poderá muito bem colocar cada grupo no seu programa – o que é o mais provável, para tentar equilibrar as contas – mas depois de todas as possibilidades que criaram com o início da rivalidade, ficaria desiludida se as mesmas fossem abandonadas de imediato, sem qualquer seguimento.

A WWE fez algo que não estava à espera quando opôs os dois grupos e quando deixou que Woods mostrasse medo e apelasse à caução dos seus colegas. Com o regresso de Luke Harper no horizonte, podemos estar prestes a assistir à melhor rivalidade da Wyatt Family desde os Shield e à melhor rivalidade dos New Day de sempre.

Em relação ao futuro, adoto a atitude de Xavier Woods – muito receio e caução. E, lá muito no fundo, alguma excitação otimista. Desejo uma excelente semana a todos, até à próxima edição!

Opinião Feminina #294 – The Power of Positivity vs The First Family of Fear

4 Comentários

  1. Anónimo8 anos

    Sem duvida que colocar este combate no battleground foi a meu ver um enorme erro. Se há 1 ano atrás quando os new day apareceram ninguem acreditaria que eles ficariam crediveis e seriam realmente uma ameaça com sucesso na wwe hoje eles tem credibilidade para enfrentar a Wyatt Family e atenção que muito embora os criticos reclamem do booking da Wyatt Family nao é menos verdade que mesmo a perderem eles estão quase sempre envolvidos em rivalidades com nomes importantes da wwe. Há 1 ano atrás os New Day eram o que Primo e Epico são hoje uma equipa totalmente banal que ninguém gostava. Hoje são a melhor equipa da wwe, uma equipa que ajudou e de que maneira a tornar a divisão de equipas realmente interessante e credivel sem recorrer a nomes de topo como já vinha propondo e isso tem um merito absolutamente gigante. No entanto acho ridiculo uma rivalidade destas ter lugar num PPV tão sem importancia como este. Esta rivalidade na minha opiniao tinha de ocorrer no Summerslam (pelo menos como primeiro combate). Pelo menos dessa forma nao seria tão previsivel o resultado do combate. Condeno completamente o fato de a wwe apenas nao colocar os titulos em jogo quando os New Day vão perder. Isso é previsivel e tira brilho ao combate. Mais vale terem dado aos New Day um combate previsivel em que eles vencessem com relativa facilidade e a Wyatt Family aparecer a ataca-los para começar a construir a grande rivalidade do Verão por equipas. Ou isso ou colocarem um PPV com alguma importancia no lugar desse tal de battleground que nao interessa a ninguem e que à imagem do que anteceda a wrestlemania ser completamente descartavel.

  2. Para mim, as figuras mascaradas foram o que salvaram o segmento.

    Também estou a gostar muito de ver o Woods a mostrar receio. Dá um ar mais credível à Wyatt Family.

  3. 434 Days8 anos

    Excelente artigo Salgado.

  4. Alef8 anos

    N acho q seria bom wyatt family a tirar o titulo dos new day e sim the sawft